Despedida


- Meu nome é Enrique Muñoz, padre da Santa Inquisição. Nasci em 21 de Março no Ano da Graça do Senhor de 1473, na Villa Del Pueblo, Espanha. Sou Imortal e vivo pelo mundo desde então.

Há alguns dias atrás Juan teria rido mas, diante da seriedade com que aquelas palavras foram ditas e de tudo que acontecera, o único resquício de uma risada desapareceu antes mesmo de se formar. Aquilo fora por demais repentino e absurdo. Juan só conseguiu estender-lhe a mão e atônito, balbuciando e gaguejando, disse:

- Eu sou Juan Gonzáles.

Enrique abriu-lhe um sorriso gentil, apertou a mão do garoto firmemente e os olhos de ambos se fitaram demoradamente. Digladiavam no silêncio. A cabeça de Juan latejava, milhares de fantasias vinham-lhe à mente e sumiam com a velocidade que só o pensamento proporciona às raias da loucura. Tentava entender, deixar plausível. Não conseguia. Então Enrique tentou continuar, compassivo, tendo calma com o garoto.

- Assim como você o é.

Nesse momento o chão fugiu-lhe de baixo de seus pés. Suas pernas bambolearam e Enrique auxiliou-lhe para que não caísse. As balas, a batida de carro, tudo. Imortais? Utópico, mas estranhamente fazia sentido. Engoliu em seco e continuou a ouvir Enrique.

- Não sei se é uma hora propícia para lhe contar, mas acho que já teve alguma experiência para, pelo menos, pensar seriamente no assunto.

Juan, pálido, fez um sinal positivo com a cabeça, ainda estava aturdido e um pouco zonzo. Enrique esperou um pouco até o garoto se recompusesse e então disse que era melhor que conversassem depois. Pediu para que ele o ajudasse a arrumar a mala e fizeram esse serviço silenciosamente.

 

O NOVO ALVORECER
Despedida

Eduardo acelerava o carro o máximo que consiga, naquela via pública. Mantinha uma boa distância do veículo de Júlio, mas se o detetive chamasse reforços, o que provavelmente já havia feito, não sabia o quanto aquela distância duraria.

Em seu ouvido, além das buzinas e do rugido do motor, escutava o som eletrônico de seu celular:

- Atende, Édina! Atende, pô!

Quando o aparelho tocou a mensagem de caixa postal, Eduardo se controlou para não jogá-lo pela janela. Jogou no banco do passageiro, para extravasar a raiva. Trocou a marcha, ultrapassando um carro pela direita e logo em seguida outro, pela esquerda, "costurando" em meio daquela avenida que ligava o centro com alguns dos bairros periféricos de Santa Cecília. A falta de conhecimento do tráfego da cidade o impedia de sair da rota principal, mas fazia-o sempre que possível, tentando despistar Júlio.

Estava chegando em um trecho mais movimentado, e cada vez mais próximo do hotel onde ele e Édina estavam hospedados. Teria que despistá-lo, senão seria obrigado a passar reto pelo hotel e enfrentar outra parte do trânsito da cidade, onde seu conhecimento era nulo. Foi obrigado a reduzir pelo fluxo de automóveis, e Júlio se aproximou muito dele. Pensou consigo mesmo que o disfarce já fora descoberto, apesar dele não ter a mínima idéia como, e que não teria mais nada a perder, enquanto puxava uma pistola automática do porta-luvas. Mais algumas esquinas e a rua transversal, que cortava essa avenida e ia até a frente do hotel onde estavam hospedados, poderia ser alcançada.

Eduardo levantou o joelho direito e, numa posição totalmente absurda, mantinha o veículo em linha reta. Colocou o braço direito para fora e deu dois tiros: o primeiro perdeu-se no ar e o segundo acertou o capô do carro do policial. Voltou-se para a direção e continuou a correr quando ouviu um tiro que sibilou à sua esquerda e um brado que estourou o vidro de trás do carro. Xingou entre dentes cerrados, e atirou novamente para trás. A bala estilhaçou parte do pára-brisa e continuou seu curso, destruindo o comunicador do automóvel de Júlio, deixando-o ilhado dos diálogos policiais e do barulho de estática que sempre invadia o carro, cortando o silêncio. Agora um sorriso percorreu o lábio de Eduardo, mas subitamente se virou e percebeu que havia ultrapassado o sinal vermelho da rua que atravessava a avenida e dava em seu hotel. Girou violentamente o volante, tentando evitar outro veículo, que se atravessava em seu caminho. A frente do carro ferozmente desviou da batida frontal, mas a traseira patinou e deslizou, fazendo Eduardo sentir a pancada na lateral direita de seu automóvel com a lateral contrária do Puma GTI amarelo que passeava desavisado pela rua.

- O pneu não! O pneu não!

Engatou a marcha e sentiu o carro saindo novamente e, mesmo com a lateral muito amassada, o pneu, seu grande medo, estava intacto.

Júlio não teve a mesma sorte. A frente de seu carro encontrou a traseira do Puma, que girou num eixo imaginário, enquanto Júlio chocava-se de frente com um poste mais adiante.

*************

Eduardo entrou como um raio pela porta do quarto, avançou para a pequena mesa e começou a pegar os arquivos. Ao ouvi-lo chegar, Édina, que acabara de se trocar, foi lhe contar como havia tido azar, pois a porta do necrotério estava sendo vigiada por duas equipes da imprensa, e que ficara esperando à toa, já que não conseguiu nenhuma brecha para entrar, então decidiu voltar e chegara há alguns minutos. Eduardo, arfante pela corrida do estacionamento até o quarto, interrompeu-a e disse que Júlio o havia reconhecido, que precisavam ir logo. Ao entender o que havia se passado, Édina entregou a Eduardo as malas, com algumas roupas socadas e enfiadas às pressas, e disse-lhe que guardasse-as no carro e chamasse o garoto que ficava na porta do hotel. Eduardo lembrou-se do garoto a que ela estava se referindo, um maltrapilho de cerca de onze anos que sempre se propunha a lavar o vidro do carro, levar bagagens e outras coisas por algum dinheiro. O dono do hotel já o expulsara várias vezes de lá, mas o garoto sempre voltava. O parceiro de Édina não entendeu o por que do garoto, mas fez o que ela mandou, e só quando voltou com o menino é que ela explicou seu plano.

*************

Eduardo olhou para o lado e observou o carro, que estava dirigindo há alguns minutos e que colidiu com o Puma amarelo, arrancar cantando pneus rumo à estrada norte da cidade. Esperou alguns segundos e, quando o viu virando a esquina, saiu o mais rápido possível em sentido contrário, em outro automóvel, tentando não chamar a atenção para si.

Qual não foi sua surpresa quando, mal havia saído, viu três viaturas da polícia que se dirigiam para o norte. Cruzou os dedos, torcendo para que desse tempo, e acelerou.

- A sorte nos sorri das maneiras mais obscuras possíveis.

Esse foi o pensamento que Júlio teve quando viu o outro carro que passara por ele. Após a batida com o poste, Júlio se preocupou em socorrer o rapaz que dirigia o Puma amarelo. O garoto, que beirava os vinte e dois anos, tinha apenas sofrido um corte na testa, não muito profundo, acima da sobrancelha direita. Estava sangrando um pouco, mas nada problemático. O rapaz estava muito assustado mas, assim que assegurou-se que ele estava bem, Júlio virou-se e correu até um telefone público para acionar a central. Pediu uma ambulância para auxiliar o garoto e avisou sobre o suspeito que tinha perseguido.

Voltou então para seu carro e, garantindo que ainda estava em condições de uso, continuou no rastro, agora distante e perdido do falso agente. Quando passava perto da Venta Bláson Del Plata, viu o carro que estava perseguindo até há pouco sair e passar a seu lado. Então três viaturas que passavam se depararam com a mesma cena e começaram a perseguir o veículo, cuja descrição Júlio havia fornecido pelo telefone.

Ele já virava o volante quando percebeu a farsa. Em outro carro, que também saíra da Venta, Eduardo tentava passar incógnito. E a perseguição entre os dois recomeçou.

Aeroporto da cidade de Santa Cecília

Tiveram grande dificuldade de colocar as mochilas no táxi. De fato, eram mochilas grandes e uma acabou indo no banco da frente, enquanto outra foi no porta-malas. Pareciam mochilas de alpinismo e seriam úteis durante a longa caminhada. Vieram calados a viagem inteira, exceto por algumas banalidades, como o frio que estava chegado, que Enrique conversou com o motorista. Enrique acabara de comprar as passagens e entregava-lhe os documentos falsos. Juan não resistiu:

- Por que anda com um documento falso, além do seu?

- É complicado andar com um só documento. Se acontecer algum problema, prefiro utilizar outro documento, para despistar, e sair logo do país.

Ficaram algum tempo no saguão, o ar condicionado parecia que machucava os pulmões de Juan em seu lento respirar. Foram embarcar. Tudo ocorreu sem problemas, exceto por uma cena inusitada que Juan percebeu: Enrique, ao ver um dos responsáveis pela bagagem, o cumprimentou calorosamente e depois deu-lhe uma nota de cem dólares sorrateiramente. Ele passou as malas de ambos sem que fossem revistadas e em seguida foram para o portão de embarque.

Depois de mais um tempo ambos se dirigiram ao avião. Juan olhou morosamente a parte da cidade que sua vista alcançava, despediu-se sem palavras. Deixou que a lembrança de Anne o tocasse novamente e também a de Fabíola, e com um terno e triste olhar despediu-se das duas. Sentia seus pés latejarem como se algo o prendesse, sentia o coração apertado. Sua mão fazia um movimento sem sentido, como se quisesse expressar algo, um adeus, que era suprimido talvez pela vergonha de acenar para o nada, ou talvez pela imobilidade e impotência que ele sentia dentro daquela cena.

*************

- Júlio, seu maldito filho da...

As palavras de Eduardo se perderam enquanto ele virava a uma velocidade absurda para uma via pública. Como aquele desgraçado conseguira vê-lo nesse outro carro? Quando viu o antigo automóvel que estava usando sair sendo perseguido por policiais, achou que teria mais tempo. Não teve. Júlio chegava assustadoramente perto, mesmo com a frente do veículo literalmente afundada.

Os dois haviam rodado por cerca de dez minutos e já estavam longe do perímetro urbano. Júlio torcia para que passassem por uma ronda ou qualquer viatura e essa com certeza seria atraída pela velocidade em que ambos dirigiam. Já Eduardo ficava cada vez mais nervoso, com toda essa maldita perseguição e por não ter a mínima idéia de onde estava.

O detetive quase espumava de tanta raiva que estava sentindo. Aqueles dois haviam feito ele e toda a polícia de trouxa. Júlio ficava neurótico só de pensar como seria a reação do comandante e mais ainda, se toda essa história caísse nas mãos de alguns jornais. Estava na polícia há bastante tempo e poucos casos haviam sido tão escabrosos como este. Tudo aquilo era muito estranho e para ele nada mais fazia sentido. Já não bastava os pobres garotos serem mortos, ainda os incomodavam. E porque tanto trabalho de se passar por agente federal? Júlio continuava perdido em indagações sem respostas, ao som da lataria do seu carro que chacoalhava por causa da batida, quando observou que um terceiro automóvel se aproximava deles. Júlio não o havia notado antes, mas agora estranhava a alta velocidade com que ele os estava alcançando.

O dia dava seus últimos suspiros. Júlio sentiu um calafrio percorrer-lhe a espinha. A estrada, que tinha cada vez mais uma aparência fantasmagórica, era ladeada por árvores sombrias e mergulhava no crepúsculo. Parecia que o ar havia se rarefeito, e esfriado mais. O farol acesso do carro de trás parecia-lhe ameaçador, assim como a maioria das coisas parecia-lhe agora. Ele fazia com que os pensamentos medonhos fossem suprimidos, a muito custo, enquanto tentava se concentrar na estrada a sua frente.

Estavam numa longa reta. O farol do veículo de trás piscou duas vezes. Imediatamente o carro que estava correndo na frente de Júlio respondeu e com um último esforço abriu mais um pouco de vantagem, apenas para logo em seguida rodar no meio da pista. O movimento foi abrupto e repentino demais. Júlio mal percebeu aquela manobra e já estava sentido o choque entre os dois automóveis. A frente do carro de Júlio, que já estava desfigurada devido à batida anterior, com o poste, acabou-se em aço esmigalhado na lateral do novo carro de Eduardo. Vidros voaram em todas as direções fazendo vários cortes, alguns profundos, na pele de Júlio.

Tudo isso só serviu para que Júlio ficasse com mais raiva. Abriu os olhos e esperou uns segundos, sentindo que seu corpo ainda estava todo no lugar. Correu uma mão para soltar o cinto de segurança, o responsável por ele ainda respirar, e a outra foi direto no revólver.

Júlio saiu já apontando a arma para Eduardo, que também descia do outro carro. Eduardo caminhou lentamente e ladeou o veículo, já que havia saído pela porta do passageiro, pois a de seu lado estava fundida nas ferragens com a batida. Tinha as mãos levantadas para o alto, rendido, com um revolver na mão direita e um sorriso sarcástico nos lábios.

- Sempre causando problemas, Júlio.

- As barbáries com o carro foram suas! E também é bom te ver!

- Que ótimo! Além de astuto, ele agora faz piada. Mudou bastante nos últimos dias.

- A raiva faz coisas incríveis com o homem. Em mim, particularmente, ela causa câimbras no dedo que está no gatilho e fica quase impossível segurá-lo. Largue a arma, você está preso.

- Que tal se continuarmos sem frases muito usadas: você está preso ou coisa assim. Parece muito com filme americano.

Ouve-se um tiro. Júlio solta um grito seco e é obrigado a largar o revólver. Sua mão direita fora trespassada pela bala, que ficou alojada na sua arma. Sentiu uma ânsia revirar seu estômago, uma vontade de vomitar ao ver aquele sangue jorrar brilhando aos primeiros raios da lua. Era estranho, afinal já havia sofrido vários ferimentos e a visão de sangue nunca lhe foi problemática, mas agora os efeitos de uma tontura também lhe assomavam.

Uma gota de suor desceu vagarosamente pela face de Júlio, enquanto Eduardo aproximou-se e chutou-lhe a lateral do joelho direito, fazendo-o cair. O falso agente dá um pontapé na arma, deixando-a fora do alcance, e depois prepara uma coronhada na nuca de Júlio:

- Até mais ver, caro detetive.

- Pare, Eduardo! O que acha que vai fazer? - Édina o interrompe incisivamente.

- Vou desacordá-lo para que possamos ir. - Eduardo responde, sem entender a linha de raciocínio da parceira.

Ela lhe faz um sinal negativo com a cabeça.

- Ainda não o agradeci pela ajuda

Ela rodeia o detetive, que assiste passivamente àquela cena. Eduardo vê a parceira medindo cada centímetro de Júlio, e ela o faz demoradamente, até que enfim agacha-se, deixando o rosto a apenas alguns centímetros de Júlio.

- Muito obrigada, detetive...

- Vaca!

Júlio respondeu, arfante. Édina tinha um sorriso maquiavélico que percorria suas bochechas rosadas. Uma pontada de estranhamento surgiu em Eduardo. Sua parceira não sorria, sua parceira não deixava transparecer nenhum sentimento. No escritório, sua parceira não tinha toda aquela sevícia, com que ele agora se deparava. Aqueles olhos sádicos não eram dela. Édina deu três passos e virou-se apontando a arma em direção ao detetive:

- ... É uma pena que tenhamos que nos despedir!

De súbito Júlio sentiu que o tempo começou a passar em câmera lenta. Via o dedo da elegante figura em sua frente deslizar-se como uma cobra no gatilho. Seus dentes começaram a sentir a batida de sua mandíbula descontrolada. Sentia onde cada gota de sangue se localizava em seu corpo, sentia-o fluindo pelas veias, correndo desvairado. Tinha consciência de cada centímetro de seu corpo, e do líquido quente que escorria em suas pernas devido ao medo. Medo que sentia em todos os poros, de todo o corpo que tremia incontrolavelmente. Medo que fez seu olho congelar-se nas órbitas, já que não via nada além daquele dedo que se retesava. Sentia muito medo. Sentia que iria morrer.

E agora, já não sentia mais nada.

- Vaca... Tocante para sua última palavra.

Édina guardava a arma que acabara de disparar. Tinha, novamente, a face inexpressiva. Eduardo olhava atônito para sua parceira, todos os seus pensamentos embaraçaram-se, ele agora se encontrava totalmente confuso. Estava trabalhando com ela há tempos, mas nunca a vira assim. O caso estava ficando cada vez mais sério.

- Édina, não havia necessidade de matar. Ele estava dominado, eu iria desacordá-lo e ...

- Eu decido quais são as nossas necessidades, você obedece.

Ela se virou e discou alguns números no celular:

- Sou eu. Acho que o garoto está vivo. Coloque homens em todas as saídas das cidades. Vamos encontrá-lo.

Entrementes

Um carro, com a lateral amassada, corre seguido por três viaturas. Esse parece ser guiado por um louco, numa velocidade absurda e freqüentemente chocando-se com outros automóveis ou quaisquer obstáculos no meio de uma movimentada avenida. Ele segue na contramão, desviando de veículos que se mantinham alertas pelo rugido contínuo e sofrido das sirenes.

Numa ação eficiente, dois carros da polícia colocaram-se na lateral do carro, enquanto a outra viatura manteve-se atrás. Algumas batidas e um deles toma a dianteira, obrigando o fugitivo a parar, já que estava cercado.

Os policiais desceram e rapidamente colocaram-se em posição, usando as portas ou as próprias viaturas como escudo, e tendo as armas preparadas. Uma voz de comando foi ouvida, ordenando que o desconhecido descesse do automóvel e colocasse as mãos para cima.

A porta se abre lentamente e a figura maltrapilha de um garoto chorando desce trêmula. Ele olha para os lados e com uma voz fina e oscilante fala para o policial mais próximo:

- Eles disseram que dariam dinheiro se eu conseguisse levar o carro para o outro lado da cidade...

*************

Agradecimentos:
Aka Draven MacWacko
Thiago Salviatti

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