São Paulo, segunda-feira, 13 de abril de 2009
Tiro de Meta
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Madonna ou Mandonna?
Ainda bem que
existem homens de meia-idade que preservam a mulher como um todo. Preocupam-se,
é claro com sua beleza, mas antes de tudo pensam, e muito, no conteúdo, nas
coisas que têm ou possam vir a ter em comum com elas. No Brasil, salvo
raríssimas exceções, dificilmente vemos casamentos entre idosos. Muitos pensam:
se não há sexo, não pode haver casamento. É claro que o sexo é parte importante
no casamento, mas daí eu pergunto: onde ficam a amizade, a cumplicidade, as
histórias vividas por cada um, compartilhadas pelos dois? Não
achamos normal, nem homem bem mais velho casar com
garotinha, nem mulheres muito mais velhas casarem com garotinhos...
chega de Papa-anjos. Não pode haver encontro de
interesses ou de gostos.
Aqui nesta parte da Europa muita gente se casa aos 80. E com gente da mesma
faixa etária. Casam aos 50, 60, 70, 80,90. Ficam viúvos, encontram pessoas da
mesma faixa etária e não precisam de "grupinho de terceira idade". Devido aos
avanços da medicina e da conscientização de que alimentação e atividade física
que prolongam a vida, homens com 80 estão fazendo cooper,
andando de bicicleta, fazendo caminhada nas montanhas ou plantando a horta deles
e suas companheiras idem.
Isto por aqui é normal. Já lhes contei da minha amiga de 86? Não? Na
bike, genteeee, ela tem
mais preparo físico que muitos jovens... E quando ela ficou sabendo, na última
vez, que eu fui ao Brasil, me chamou para um café e me deu uma bronca: “Por que
você não me avisou?”. Eu lhe respondi, me desculpando e dizendo que da próxima
vez que eu fosse eu a chamaria para ir junto. Ainda aborrecida, ela retrucou:
“Acho que você na verdade ficou com medo, achando que eu poderia morrer
no caminho? Olhe, vou lhe dizer uma coisa, já estou fazendo hora extra, já estou
no lucro, tenho 86. Tanto faz morrer hoje ou amanhã, no avião, no Brasil ou no
Nepal. Quem disse que não posso viajar? Vou morrer antes do previsto? Claro que
não! ahahahaha". E eu fiquei com aquela cara de
brasileira dona de “senzala”, que manda empregados fazerem tudo, e que não fazem
nada sem o carro, que tem vida ociosa. Fiquei envergonhada ao ver a disposição
dela e a minha “indisposição”.
Mas nós somos assim mesmo, nós, americanos dos States ou do Brasil. Uns são
obcecados pelo culto ao corpo e pela juventude, outros empoleirados no
comodismo. Somos um povo supérfluo e cada vez mais vazio.
Enriquecimento interior? Cultura? Que nada!
A Madonna, isso tem que ser dito, coloca a mão na massa para garantir o corpo
que tem. Obcecada, lunática, e por isto seu casamento foi para o brejo. Foi
assim mesmo. Ela dava ordens para o tal do Guy.
Tentava controlar até quantas abdominais o cara fazia por dia e de que forma.
Uma chata de galocha, uma mala sem alça. Imaginem como deveria ser na cama?
Pois aqui na Europa civilizada, 60, 70,80, 90 anos
são fases da vida. As pessoas não estão esperando a
hora da morte. Muito pelo contrário, praticam esportes: remam, velejam, andam de
bicicleta, adoram caminhar nas montanhas com aquelas "bengalas" especiais ou
cajados, que nos fazem lembrar daqueles pastores do presépio. E elas
namoram, se casam, ou mantêm relacionamentos dentro
da sua faixa etária.
Saem para tomar chá ou cerveja juntos, os grupos de
mulheres, de homens ou de amigos. Ficam viúvos e casam-se de novo. A vida
continua até que ela se encerre, sem dramas. Para quem já viveu guerras, viver
cada dia, é uma grande dádiva. Assim, eles vivem. O dono da fazenda, planta aos
80, 90, junto com seus empregados. Não fica dando ordens e nem fazendo música
sertaneja ou trabalhando no Congresso. Cada um com sua profissão. Político por
aqui ou sertanejo (melhor dizendo músico) não compra terra.
Esta não é a profissão deles. Também não compram chácara, casa de campo ou estas
coisinhas de remediados ou riquinhos brasileiros. Quando muito, têm uma boa
casa.
Perguntem ao Beckenbauer, o Kaiser, quantas casas
ele tem? Uma, nos Alpes, aqui perto. Perguntem ao Schumacher? Uma, nos Alpes
suíços e a casa de seus pais, aonde ele mantém sua escola de kart, na Alemanha.
Ah, sim, Schumi anda de bike,
compra no bazar do jardim de infância e da escola. Compra brinquedos usados e
roupas usadas para seus filhos, que circulam de bike,
de ônibus, sem segurança. E seus filhos convivem com o filho do lixeiro, que
estuda na mesma escola. A diferença é que Schumi
paga mais impostos porque ganha mais. Entretanto, a escola é a mesma. Do mesmo
jeito. O desempregado não paga o jardim de infância, e
Schumi paga mais, muito mais, proporcionalmente ao que
ganha.
Bem, voltando ao assunto da vida dos velhinhos daqui e daí...
no mercado por aqui, há cadeiras de rodas modernas,
com tantos aros, assim e assado. Triciclos motorizados, andadores coloridos,
bengalas, tudo normalmente vendido para os idosos. Idosos? Esta gente sabe é
viver.
Vejam Maradona, vejam Ronaldinho e Beckenbauer ou
Zidane ou Alain Prost e Rubinho, o
ogrinho, lentinho e gordinho que mal cabe no
cockpit. Ah... estou me
esforçando para entrar numa “fase Érika” e esquecer de onde vim e o que
acontece aí neste mundinho Lula-Brasil.
Ah, e alguém aguenta mais ouvir falar na morte do
Jean Charles? Virou filme com Selton Mello no papel
principal. Quantos Jean Charles morrem por minuto no
Brasil? Agora querem falar grosso com os gringos? Gente, tem
hora que torço, mas muito, para um grupo de educados europeus de olhos, seja de
que cor for, descer a mão num filhote de Lula da vida. Não
aguento mais esta gentalha brasileira que tomou conta do nosso Brasil, de
onde tivemos que nos exilar, seja quem está fora ou quem está dentro do país, e
ficar pensando que rumo tomar, ou de que forma podemos garantir aos nossos
filhos pelo menos a capacidade de pensar.
Chris,
minha querida amiga colunista do Boletim, parabéns a você, que pôde e tirou seus
dois filhos da rota brasilis. Aplaudo de joelhos e
com pedidos de bis.
Bem eu fugi um pouco do assunto de novo. Vamos lá:
Um viva
às pessoas que se relacionam em suas idades, orgulhosas de terem a idade que
têm. E que se cuidam, e que são, maravilhosamente,
lindas aos 30, 40, 50, 60 ou 100... Eu tenho muito que aprender, principalmente
a ser carioca (porque carioca sabe cuidar do corpo), ou então européia.
Estou trilhando lentamente meu caminho fora da brasilidade hedionda em que me
encontro. Sai Brasil de mim, não sou Carlos Drummond de Andrade. Eu saí de
Minas, saí do Brasil, agora larga do meu pé, terrinha ...
Sangue de Jesus tem poder...
Aliás, que mau gosto da Madonna. Foi escolher um menino Jesus qualquer. Dá é
nisso. Levou o menino Jesus errado. Também, a Madonna, nem estava com a bola
toda de Maria. Está mesmo mais para Mandona.
ehehehe...
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Júnia Turra é jornalista
e escreve nesta coluna às quartas-feiras.
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