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Dicionário/dictionary; gramática/grammar; índio/indian

 

Vocabulário dos termos tupis

de O selvagem de Couto de Magalhães

 

por Humberto Mauro [1943]

 

 

 

 

[Prefácio]

Vocabulário tupi de Humberto Mauro (*)

[por E. Roquette Pinto]

(*) Conferência realizada no Instituto Histórico em 22/10/1950.

 

            Começou o orador pondo em relevo o desvelo com que o ilustre presidente,embaixador J. C. de Macedo Soares, vem prestando a sua preciosa assistência ao desenvolvimento cultural do Brasil. É um catalisador magnífico de construções espirituais; anima todos os que trabalham. Até mesmo os da Reserva... da 2.ª Linha. O orador, que pertence a esse grupo, está pois ali, cumprindo as ordens dos seu presidente. O coração bate mais forte e mais depressa quando entra no Instituto. Foi a Casa que o recebeu, animou, instruiu, e até mesmo premiou, na mocidade; é sempre a Casa de Afonso Celso, de Ramiz Galvão e de Max Fleiuss este amigo era o entusiasmo feito homem. É a casa onde diariamente encontrava Vieira Fazenda, Basílio de Magalhães, Capistrano de Abreu, Rodolfo Garcia e tantos outros mestres e bons amigos. O orador agradece em termos expressivos a presença do ministro da Educação, professor Pedro Calmon e do seu mestre de sempre, o venerado Sr. General Rondon.

            "Venho hoje ao Instituto, continuou o Sr. Roquette Pinto, entregar, em nome do autor, o Vocabulário Tupi compilado por Humberto Mauro sobre o material de O selvagem de Couto de Magalhães.

            O grande sertanista, tratando das diferenças existentes entre os dialetos tupi e guarani, prometeu, para a segunda edição do seu livro monumental, um dicionário que desejava preparar.

            O vocabulário de Humberto Mauro não é, nem de longe, o que desejava realizar o autor de O selvagem. Seus intuitos são muito mais modestos. Mas, ao que penso, prestou o nosso querido amigo e companheiro de trabalhos no Instituto Nacional de Cinema Educativo, excelente serviço aos leitores de Couto de Magalhães.

            "Quem lê O selvagem do general Couto de Magalhães — escreve Humberto Mauro — e se interessa pela inestimável contribuição que o famoso etnólogo trouxe aos estudos da língua tupi, sente desde logo uma deficiência prática na relação desordenada dos vocábulos tupis que a obra contém. Isso notei-o eu, de início etc., etc."

            Na verdade a obra de Couto de Magalhães é um método, então muito usado no ensino das línguas cultas — o velho método de Ollendorf, completamente independente de qualquer seriação vocabular.

            Mas o estudioso, depois de certo grau, começa a sentir falta da relação alfabética dos vocábulos, a fim de poder compor livremente as suas frases preferidas.

            Aí reside o mérito indiscutível, prático, objetivo, do cuidadoso trabalho de Humberto Mauro. Nenhum de nós dois é autoridade na matéria. Em tupi, como em muitas outras coisas, não passamos de apaixonados dilettanti, o que afinal é pleonástico — porque no termo italiano está implícita a paixão do interessado. Assim, desejamos seja bem recebido o esforço honesto e digno de Humberto Mauro.

            Trata-se de um grande artista que há mais de 15 anos vem dedicando talento e cultura ao cinema educativo, realizando obra notável no sentido de levar ao povo o melhor e o mais agradável ensino a respeito dos aspectos espirituais, científicos, artísticos, históricos, técnicos ou especializados da nossa terra. Alguns filmes que ele nos fará admirar nesta sessão (O Descobrimento do Brasil, Rui BArbosa, Bandeirantes, etc.) hão de provar a todos que não há exagero nenhum nas minhas expressões.

            Na minha humilde opinião o Instituto daria grande passo chamando para o seu quadro social, ao lados dos historiadores, dos geógrafos, dos etnólogos, dos homens de estado, dos homens de letras — artistas de valor, músicos, pintores, escultores, técnicos de autoridade comprovada. Uma espécie, sem paralelo, de Instituto da Cultura Brasiliana.

 

* * *

 

            Mas o Vocabulário de Humberto Mauro tem uma história. É que em 1941 tentamos arregimentar um núcleo de amigos do Tupi; e fundamos certa colônia de férias, nas areias da barra da Tijuca, bem em frente às ilhas Comprida e Alfavaca, na região onde naufragou há pouco o belo navio inglês Madalena.

            Aí construiu-se uma taba de paus a pique e de sapé: era a taba do Sambaki. Nome, na verdade, bem modesto, poque afinal Sambaki — é sempre acúmulo de detritos, restos da vida selvagem, quando não é natural. A língua oficial do Sambaki era o Tupi. Nesta altura surgiu uma dúvida. Não havia concordância nos tupis encontrados nos melhores autores... Por outro lado como exigir dos Sambakiuaras que estudassem a língua oficial da taba... se não havia livros no mercado, a não ser O selvagem. É o único por onde é possível aprender a falar esta língua — são palavras de Couto de Magalhães. Homens, mulheres e crianças foram batizados, de acordo, em Nheengatu. Afonso de Taunay entrou para a tribo, e foi chamado Ibirapitang (Pau-Brasil) em homenagem a sua grande vila de trabalho glorioso e também... porque era o mais alto de todos. Uirassu (Gavião de penacho) escreveu uma carta em tupi dando notícia a Taunay, lá em São Paulo, da fundação do Sambaki e da inclusão do seu nome na lista da gente da taba. Taunay respondeu num documento que figura no arquivo do Sambaki. Estava de acordo. Aceitava o nome. Tinha realizado uma proeza: conseguira entender a carta dos amigos do Sambaki...           

            O nosso tupi não valia grande coisa, mas preenchia o seu fim. Taunay respondeu enviando bravos, pela idéia. Leu a mensagem com o auxílio de Plínio Airosa. Mas para salvar o prestígio das nossas cadeiras aqui no Instituto, foi logo lembrando que o Sambaki devia ter o nome do venerando frei Gaspar da Madre de Deus, por obediência à prioridade histórica.

 

* * *

 

            Para os que desejarem saber a extensão do guarani falado atualmente no Brasil existe hoje um volume publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística — Rio, 1950.

            Para quem desejar conhecer a história dos estudos tupi-guaranis no Brasil recomendo com entusiasmo um notável prefácio escrito pelo mestre Basílio de Magalhães para o "Curso de Tupi Antigo" do padre Antônio Lemos Barbosa, volume que está sendo editado pelo Ministério da Educação. Antônio Lemos Barbosa é hoje uma das maiores autoridades no assunto. O prefácio foi publicado no Jornal do Comércio de 16 de fevereiro de 1947. Transcrevo aqui algumas notas que sobre o estudo do tupi publiquei há algum tempo, no Jornal do Brasil, a pedido de alguns companheiros, fãs da língua boa.

            Ainda que não se considere o valor do Nheengatu como elemento de erudição brasiliano, ou valioso repositório de lídimos aspectos tradicionais, o tupi, por si mesmo, é idioma interessante. Eufônico, dúctil, ágil, relativamente fácil e muito rico, se considerarmos que se trata de língua de bárbaros primitivos, sem nenhum apoio ideográfico, silábico ou alfabético.

            Todo mundo sabe que ele era a língua mais espalhada no território do Brasil. Basta lançar os olhos no mapa geográfico; há nomes puramente tupis em todo o litoral, no Amazonas, no extremo sul e mesmo no centro do país. As outras línguas indígenas nunca passaram de idiomas regionais, bem localizados. E convém, mais uma vez, lembrar quanto é falsa a crença de que todos os índios falavam ou falam a "língua geral" (Tupi). Nada menos verdadeiro. Por aqui mesmo, nas vizinhanças da capital da República [então no Rio de Janeiro] viviam verdadeiros tupis (p. ex. os Tamoios, da Guanabara) e nações de língua Gê [Jê] (Botocudos-Naknanuk, etc., nos territórios dos estados do Rio, Minas, Espírito Santo).

            Um tupi, frente a um botocudo, cada qual falando o seu idioma, entendem-se tanto quanto um português e um russo...

            Mas além da sua dominância territorial imensamente grande, o tupi teve a sorte de encontrar estudiosos apaixonados; foi a língua franca dos jesuítas missionários e durante séculos foi o idioma corrente nos centros de cultura ocidental no país. No Pará, no Maranhão, no Rio, em São Paulo — era a língua do povo.

            O ilustre padre Serafim Leite, depois de recordar que uma das regras da Companhia de Jesus é que todos aprendam a língua da terra em que residem, acentua a importância que ela deu ao tupi, considerado pelo padre Manuel da Nóbrega — o latim da terra. Por saberem bem a língua, continua o grande historiador, se ordenaram alguns em 1584, ainda que estivessem fracos em latim... o conhecimento do tupi chegava a suprir a deficiência de conhecimentos teológicos para alguns postulantes menos talentosos.

            Diz o conde Stradelli que quando chegou ao Amazonas, nos últimos anos da monarquia, encontrou em Belém do Pará uma cátedra de "língua geral" professada pelo coronel Faria, a quem se deve uma gramática, escrita para os seus alunos. Em Manaus, continua o conde, a língua era falada em muitas casas de tratamento, "da sala de visitas para dentro".

            Mas o ensino que os jesuítas iniciaram e por tanto tempo mantiveram foi pouco a pouco definhando. Em 1876, por ordem do Imperador, Couto de Magalhães compôs o seu curso de Língua Geral Tupi, trabalho essencialmente prático e útil. Em 1925 encontramos de novo no primitivo centro de São Paulo o renascer de estudos regulares, iniciativa de Afonso A. de Freitas, no Instituto Histórico daquela cidade. Foi, porém, de abanheenga ou guarani falado no Paraguai, o curso então realizado pelo Dr. Juan Francisco Recalde, meu ilustre amigo de Assunção [Asunción], que durante anos residiu no Brasil.

            Na Universidade de São Paulo, desde 1935 figura a cátedra de Tupi, entregue à dedicação de Plínio Airosa.

            O assunto sempre interessou enormemente os intelectuais do país. Aqui, no Instituto, na Academia Brasileira e em muitos outros centros, tem-se defendido o ensino sistemático da língua. Quantas e quantas vezes o meu querido mestre João Ribeiro lastimou o abandono da língua boa!

            São, penso, muitos os que apreciam o Nheengatu, seja como elemento histórico de que falei no começo, seja como utilidade simples ou erudita, valiosa para naturalistas e geógrafos. Infelizmente — falo agora como simples aluno autodidata e vadio — os mestres, em geral, complicaram o estudo da língua boa! É preciso muita força de vontade para não desanimar, à vista da confusão que existe na gramática e no vocabulário, já sem falar na pronúncia de alguns sons peculiares ao idioma. Aqui desejo lembrar o valor inexcedível que terá o disco fonográfico no ensino do tupi. Mais uma iniciativa à espera do Instituto... Na grande maioria dos casos, a confusão nasceu involuntariamente. Obras escritas em épocas diversas, às vezes com intervalo de séculos (Anchieta – 1595; Figueira – 1611; Couto de Magalhães – 1876...) documentando a fala de tribos imensamente distantes umas das outras (Pará – São Paulo...) é evidente que não poderiam deixar de consignar variações de tomo.

            Hartt, por volta de 1872, observava que a Língua Geral do Amazonas não é o Tupi dos antigos jesuítas. Na pronúncia e na estrutura, diz ele, as duas línguas diferem ainda mais que o português do espanhol, e as orações, hinos, etc. dos jesuítas, não são entendidos pelos índios amazônicos de hoje. Por isso Plínio Airosa em 1933 assim classificou os dialetos tupis:

 

            1 – Tupi antigo                \

                                                     > Abanheenga

            2 – Guarani antigo           /

 

            3 – Tupi moderno          ou Nheengatu

 

            4 – Guarani moderno     ou Abanheenga

 

 

            Conselho útil aos que pretendem estudar o tupi: antes de começar escolham o dialeto.

            A respeito da conjugação dos verbos tupis, o estudante encontra coisas saborosas no cotejo dos autores.

            "Os autores, escreve Plínio Airosa, em geral perderam-se em detalhes, quiseram arrolar todas as variações sutis que conheciam, nas vozes verbais, e daí criaram um verdadeiro caos que hoje nos embaraça e nos dá a impresssão de problema quase insolúvel."

            O padre Tastevin, há pouco falecido em França, notável conhecedor do tupi do Amazonas, onde morou longo tempo, tupi que ele denomina Língua Tapihiya — (Couto de Magalhães dá esse nome ao índio em geral) — o padre Tastevin afirma o seguinte, que vale a pena deixar no original:

            Le tupí est une langue primitive très simple, fort peu compliquée. Elle n´a ni genre, ni nombre, ni temps, ni modes, ni declinaison, ni conjugaison. Mais on lui a cherché e on lui a trouvé — (qui cherche trouve) — tous les temps passés, présents et futurs, tous les modes, tous les participes, gérondifs e supins de la langue latine.

            Para atingir tal resultado juntaram-se vocábulos e a língua resultou transformé, deguisée, defigurée, méconnaissable, illisible... E o padre Tastevin dá este exemplo, realmente cômico, da gramática de Figueira:

 

ndiandemaenduarixoetemomã

 

            Essa "beleza" seria, apenas, o optativo negativo do verbo lembrar-se: "Pudéssemos não nos lembrarmos..." é a tradução daquilo.

 

————

 

            O principiante não deve perder de vista as variações seculares do tupi. Sem isso, repetimos, desanima.

            Assim, em Anchieta — (1595) — eu mato diz-se: xe ajúco; eu não mato, diz-se: xé najucái.

            O verbo negativo recebe n, d, ou nd como prefixo e a letra i como sufixo.

            Mas tudo isso era no tupi antigo e complica bastante as coisas. No tupi moderno (Simpson, Couto de Magalhães, Stradelli, Tastevin...) — basta antepor ao verbo afirmativo um não conveniente: inti ou ti — não; intimahá — nada:

 

            — Quando voltas?

            — Mairamé tahá reiuiri?

            — Eu não sei quando volto.

            — Intí xaquáu (xe aquáu) mairamé xaiuíri (xe aiuíri).

                 não             eu sei        quando             eu volto

 

————

 

            Outras vezes a confusão é menos dramática. Nasceu da preocupação de facilitar a pessoas de modesta cultura, a prática da língua boa, para uso corrente, no comércio com os índios. Foi o que aconteceu no utilíssimo livro de Couto de Magalhães.

            Ter traduz-se rekó (r muito brando). Tu tens será então: Ndê re-rekó, sendo o primeiro re partícula correspondente à segunda pessoa do singular.

            O livro, porém, ensina: Rerekó — Tem você...

            Na 3.ª pessoa do singular o pronome é ae ou i, e a partícula pronominal correspondente é o.

            Sie haben como dizem os alemães, ou Lei ha, como fazem os italianos corresponderia ao Você tem (Vossa Mercê tem...):

 

aé o-rekó

Sie haben

 

            O índio, porém, diz é tu mesmo...

 

            Fato idêntico verifica-se na tradução de algumas lendas: no texto tupi os verbos estão no presente; na tradução portuguesa, verbum ad verbum, acham-se os verbos no passado.

            Tudo isso, para quem se inicia, é grandemente perturbador.

 

* * *

 

            A questão ortográfica — até no tupi... — é importante. Assim: Este acha-se nos livros da mais diversa maneira: quá, quahá, coá, cua, koá, huá... E muitas vezes é difícil encontrar nos vocabulários a palavra desejada, só por causa da grafia. Só no tupi?

            Couto de Magalhães adverte, com muito acerto, que o estudante não deve dar importância maior ao que está escrito: convém reconhecer os vocábulos pelo ouvido.

            É a vitória do disco sobre a ortografia.

            A maior diferença que encontrei no guarani (do Paraguai) para o tupi (do Brasil) está na formação dos tempos dos verbos.           

            No guarani "El sufijo de futuro es ne... Curí — sufijo átono de pasado..." (Guash – El Idioma Guarani – Asunción, 1944).  

            No tupi moderno é o contrário... o sufixo ána leva o verbo ao passado; curí — leva o verbo ao futuro.

            Exemplos de Couto de Magalhães:

 

                        Xa mehém — Eu dou

                        Xa mehém ana — Eu dei

                        Xa mehém curí — Eu darei

 

            No guarani curí caracteriza o passado; ne ou ane caracterizam o futuro. No Tupi de Anchieta era também assim.

            Dos sons característicos o tal y gutural (água)... só mesmo ouvindo. Em todo caso adotamos, eu e um grupo de amigos que estamos praticando o nheengatu, a técnica seguinte, capaz de dar algum resultado: cerrem os dentes, esbocem um sorriso... e articulem, com força, o i do português; sai, mais ou menos, algo de parecido com o tal Y ou Yg (água, dos tupi-guarani).

 

————

 

            Os mestres atuais, realizando uma revisão de gramática, textos e vocabulários, prestarão ótimo serviço aos estudiosos da minha humilde condição. Penso que são muitos os amigos da Língua Boa. Nós não pediremos ao Governo que torne o Tupi idioma oficial, como queria o admirável Policarpo Quaresma da sátira imortal de Lima Barreto. Mas desejamos que um índio de verdade, aparecendo por aqui, entenda o que lhe dissermos embora rindo muito de nós...

 

Prof. E. Roquette Pinto                       

 

 

[Introdução]

VOCABULÁRIO DOS TERMOS TUPIS

DE O SELVAGEM DE COUTO DE MAGALHÃES

 

Tupi-Português

Português-Tupi

 

Roquette Pinto arãma:                                    

UIRAÇÚ, anãma-etê, piá catúçáua iapoú,       

quáhá munhãnçauá-mirim.                               

Ce piá xíi catú                       

anãma-etê çui                       

Humberto Mauro                                           

Rio de Janeiro, 31-12-43.                              

 

            Quem lê O selvagem, do general Couto de Magalhães, e se interessa pela inestimável contribuição que o famoso etnólogo trouxe aos estudos da língua Tupi, sente desde logo uma deficiência prática na relação desordenada dos vocábulos tupis que a obra contém.

            Isto notei-o eu, de início, quando, com a aquiescência ilustre do professor Roquette Pinto, este sábio antropólogo se dispôs a exercitar comigo uma conversação, de minha parte incipiente, naquele idioma indígena.

            Foi assim que me ocorreu a idéia, que ora executo, de alfabetar o acervo lingüístico de O selvagem, no propósito de servir aos estudiosos para os quais essa ordenação léxica possa realmente representar uma facilidade.

            Devo, no entanto, ressalvar que por dois motivos essenciais, não vão aqui reproduzidos os sinais diacríticos que o emérito indianista julgou acertado apor às palavras recenseadas no seu livro: o primeiro é que até o presente não se chegou a um acordo unificador quanto ao sistema exato de representar certos fonemas tupis, tão diversos na criação autorizada de pesquisadores e eruditos que estudaram a língua desde os primórdios da colonização; o segundo é a carência tipográfica para assunto dessa natureza.

            Com estas explicações, que me pareceram indispensáveis, ofereço aos interessados este modesto e despretensioso trabalho, que de alguma sorte poderá vir a ser útil à matéria e aos seus cultores.

 

                        Rio de Janeiro, 31-12-1943. — Humberto Mauro

 

 

TUPI-PORTUGUÊS

[Obs.: "e~", "i~" e "u~" representam e, i e u nasalizados.

Em muitos casos ocorre redundância nessa informação, grafando-se vogal + "~n".]

 

A

 

A – Prefixo prenominal da 1.ª pessoa. Ex.: Ixé arekó — eu tenho; ou por contração: Xárekó. Às vezes para mais expressão e energia dizem assim: Ixé xá rekó.

Á – Ali, lá, acolá.

Aápé – Ali, lá, acolá.

Aba – Homem. Aba não aparece no vocabulário de O selvagem. Couto de Magalhães dá homem como apgáua. Sendo a raiz que significa homem: áua. O professor Roquette Pinto acha, no entretanto, que devemos conservar aba, pois apgáua significa o macho de todos os animais: Abaeté – Homem honrado, de verdade.

Aba – cabelo.

Abaúna – Homem preto.

Abajá – Mestiço.

Abatinga – Homem branco.

Aca – Chifre.

Acaiú – Ano.

Acutí – Cutia.

Aetá ou aitá – Eles, pronome da 3.ª pessoa do plural. É uma contração de ahé – ele, e etá ou itá – sinal de plural: partícula que corresponde ao nosso "s".

Ahé – Ele. Pronome da 3.ª pessoa do singular.

Aitá – O mesmo que aetá – ele.

Aiua – Velho/a. Estragado/a. Adjetivo que se aplica geralmente às coisas e animais. Homem velho – tuiúé. Mulher velha – uáimi~.

Aiúm ou Anhu~ – Senão, mais que, só, somente.

Ajúra – Pescoço.

Akanga – Cabeça. Akangaiúa – louco (cabeça estragada). Akangaima – sem cabeça, acéfalo (akanga – cabeça + ima – sem), pode significar também bobo, tolo, idiota.

Akanga-atára – Ornato da cabeça. Akangací – dor de cabeça.

Amâna – Chuva. Amãnapipi – chuvisco. Amãnauaçú – tempestade. O selvagem dá como tempestade: iuitúaiúia. Iuitú é vento. Amãna-ára – dia de chuva (chuvoso).

Amanijú – Algodão.

Amaniú ou amanijú – Algodão. Amaniú inimu~ – linha ou fio de algodão.

Amira – Finado.

Amú – Outro/a.

Amúaúa – Alguém.

Amúara – Alguns dias.

Amúitá – Outros/as.

Amúketé – Para alguma parte.

Amúkuecé – Anteontem.

Amú-tetãma-uára – Estrangeiro, isto é, outro pátria-alguém.

Ãn – O mesmo que ãna – partícula que indica passado, quando adicionada ao presente indefinido (V. âna).

Ãna – Ou simplesmente ãn – partícula que, adicionada ao presente indefinido, forma o passado. Ex: Xá rekó ãna – eu tinha, eu tive.

Ãna – Já. Ex.: Ce quérãna – estou já aborrecido (cuéra – aborrecido, ãna – já).

Anãma – Amigo, parente.

Anãma-eté – Amigo de verdade.

Anãma-reté – Muito amigo.

Anãmapiá – Amigo do coração.

Ané – Nuca.

Anga – Sombra. (Às vezes, reflexo). Alma.

Angaipáua – Culpa, pecado.

Anhanga – Deus que protege a caça. Incapaz de boas ações para com o homem.

Anhu ou aium – Só, somente.

Apé – Ali, lá, acolá.

Apecatú – Longe.

Apecõn – Língua.

Apekéxinga – Calvo.

Apgáua – Homem. Significa melhor o macho de todos os animais. Ex.: Iauára apgáua – cão. Iauára cunhã – a fêmea [do cão].

Apucuitáua – Remo.

Apu~na – Forno.

Apú~nacaá – Forno do mato, era o nome que os indígenas davam ao botão floral da vitória-régia, devido à sua forma oblonga.

Aqúá – Entendimento.

Aqúáíma – Sem entendimento, tolo, idiota, bobo. (ma – sem).

Ára – Tempo, dia. Ára iané iané – Todo dia. Opain ara opé – Todos os dias.

Ára – Terminação que forma o substantivo dos verbos ara, uára e çáua. Exs.: Munhãngára – obreiro. Munha – verbo fazer. Munhã-çáua – a obra.

Arãma – A, para (alguém), signal dativo. Também se usa çupé. O dativo se forma seguindo o nome: Ex.: Xá rúri iepé iuá José arãma – Eu trago uma fruta para José. Xá nhee~ ãna Pedro çupé – Falei a Pedro.

Aráxá – Planalto – região mais alta de um sistema qualquer. Ará – dia. Xá – ver. Donde se vê o sol de manhã [ou] ao cair da noite.

Ári – Cair.

Áripe – Sobre, em cima, em riba. Exs.: Caneatinga-rerú oikó mirá-peva áripe – o castiçal está em riba da mesa.

Arupé – Por ali.

Atára – Ornato, enfeite, adorno. Ex.: Acanga-atára – ornato da cabeça. Piatára – enfeite do pé.

Auá – Quem? A presença das partículas interrogativas: auá, será, tá, tahá ou pá, estabelece a distinção entre as frases interrogativas e as afirmativas. Ex.:

Auátahá – quem?

Auáta – Quem? Partícula interrogativa (v. Auá).

Aúatí – Milho.

Auátií – Arroz.

Áva – Cabelo.

 

B

 

Bacaba – É uma bebida.

Bebé – Voar.

Bejú – Beiju. Espécie de biscoito feito de farinha de mandioca (vocábulo tupi que passou para o português).

Boia – Cobra.

Boia-uaçú – Cobra grande.

Búicuá – Sujar.

 

C [Ver Ç após o final da letra C]

 

Caá – Mato, folha.

Caãn – Experimentar.

Caápé – No mato.

Caáxirica – Folha seca.

Caámunú – Caçar.

Caamuniçáua – Caçada.

Caápira – Limpador de mato. Montador.

Caapoi~n – Ilha.

Caapõm – Capão (mato).

Caamúnúçáua – Caçada.

Caápóra-uaçú – Gigante.

Caátinga – Catinga (mato) (mato branco?).

Cahapóra – Ente sobrenatural.

Cái (ou çapi) – Queimar.

Caima (ou canhimo) – Perder.

Cairé – Lua cheia. Catiti – lua nova. Ambas têm a missão de despertar saudades no amante ausente.

Camí – Leite.

Canhimo (o mesmo que caima) – Perder.

Capii – Capim, erva.

Cariua – Homem branco, cristão.

Cariuóca – Mulato, mestiço.

Catereté – Era dança religiosa entre os tupis.

Catiti – Lua nova. Cairé – lua cheia. Ambas têm a missão de despertar saudades no amante ausente.

Catú – Bom.

Catúçáua – Bondade, lado direito.

Catúpire – Melhor.

Catúreté – Ótimo.

Cáua – Marimbondos.

Cãuéra – Osso, caveira.

Ce – Meu, minha.

Ce-mahã – O meu. Minha coisa.

Ce-mukáua catú – Minha espingarda é boa.

Ce pia çui (xíí) catú – Do meu coração; de boa vontade.

Ceíia (ou cetá) – Muito/a/os/as.

Ceiucí – Significa a constelação da Plêiade ou 7 Cabrinhas como diz o povo.

Ceiucí – Velha faminta. É também o nome de uma fada indígena que percorria os bosques sempre perseguida por eterna fome.

Cekiie – Medo.

Cemiiua – Alagado.

Cêmo – Sair (também significa nascer).

Cemu~ti~ma – Esconderijo.

Cenó – Ouvir.

Céra – Nome (quando se fala na 3.ª pessoa).

Cerimáu (ou xerimbabo) – Animal doméstico.

Cetá (ou ceíia)- Muito/a/os/as.

Cetá i – Muitas vezes.

Cetúna – Cheirar (sentir pelo nariz).

Chiróra – (Siróra) – Roupa.

Chirôrai~ma – Nu. (v. xiróra).

Cicaátã – Resina.

Cicari – Procurar, buscar.

Cicurijú – Sucuri.

Cikináu – Fechar.

Cinimu~ – Sinimbu.

Cinipuga – Lustroso/a.

Coarací – Sol.

Coarací-iuaté – Sol alto.

Coaracipé – Ao sol.

Coéma – Manhã (do nascer do sol até 9 horas). Iané coêma – bons dias (cumprimento).

Coéma-eté – Cedo.

Coéma-piranga – Madrugada (o vermelho da manhã).

Coéma-ramé – De manhã, pela manhã.

Cuára – Vivente (v. guára, uára).

Cuéra – Aborrecido.

Cuhire – Agora.

Cuhire tehe~n – Agora mesmo.

Cuí – De. Ex.: Tupã cuí – de Deus. Usa-se também cuiuára ou xiiuára. Ex.: kicéitaxiiuára – faca de pedra.

Cuia – Cuia (vocábulo caboclo tupi que passou para o português).

Cuiambúca – Cumbuca.

Cuíre (o mesmo que cuhire) – Agora.

Cuiuára – De (v. cuí).

Cujubí – Pássaro. Uma espécie de jacu.

Cumandí (ou cumaní) – Feijão.

Cumandiassú – Fava.

Cumaní (ou cumandí) – Feijão.

Cumutí – Pote.

Cupé – Costas.

Cupií – Cupim.

Cupixáu (ou cupixáua) – Roça.

Cupixapé – Na roça.

Cupixáua (o mesmo que cupixáu) – Roça.

Curí – Partícula que, adicionada ao presente indefinido, forma o futuro. Ex.: Xárecó curí – Eu terei.

Curumi~ – Menino (moço).

Curumi~uaçú – Menino quase homem.

Curumiri~ – Logo.

Curupira – Deus que protege a floresta.

Cururú – Dança religiosa dos tupis.

Cururúca – Ronco, berro.

Curuté – Depressa.

Curute~n – Depressa.

Curútéuára – Repentinamente, de repente.

Curútéuára – Facilmente (num instante).

 

Ç

 

Çaãn – Experimentar.

Çácanga – Ramo.

Çacaquéra – Atrás, para trás.

Çacémo – Latir.

Çaçi (ou çaçiára) – Triste.

Çaçiára (ou mesmo que çaçi) – Triste.

Çacú – Calor, quente.

Çaharú (ou çarú) – Esperar.

Çái – Azedo/a. Içai – vinagre (água azeda).

Çaiçú – Amar, gostar.

Çaié (ou iandára) – Meio-dia.

Çapi (o mesmo que caí) – Queimar.

Çapiá (ou rapiá) – Escrotos.

Çaquéna (ou çaquénaçaua) – Cheiro, perfume.

Çaquenaçáua – Cheiro, perfume.

Çára – Terminação que forma o substantivo dos verbos.

Çarú (ou çaharú) – Esperar.

Çáua – Terminação que forma o substantivo dos verbos (v. ára).

Çáua – Pena.

Çáuai~ma – Depenado.

Çauké – Perto.

Çeii – Conduzir.

Çi – Mãe.

Ço – Ir. (Faz no imperativo coin).

Çoo – Carne (enquanto no corpo com vida).

Çoo – Caça, animal do mato.

Çooquéra – Carne (fora do animal).

Çorí – Alegre.

Çuá – Cara, rosto (para a 3.ª pessoa). Para a 1.ª e 2.ª pessoa – Ruá.

Çuaçú – Veado.

Çuaçuapara – Veado grande (do tamanho de uma novilha mais ou menos).

Çuiáia – Cauda, rabo.

Çuai~n – Margem.

Çuaindá – Outro lado. Outra margem.

Çuai~ndape – Outra margem.

Çuãti – Aparar.

Çuaxára – Responder. Lado, banda, margem. Amú çuaxára – outra margem.

Çuí (ou xií) – Do (lugar de onde alguma coisa vem). Ex: Xá iúre Caraí çuí (xií) – Eu venho do Icaraí.

Çuikira – Azul.

Çupapáu – Quinta-feira.

Çupí – Na verdade.

Çupiá – Ovo.

Çupí-tenhem – Em verdade, na verdade. Sim senhor.

Çupíre – Conduzir, carregar.

Çurára – Soldado.

Çurára-parana-pora – Marinheiro (soldado que mora no mar).

Çutinga – Vela.

Çuú – Morder.

 

E

 

Eé – Sim, sim senhor, está bem, etc.

Embira (ou membira) – Filho.

Enguá – Pandeiro.

Enú – Pôr.

Epejá – Fulano.

Eré – Adeus! Sim. Sim senhor, está direito, está bem, etc.

Erundí – Quatro.

Eté (ou etê) – Verdadeiro, de verdade.

 

G

 

Gaápira – Cima.

Gaápira-keté – Para cima, rio acima.

Guára (ou cuára) ou uára – Vivente, morador.

Guarací (ou Coarací) – Sol (guara – vivente + ci – mãe).

Guarará-péva – Viola indígena. (Instrumento com três cordas de tripa).

Guirapurú – Deus que protege os pássaros.

Guaraní – Guerra.

 

I

 

I – Seu, sua.

I – Pequeno, isto é, diminutivo no fim do vocábulo. Ex: Piraí – peixinho.

Í – Água.

Ia – Prefixo nominal da 1.ª pessoa do plural. Ex.: Iané iaikó ou iané iaço – nós temos, nós vamos.

Iací – Lua, mês.

Iací-tátá – Estrela.

Iací-tátá-uaçú – Vênus.

Iací (ou Jací) – Lua (já – vegetal + ci – mãe).

Iacii – Ladino/a.

Iaçu – Arriscar.

Iaitiúa – Cerrado (mato). Capoeira.

Iáiúra – Pescoço.

Iákáu – Ralhar, zangar.

Iakira – Verde.

Iandára – Meio-dia.

Iandé – Nós (o mesmo que iané).

Iandí – Azeite.

Iané (ou iandé) – (Pronome da 1.ª pessoa do plural) Nós. Ex.: Iané (iandé) iaikó – nós temos.

Ianécoéma – Bom dia (cumprimento) (isto é, nossa manhã). Respondem: Indaué.

Ianékaruca – Boa tarde.

Ianépituna – Boa noite.

Iapi – Atirar.

Iapiçáka – Escutar.

Iapiíre – Varrer.

Iapoú – Cheio, farto.

Iapirári – Abrir.

Iaqirarí – Mover. (Iakirari).

Iára – Senhor.

Iára-uaçú – Chefe (senhor grande).

Iatei~ma – Vadio, preguiçoso.

Iatúca – Curto/a.

Iatúca-reté – Muito curto.

Iauára – Cão.

Iauára-cunhã – Cão (fêmea).

Iauáraeté – Onça.

Iauáu – Fugir.

Iaué – Como igual. Como bem. (V. mãe). Para traduzir a expressão "tanto como", dizem maiiené.

Iáukí – Bulir.

Iautí – Jabuti.

Ibáke – Céu.

Ibi~ (ou iuí) – Terra, chão.

Ibitura – Barranco.

Içái – Vinagre (água azeda).

Icatú – São, com saúde.

Icei – Sede.

Ienõ – Deitar.

Iepé (ou oiepé) – Um.

Iepé-iepé – Cada um.

Iepéa – Lenha.

Igaçába - Vasos de água.

Igára - Canoa.

Igárapáua - Porto.

Igárapé - Igarapé (caminho de canoa).

Iirón – Perdão.

Íiuá – Braço.

Iiuá-penaçáua – Cotovelo (tortura do braço).

Ikáua – Manteiga, creme.

Iké – Aqui, cá.

Ikénhu~to – Perto, junto, aqui mesmo.

Ikirimáua – Esperto.

Ikó – Ser, estar.

Íma – Sufixo que forma todo adjetivo ou substantivo negativo. Ex.: Catu – bom; catuíma – sem bondade. Teça – olho; teçaíma – cego.

Imací – Doente. (Icatu – são).

Imíá – Pilão.

Inaié (ou inagé) – Gavião.

Inagé (ou inaié) – Gavião.

Ine~ma – Catinga, mau cheiro.

Indaué – Resposta às saudações. Ex.: Ianékuruca – boa tarde. Respondem: Indaué.

Inimbo (o mesmo que inimú) – Fio, linha.

Inimú (ou inimbo) – Linha, fio.

Inti – Não.

Intiauá – Ninguém.

Intimahã – Não, nada.

Intirai~n – Ainda não.

Ipahá – Dizem...

Ipáua – Lago, lagoa.

Ipaúapí – Poço.

Ipéca – Pato.

Ipiama – Buscar, trazer.

Ipipe – No fundo.

Iporai~ma – Vazio.

Ippie – Campo.

Ipuçú – Comprido (Iatúca – curto).

Ipuçureté – Muito comprido.

Ipuchí – Perigoso/a.

Ira – Mel.

Iraiti~ – Resina, breu, cera.

Irúmo – Junto.

Irúmouára – Companheiro.

Irúrú – Molhado.

Itá – Pedra.

Itá – Plural das palavras – corresponde ao nosso "s".

Itajubá – Ouro (pedra amarela).

Itan – Pedra polida.

Itanhae~ – Panela. Prato. Sino.

Itápúa – Prego, arpão.

Itapuã – Pedra levantada (em ponta).

Itapurú – Verme.

Itátá – Cachaça.

Itica – Pescar.

Itú – Cachoeira.

Iu – Partícula que torna o verbo recíproco e passivo. Ex.: Mano – morrer. Iumanõ – morrer-se. Oiumanõ – fingiu de morto.

Iú (ou jú) – Espinho.

Iua – Árvore.

Iuá – Fruta.

Iuaçú – Custoso/a.

Iuaçúuára – Dificilmente, dificultoso.

Iuáka – Céu.

Iúca – Matar. Podre.

Iucareteãna – Já podre.

Iuaté – Alto. A pino.

Iucãna – Laço.

Iúci – Limpar.

Iuçúaçu – Sexta-feira.

Iui – Sapinho.

Íuí – Terra, chão.

Iuíre – Nem (às vezes – não).

Iuíre – Voltar.

Iuítú – Vento.

Iuítúaiúa – Tempestade.

Iúkici – Caldo.

Iukira – Sal.

Iúm – Senão. Mais que. Somente.

Iumací – Fome. (Quando querem dizer: eu quero comer ou estou com fome, se expressam assim: Xá iumací.)

Iumãna – Abraçar.

Iumimi – Esconder.

Iumú – Frechar.

Iumucúari – Descuidar, descuidado.

Iumuhã – Aprender.

Iumuhe~ – Rezar.

Iumundéo – Vestir.

Iumutari – Ter vontade, desejo de.

Iupana – Lavrar.

Iupanaçáua – Lavrador.

Iupipica – Alagar.

Iúpire – Subir.

Iupirú – Principiar.

Iuquáo – Parecer.

Iurará – Tartaruga.

Iúre – Vir.

Iurú – Boca.

Iuruparí – Diabo (ou Juruparí). Ente sobrenatural que atormenta o índio durante o sono.

Iúruré – Pedir.

Iutícá – Batata.

Iuúca – Tirar.

Ixé (ou simplesmente xé) – Pronome pessoal da 1.ª pessoa – Eu. Ex.: Ixé (xé) arekó – eu tenho.

Ixupé – Para ele.

 

J

 

Já – Vegetal.

Jací – Lua (v. Iací).

Jaguára – Cão.

Jandí – Óleo, azeite (na costa).

Jú (ou iú) – Espinho.

Juparanã – Mar de espinhos.

Jubá – Amarelo.

Jurú – Boca.

Juruparí (ou Iuruparí) – Diabo. Ente sobrenatural que visita o selvagem em sonho, causando aflições.

 

K

 

Kári – Mandar, ordenar. Ex.: Mandar levar – raço kári. Mandar varrer – piivi kári.

Karúca (ou carúca) – Tarde (das 5 às 7). Exs.: De tarde – karúca ramé. Boa tarde (cumprimento) – iané karúca.

Kau~í – Bebida.

Kau~í-piranga – Vinho.

Kau~í-tátá – Cachaça.

Keté (alguns dizem keti, kiti) – Lugar para onde. Ex.: Xa çô ce róca keté – vou para minha casa.

Kiçáua (ou túpa) – Rede de dormir.

Kicé – Faca.

Kicé-miri~ – Canivete.

Kii~nha – Pimenta.

Kiki máua – Força (?).

Kirimáuaçáua – Valor, valentia, valente.

Kirupi – Ladrão.

Kiuáua – Pente.

Kiuira – Irmão.

Kuá – Cintura.

Kuá-xãma – Tanga (corda de cintura).

Kuçukui – Eis aqui...

Kuecé – Ontem. Anteontem – amú-kuecé. Trasanteontem – amú-amúkuecé.

Kurumi~ (o mesmo que curumi~) – Menino.

 

M

 

Mahã – Olhar.

Mahá – Coisa. Ce máhá – minha coisa. Roupa.

Máháta – Quê?

Mahãtahá – Quê?

Maharecé – Porque.

Mãi – Como.

Maiiaué – Tanto como.

Mairamé – Quando?

Mairí – Cidade.

Maitáreçaçáua – (saudação) Como passas?

Maité – Pensar.

Makaco – Macaco.

Mamãna – Enrolar.

Mamé – Onde? Aonde?

Mamé keté – Para onde?

Mameára – Saudade. Lembrança.

Mamungára – Ladrão.

Manhu~n – Aquilo. Somente. É uma contração de mãhã-anhu~.

Maniáca – Mandioca.

Mano – Morrer.

Manuara – Lembrança (saudade).

Maraári – Cansado.

Maracá – Instrumento de música de modo geral.

Maracatí – Navio.

Marãma – Para o que.

Matarí – Uma espécie de cercado para apanhar peixe.

Mataví – Saquinho que trazem dependurado ao pescoço, onde guardam o fusil e isqueiro.

Mbaé (ou umbaé) – Coisa.

Mbí – Mato.

Mboitatá – Deus que protege os campos. É submetido à influência da luz – Jaci.

Mahe~ – Dar.

Meiú (o mesmo que beju) – O que substitui o biscoito.

Membira (ou embira) – Filho.

Me~mi – Flauta, gaita.

Me~na – Marido. Esposo.

Menára – Casar.

Mendaçára – Casado.

Mendári – Casar.

Meué – Devagarzinho.

Meué-rupi – Vagarosamente.

Miaçúa – Vassalo, criado, escravo.

Miapé – Pão.

Miapémunhãgara – Padeiro.

Micúra – Raposa.

Mimi – Ali, lá, acolá.

Mimoí – Cozinhar.

Mira – Gente.

Mirá – Pau, madeira (mbira).

Miráçanga – Porrete, bengala.

Mirápeva (ou mirapapeua) – Mesa. (Mira – madeira + peva ou peua – chata: madeira chata).

Miricó – Esposa.

Miri~n – Pequeno.

Mitá – Ponte.

Miteú (ou mituú) – Domingo.

Mi~tuú – Descansar.

Mituú (ou Miteú) – Domingo. A divisão dos dias é resultado do contato com os civilizados.

Mixira – Assado.

Mixíri – Assar.

Moacú (o mesmo que muacú) – Aquentar. Aquecer.

Momeuçáua – Lenda, história.

Mokoin (ou mukui) – Dois (2).

Monoc (o mesmo que munúca) – Cortar.

Monhã (o mesmo que munhã) – Fazer.

Mu – Irmão.

Muacú (ou moacú) – Aquecer, aquentar.

Muaçú – Aquentar.

Muaçúaca – Lavar.

Mucai~ma – Perder.

Mucamehe~ (ou muiuquáo) – Mostrar.

Mucamehe~ (muquáomehe~n) – Mostrar.

Muçarái – Brincar.

Mucaturú – Arrumar, arranjar, consertar.

Mucoe~n (ou moquem) – Grelha (grade que serve para secar a carne).

Muçurúca – Rasgar.

Muéu – Apagar. Uéu – apagar-se.

Mugaturú (o mesmo que mucaturú) – Arrumar, arranjar.

Muiaçuca – Levar.

Muiaçuca-kári – Mandar levar.

Muieréo – Rolar.

Muií – Arriar (pôr no chão).

Mui~n – Rasgar.

Mu~íre – Quanto/a/os/as.

Muiuquáu – Mostrar.

Mukáua – Espingarda.

Mukáua-miri~ – Revólver.

Mukáua-uí – Pólvora (farinha de espingarda).

Mukui (ou mokoin) – Dois.

Mumuuri – Ungir, untar.

Mundáuáçu – Muito.

Mundíca – Acender.

Mundú – Mandar, enviar.

Munhã (ou monhã) – Fazer.

Munhãgara – Obreiro. O fazedor.

Munhãçaua – Obra.

Muniquía – É uma bebida.

Munúca (ou monoc) – Cortar.

Mupéna – Quebrar.

Muquátiára – Tingir.

Muraci – Dançar.

Muraké – Serviço, trabalho.

Muraké-mocoí – Terça-feira. (V. Mituú).

Murakepé – Segunda-feira. (V. Mituú).

Muramunhã – Brigar.

Murapé-mucapira – Quarta-feira. (V. Mituú).

Muróri – Alegrar.

Mururú – Molhar. (Mú – fazer + rarú – úmido: fazer úmido).

Murutinga – Branco. Na composição fica somente tinga. Ex.: Itátinga – pedra branca.

Mutã – Palanque em cima das árvores para uso de caça.

Mutirica – Mudar.

Muticanga – Secar.

Mutucáia – Tocaiar (passou para o português). Significa esperar espreitando alguém para atacá-lo.

Muturuçu – Crescer.

 

N

 

Nama – Grosso.

Naná – Ananás. Abacaxi.

Ndé (ou né) – Tu (você), 2.ª pessoa do singular. Ndé (né) rerekó – tu tens (você tem). Também se usa iné.

Né máhá – Tua coisa, sua coisa.

Nhahã – Aquele, aquilo.

Nhenhe~ – Falar.

Nhenhe~ga – Palavra, fala.

Nhenhe~gari – Cantar.

Nhenhe~gatú – [Língua (fala) boa] Tupi.

Nhu~ – Só.

Nhu~nto – Senão, somente, apenas.

Nungára – De modo que.

Nupã – Bater.

 

O

 

O – Prefixo pronominal da 3.ª pessoa do singular e plural. Ex.: Ahé oreko – ele tem. Aitá (eles) orekó – eles têm.

Oca – Casa.

Oçai~n – Espalhado.

Ocapí – Quarto (cômodo).

Ocára – Terreiro.

Ocarú – Enraivecer.

Ocarúca – Urinar.

Oceréo – Metamorfosear-se.

Oiacáu – Zangar, ralhar.

Oiepé (Iepé) – Um.

Oiié – Descer. Ex.: Inti quáo oiíé – por não poder descer.

Oiticú – Derreter.

Oimúkirimáu – Fazer força.

Okéna – Porta.

Okena-miri~ – Janela.

Ombeú – Contar.

Ombúre – Estender. Também: jogar fora.

Omburí – Jogar.

Ompú – Tocar. Enxotar.

Opai~n – Todos.

Opai~n ára ope – Todos os dias.

Opai~n karúca ramé – Todas as tardes.

Opai~n coéma opé – Todas as manhãs.

Opé (ou upé) – A, em, no, na, em, o. Lugar onde alguma coisa está. Ex.: Xá ikó mairí opé (upé) – eu estou na cidade.

Opecoi~n – Cavar.

Openaçáua – Canto (ângulo). Ex.: Oikó óca openaçáua opé – está no canto da casa.

Opinu~ – Arrotar.

Opituú – Descansar.

Oro – Ouro.

Oticanga – Enxuto.

Otipaúa – Seco, sem água.

 

P

 

Pa – Partícula interrogativa.

Pacóua – Pacova.

Pahá – Dizem...

Pãnacaríca – Tolda (cobertura de pano).

Panacú – Cesto.

Pane~ma – Ruim, sem valor.

Panéra – Panela.

Papéra – Carta.

Pará – Mar.

Paraná – Rio.

Paranáuiké – Enchente (paraná – rio + iké – enche).

Paranátipáu – Vazante (água do rio acaba).

Parauá – Papagaio.

Parauáca – Escolher.

Patuá – Caixa, canastra.

Páu – Acabar.

Paúçape – Ao cabo, fim. Extremidade, na extremidade.

Pé – Caminho.

Peiú – Assoprar.

Pehe~ (ou penhe~) – Vós. Pronome da 2.ª pessoa do plural. Ex.: Pehe~ (penhe~) perekó – vós tendes.

Penhe~ (o mesmo que Pehe~) – Vós.

Pereúa – Ferida.

Perudá (o mesmo que Rudá) – Deus do amor.

Peteca – Bater.

Peua (ou peva) – Chata/o.

Peuatá – Passear.

Peva (ou peua) – Chato/a. Ex.: Itápeva (ou peua) – pedra chata, isto é, laje. Mirapeva – mesa.

Pí – Pé.

Pipitéra – Sola do pé.

Pí – Pele (enquanto está no corpo; fora do corpo: pirera).

Piá – Coração. Ex.: Ce piá xií (çuí) catú – do meu coração bom, isto é, de boa vontade. V. ce.

Piáuaçu – Valor (coragem).

Piãmo – Buscar.

Piçá – Rede de pescar.

Piçacú – Contar.

Pi~çaçú – Novo/a.

Piçaié – Meia-noite.

Piçaitica – Pescar de rede (piçá).

Piçãuéra – Pedaço. (Çooquéra piçãuéra – pedaço de carne).

Piçica – Pegar, segurar, tomar.

Piçirú – Pedir.

Piíre – Varrer.

Piná – Anzol.

Pináitica – Pescar de anzol (piná). [Piçaitica – Pescar de rede (piçá).]

Pináxãma – Linha do anzol. (Piná ou pindá – anzol + xãma – linha).

Pindá (ou piná) – Anzol.

Pinimaçáua – Pinta, marca.

Pinõ – "Flatus ventris".

Pipóra – Rasto, rastro.

Pirá – Peixe.

Pirain – Vermelho.

Pirãnga (pirain) – Vermelho. Ex.: Coêma pirãnga – madrugada.

Pirãnha – Tesoura.

Piráre – Abrir.

Pirári – Abrir.

Pirá-uaçú – Baleia.

Piráuí – Farinha de peixe.

Pire – Mais. Ainda. Ex.: Catúpire – melhor. Comparativo: João catú pire Pedro çui – João é melhor do que Pedro.

Pirepãna – Comprar.

Pirapãna-çara – Comprador.

Pirú – Pisar.

Pitá – Ficar.

Pitáçoca – Segurar.

Pitáçoçáua – Esteio (segurança da casa).

Pitáçokáo – Piloto.

Pitéra – Meio. Ex.: Popitéra – palma da mão (meio da mão). Pipitéra – sola do pé (meio do pé).

Pitíma – Fumo, tabaco.

Pitúa – Mofino/a.

Pitúna – Noite. Ex.: Iané pituna – boa noite (saudação); nossa noite. Pituna ramé – de noite. Pituna pucu – noite comprida.

Pituú – Descansar.

Pixãna – Gato.

Pixúna – Preto. (Na composição fica somente una. Ex.: Itaúna – pedra preta. Tapi-ii~una – homem preto).

Pó – Mão (popitéra: pó – mão + pitéra – meio).

Póra – Ocupar, morar.

Poranga (ou puranga) – Bonito/a.

Potári (ou putári) – Querer. Sempre que vem junto de outro verbo, é esse outro verbo que recebe o prefixo pronominal. Ex.: Xa ço potari – eu quero ir.

Potí – Camarão.

Poú – Apanhar.

Puã – Levantar. Empinar. Ex.: Itápuã – pedra levantada, em pé.

Puãma – Levantar.

Pucá – Rir.

Puchirum – É uma bebida.

Puci – Pesado/a.

Pucuçáua – Espaço.

Puinha – Resto, migalha. Ex.: Tatápuinha – resto de fogo (cinza).

Puracári – Carregar.

Puraçái – Dançar.

Puraci – Dançar.

Purandú – Perguntar.

Puranga (o mesmo que poranga) – Bonito/a.

Purauké – Trabalhar.

Purarári – Padecer, sofrer.

Puri – Saltar.

Púri – Levar.

Purú – Emprestar.

Purunguetá – Conversa.

Putíra – Flor.

Puxi – Ruim. (Puxipire – pior. Puxireté – péssimo).

Puxiuéra – Feio.

 

Q

 

Quáhá – Este/a.

Quáiaira – Pouco, pequeno.

Quekatú – Recado, lembrança.

Quáo (Quáu) – Saber. Poder.

Quára – Buraco, vazio. Espaço dentro de qualquer vasilha. Ex.: Quára opé – no buraco (dentro).

Quiririnte – Calado/a.

Quatiára – Pintar, tingir.

 

R

 

Raço – Levar.

Raiíra – Filha.

Rai~n – Ainda, mais. Ex.: Intí rai~n – ainda não. Rainha – caroço.

Raira – Filho. O pai diz: ce raira. A mãe diz: ce membira.

Rakanga – Galho.

Rãma – Região. Ex.: Pindorama – região das palmeiras (coqueiros) (antigo nome do Brasil).

Rame – Quando. Com esta partícula forma-se:

1- o pretérito imperfeito. Ex.: Xá mehe~ ramé xa iko – quando eu dava;

2- o futuro imperfeito. Ex.: Xá munhã curi ramé – quando eu fizer;

3- o futuro perfeito. Ex.: Xa munhããna curi ramé – quando eu tiver feito;

4- o mais-que-perfeito. Ex.: Xa munhã ramé.

Ramúia – Avô.

Rãna – Falso/a.

Rapiá (o mesmo que çapiá) – Escrotos.

Rapupema – Sapupema (rapú – raiz + pema – chata).

Rapú – Raiz.

Ráua – Palma (folha de palmeira).

Re – Prefixo pronominal da 2.ªpessoa. Ex.: Ndé (iné) re rekó – tu tens.

Reái – Suar.

Reãuêra – Cadáver.

Recapíra – Ponta, extremidade.

Recé – Por, pelo. Ex.: Mãhárecê – porque, pelo que.

Recó (o mesmo que rekó) – Ter, haver.

Recuiára – Em vez de... Ex.: Repurauké recuiára remuçarái reikó – Estás brincando em vez de trabalhar.

Rekó (ou recó) – Ter, haver.

Remiárerú – Neto.

Rendáua – Lugar. Ex.: Rendáua catú – lugar bom.

Rendéra – Irmã.

Renoné – Antes de...

Repocí – Sono.

Réra – Nome (quando se fala na 1.ª e 2.ª pessoa). Ex.: Ce réra – meu nome. Ne réra – seu nome. Na 3.ª pessoa – céra.

Rerú – Paneiro.

Reteãna – De mais.

Retãma (o mesmo que tetãma) – Pátria.

Retãma-uára – Companheiro (o que come em minha casa).

Reté – Muito. Ex.: Catú reté – ótimo. Puxí reté – péssimo, etc.

Retimã – Perna.

Reué – Correr.

Reutima – Enterrar.

Riré (o mesmo que riri) – Depois.

Riri (ou riré) – Depois.

Robaké – Junto, em frente, perto.

Roí (ou ruí) – Frio.

Ruá – Cara, rosto (para a 1.ª e 2.ª pessoas; para a 3.ª pessoa: çuá).

Ruáia – Cauda, rabo (para a 1.ª e 2.ª pessoas; para a 3.ª pessoa: çuaia).

Ru~ai~ana – Inimigo.

Ruaké – Perto, ao lado, junto.

Ruaké-uára – Vizinho (ruaké – perto + uára – gente).

Ruári – Embarcar (iúruári – embarcar-se).

Ruba – Pai.

Rudá (ou Perudá) – Deus do amor (guerreiro que reside nas nuvens).

Ruí (o mesmo que roí) – Frio.

Ruiári – Acreditar.

Ruíua – Flecha.

Rupí – Onde, por onde...

Rúri – Trazer.

Rúrú (ou murú) – Úmido.

 

S

 

Sací-Cerêrê – Gênio dos Tupis.

Sararaca – Flecha usada na pesca com dispositivo especial para flutuar e cujo dardo á unido à haste por linha de tucum muito comprida.

Sapatú – Sapato.

Sapucáia (çapucáia) – Galinha (o que grita).

Será – Partícula interrogativa.

Suarú – Sábado (V. mituú).

 

T

 

Tá – Quê? (Partícula interrogativa).

Tába – Aldeia.

Tací – Dor. Ex.: Akangací – Dor de cabeça.

Tacíra – Ferro de cova.

Tahá – Quê?

Taiaçú – Porco.

Taína – Criança.

Taipára – Parede.

Taité – Coitado/a.

Tanquáu – Não sei. (Em vez de: intixa quáu).

Tapaiii~una – Homem preto.

Tapéra – Aldeia velha.

Tapiíia – Tapuio. Índio.

Tapiíra – Anta. Boi.

Tapixáua – Vassoura.

Tátá – Fogo. (Em vez de dizer: que leve tudo o diabo, o índio diz: tatá pahá oçaí opai~n rapí).

Tatá puinha – Resto de fogo. Carvão.

Tátátinga – Fumaça.

Tauá – Amarelo.

Teapú – Barulho.

Teçá – Olho.

Teipí – Fundo. Ex.: Teipi-reté – muito fundo.

Tembiú (ou temiú) – Comida.

Tenoné – Mais adiante, em frente.

Tenupá – Deixa estar...

Tepipira – Cachaça.

Tetãma – Pátria. Ex.: Amútetãma-uára – estrangeiro (gente de outra pátria).

Téra – Nome (em absoluto; quando se usa a 1.ª e a 2.ª pessoa – réra; para a 3.ª pessoa – céra).

Ti (ou ti~m) – Vergonha.

Tiára – Guloso/a.

Tim – Focinho.

Timã – Perna.

Tinimúca – Cinza.

Tipi – Fundo.

Tipiáia – Covão, cerrado.

Tiquira – O que verte. Ex.: Mantiqueira – serra das vertentes (maan – coisa + tiquira – que verte).

Tirica – Afastar.

Tuba (também ruba) – Pai.

Tucá – Bater.

Tucandira – Formiga (espécie). No sul dão-lhe o nome de caracútinga.

Tucumã – Palmeira espinhosa muito bonita.

Tuira – Pardo.

Tuiué – Velho (homem velho).

Tumaçáua – Foz (rio) Ex.: Tumaçáua-keté – rio abaixo, para baixo.

Tupá – Raio.

Tupã (Tupãna) – Deus.

Tupã arãma – Para Deus.

Tupã cui – De Deus.

Tupã çupé – Para Deus.

Tupã irumo – Com Deus.

Tupã irumo – Adeus!

Tupã opé – Em Deus.

Tupã recé – Por Deus.

Tupã róca – Casa de Deus.

Tupaçãma (Tupaxãma) – Cordão, corda.

Tupãna – O mesmo que Tupã.

Tupaxãma (o mesmo que tupaçãma) – Cordão, corda.

Tupé – Esteira.

Tupí – Pequeno raio – ou talvez Filho do Raio. (Tupá – raio).

Tuqui – Sangue.

Turuçú – Grande. Exs.: Turuçupire – o maior; turuço reté – máximo.

Tutira – Tio.

 

U

 

U – Comer (de modo geral: ingerir no estômago).

Uaçú – Grande, denso.

Uáhá – Que (relativo).

Uauíára – Deus que protege os peixes.

Uaíme – Velha (mulher velha).

Uára (o mesmo que Ára) – Serve para formar o substantivo dos verbos, etc. (V. ara).

Uára – Gente, quem.

Uaraná – Guaraná.

Uaruá – Espelho.

Uassahí – É uma bebida.

Uatá – Passear.

Uatári – Faltar.

Uaturá – Cesto, paneiro (é um cesto de talos de cana). O vocábulo passou para o português.

Ubá – Canoa.

Ubáu – Acabar.

Uacémo – Encontrar, achar.

Ue – Sufixo que significa vez. Ex.: Mocoi~n-ué – segunda vez.

Uhí (ou uí) – Farinha.

Úí – Beber.

Uí (ou uhí) – Farinha. Ex.: Mukáua-uí – pólvora (farinha de espingarda).

Uirá – Pássaro.

Uirandé – Amanhã.

Uirapára – Arco.

Uirapáraxãma – Corda de arco.

Ui~re~ – Boiar.

Uiri (o mesmo que ui~re~) – Boiar.

Umbaé (o mesmo que mbaé) – Coisa.

Umpuãmo – Levantar.

Unhã – Correr.

Upé (o mesmo que opé) – A, em, no, em o (V. opé).

Upéna – Quebrar-se.

Úpitíma – Fumar (ú – ingerir no estômago + pitima – fumo).

Uruçacanga – Cesto.

Urutáu – Ave fantasma.

 

X

 

Xárí – Deixar.

Xií (o mesmo que çuí) – Do, da, etc.

Xiiuára (o mesmo que çuiuára) – De. Ex.: Inimu~ amaniú xiiuára – linha de algodão.

Ximiára – Caça.

Xinga – Pouco.

Xipiá – Ver.

Xipó – Cipó.

Xiquára – Traseiro (ânus).

Xirica – Seco/a. Ex.: Caáxirica – mato seco ou folha seca.

Xirimbábo – Animal doméstico.

Xiróra – Roupa.

Xiróra-monhangára – Alfaiate.

 

 

PORTUGUÊS-TUPI

 

 

A

 

A (em) – Upé ou Opé.

A (lugar para onde) – Keté, kité, kiti.

A (para alguém) – Çupé, arãma. (V. Tupi-Port.)

Abacaxi (ananás) – Naná.

Aborrecido – Cuéra.

Abraçar – Iumãna.

Abrir – Iapirári, piráre.

Acéfalo (sem cabeça) – Akangaíma.

Acender – Mundíca.

Achar – Uacémo.

Acolá – Á, apé, aápé, mimi.

Acreditar – Ruiári.

Adeus – Tupãna-irumo, eré.

Adorno – Atára.

Afastar – Tirica.

Agora – Cuíre. Agora mesmo – Cuhire tenhen.

Água – Í.

Ainda – Rai~n. Ainda não – Intí rai~n.

Alagado – Cemiíua.

Alagar – Iupipica.

Aldeia – Tába. Aldeia velha – tapéra.

Alegrar – Moróri.

Alegre – Çorí.

Alfaiate – Xiróra-monhangára.

Algodão – Amaniú ou Amanijú. Linha de algodão – amaniú inimu~.

Alguém – Amúauá.

Ali – Á, apé, aápé, mimi. Por alí – arupé.

Alma – Anga.

Alto (a pino) – Iuaté.

Amanhã – Uirandé.

Amar – Çaiçú.

Amarelo – Tauá, jubá. Ex.: Itajubá – pedra amarela, ouro.

Amigo – Anãma. Amigo de verdade: anãma eté. Amigo do coração: anãma piá.

Ananás (abacaxi) – Naná.

Animal (do mato) – Çoo.

Animal (doméstico) – Cerimáu, Xerimbábo.

Ano – Acaiú.

Anta – Tapiíra.

Anteontem – Amúkuecé.

Antes de – Renoné.

Ânus (traseiro) – Xiquára.

Anzol – Piná, pindá.

Aonde? (onde) – Memé.

Apagar-se – Uéu.

Apanhar – Poú.

Aparar – Çuãti.

Apenas – Nhu~nto.

Aprender – Iumuhe~.

Aquecer – Muacú, Moacú.

Aquele (aquilo) – Nhahã.

Aquentar – Muacú, Moacú.

Aquentou – Muaçú.

Aqui – Iké.

Aquilo (aquele) – Nhahã.

Aquilo somente – Manhu~n. (V. Tupi-Port.).

Arco – Uirapára.

Arpão – Itápúa.

Arranjar – Mucaturú, mugaturú.

Arriar (por no chão) – Muií.

Arriscar – Iaçú.

Arrotar – Opinu~.

Arroz – Auatií.

Arrumar – Mucaturú, mugaturú.

Árvore – Iua.

Assado – Mixira.

Assar – Mixirí.

Assoprar – Peiú.

Atirar – Iapi.

Atrás (para trás) – Çacaquéra.

Ave – Uirá. Ave fantasma – urutáu.

Avô – Ramúia.

Azedo(a) – Çai.

Azeite – Iandí; (na costa) jandí.

Azul – Çuikira.

 

B

 

Baleia – Pira-uaçú.

Banda – Çuaxára.

Barranco – Ibi~tura.

Barulho – Teapú.

Batata – Iutica.

Bater – Petéca, nupã, tucá.

Beber – Úi.

Bebida – Kau~i~ (V. Tupi-Port.).

Beiju – Beiju (vocábulo tupi que passou para o português).

Bengala – Miraçanga.

Berro – Cururúca.

Boa – Catú. Boa tarde – ianékarúca. Boa noite – ianépitúna.

Bobo – Aqúáima, akangai~ma. (V. Tupi-Port.).

Boca – Iurú, jurú.

Boi – Tapiíra.

Boiar – Ui~re~, Uiri.

Bom – Catú. Bom dia (cumprimento) – ianécoe~ma.

Bonito(a) – Poranga, puranga.

Braço – Iiuá.

Branco – Murutinga. (Na composição fica somente tinga. Ex.: itátinga – pedra branca).

Breu – Iraiti~.

Brincar – Muçarái.

Brigar – Muramunhã.

Bulir – Iáúki.

Buraco – Ruára.

Buscar – Piãmo, ipiama, cicari.

 

C

 

Cá – Icé.

Cabeça – Akanga (V. Tupi-Port.).

Cabelo – Áva, ába.

Cachaça – Tepipira.

Cachoeira – Itú.

Cachorro – Iauára, jaguára.

Caça – Ximiára, Çoo.

Caçada – Caámunuçáua.

Caçar – Caámunú.

Cada – (um-um) Iepé-iepé.

Cadáver – Reãuéra.

Caixa – Patuá.

Cair – Ári.

Calado – Quiririnte.

Caldo – Iúkicí.

Calor – Caçu.

Calvo – Apekéxinga.

Camarão – Poti ou poty.

Caminho – Pé (V. Tupi-Port.).

Campo – Ippie.

Canastra – Patuá.

Cansado – Maraári.

Canivete – Kicé-miri~.

Canoa – Igára, ubá.

Cantar – Nhehe~ngari.

Canto (ângulo) – Openaçáua. (V. Tupi-Port.).

Cão – Iauára, jaguára.

Capão (mato) – Caapõm.

Capim – Capií.

Cara – Ruá (para a 1.ª e a 2.ª pessoa). Çuá (para a 3.ª pessoa).

Carne – Çoo (enquanto no corpo com vida). Çooquéra (carne morta).

Caroço – Rainha.

Carregar – Çupíre, puracári.

Carta – Papéra.

Carvão – Tátá-puinha.

Casa – Óca.

Casar – Mendári, menára.

Casado – Mendaçúru.

Catinga (mau cheiro) – Ine~ma.

Catinga (mato) – Caátinga.

Cauda – Ruáia, çuáia (V. Tupi-Port.).

Cavar – Opecoi~n.

Cedo – Coéma-eté.

Cera – Iraiti~.

Cerrado (mato) – Iaitiúa.

Cerrado – Tipiáia.

Cesto – Panacú, uaturá, uruçácanga.

Céu – Iuáka.

Chato(a) – Peva, peua.

Chão (terra) – Iuí.

Cheio – Iapoú.

Cheirar – Cetúna.

Cheirar – Çaquéna, çaquénaçáua.

Chifre – Iáva, sárauaçú, aca.

Chuva – Amãna.

Chuvisco – Amãnapipi.

Cidade – Mairí.

Cima – Gaápira. Para cima – gaápira-ketê. Rio acima – gaápira-ketê.

Cintura – Kuá.

Cinza – Tinimúca. (Resto de fogo – tátápuinha.)

Cipó – Xipó.

Cobra – Bóia.

Cobra-grande – Boia-uaçú, ou melhor, boiassú.

Coisa – Mahá, mbaé, umabaé.

Coitado(a) – Taité.

Comer – Ú.

Comida – Temiú, tembiú, meiú.

Como – Mãe.

Como passas? (saudação) – Maitáreçaçáua.

Companheiro – Retáma-uára, irúmouára.

Comprador – Pirepãnaçara.

Comprar – Pirepãna.

Comprido – Ipucú (muito comprido – ipucúreté).

Conduzir – Çupíre, ceíí.

Consertar – Mucaturú, mugaturú.

Contar – Piçacú, ombeú.

Conversar – Puranguetá.

Coração – Piá (V. Tupi-Port.).

Corda – Tupaçãma, tupaxãma.

Cordão – Tupaçãma, tupaxãma.

Correr – Reuí, unhã.

Cortar – Munúca, monoc.

Costas – Cupé.

Cotovelo – Iiuá-penaçáua (tortura do braço).

Covão – Tipiáia.

Cozinhar – Mimoí.

Creme – Ikáua.

Crescer – Muturuçú.

Çriança – Taína.

Criado – Miaçúa.

Cuia – Cuia (vocábulo tupi que passou para o português).

Culpa – Angaipáua.

Cumbuca – Cuiumbúca.

Cupim – Cupií.

Curto(a) – Iatúca.

Cutia – Acutí.

Custoso(a) – Iuaçú.

 

D

 

Dança – Muraçí.

Dançar – Purací, puraçái.

Dar – Mehe~.

De – Cui, cuiuára ou xiíuára. De Deus – Tupa cuí. Linha de algodão – Inimu~ amaniu~ xiíuára.

Deitar – Ienõ.

Deixa estar... – Tenupá.

Deixar – Xarí.

Denso – Uaçú.

Depenado – Çauiama.

Depois – Riri, riré.

Depressa – Curutê, curute~n.

Derreter – Oiticú.

Descansar – Pitúú, Mituu, Opituú.

Descer – Oiíé.

Descuidado – Iumucúari.

Descuidar – Iumucúari.

Deus – Tupã, Tupãna (V. Tupi-Port.).

Deus – Do amor – guerreiro que vive nas nuvens: Rúda ou Perúdá. Deus da caça: Anhanga. Deus da floresta: Curupira. Deus do mal que habita a floresta: Cahapora. Deus dos pássaros: Guirapurú. Deus dos peixes: Uauiára. Deus dos campos: Mboitátá.

Devagarinho – Meué.

Dia – Ára. Meio-dia: çaié, iandára.

Diabo – Iuruparí, Juruparí. (ente sobrenatural que visita o índio durante o sono causando-lhe aflições).

Dificultoso – Iuaçúuára.

Dizem... – Ipahá, pahá.

Do (lugar de onde alguma coisa vem) – Çuí, xií.

Doente – Imací.

Dois (2) – Mukui, mokoin.

Domingo – Miteú, mituú (V. Tupi-Port).

Dor – Taci. Dor de cabeça: akangací.

 

E

 

Ele – Ahé. (pronome da terceira pessoa do singular).

Eles – Aetá ou aitá. (pronome da 3.ª pessoa do plural. É uma contração de ahé – ele – e etá ou itá – partícula que corresponde ao nosso s, sinal de plural).

Embarcar – Ruári.

Embarcar-se – Iúroári.

Empinar – Puã.

Emprestar – Purú.

Em vez de... – Recuiára (V. Tupi-Port.).

Enchente – Paranauíké.

Encontrar – Uacémo.

Enfeite – Atára.

Enraivecer – Ocarú.

Enrolar – Mamãna.

Entendimento – Aqúa. Sem entendimento, idiota, bobo, tolo – aqúai~ma.

Enterrar – Reuti~ma.

Enviar – Mundú.

Enxuto – Oticanga.

Erva – Capií.

Escolher – Parauáca.

Esconder – Iumimi.

Esconderijo – Cemu~ti~ma.

Escravo – Miaçua.

Escrotos – Rapiá, çapiá.

Escutar – Sapiçáka.

Espaço – Pusuçáua.

Espalhado – Oçai~n.

Espelho – Uáruá.

Esperar – Çarú, çanarú.

Esperto – Ikirimáua.

Espingarda – Mukáua.

Espinho – Iú, jú.

Esposa – Miricó.

Esposo – Me~na.

Estar (ou ser) – Ikó.

Este(a) – Quáhá.

Esteio – Pitaçoçáua.

Estender – Ombúre.

Esteira – Tupé.

Estragado – Aíua. Ex.: Pináaíua – anzol estragado, velho. (V. Tupi-Port.).

Estrangeiro – Amútetãmauára (alguém de outra pátria).

Estrela – Iacitátá.

Eu (pronome pessoal da 1.ª pessoa) – Ixé, xé.

Experimentar – Caãn.

Extremidade (fim) – Pauçape, recapíra.

 

F

 

Faca – Kicé.

Facilmente (num instante) – Curutéuára.

Falar – Nhenhe~.

Falso(a) – Rãna.

Faltar – Uatari.

Farinha – Uhí, iú. Pólvora (farinha de espingarda) – mukaúa-uí. Farinha de peixe – piráuí.

Farto – Iapoú.

Fava – Cumandiassú.

Fazer – Munhã, monhã.

Fechar – Cikináu, piráre.

Ferida – Pereúa.

Feijão – Cumaní, cumandí.

Feio(a) – Puxiuéra.

Ficar – Pitá.

Filha – Raiíra.

Filho – Embira, membira, raira, mú. O pai diz: ce raira. A mãe diz: ce membira.

Finado – Amira.

Fio – Inimú, inimbó.

Flauta – Me~mi.

Flecha – Ruíua.

Flor – Putíra.

Folha – Caá. Folha seca – caáxiríca.

Focinho – Tim.

Fogo – Tátá. (V. Tupi-Port.).

Fome – Iumací. (V. Tupi-Port.).

Fazer força – Oimúkirimáuo.

Força – Kirimáua.

Forno – Apu~na. (V. Tupi-Port.).

Foz (rio) – Tumaçáua. Para a foz – tumaçáua-keté, isto é, rio abaixo, para baixo.

Frente (em) – Robakê.

Frechar – Iumú.

Frio – Roí, ruí.

Fruta – Iuá.

Fugir – Iauáu.

Fulano – Epejú.

Fundo – Teipi, tipi. Muito fundo – teipi-reté. No fundo – ipipe.

Fumaça – Tátátinga.

Fumar – Úpitíma (V. Tupi-Port.).

Fumo – Pitíma.

 

G

 

Gaita – Me~ní.

Galho – Rakanga.

Gato – Pixãna.

Galinha – Çapucáia. (V. Tupi-Port.).

Gavião – Inaié, inagé.

Gente – Uára, míra. Vivente – Guára, cuára. (V. Tupi-Port.).

Gigante – Caápóra-uaçú.

Gostar – Çaiçú.

Grande – Turuçú (V. Tupi-Port.), uaçú.

Grosso – Nãma.

Guloso(a) – Tiára.

Guaraná – Uaraná.

Guerra – Guaraní.

 

H

 

Haver – Rekó, recó.

História – Momeuçáua.

Homem – Aba, apgáua (V. Tupi-Port.). Homem branco (cristão) – cariua.

 

I

 

Idioma (tupi) – Nhenhe~gatú (língua boa).

Idiota – Aqúái~ma, akangai~ma (V. Tupi-Port.) Aqúái~ma – sem entendimento (aqúa – entendimento + i~ma – sem).

Igarapé – Igarapé.

Ilha – Caápoi~n.

Índio – Tapíii~a.

Inimigo – Rúai~ana.

Interrogação (partícula) – Será.

Ir – Ço. (O verbo ço faz no imperativo çoin).

Irmã – Rendéra.

Irmão – Kiuíra, mú.

 

J

 

Já – Ãna (V. Tupi-Port.).

Jabuti – Iautí.

Jogar – Omburí.

Janela – Okéna-miri~ (okéna – porta).

Junto – Irúmo, robakê.

Junto – Ruaké.

 

L

 

Lá – Á, apé, aápé, mimi.

Laço – Iucãna.

Lado – Çuaxára. (Lado direito – catúçáua; lado esquerdo – puxí-catúçaua).

Lado (ao lado) – Ruaké.

Ladino(a) – Iacú.

Ladrão – Kirupi, mamungára.

Lago (lagoa) – Ipáua.

Lagoa (lado) – Ipáua.

Latir – Çacémo.

Lavar – Muaçúca, muiaçuca.

Lavrador – Iupanaçáua.

Lavrar – Iupana.

Leite – Camí.

Lenda – Momeuçáua.

Lenha – Iepéa.

Lembrança – Quekatú, mameára – (Saudade). Manúára.

Levantar – Puã, Puãma, Umpuãmo. (V. Tupi-Port.).

Levar – Púri, raço.

Língua – Apecõn.

Linha – Inimú, inimbó. (Linha de anzol – pinaxãma.)

Limpar – Iúci.

Logo – Curumiri~.

Longe – Apecatú.

Louco – Akanga-aiúa (akanga – cabeça + aiúa – estragada) (V. Tupi-Port.).

Lua – Iací, Jací (já – vegetal + ci – mãe). Lua cheia – cairé. Lua nova – caiti (tem missão de despertar saudades no amante ausente).

Lugar – Rendáua.

Lustroso(a) – Cinipuca.

 

M

 

Macaco – Makaco.

Madeira – Mirá, Mbira.

Madrugada – Coêma-piranga (o vermelho da manhã).

Mãe – Cí.

Maior – Turuçu-pire.

Mais – Pire (V. Tupi-Port.).

Mais – Rai~n. Mais adiante – tenoné. De mais – reteãna.

Mandar – Mundú, kari (V. Tupi-Port.). Enviar – mundú.

Manhã – Coêma (V. Tupi-Port.). De manhã – coêma-ramé.

Manteiga (creme) – Ikáua.

Mão – Pó. Palma da mão – popitéra.

Mar – Pará.

Maracá – Maracá (V. Tupi-Port.).

Marca – Pinimaçáua.

Margem – Çuaxára (outra margem – amúçuaxára), çuain (margem oposta – çuai~ndápe).

Marido – Me~na.

Marimbondo – Cáua.

Marinheiro – Çurára-parana-porá (soldado que mora no mar).

Matar – Iúca.

Mato – Caá, mbi. No mato – caápé.

Máximo – Turuçu-reté.

Medo – Cekiíe.

Meia-noite – Piçaié.

Meio – Pitéra. Meio da mão (palma da mão) – pó-pitéra.

Meio-dia – Çaié, iondara.

Mel – Ira.

Melhor – Catúpíre.

Menino – Curumi~.

Mês – Iací.

Mesa – Mirápeva, mirapéua. (V. Tupi-Port.).

Mestiço – Caríuóca.

Metamorfosear-se – Ocenéo.

Meu – Ce. O meu – ce-manhã. (V. Tupi-Port.).

Migalha (resto) – Puínha.

Milho – Auatí.

Minha – Ce. Minha coisa – ce-manhã. (V. Tupi-Port.).

Modo (de modo que) – Nungára.

Mofino(a) – Pitúa.

Molhado – Irúrú.

Molhar - Mururú (mú - fazer + rúrú - úmido).

Moquém – Mucoe~n (V. Tupi-Port.).

Morder – Çuú.

Morrer – Manõ.

Mostrar – Mucameche~, muquáo-mehe~, muiuquáu.

Mover – Iakirarí.

Mudar – Mutiríca.

Muito – Mundáuáçú. Reté (V. Tupi-Port.).

Muito(a/as/os) – Ceiia, cetá. Muitas vezes – cetá i.

Mulato – Cariuóca.

 

N

 

Nada – Intimahã.

Não – Inti, intimahã (V. Tupi-Port.) Às vezes dizem iuíre.

Nascer – Ce~mo.

Navio – Maracatí.

Nem – Iuíre.

Neto – Remiárerú.

Ninguém – Intiauá.

No (na, em a – lugar onde) – Opé, upé.

Noite – Pitúna (V. Tupi-Port.).

Nome - (Veja pág.). [?]

Nome (em absoluto) - Téra. Quando se fala na 1.ª e 2.ª pessoa - réra. Quando se fala na 3.ª pessoa - céra.

Nós (pronome) – Iané ou iandé. Ex.: Iané (iandé) iaikó – nós temos.

Novo(a) – Pi~çaçú.

Nu – Chirórai~ma, xirórai~ma.

Nuca – Ané.

 

O

 

Obra – Munhãçáua.

Obreiro – Munhãgara.

Ocupar – Póra.

Olhar – Mahã, xipiá.

Olho – Teçá.

Onça – Iauáretê, jaguaretê.

Onde (aonde) – Mamé. Para onde – maméketé. Por onde – rupí.

Ordenar – Kári. (V. Tupi-Port.).

Ornato – Atara. Ornato da cabeça – Akanga-atára.

Osso – Cãuéra.

Ótimo – Catúreté.

Ouro – Itajúbá, oro.

Outro(a/os/as) – Amú. (V. Tupi-Port.)

Ouvir – Cenó.

Ovo – Çupiá.

 

P

 

Pacova – Pacóua.

Padecer – Pirarári.

Padeiro – Miapé-munhãgara.

Pai – Tuba, ruba, paia.

Palanque – Mutã (V. Tupi-Port.).

Palavra – Nhenhe~ga.

Palma (folha de palmeira) – Ráua.

Palma (da mão) – Pópitéra.

Paneiro – Uaturá, uruçacanga, rerú.

Panela – Panéra, itanhae~.

Pandeiro – Engúá.

Pão – Miapé.

Pau – Mirá, mbira.

Papagaio – Porauá.

Pra (lugar onde) – Keté, kité, kiti.

Para (alguém – dativo) – Arãma, çupé (V. Tupi-Port.).

Para alguma parte – Amúketé.

Para o que – Marãma.

Pardo – Tuira.

Parede – Taipára.

Parecer – Iuquáu.

Parente – Anãma.

Pecado – Anguipáua.

Perdão – Iirón.

Pescoço – Ajúra, iáiura.

Passear – Penatá, uatá.

Pássaro – Uirá.

Pato – Ipéca.

Pátria – Tetãma, retãma.

Pé – Pí (sola do pé – pípitéra).

Pedaço – Piçãuéra.

Pedir – Picirú, iúruré.

Pedra – Itá. Pedra polida – itãn.

Pegar – Piçica.

Peixe – Pirá.

Pele (enquanto no corpo) – Pí. Fora do corpo – piréra.

Pena – Çáua.

Pensar – Maité.

Pente – Kiuáua.

Pior – Puxi-pire.

Pequeno – Quáiaira, miri~n.

Perder – Caima, canhimo, mucai~ma.

Perfume – Çaquena, çaquénaçáua.

Perguntar – Purandú.

Perigoso – Ipuchí.

Perna – Retimã, timã.

Perto – Cauké, ikénhu~nto.

Pesado(a) – Puci.

Pescar – Itica (de anzol) – Pináitica (de rede) – Piçaitica.

Pilão – Imiá.

Piloto – Pitaçocáo.

Pimenta – Kiínha.

Pinta – Pinimaçaúa.

Pintar – Quatiára.

Pisar – Pirú.

Planalto – Araxá (V. Tupi-Port.).

Poço – Iaúapí.

Podre – Iúca. Já podre: iúca retêãna.

Pólvora (farinha de espingarda) – Mukáua-uí.

Ponta – Recapíra.

Ponte – Mitá.

Pôr – Enú.

Por (prep.) – Recê.

Porque – Mãhá recê.

Porco – Taiaçu.

Porrete – Miráçanga.

Porta – Okéna.

Porto – Igárapáua.

Pote – Cumutí.

Pouco – Xinga. Quáiaira. Miii~.

Prato – Itanhae~.

Prego – Itápúa.

Preguiçoso – Iatei~ma.

Preto – Pixuna. (Na composição fica somente úna. Ex.: Itáúna – Pedra preta. Tapi-ii~una – homem preto).

Principiar – Iupirú.

Procurar – Cicari.

 

Q

 

Quando – Ramé (V. Tupi-Port.). Mairamé.

Quanto(a/os/as) – Mu~íre.

Quatro – Erundi.

Quarta-feira – Murapé muçapira.

Quarto (comodo) – Ocapí.

Que (relativo) – Uáhá.

Quê? – Mahãtahá, maháta.

Quebrar – Mupéna.

Quebrar-se – Upéna.

Queimar – Cái, çapi.

Quem? – Auá, anáta, será, tá, tahá, pá, anátahá. (A presença das partículas interrogativas estabelece a única distinção entre as frases interrogativas e as afirmativas.)

Quente – Çacú.

Querer – Potári, putári (V. Tupi-Port.).

Quinta-feira – Çupapáu.

 

R

 

Rabo – Ruáia, çuáia.

Raio – Tupá.

Raiz – Rapú.

Ralhar – Iákáu, oiacáu.

Ramo – Çacanga.

Raposa – Micúra (micura).

Rasgar – Muçurúca, mui~n.

Rasto – Pipóra.

Recado – Quekatú.

Rede (de dormir) – Kiçáua. Túpa (de pescar) – piçá.

Região – Rãma.

Resina – Iraiti~, cicaátã.

Responder – Çuaxára.

Resto – Puinha.

Remo – Apucuitáua.

Repentinamente – Curuteuáre.

Revólver – Mukaúa-miri~.

Rezar – Iúmuhe~n.

Rio – Paraná.

Rir – Pucá.

Roça – Cupixáu, cupixáua. Na roça: cupixapé.

Rolar – Muieréo.

Ronco – Cururúca.

Roupa – Xiróra, chiróra, mahá.

Ruim – Puxi (V. Tupi-Port.).

 

S

 

Sábado – Suarú.

Saber – Quáu.

Sair – Ce~mo.

Sal – Iukíra.

Saltar – Purí.

Sangue – Tuquí.

São (boa saúde) – Icatú.

Sapato – Sapatú (?).

Sapinho – Iui.

Sapupema – Rapupema (V. Tupi-Port.).

Saudade – Manuára, mameára.

Secar – Muticanga.

Sede – Icéí.

Seco(a) – Xirica.

Seco (sem água) – Otipáua.

Segunda-feira – Murakepé.

Segurar – Pitaçoca piçíca.

Sem valor – Pane~ma.

Senhor – Iára.

Ser (ou estar) – Ikó.

Serviço – Muraké.

Seu (ou sua) – I.

Senão – Aiu~m, anhu~, nhu~nto.

Sexta-feira – Iucuaçú.

Sim – Éé, tenhém. Sim senhor – çupé [çupí]-tenhem (na verdade). Usam também eré.

Sinimbu – Cinimu~.

Sino – Itanhae~n.

Só – Anhu~, aiúm, nhu~.

Somente – Anhu~, aiúm, nhu~.

Sobre (em riba, em cima) – Aripe (V. Tupi-Port.).

Sofrer – Pirarári.

Sol – Coaracé, Guarácí. Sol alto – coarací-iuaté. Ao sol – coaracípé. (Guára, ou cuára, ou uára – vivente + cí – mãe.)

Soldado – Çurára.

Sombra – Anga.

Sono – Repocí.

Suar – Reái.

Subir – Iúpire.

Sucuri – Cicurijú.

Sujar – Búicuá.

 

T

 

Tabaco – Pitima.

Tanga (corda da cintura) – Kuáxãma.

Tanto como – Maiiaué.

Tapuio – Tapiíia.

Tarde (das 5 às 7) – Karúca, caruca (V. Tupi-Port.).

Tartaruga – Iurará.

Tempestade – Iuitúaiua.

Tempo – Ára.

Ter – Rekó, recó. Ter vontade – iumutari.

Terça-feira – Múraké-mocoi~.

Terra – Íuí, íbí.

Terreiro – Ocára.

Tesoura – Pirãnha.

Tingir – Muquátiára, quatiára.

Tio – Tutira.

Tirar – Iuúca.

Tocaiar – Mutucáia (V. Tupi-Port.).

Tocar – Ompú.

Todos – Opai~n.

Tolda – Pánacapíca.

Tomar – Piçíca.

Trabalhar – Purauké.

Traseiro (ânus) – Xiquára.

Trazer – Ipiama, rúri.

Triste – Çaçí, Çaçíára.

Tu (2.ª pessoa do singular) – Ndé, né ou iné (V. Tupi-Port.).

Tupi – (V. Tupi-Port.).

 

U

 

Úmido – Rúrú, murú.

Um – Iepé, oiepé.

Ungir – Mumuuri.

Untar – Mumuuri.

Urinar – Ocarúca.

Urubu – Urubé, umbú.

 

V

 

Vaca – Tapiíra-cunhã.

Vadio – Iatei~ma.

Vagarosamente – Meué-rupé.

Valente (valentia) – Kirimáuaçáua.

Valor – Kirimauaçáua.

Valor (coragem) – Piáuaçú.

Varrer – Piíre, iapiíre.

Vassalo – Miaçúa.

Vaso (para conter água) – Igaçaba.

Vassoura – Tapixáua.

Vazante – Paranátipáu.

Vazio – Quaia, Iporai~ma.

Veado – Çuaçú. Veado grande do tamanho de uma novilha – çuaçúapára.

Vegetal – Já.

Vela – Çutinga.

Velha (mulher velha) – Uaime, uaimi~.

Velho (homem) – Tuiué.

Velho(a) (coisa, animal) – Aiua. Homem velho – Tuiúé. Mulher velha – Uaimi~.

Vênus (estrela) – Iací-tátá-uaçú.

Vento – Iuítú.

Verdade – Çupí.

Verdadeiro (de verdade) – Eté.

Verde – Iakira.

Vergonha – Tí, Ti~m.

Verme – Itapurú.

Vermelho – Pirãnga, pirain.

Vestir – Iumundéo.

Vinagre (água azeda) – Içái.

Vinho – Kaui~-piranga.

Viola (instrumento com 3 cordas de tripa) – Guarará-péva.

Vir – Iúre.

Vivente – Guára, cuara, uára.

Vizinho – Ruaké-uára.

Voar – Bebê.

Voltar – Iuíre.

Vós (2.ª pessoa do plural) – Pehe~, penhe~. Ex.: Vós tendes – penhe~ perekó.

 

Z

 

Zangar – Iakáu, oiacáu.

 

 

Fonte: MAURO, Humberto. Vocabulário dos termos tupis de "O selvagem" de Couto de Magalhães. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura – Serviço de Documentação, s.d. [1957]. 57 p.

 

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