Hannya

A Coluna Prestes

Diz-se que Luis Carlos Prestes foi o último esquerdista brasileiro inteligente. De todo o seu legado ideológico, destaca-se principalmente o legado prático, a Coluna Prestes, uma milicia armada que marchou pelo Brasil clamando revolução por dois anos na década de 20. Um exército de farrapos e jagunços era o que era a coluna, formada no início por cerca de 700 homens. Diziam que era uma "*milícia armada" mais por propaganda que fato. Pelo menos metade do exército não tinha arma, e a metade que tinha portava armamento ultrapassado da primeira guerra. O primeiro grande problema que Prestes teve que lidar com seu jogo de cintura e sua refinada estratégia, foi o destacamento de dois batalhões, cada um de 5.000 homens, armados com fuzis importados de último tipo, que o governo federal enviou ao RS para conter os revoltosos. A solução adotada foi fazer chegar aos inimigos a falsa informação de que ele acabara de ocupar São Borja e, ao mesmo tempo, iniciar uma marcha para o norte. Quando o primeiro dos exercitos chegou na cidade, nao havia um unico revoltoso lá. Prestes notou que todos usavam o mesmo uniforme padrão do exercito, tanto revoltosos quanto legalistas, e resolveu tirar vantagem disso. Uma vanguarda enviada por Prestes fez contato e atraiu esse primeiro exercito. Essa vanguarda seguiu alguns quilometros ao leste, na direção do segundo exercito legalista, e quando sumiu da vista do primeiro exercito foi para o norte se juntanto ao grosso das tropas que imediatamente seguiram ruma a fronteira norte do Rio Grande. O resultado: O primeiro exercito continuou seguindo para o leste e, ao avistar o segundo exercito legalista, abriu fogo pensando se tratar da coluna. O segundo exercito por sua vez pensou que era a coluna que o atacava e respondeu. Ambos combateram por mais de 5 horas ate que percebessem o que acontecia. Nisso a coluna ja estava com uma vantagem de varias horas de marcha e os dois grupos perderam por volta de 500 homens cada.
Esse Recurso inventivo foi usado várias vezes durante a marcha, visando confundir e retardar os legalistas, a coluna não venceu nenhuma batalha da maneira convencional. Aliás, não venceu nenhuma batalha, como dizem os críticos. Mas também não perdeu nenhuma,como dizem os entusiastas.
Uma coisa é que tomar o poder não era o objetivo principal da coluna. Mesmo Prestes disse em entrevistas que desde o inicio eles nao tinham nenhum plano de governo, apenas algumas intenções gerais de acabar com toda aquela vergonha da corrupção, instituir ensino publico de qualidade obrigatorio para todos, tirar do poder os oportunistas e corruptos que sugavam o país, dar o tratamento devido as forças armadas... enfim eles queriam purificar a republica, livra-la das distorções que haviam lhe sido impostas.
Assim, o objetivo principal era outro: Se deslocar constantemente para manter viva a "chama da revolução": Atraves de sua marcha pretendiam que a mensagem revolucionaria chegassem as populações. Esse recurso teve como resultado algo imprevisto para os chefes da coluna: Sua mistificação. Lendas corriam falando que a coluna não podia ser derrotada pois um velho preto feiticeiro fechava o corpo dos soldados da coluna antes do combate, o que os deixava invencivel. Os caboclos sussurravam que Prestes era na verdade um poderoso feiticeiro, um adivinho capaz de ver os movimentos das tropas inimigas e de conjurar do nada cartucheiras e armas novas para seus soldados. Assim, atingiu mais as classes médias das cidades. No campo gerou a mistificação da figura de Prestes.
Outro dos objetivos principais era atrair para perseguir a coluna pelo inteior o maior número possível de tropas estacionados nas capitais, para facilitar o trabalho de outros grupos revoltosos. Para isso eles tratavam de espalhar boatos que exageravam a própia força, fazendo parecer que eram númerosos e bem armados ao ponto de ter como conquistar cidades como o Rio e Teresina.
Esses objetivos foram atingidos plenamente, basta ver os relatos de pánico do prefeito de Teresina ao perceber que a Coluna se aproximava de sua cidade, pedindo reforço imediato para os estados vizinhos e a atitude de Artur Bernardes quando a Coluna subitamente mudou seu rumo para o sul, em direção ao rio: O presidente mandou oferecer anistia a presos e fez vir por mar tropas das policias estaduais, jagunços e criminosos libertados para reforçar a segurança do Rio contra um ataque que ele julgava iminente.
Outro dos objetivos era mostrar a ineficiencia das forças armadas e a falta de competencia do governo: Afinal eles eram um grupo compacto de homens, pessimamente equipados e sem linhas de suprimento. Mesmo assim permaneceram 2 anos e meio em revolta aberta sem serem esmagados e o pior, na maior parte do tempo determinaram o ritimo dos combates sem que o governo conseguisse conte-los.
Como objetivo secundario eles pretendiam conseguir voluntarios. " Marchando engrossaremos a coluna ". Algo como formar um exercito com todos os descontestes. Se esse objetivo fosse alcancado a coisa tomaria novo rumo e eles rumariam para o Rio para arrombar as portas do Catete, o que não chegou a acontecer.
Sobre a recepção da população, na região centro-oeste e no estado do maranhão existem relatos de que foi extremamente receptiva: A coluna era recebida com festa pela população. Queimavam certificados de divida e de impostos como forma de livrar temporariamente a população dos tributos e vinculos com o governo e oligarquias estaduais, libertavam presos politicos e quebravam instrumentos de tortura que achavam na maior parte das delegacias pelas quais passavam. Da Bahia em diante foi diferente. O governo resolveu também usar o recurso de mistificar Prestes e a coluna: Numa cidade do sertão um grupo de soldados da vanguarda tiveram seu tentente morto por um tiro disparado dado por um padre ( !!! ) que do alto da torre de uma igreja comandava um bando de jagunços. Os soldados irados e sem nenhum supervisor mataram os jagunços e, ao encontrarem o padre, arrancaram seus testiculos com um facão e os enfiaram em sua boca. Logo depois o grupamento de 50 soldados sacaram seus fações e distorceram totalmente o padre agonizante.
Baseado nisso o governo iniciou sua propaganda. Contatou Padre Cicero que imediatamente iniciou a pregação pelo sertão: Foi de vila e vila levando a palavra de que a Coluna era o exercito saído dos infernos cujo objetivo era a destruição total das terras por onde passava e que seu comandante era o próprio Satanas que saindo dos planos inferiores ocultou sua verdadeira imagem como sendo um oficial do exercito, Luiz Carlos Prestes. Nessa pregação prometeu perdão legal e divino aos presos e condenados que combatessem a Coluna, além de fartas recompensas e soldos.
Assim, das cadeias e de todos os cantos do sertão vieram bandidos e jagunços de todo tipo que receberam uniformes do exercito e armas importadas de ultima geração para formarem os batalhões patrioticos que, sob o comando dos coroneis, partiram com as bençãos do Padre Cicero para enviar o exercito de demonios agonizarem novamente nos sete circulos infernais. Além dos batalhões o governo contratou diversos grupos de cangaceiros e os equipou para perseguirem a coluna, como o grupo de lampião por exemplo. Um detalhe interessante é que esses batalhões patrioticos sofreram denúncias de super-faturamento com soldos e compras de armas.
Enfim, foi uma coisa de louco. No final das contas os batalhões patrioticos não conseguiam acompanhar o ritimo da coluna que seguia fazendo emboscadas e avançado cortando brechas das formações das forças regulares do exercito e fazendo com que os batalhões patrioticos abrissem fogo contra esses. Enquanto isso a lenda e a força da coluna e seus comandantes crescia, alcancando um prestigio capaz de abalar as estruturas da républica velha. A Aliança Liberal usou a Coluna como plataforma para conseguir simpatia diante da população e tudo o mais.
A coluna pôs o dedo na ferida e expos as mazelas da República Oligarquica para todo o país: Mostrou a crise social no interior abandonado, o dominio dos coroneis nos sertões do Brasil e desencadeou uma série de eventos que culminaram com a revolução de Vargas e a mudanças significativas no quadro geral do Brasil, seus protagonistas ocuparam lugares de destaque nos eventos das decadas seguintes atuando em diferentes espectros ideologicos.

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