O Movimento Rom�ntico Alem�o

por

Carlos Antonio Fragoso Guimar�es





M�sica: Noturno N� 20, p�stumo, de Chopin.

O Romantismo


O Romantismo, que come�ou em fins do s�culo XVIII, abrangeu toda a civiliza��o ocidental e foi como uma febre renovadora sobre a cultura em geral. Depois do romantismo, o mundo nunca mais foi o mesmo. Ele iniciou-se na Alemanha (sempre a Alemanha, em busca de romper com os grilh�es intelectuais e espirituais impostos pelo sistema), e l� mesmo atingiu os maiores cumes, em todas as �reas. Na Poesia e na Literatura com Goethe e Schiller, na M�sica com Beethoven e Brahms, nas Artes Pl�ticas com a Escola de Berlim e Frankfurt, e na Filosofia com Schelling. Ele originou-se como uma rea��o juvenil � fragmenta��o do homem, mais claramente contra � �nfase ao culto frio da raz�o, apregoado pelo iluminismo. O homem n�o era s� raz�o, n�o era um ser calculista. Ele era um ser de sentimentos, um ser que tem o direito de errar. As novas palavras de ordem entre os jovens estudantes era "sentimento", "misticismo", "anseio", "natureza", "introvers�o". O que se passa dentro do homem, no EU, � que devia agora ser levado em considera��o no processo de aquisi��o de conhecimentos. O mundo, afinal, � entendido sob a �tica que adotamos, n�o porque seja a mais verdadeira, mas porque nos � a mais conveniente. Do que acreditamos firmemente, com outros, isto, de fato, "�", num dado momento, e agimos de acordo com ele. Ora, se � assim, nada pode ser considerado plenamente exato. Tudo varia de acordo com a nossa percep��o. Sendo assim, o Romantismo quebrava as amarras de uma educa��o cristalizada, fundamentada apenas no desenvolvimento da raz�o, e dizia que o homem tem todo o direito de fazer a sua interpreta��o pessoal do mundo, de ter a sua filosofia de vida. A raz�o � limitante e limitada na esfera da viv�ncia humana.

O Romantismo, assim como ocorrera no Renascimento, descobrira a import�ncia da arte no processo do conhecimento e do crescimento humano. Quando nos comovemos ou nos extasiamos diante de um quadro ou ouvindo uma balada de Chopin, o que podemos dizer � que algo em n�s "vivencia" sentimentos que ultrapassam as fronteiras do que podemos, linear e racionalmente, saber. Assim, a arte nos liberta do primado da raz�o e nos aproxima do indiz�vel, e, por isso, nos d� uma id�ia de que h� coisas no universo que escapam ao n�vel da cogni��o. Por isso a arte pode nos elevar at� Deus. No Romantismo, o homem se descobre livre para ser ele mesmo. Seus sonhos podem se tornar realidade. Nada � imposs�vel. Era a hora de sabermos que o que h� de mais caro na pessoa humana � o fato de que ningu�m � id�ntico a mais ningu�m. H� riquezas internas que precisam ser exploradas. E esta busca pelo Eu levava os jovens rom�nticos a buscarem o crep�sculo, a sentirem-se atra�dos pelo sobrenatural, pelo lado oculto da vida: o misterioso, o m�stico.

Uma das caracter�sticas mais belas do Romantismo, e uma das mais importantes, era o amor pela natureza e pela sua m�stica. O brado de Rousseau, "De volta � natureza", dito no Iluminismo, s� agora ganha impulso. Assim, em tudo, o Romantismo foi uma rea��o � vis�o de mundo mecanicista do Iluminismo. N�o � sem raz�o que todo movimento anti-mecanicista (como ocorre hoje) traz sempre consigo um renascimento do antigo pensamento hol�stico. Sempre que a vis�o de mundo mecanicista, como ocorre atualmente em nossa sociedade deconsumo-pelo-consumo, anula o ser humano enquanto ser humano, uma onda de rea��o, inicialmente d�bil e depois cada vez mais forte, se levanta para mostrar que a natureza, onde nos inclu�mos, � um todo, uma unidade. N�o podemos brincar com ela sem que advenham conseq��ncias funestas para tudo e para todos. Por isso, os fil�sofos do Romantismo se reportavam a Spinoza, a Plotino e a Giordano Bruno, cujas obras demonstram uma sens�vel forma de ver o mundo, predominantemente holista.

Descartes foi um dos maiores respons�veis pela n�tida divis�o e aceita��o cultural entre o psicol�gico e a realidade f�sica, divis�o essa que vem imperando durante os �ltimos tr�s s�culos, com consequ�ncias funestas para a humanidade. Mas, no Romantismo, a natureza � vista como uma grande rede viva de rela��es, um grande eu. Novamente a hist�ria se repete, e hoje temos uma extraordin�ria teoria ecol�gica do "planeta vivo" - a hip�tese Gaia, de James Lovelock. Para os Rom�nticos, o homem tem de reencontrar o contato com a "alma do mundo", assim como faziam os Druidas e outros povos ditos "primitivos".

Para o maior dos fil�sofos rom�nticos, Friedrich Wilhelm von Schelling (1775-1854), a natureza inteira, tanto no homem quanto na fauna e flora, eram a express�o vis�vel de Deus.

Schelling acreditava que a natureza � a express�o vis�vel do esp�rito. O esp�rito se serve da mat�ria com algum prop�sito definido, talvez o de evoluir. E o esp�rito seria a natureza em sua forma et�rea, invis�vel. Por toda a parte podemos ver claramente a a��o de um "algo" ordenador. Tal como em Plotino, tudo expressa evolu��o por tudo ter algo do Divino em si. A mat�ria seria uma esp�cie de intelig�ncia - ou alma - adormecida.

Deus se expressa em sua cria��o. O esp�rito deve ser procurado, portanto, tanto na natureza exterior quanto em n�s mesmos. Cristo havia dito que o Reino "est� dentro de v�s, mas tamb�m fora de v�s", segundo o Evangelho de Tom� (vide a Home Page sobre Jesus). Por isso Novalis p�de dizer que "o caminho do mist�rio aponta para dentro". Isso significa que o homem traz o universo inteiro dentro de si e que a melhor forma de se vivenciar o mist�rio do mundo � mergulhar dentro de si mesmo. Afinal, o s�bio ja tinha dito que "� conhecendo-se a si mesmo que se pode conhecer o universo".

O brado dos Rom�nticos era algo eminentemente oposto ao pensamento de Descartes. Enquanto para este s� existia uma alma no ser humano, para os rom�nticos, toda a natureza era a plena de esp�ritos.

N�o foi sem raz�o que Henrik Steffens caracterizou assim o movimento rom�ntico: "Cansamos de tentar abrir um caminho pela mat�ria bruta. Escolhemos, agora, um outro caminho e nos lan�amos, apressados, aos bra�os do infinito. Mergulhamos em n�s mesmos e criamos um novo mundo". Compare esta afirma��o com os pensamentos dos nossos g�nios cient�ficos atuais, e que t�m, de certa forma, a mesma opini�o (veja a Home Page sobre os F�sicos).

Schelling, tal como Plotino e, pouco depois, seu contempor�neo Allan Kardec, via na natureza uma evolu��o que ia dos minerais at� a consci�ncia humana. Em nosso s�culo, o antrop�logo jesu�ta franc�s Pierre Teilhard de Chardin tamb�m adotou esta mesma concep��o. Schelling chamou a aten��o para os est�gios de evolu��o que vemos claramente da mat�ria inanimada at� as formas mais complexas. A vis�o rom�ntica sobre a natureza � uma vis�o hol�stica por excel�ncia, sendo a natureza um organismo capaz de desenvolver criativamente suas potencialidades inerentes, ao longo do tempo. Todos os rom�nticos consideravam um organismo vivo tanto uma planta quanto uma na��o.

Estamos vendo ressurgir atualmente todo um renascimento dos ideais rom�nticos, talvez por resumirem toda uma heran�a filos�fica e por representar uma atitude de protesto contra o atual grau de coisifica��o de nossa civiliza��o. Nos �ltimos anos, especialmente desde a d�cada de sessenta, muitos cientistas de peso t�m afirmado que todo o nosso pensamento cient�fico est� diante de uma mudan�a de paradigma, ou seja, de uma mudan�a radical. Em diversas �reas, como na F�sica, na Biologia e na Psicologia, esta discuss�o j� tem dado seus resultados positivos. N�o nos faltam exemplos v�rios dos chamados "movimentos alternativos", que d�o particular import�ncia para um pensamento hol�stico e defendem um estilo mais humano e natural de vida, exatamente como o fizeram os rom�nticos a quase duzentos anos atr�s.

Bibliografia Sugerida

Gaarder, Jostein. O Mundo de Sofia. Companhia das Letras, S�o Paulo, 1995.

Reale, Giovanni & Antiseri, Dario. Hist�ria da Filosofia, Vol. III. Ed. Paulus, S�o Paulo, 1990.
Schelling, F. W. Schelling. Cole��o Os Pensadores. Nova Cultural, S�o Paulo, 1989.

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Seja honesto consigo mesmo: n�o plagie. Respeite o trabalho alheio.

Jo�o Pessoa, Para�ba, 02/01/1997
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