Highlander: O Esculhambo Final

Ele lançou-lhe um olhar inquisitivo, examinou-o de cima a baixo. Reparou naquele cabelo estranho, melado por uma fortíssima mistura de gel e laquê. A verdade é que tudo aquilo lhe parecia uma peruca. Mas o que mais lhe era estranho é que ele estava com a espada na mão. O cabeludo - espadaúdo também - olhou-o e, para desespero de todos, começou:

[Duncan] - Eu sou Duncan MacLeod, do Clã MacLeod. Nasci em 1592 nas montanhas da Escócia. E sou Imortal. Assim como 80% da população das séries. Por quatrocentos anos tenho viajado por muitos lugares, exercido várias funções. Já fui um guerreiro em várias batalhas, lutei em revoluções, já fui guia de escoteiros, manicure e até gigolô. O Solo Sagrado é meu refúgio para umas partidas de truco aos domingos. No final, só pode haver um! Desde que esse um possa ter uma idéia boa e arranjar uma desculpa para não ser o último e continuarmos a lucrar com a franquia.

A cara do primeiro era de espanto. Duncan fez uma careta e começou a olhar pros lados, como um cachorro que tenta morder o próprio rabo.

[Amanda] - Ora, Duncan! Pelo amor de Deus! Você fala isso há séculos! Não se cansa, não?

[Duncan] - Oh! Amanda! Realmente... Vago por séculos, vivendo sem um lugar pra chamar de meu. Vendo todos meus amigos morrendo!

[Zé] - Desculpa, hã... Amanda, não? O que ele está fazendo? Parece meio louco.

[Amanda] - Não se preocupe. É que esse é o começo do episódio. Está no contrato dele explicar a história dos Imortais para aqueles que nunca viram a série.

[Zé] - Mas os fãs não ficam de saco cheio?

[Amanda] - Na verdade sim, mas depois eles contratam uma banda pra colocar uma música legal, e os fãs acabam esquecendo e comprando discos da música legal.

[Zé] - Sabe que é uma boa idéia? Você também fazia isso?

[Amanda] - Na verdade não. Pagava pro Nick Lobo e ele fazia isso por mim.

[Zé] - Ah...

[Duncan] - Nunca poderei amar uma mortal. Não suportaria vê-la morrer.

[Amanda] - Nossa! Hoje ele está difícil.

[Zé] - É! Estou percebendo. Parece melodrama da Marvel.

[Amanda] - Duncan!

[Duncan] - Sou uma alma presa em um corpo que não envelhece e não morre.

[Amanda] - Duncan!

[Duncan] - Por toda a eternidade sem amigos. Lutando batalhas sem sentido.

[Amanda] [Zé] - DUNCAN!!!

[Duncan] - Sempre Alerta!

Os dois, boquiabertos, olharam aquela figura de espada na mão.

[Duncan] - Oi, Amanda! Não tinha te visto. Faz tempo que você está aí?

[Amanda] - (batendo com a mão na testa) Cheguei há algumas horas.

Eles se abraçam.

[Duncan] - Quanto tempo!

[Amanda] - Pois é! Uns dois episódios!

*************

Flash-back
1879
Algum lugar no mundo

Um quarto de hotel. Duncan e Amanda entram e começam a se beijar.

[Amanda] - Duncan...

[Duncan] - O que foi?

[Amanda] - Onde estamos?

[Duncan] - Em 1879, não leu ali em cima?

[Amanda] - Li, mas também fala: "Algum lugar no mundo".

[Duncan] - É que o roteirista estava com preguiça de fazer pesquisas históricas e a produção está sem dinheiro pra comprar um figurino e um cenário decente.

[Amanda] - Ah!

Eles continuam a se beijar.

*************

Presente

[Zé] - Qual foi a utilidade desse flash-back?

[Amanda] - Todos adoram flash-backs e cenas de sexo. Dá mais Ibope.

[Duncan] - Lembra-se?

[Amanda] - Do quê?

[Duncan] - Do que ocorreu depois, no flash-back?

[Amanda] - (fazendo uma cara maliciosa) Lembro...

[Duncan] - De como eu desabotoei os treze botões do seu vestido?

[Amanda] - Sim, e de como eu levei um minuto e meio para tirar sua camisa? Tudo bem que você está ficando meio careca... Tem 40 fios a menos de cabelo.

[Duncan] - 40 fios? Grande coisa. Você também tem lá seus 27 a menos.

[Zé] - Desculpe interromper, mas o fato aconteceu em 1879, correto?

Os dois balançam a cabeça em afirmação.

[Zé] - Então como vocês lembram dos botões, do tempo?

[Amanda] - É um poder secreto dos Imortais. Uma pessoa que é capaz de lembrar o nome e o rosto de amigos seus que morreram a milhares de anos não seria capaz de lembrar de meros botões?

[Zé] - Tem uma lógica...

[Duncan] - Se importam de irmos para um bar?

Todos concordam e vão.

*************

Bar

Eles chegam num bar. Este está completamente vazio, a não ser por um garçom com uma boina esquisita, rosto cheio de espinhas, um corpo magro e raquítico coberto por uma roupa estampada de cores berrantes e um avental branco por cima.

[Diócrenes] - Oi! Eu sou o Diócrenes. Posso ajudá-los?

[Amanda] - Diócrenes? Que nome é esse?

[Diócrenes] - O escrivão estava bêbado. Meu pai também. Ficou Diócrenes mesmo. Vão beber algo?

[Duncan] - Sim. Um Dom Perignon 76, acompanhado de mariscos silvestres do Mar Cáspio.

[Diócrenes] - Desculpe. Somos um boteco de esquina no Brasil e só servimos cachaça e cerveja em copo de requeijão.

[Duncan] - Me vê uma cachaça!

[Zé] - Duas.

[Amanda] - Eu passo. Mas me traz salame picado.

[Diócrenes] - (anotando) Salame picado pra doutora... Só um minuto!

Diócrenes sai.

[Amanda] - Desculpe. Mas acredito que não fomos apresentados formalmente.

[Duncan] - Ah, me desculpe. Amanda, esse é Zé. Zé, essa é Amanda.

[Amanda] - Que nome estranho o seu também...

[Zé] - Na verdade meu nome é normal. O de vocês é que é esquisito. Nunca vi tanto nome com "K", além do mais, que raios de nome é "Duncan"?

[Duncan] - É um legítimo nome escocês e...

[Zé] - Acho que não é só o pai do garçom que estava bêbado.

Duncan fica com a cara emburrada.

[Amanda] - Já sei que o nome dele é Zé. Mas o grande problema é: quem é ele? Como você o conheceu, Duncan?

*************

Flash-Back

[...]

*************

Presente

[Duncan] - Ai meu Deus!!! Buá (chorando)!

[Amanda] - Que foi, Duncan? Tudo bem?

[Duncan] - Não sei. Não consegui ter um flash-back.

[Zé] - Quando disseram que o roteirista estava com preguiça, não era brincadeira...

[Amanda] - (falando devagar, melosa e arrastadamente) Calma Duncanzinho... Passou. Titia Amanda já está aqui.

[Zé] - A verdade é que sou um personagem de um episódio só. Os fãs, depois desse episódio, nunca mais vão ouvir falar de mim.

[Amanda] - Que triste.

[Zé] - É. Um pouco. Mas ainda tenho esperanças de ser chamado para a próxima "Casa dos Artistas".

Diócrenes entra, pela porta da frente, no bar. Está de terno amarelo. Senta-se numa banqueta, olha para os lados e vai para o banheiro. Por uma porta de atrás do balcão, ele sai novamente, mas agora com a antiga roupa e avental. Traz numa mão a bandeja. Todos olham perplexos.

[Diócrenes] - Estão olhando o quê? A produção está sem dinheiro. Eu sou o único homem do elenco de apoio. Aqui está o salame da doutora.

Põe um prato na frente de Amanda, depois dois copos. Coloca, nos copos, uma dose de cachaça de uma garrafa que tem uma cobra dentro.

[Diócrenes] - Precisando de mais alguma coisa, é só chamar.

Amanda começa a comer. Duncan vira a cachaça num gole só. Zé permanece olhando para o copo.

[Duncan] - Não vai tomar?

[Zé] - O Imortal é você e não eu.

[Duncan] - Então com licença.

Duncan novamente bebe num só gole.

[Duncan] - (limpando o beiço) Então, Amanda. O que a traz aqui?

[Amanda] - Tenho que lhe dar um recado.

[Duncan] - Sério? Que legal! O que é?

[Amanda] - Não é nada legal. Tem um Imortal. Ele está vindo. Virá desafiá-lo.

[Duncan] - Desafiar-me?

[Amanda] - Sim. E ele é muito poderoso.

[Duncan] - Oh! Céus. Quem é ele?

[Zé] - Deixa eu tentar adivinhar. Ele é o Imortal mau do episódio. Duncan o conheceu há algum tempo e por algum motivo estúpido não conseguiu matá-lo, e agora ele voltou para se vingar.

[Amanda] - Uau! Como você conseguiu descobrir isso?

[Zé] - Pura dedução.

[Duncan] - Mas qual deles?

[Amanda] - Seu nome é temido por séculos. Pais contam histórias sobre ele pros filhos dormirem. Ele é pior que o bicho-papão. Ele é chamado de K, o mau.

[Zé] - O cara do "Homens de Preto"?

[Amanda] - Não. A pronúncia é diferente. E a produção não teria grana para contratar o Tommy Lee Jones.

[Zé] - Eu não disse? Mais um nome ridículo com "k"?

[Duncan] - Por Deus! K...

*************

Flash-back
Suíça, 1920

Duncan está sentado em um restaurante. Um homem elegantemente vestido se aproxima e toca em seu ombro.

[Duncan] - Quanto tempo, Giuliard!

[Giuliard] - Meu amigo Duncan MacLeod. Por Deus. Você não envelheceu nem um dia.

[Duncan] - Bondade sua. Todos dizem isso desde 1500 e bolinha.

[Giuliard] - Hahaha! Hilário como sempre. Desculpe o atraso. Tenho tido problemas com minhas empresas. Mas o que o traz à Suíça?

[Duncan] - Arejar a cabeça, conversar com alguns banqueiros, cuidar dos papéis de algumas heranças. Então aproveitei para ver como você estava. Mas o que acontece com as empresas? Chocolates suíços ainda vendem bem, não?

[Giuliard] - É verdade, não posso reclamar. O problema não é esse. Na verdade, duas fábricas minhas foram atacadas.

[Duncan] - Atacadas?

[Giuliard] - Sim. Um louco entrou e colocou quilos de sal no meio do chocolate. Você tem noção do que é ter chocolate salgado no mercado?

[Duncan] - Que maldito.

O garçom, que está vestido de roxo e laranja, entrega a Giuliard um bilhete.

[Giuliard] - Desculpe Duncan, preciso ir. Ele atacou novamente. Está na filial que fica nesta cidade.

[Duncan] - Como conseguiram avisar você tão rápido?

[Giuliard] - Sabe como são séries de ação. Os policiais sempre demoram para que possamos ter uma boa cena.

[Duncan] - Então vou com você.

Duncan deixa dinheiro em cima da mesa. Os dois saem.

*************

Fábrica de Chocolates "A Suíça"

Alguns minutos depois Duncan e Giuliard entram na fábrica com alguns seguranças.

[Giuliard] - Ele já matou dois seguranças, Duncan. Está escondido no meio da fábrica. Se tivermos sorte, vamos pegá-lo! (dirigindo-se a dois seguranças) Vocês vão por aqui, vamos nos separar. Duncan, vá por aqui.

Eles se separam.

[Duncan] - Além de vir ajudar, ainda querem que eu fique sozinho. E depois reclamam: o Duncan mata muita gente. O Duncan fica segurando na espada do samurai. Tudo é o Duncan. Mas quando o Duncan aumenta o ibope ninguém fala parabéns pro Duncan.

Ele fica alguns minutos praguejando e procurando até sentir outro Imortal por perto. Ele tira sua espada.

[Duncan] - Eu sou Duncan MacLeod, do Clã MacLeod. Quem está aí?

Duncan vê o outro Imortal fechando o zíper da calça. Ao lado dele estão muitos sacos de sal.

[K] - Meu nome é K. O que está fazendo aqui, Sr. MacLeod?

[Duncan] - Procurando o cara que está adulterando o chocolate. Você o viu?

[K] - Parei pra tirar água dos joelhos e não vi ninguém. Acho que sou o único a adulterar tudo isso. Se tiver mais alguém, vou processar por plágio.

[Duncan] - Foi mal. Vou ver se encontro o cara.

[K] - Peraí (Ajeitando a camisa). Você não vai embora. Já que está aqui irei tirar sua cabeça.

[Duncan] - Não irei lutar. Você nem ao menos está armado.

[K] - Você é que pensa. Olhe atentamente.

K tira a jaqueta que estava vestindo. Como um mágico, ele mostra os dois lados da jaqueta e cobre uma de suas mãos com ela. Espera um momento e depois tira a jaqueta, revelando uma espada em sua mão.

[K] - Abracadabra.

[Duncan] - Estou impressionado. Agora defenda-se!

Os dois começam uma feroz luta. Sons de espadas ecoam pelo lugar. Faíscas, obras-primas do pessoal de efeitos especiais, chovem saindo das espadas.

De repente os dois param e ficam se encarando. K mostra a língua. Duncan mostra a língua e gira os olhos. K mostra a língua, gira os olhos e torce o nariz. Duncan mostra a língua, gira os olhos, torce o nariz e mexe as orelhas. K se irrita, pois não consegue imitar Duncan, e atira a espada contra ele. Duncan desvia e a espada crava no peito de Giuliard, que acaba de chegar. Duncan corre até o amigo para ajudá-lo.

[Duncan] - Meu amigo. Por favor, agüente firme.

[Giuliard] - Não, Duncan. Eu vou morrer. Mas me prometa. Prometa que vai pegar o desgraçado.

[Duncan] - Por que eu? Já vim até aqui com você. Não é o bastante? Depois dizem que eu mato muita gente...

[Giuliard] - Prometa, Duncan! Estou morrendo, pô!

[Duncan] - Tudo bem, eu prometo.

Giuliard se contorce e morre.

[Duncan] - K, seu maldito, eu vou matá-lo!

[K] - Não, não vai, MacLeod. Eu coloquei uma bomba no meio do sal. Ele vai explodir em dois minutos. Se você vier atrás de mim, não poderá desarmá-la. Então tudo explodirá e o sal se espalhará pelo chocolate. Hahaha! Como eu sou maligno!

[Duncan] - Filho da mãe, ainda irei te pegar.

Duncan joga-se em meio aos sacos de sal e começa desesperadamente a procurar pela bomba. Os seguranças chegam e Duncan os instrui para procurá-la também.

*************

Duas horas depois.

[Duncan] - Tirem todos do prédio, a bomba ainda pode explodir. Vamos, não temos tempo pra tirar o corpo do finado. Vamos, mexam-se.

*************

Presente

[Duncan] - Depois dessa ocasião, eu só vi K mais uma vez, em Paris. Mas é uma passagem que eu não gosto de lembrar. Também não achamos a bomba. Ela deve ter falhado. Dizem que permanece até hoje, escondida naquele prédio.

[Zé] - Já lhe passou pela cabeça que talvez ele estivesse blefando?

[Duncan] - Sim, mas sabe como os vilões de hoje em dia são maus. Nunca se sabe se estão ou não mentindo.

[Amanda] - Que cara mau. Quem adulteraria o chocolate suíço? Só uma mente perversa e maléfica faria isso.

De repente os Imortais sentem uma vibração estranha. Zé percebe que eles olham para o lado, como um cachorro que tenta enxergar a pulga nas costas.

[Duncan] - Tem alguém lá fora. Eu cuido disso. Zé, pague a conta, por favor.

[Zé] - Tudo eu! Eles vão lutar combates mortais com espadas em algum beco de uma cidade e eu fico pagando a conta. Grande participação na história!

[Amanda] - Me espera, Duncan. Deixa só eu arranjar uma espada, esqueci a minha em casa.

Diócrenes aparece com uma camisa listrada e boina de cozinheiro. Tem, pendurada por uma faixa no pescoço, uma bandeja.

[Diócrenes] - Cachorro-Quente. Pipoca. Espadas medievais. Romanas. Katanas. Refrigerante.

[Amanda] - Me vê uma espada!

Duncan sai do bar. Vê uma figura de sobretudo e tênis brancos, levemente sujos, parada no meio da rua. Duncan ouve uma risadinha conhecida: Connor MacLeod.

[Connor] - Hehehe. Duncan, quanto tempo.

[Duncan] - Desde EndGame hein? Que saudades. Mas eu não tinha matado você?

[Connor] - Daqui a algum tempo você se acostuma. Aliás, ainda bem que nesse filme eu morri. Já ganhei o Prêmio três vezes, e até agora não recebi nada. Estou pensando em juntar os três e trocar por uma viagem ao Havaí. Mas estou esperando a Davis/Panzer entrar em contato com meu agente.

[Duncan] - Mas então você voltou, pois sabe que um grande mal está por vir?

[Connor] - Esse era meu segundo plano. Na verdade voltei mais pra ver a Elizabeth Gracen. Dizem que ela está muito boa. Faz tempo que não a vejo.

Amanda sai do bar seguida por Zé. Ela tem nas mãos uma espada amarela.

[Duncan] - Que raios é isso?

[Amanda] - Preferi o estilo He-Man, pra variar um pouco. Connor! Quanto tempo.

[Connor] - Amanda. Realmente você está muito boa, digo, bem. Não quer jantar comigo hoje?

[Amanda] - Depois, quem sabe? Temos um Imortal mau por perto.

[Connor] - Verdade. Tem a história do Imortal mau ainda. E aí, Duncan, pronto para caçar cabeças?

[Duncan] - Como você é insensível! Não se sente mal por desperdiçar centenas de vidas num jogo estúpido pelo poder. Não vê como é horrível toda essa carnificina em que nos metemos e...

[Connor] - Pô, Duncan! Você parece uma bicha! Se não saísse com tantas mulheres, eu iria estranhar. Além do mais, ele é o Imortal ruim da história. Matou um amigo seu e você jurou se vingar. Ou seja, ele tem que morrer.

[Zé] - Concordo com que ele falou. Principalmente a parte de parecer bicha!

[Amanda] - Eu não. Experiência própria.

[Connor] - (Ignorando os outros) Mas você está muito linda, Amanda.

[Amanda] - (Trocando sorrisinhos) Ah, Connor! Galanteador como sempre.

[Duncan] - Eu também sou galanteador.

[Connor] - Aprendeu bem comigo (volta a fitar Amanda).

[Duncan] - Se não se importam, preciso encontrar K.

[Connor] - E vai encontrá-lo aonde?

[Duncan] - Boa pergunta!

[Zé] - Tenho uma lista telefônica aqui.

[Connor] - Vamos traçar a psicologia dele, Duncan.

[Duncan] - (olhando fixamente pra Connor) Está bem.

[Zé] - Por que não podemos olhar na lista?

[Connor] - Ele é perturbado. Detesta chocolate e quer dominar o mundo para acabar com esse doce.

[Duncan] - E temos que impedi-lo rápido.

[Connor] - Sim.

[Zé] - Letra "K"... K, o mau. Achei!

[Duncan] - Seria horrível demais, não?

[Connor] - Não é bem por aí. Quero acabar com isso rápido. Vou aproveitar para conhecer as praias brasileiras. Dizem que tem mulher pra dar e vender.

[Duncan] - Pense nas pobres criancinhas.

[Zé] - Telefone: 3899...

[Connor] - Se ele quer acabar com o chocolate no mundo...

[Duncan] - Mas o chocolate brasileiro não é exportado em grandes quantidades.

[Connor] - Então, ele não atacará nenhuma fábrica. Atacará a raiz do problema.

[Duncan] - O chocolate vem do cacau.

[Connor] - Sim! A grande plantação de cacau do Brasil!

[Zé] - Endereço residencial: Rua José da Silva, número...

[Amanda] - Cavalheiros! (Os dois se voltam para ela, que está desembrulhando um bilhete e lendo-o) Duncan MacLeod, por favor, encontre-me na "A grande plantação de cacau do Brasil" amanhã, às dez da noite, para que possamos concluir nossa disputa. Traga você-sabe-o-quê. K.

[Zé] - Então K tem raiva de Duncan, pois ele conseguiu impedi-lo em 1920?

[Duncan] - Não é bem por aí. Tem aquele segundo encontro que eu falei.

[Connor] - Sem flash-back, por favor. Quero permanecer neste século, pra ver se consigo encontrar alguma gatinha por aqui.

[Duncan] - Na verdade, não gosto de me lembrar disso (faz uma cara triste).

[Zé] - E então?

[Duncan] - Preciso treinar. Vou pro apartamento. Táxi!

Duncan entra no carro, que sai cantando pneus.

[Zé] - Como ele conseguiu um táxi tão rápido?

[Amanda] - Por que ele nos deixou aqui?

[Connor] - Não tem nenhuma mulher, andando essas horas na rua?

*************

Alguns minutos depois

Um táxi pára e os três companheiros entram. Amanda olha fixamente para o motorista, que está com uma calça xadrez e uma camisa verde-limão. Logo reconhece Diócrenes.

[Amanda] - Diócrenes?

[Diócrenes] - Eu mesmo.

[Connor] - Que raio de nome é Diócrenes?

Diócrenes faz um ar de aborrecido.

[Amanda] - Você novamente?

[Diócrenes] - Não disse que a produção está sem dinheiro para contratar o elenco de apoio?

[Connor] - Mas por que, então, não contrataram uma modelo?

[Diócrenes] - Meu cachê é bem mais baixo. Na verdade, sou ator de teatro iniciante.

[Zé] - Isso explica a roupa...

[Amanda] - Vá para o nosso apartamento.

*************

Mais alguns minutos depois

Eles entram no hotel e o gerente informa que o Sr. MacLeod chegara há cerca de cinco minutos. Eles sobem e os Imortais sentem a presença de Duncan.

[Amanda] - Deve estar treinando duro. Conhece-o, não?

Ao entrarem no apartamento, encontram Duncan jogado na cama e roncando alto.

[Zé] - Muito aplicado, pelo que vejo.

[Amanda] - Coitadinho. Deve ter treinado muito.

[Zé] - Sei.

[Connor] - Realmente, é bom irmos dormir. Teremos um longo dia amanhã. Quer tomar banho, Amanda?

[Amanda] - Boa idéia, Connor! O calor daqui é infernal!

[Connor] - Que ótimo. Pegarei toalhas para nós dois.

[Amanda] - Só que tomarei sozinha, Connorzinho.

[Connor] - Isso não é justo. Eu dei a idéia.

Eles então vão dormir. Connor, amarrado ao sofá, pois insiste em fugir para a cama de Amanda durante a noite.

*************

Dia seguinte

[Amanda] - Duncan, acorde!

[Duncan] - (ainda acordando e falando mole) Que horas são?

[Amanda] - Seis horas da tarde.

[Duncan] - Seis? Dormi o dia inteiro?!

[Connor] - Exatamente!

[Duncan] - E vocês?

[Connor] - Fomos à praia.

[Duncan] - Putz! Roteirista maldito! Eu estou morrendo de fome! Onde vamos comer?

[Zé] - Conheço vários restaurantes.

[Duncan] - Mas a plantação de cacau é longe?

[Zé] - Não! Do outro lado da cidade.

[Duncan] - Desculpe, mas cacau e praia? É impressão minha ou isso não combina muito bem?

[Connor] - Detalhes geográficos! Quem liga pra isso?

[Amanda] - Na verdade...

[Connor] - O importante é irmos comer.

[Duncan] - Vou tomar um banho e me trocar. Preciso também pegar uma coisa.

Passa-se meia hora e Duncan está pronto. Quando ele sai do banho, Amanda percebe uma carteira de couro que ele guarda no bolso.

[Amanda] - Que carteira é essa, Duncan?

[Duncan] - Algo que precisarei para o encontro de hoje.

Fica o mistério. Amanda tenta controlar a vontade louca de roubar a carteira dele. Eles saem. Vão para um restaurante indicado por Zé e lá comem muito bem da comida brasileira.

Passeiam de carro, alugado gentilmente pela metade do preço, cortesia de Diócrenes. Quando já passa um quarto das nove horas, vão para "A grande plantação de cacau do Brasil". O lugar é realmente uma grande plantação de cacau. Duncan parece um cão perdigueiro, que volta e meia se afasta do grupo. Em um desses momentos, uma grande jaula de bambu cai de uma árvore prendendo Connor, Amanda e Zé. Os Imortais sentem que K está por perto.

[Zé] - Duncan, tire-nos daqui!

[Connor] - Relaxe! A idéia é essa: prendem a gente para que não atrapalhemos a luta. Totalmente normal!

K aparece na frente de Duncan.

[K] - Ora! Não é que o MacLeod apareceu! Será que não é tão covarde quanto pensava?

[Duncan] - Quem fugiu na Suíça não fui eu!

[K] - Quem perdeu em Paris também não fui eu! Trouxe?

[Duncan] - Aqui está (mostra a carteira de couro).

[K] - Como posso saber se está aí?

[Duncan] - Palavra de escoteiro.

[K] - Ok. Começamos quando quiser.

[Amanda] - Espera aí! Que história é essa? Você perdeu, Duncan?

[K] - Sim, minha bela dama. Foi em Paris há dois anos.

[Duncan] - Cale-se, K!

[K] - O quê? Tem medo de confessar?

[Amanda] - O que aconteceu? Por que você não morreu?

[Duncan] [K] - Morrer?

[Duncan] - Credo, Amanda!

[K] - Foi pior, não foi? Ele perdeu aquilo que mais amava.

[Amanda] - O quê?

[K] - A figurinha do Pelé na Copa de 1983.

Duncan está segurando o choro.

[Amanda] - Como assim?

[Connor] - Pelé jogou na Copa de 83?

[Zé] - Teve uma Copa em 83?

[K] - Isso não importa. Apostamos duas figurinhas e você perdeu a do Pelé. Ela é a última, não? É a que falta para você completar sua coleção?

[Duncan] - Exatamente.

[Zé] - Mas então por que você voltou, K?

[Duncan] - Há um ano comprei a figurinha que falta para ele completar a coleção: O Zico no banheiro do Maracanã.

[Zé] - Tudo isso por causa de figurinhas?

[Duncan] - Não são apenas figurinhas. São da coleção única de grandes craques do século XX. Existem somente 100 completas no mundo.

[Connor] - Não está no contrato do vilão dizer seu plano diabólico? E o chocolate?

[K] - Verdade! Mas uma parte de cada vez. Primeiro ganho a figurinha, daí acabo com o chocolate usando litros de veneno que eu trouxe para arruinar com a plantação, e depois domino o mundo! Hahahaha!!!

[Connor] - Meu Deus! O plano perfeito!

[Zé] - Qual sua concepção de perfeição?

[K] - Vamos acabar logo com isso, MacLeod!

Os dois abrem o sobretudo. Duncan coloca a mão e retira um tabuleiro de xadrez. K tira um saquinho cheio de peças de marfim.

[Zé] - Xadrez? Eles não vão lutar?

[K] - Cale-se! Precisamos de silêncio.

Eles jogam par-ou-ímpar e Duncan fica com as peças brancas. O jogo começa acirrado. Em cinco minutos Duncan perde dois peões, K só um.

[K] - Meu bispo come seu cavalo, MacLeod! Há! Não havia visto essa jogada, hein?

[Duncan] - Meu peão come seu bispo. Sinto muito, K!

[K] - Você vai pagar por cada movimento! Sua figurinha será minha!

Passa-se mais uma hora. Os dois jogam na retranca. Duncan perde um bispo e uma torre. K perde um cavalo e uma torre. Vários peões também estão fora de jogo. O clima é de ansiedade. Todo o lugar é um silêncio enorme. Os jogadores quase nem percebem quando Joe Dawson e Methos chegam andando por trás da jaula. Methos mal aguenta-se em pé, de tão bêbado.

[Methos] - B-B-Boa (pausa) noite.

[Joe] - Olá, Amanda! Oi, Connor! E aí, Zé?

[Amanda] - Vocês já se viram antes?

[Zé] - Na verdade não, mas precisamos economizar conversa fiada.

[Amanda] - Você não deveria estar vigiando o Mac, Joe?

[Joe] - Com esse monte de mulheres, você acha que vou ficar olhando pra cara feia do Mac?

[Methos] - Só estamos dando uma passada... Vamos numa boate encontrar um monte de mulherada! Ê! (Methos começa a sambar e cai no chão)

[Connor] - Mulheres brasileiras? Boate? Posso ir junto?

[Joe] - Claro!

[Connor] - Precisamos sair dessa jaula.

[Methos] - Me dá uma... (faz a mímica de uma espada) Que eu arrebento "quesses pau" aí!

[Connor] - Pega a minha.

[Zé] - Você estava com sua espada o tempo todo? Por que não nos libertou?

[Connor] - E tirar a emoção do resgate?

[Joe] - Não vai dar a espada pro Methos, nessas condições, de jeito nenhum! Deixe que eu tiro vocês daí.

Joe abaixa-se e começa a cutucar a fechadura, tentando rompê-la.

[Joe] - Porque não fizeram uma fechadura mais alta? Minhas costas estão doendo!

[Connor] - Espera que eu ajudo (ele levanta a jaula na altura de Dawson, que estoura a fechadura. Depois disso, os três saem calmamente).

A tensão entre os jogadores aumenta cada vez mais. Os espectadores assomam curiosos. Amanda dá um berro estrondoso.

[Zé] - Que é isso, Amanda?

[Methos] - E depois sou eu que estou bêbado. Putz! As árvores estão dançando! Maneiro!

[Amanda] - É que o público gosta de uma mocinha gritando desesperada. O que você deu para ele tomar, Dawson?

[Joe] - Não tenho nada a ver com isso!

[Amanda] - Bom, deixe-me continuar (começa a gritar novamente). Merda, Joe faça alguma coisa!!!

[Joe] - Eu não posso. Sou um Sentinela e Sentinelas só observam e não interferem. Esse é o nosso código sagrado de honra, nosso mandamento, e não poderemos quebrá-lo sob nenhuma circunstância. Preferimos perder a vida antes de entregar um segredo ou interferir. Ponha sua torre em A-05, Mac.

[Duncan] - Ahá! Cheque-Mate!

Duncan pega o rei de K e arranca sua cabeça com as mãos e depois coloca no tabuleiro novamente.

[K] - Não pode ser! Não posso ter perdido!

O tabuleiro é envolto por uma luz muito forte. Raios começam a explodir as peças negras. As brancas começam a flutuar no ar.

[Duncan] - No final só pode haver um rei e é o meu! Lálálá (começa a sapatear e dançar, zombando de K)!

[K] - Maldito seja, MacLeod! Isso não ficará assim! Pegue sua espada.

[Methos] - Êêê! Pega a pipoca que vai ter... Hã... Porrada. K! K! (leva um olhar fulminante de Amanda) Quer dizer... Duncan! Duncan! Ê!

Todos se afastam. Os dois tiram as espadas do sobretudo e começam a lutar. A luta é horrível. Faíscas saem das espadas, que já haviam colocado várias arvores no chão.

Todos ouvem o som de alguém que se aproxima.

[Diócrenes] - Que raios está acontecendo?

[Amanda] - Diócrenes? O que está fazendo aqui?

[Diócrenes] - Eu sou o segurança do lugar, a questão é: o que vocês estão fazendo aqui?

[Connor] - Droga. Agora ele descobriu sobre nós. O que iremos fazer?

[Joe] - Diócrenes?

[Methos] - Putz! Que nome laza... Blé!

[Diócrenes] - Agora chega! Eu não tenho a mínima intenção de saber por que um bando de marmanjos está brincando de espada, mas não agüento mais sacanearem meu nome. O roteirista me coloca aqui só pra me encher. Pô! Desse jeito não dá! Eu me demito! Nunca mais na vida faço séries com orçamento baixo. Até nunca mais!!!

[Joe] - Que deu nele?

[Methos] - Falta de mulher...

[K] - Agora que acabou o showzinho, podemos continuar?

[Duncan] - Venha então!

Novamente começam. A briga é violenta. K ataca com ferocidade, enquanto Duncan se esquiva como pode. Então o MacLeod mais novo finta K e faz um ataque destinado à cabeça. K dá um passo lateral e num golpe rápido passa sua lâmina pelo abdome de Duncan. Todos se surpreendem, acham que a luta está acabada, mas se surpreendem mais ainda quando percebem que a lâmina de K acaba de virar pó. Ele próprio olha atônito para a empunhadura de sua espada. Duncan aproveita e crava sua espada até o cabo no peito de K. E para a contínua surpresa de todos, a lâmina de Duncan também se desfaz. Os dois entreolham-se boquiabertos, enquanto jogam o resto de suas espadas no chão.

Ambos tiram do sobretudo um bastão com pouco mais de 25 cm. K aperta um botão no bastão, que ilumina-se e revela-se um sabre-de-luz vermelho. Em contrapartida, Duncan vira uma chave no seu bastão. Ouve-se o barulho de um motor de carro a álcool engasgando e depois silêncio. Engasopa mais duas vezes e pega: aparece um sabre-de-luz azul.

A luta continua intensa. K visivelmente maneja melhor o sabre-de-luz. Duncan ataca tentando cortar K, este gira seu sabre para que circunde o de MacLeod e coloque-o de lado, abrindo toda a defesa de Duncan. Feito isso, K o perfura. Duncan cai de joelhos, largando a espada no chão. Está arfante.

[K] - Sinto muito, Duncan, mas suas figurinhas e sua cabeça me pertencem. Hahahaha (risada cruel)!

[Duncan] - Nunca!

Dito isso, Duncan aponta a mão direita, com a palma para cima, em direção à cabeça de K. Faz um movimento e seus dedos erguem-se para o céu. Imediatamente ouve-se um som igual ao de um champanhe estourando. A cabeça de K pula do pescoço e rola para dentro da plantação. De cima de seus ombros sai uma luz e uma chuva de fagulhas. Confetes e serpentinas surgem do nada e começam a voar no espaço com o vento. O corpo de Duncan MacLeod, semi-morto, samba largado no ar e depois cai.

[Amanda] - Duncan!

[Methos] - Puf! A cabeça pulou! Ê!

[Connor] - (ajudando-o a levantar) Parabéns, Duncan. Você foi ótimo!

[Zé] - Mas como você conseguiu fazer aquilo?

[Duncan] - Usando a Força.

*************

Algumas horas depois
Quarto do hotel

[Amanda] - Um brinde, senhores.

[Joe] - A Duncan MacLeod.

[Methos] - Ê! Viva o Dundum!

[Connor] - Tudo acaba bem, quando acaba bem.

[Zé] - Por falar em acabar bem, litros de veneno foram apreendidos pela polícia brasileira. K iria usá-los na "A grande plantação de cacau do Brasil". Mas ainda bem que Duncan o impediu.

[Amanda] - Como se sente, Duncan?

[Duncan] - Ótimo! Salvei o cacau e ainda ganhei um prêmio: consegui completar minha coleção de figurinhas raras.

[Connor] - Figurinhas. Não espere mais do que isso da produtora. Estou esperando meus prêmios até hoje.

[Duncan] - Não se preocupe mais. Vamos fundar uma associação dos que não receberam seus prêmios.

[Joe] - Sério?

[Connor] - É! Vai se chamar PEACE.

[Duncan] - PEACE?

[Connor] - Sim: Prêmios Extraviados. Atenção Contra o Esquecimento.

[Zé] - Essa é boa!

[Joe] - Se não se importam, garotas deslumbrantes nos esperam. Vamos?

[Connor] - Agora falou minha língua.

[Zé] - E o que vai fazer agora, Duncan?

[Duncan] - Ainda há muita coisa errada nesse mundo e em outros. Vou mudar meu nome para Cole, me tornar um policial interplanetário caçador de alienígenas e mudar para uma produção com mais dinheiro. Já estou até vendo: no final, entre os alienígenas, só poderá restar um. E eles não poderão lutar em local onde já ouve um pouso alienígena, pois será considerado Solo Ovnizado ou Sacro. O que vocês acham do enredo?

[Connor] - Inovador!

[Joe] - Surpreendente!

[Zé] - Eu já vi isso antes em algum lugar.

[Amanda] - Ótimo! Outro brinde!

Ouve-se um barulho, logo depois um grito que vai sumindo.

[Amanda] - Nossa! Acho que o Methos caiu da sacada!

FIM

*************


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