Não Dê Comida aos Animais!
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- Alguém pode me dizer de quem foi a maravilhosa idéia de fazer essa excursão ao zoológico? - Calma, Methos, é só um passeio de domingo! - respondeu Duncan, entregando seu ingresso e passando pela roleta da portaria - Você vai gostar! - Sim, já estou adorarando! - Methos passou pela roleta logo atrás do amigo e enterrou as mãos nos bolsos das calças largas, bufando - Acordei às seis horas da manhã, peguei ônibus, metrô e lotação para chegar até aqui, depois tivemos que esperar os atrasadinhos e agora ainda pegamos essa fila toda para entrar! - Desculpe, eu simplesmente não consigo sair da cama cedo! - ronronou Amanda, fazendo dengo - Eu preciso dormir bem para não ficar com olheiras... Mas vocês vieram mesmo de lotação? Que horror! - Você levou as chaves do meu carro ontem, Amanda, esqueceu? - Duncan lançou a ela um olhar enviesado - Junto com o meu último cartão de crédito! - Eu perdi a hora mesmo, pessoal, sinto muito! - Richie levantou as mãos em sinal de aceitação de sua culpa - Ontem saí com o Connor, sabe como é... Mulheres, bebidas, mais mulheres e mais bebidas... - Hehehe! - Connor tentou disfarçar os soluços, mas o balão de gás que ele trazia pela mão subia e descia constantemente - Bebidas... E mulheeeeeres! - Nossa, que bafo! - Joe abanou-se e deu dois passos para o lado - Pelo jeito a bebedeira foi feia! - Depois eu é que sou o alcoólatra da turma! - comentou Methos - Mas realmente, de quem foi a idéia desse passeio? - Ora, do Mac, claro! - Richie deu de ombros - Ele acha que nós precisávamos de mais contato com a natureza... - Olhem, os olifantes! - gritou Connor, correndo para junto da cerca mais próxima e pulando com os braços abertos - Ei, olifantes, venham aqui! Olifaaaaanteeees! - Olifantes é no outro filme! - Richie abanou a cabeça - Esses são elefantes mesmo... Ei! Desça da grade, Connor! - Contato com a natureza num ZOOLÓGICO? - berrou Methos - E ainda mais no BRASIL?? Que estrangeiro vem ao zoológico no Brasil? Bastava dar uma volta na Selva Amazônica! Todo mundo sabe que a Amazônia fica logo ali ao lado do Sambódromo de Buenos Aires, com vista para o Pão-de-Açúcar! - Errado, a Amazônia não fica ao lado do Sambódromo, e sim entre o Maracanã e a Favela da Rocinha, de onde saem ônibus para a selva todo dia depois dos jogos de futebol! - Duncan desviou de um grupo de crianças que seguia em fila atrás de uma professora - Quer dizer, isso se os índios canibais não devorarem as baianas de acarajé e as cobras anacondas não invadirem Copacabana... Essas coisas são comuns no Brasil! A professora que guiava as crianças olhou com profundo espanto para Duncan e ele sorriu, estufando o peito, orgulhoso de seus conhecimentos de geografia. A mulher, horrorizada, levou rapidamente seus alunos para outro lado e alertou-os para que não chegassem perto daquele homem maluco. - Está um dia maravilhooooooso! - berrou Connor, andando em zigue-zague com os braços abertos, como se fosse um aviãozinho. - Maravilhoso? Só se for pra você, Connor, com esses seus ridículos óculos cor-de rosa! - Methos ia passar a perna em Connor para vê-lo cair, mas um olhar feio de Dawson o fez mudar de idéia - Quem comprou esse chapéu do Mickey para esse cretino? - Eu falei que era para todos usarem disfarces! - Duncan sussurrou, olhando para os lados - Você também devia ter vindo com alguma coisa que não chamasse a atenção, Methos! Nosso filme passou há pouco tempo nos cinemas daqui e a série ainda passa na televisão, algum fã pode nos reconhecer! - Minha roupa está normal! - o mais velho dos Imortais abriu os braços e deu uma volta para que os amigos o olhassem, menos Connor, que pulava para tentar alcançar as girafas - O que há de errado com meu disfarce? - Pintar um lado do rosto de azul não é disfarce! - implicou Amanda - Além disso, azul não combina com a cor dos seus olhos! - Essa é minha pintura de guerra! - respondeu Methos, fazendo cara de mau - Eu a uso há mais de três mil anos! - Ei, Connor, largue esse cordão! - gritou Joe - Alguém faça o favor de dizer para ele que não era para dar o balão para as girafas comerem?! Largue o fio do balão, Connor! - Três mil anos, Methos? - Amanda fez um trejeito de desgosto - Que coisa mais fora de moda! - Mas assim ninguém vai me reconhecer, querem ver? - Methos aproximou-se de um menino que olhava-os fixamente, junto com alguns amiguinhos - Ei, baixinho, você sabe quem eu sou? - É o ator de "Coração Valente"! - respondeu o garoto. - Viram? - Methos sorriu com ar de triunfo, enquanto Connor fazia caretas para os rinocerontes. - Que nada, aquele outro morreu no filme! - corrigiu um amigo do menino, afastando-se com os outros garotos - Esse aí é um Smurf narigudo, tenho certeza! - Smurf narigudo? - Methos fechou a cara enquanto seus amigos riam sem parar, menos Connor, que xingava uma arara que tinha bicado seu dedo - Tudo bem, vocês acham que estão disfarçados, mas por acaso já se viram no espelho? Todos pararam e começaram a olhar uns para os outros. De repente o grupo irrompeu em gargalhadas - menos Connor, que agora tentava puxar um jacaré pelo rabo. - Mac, você está ridículo! - Richie estava quase rolando pelo chão de tanto rir - De onde você desenterrou esses óculos de fundo de garrafa e esse bigodão? - Quer ver eu fazer você engolir essa sua peruca black power? - Duncan ameaçou dar um murro no aluno, mas Richie desviou a tempo de impedir Connor de entrar no viveiro das tartarugas. - Amanda, usar lenço na cabeça e óculos escuros que parecem faróis de caminhão não é disfarce! - riu Dawson, sem perceber que Connor começou a olhar em volta com certo desespero, procurando algo - Você parece que vestiu uma fantasia de "assassina que tenta escapar da polícia em filme de quinta categoria"! - Você esqueceu de acrescentar minha peruca ruiva, meu querido Sentinela distraído! - Amanda colocou as mãos na cintura e olhou para Joe por cima dos enormes óculos - Sabia que você fica um charme com esses suspensórios e essa gravata borboleta? Parece um apresentador de televisão daquele programa que eu vi ontem à noite... Como era mesmo o nome dele? Um gordinho simpático... Ah, você sabe qual é! - Então você ficou no hotel para ver televisão ao invés de sair comigo, Amanda? - Duncan de repente colocou as mãos na cabeça e saiu correndo - Connor, pare de fazer xixi nos cisnes! Não, você NÃO pode nadar no lago junto com eles! - Duncan, meu amor, eu sinto muito! - Amanda fez beicinho e o batom vermelho pareceu que iria saltar-lhe da boca - Se eu disser que ontem tive uma dor de cabeça muito forte, mas muito forte mesmo, você acredita? - De jeito nenhum! - gritou Duncan, tentando fazer Connor deixar um macaco levar seu chapéu do Mickey - Se você estava tão mal, então por que levou meu carro e meu cartão de crédito? - Para comprar remédios para minha dor de cabeça? - sugeriu Amanda, com todo o ar de quem estava procurando uma desculpa - Para colocar gasolina no carro? Para pagar minha conta no hotel? - Desista, Mac, seu cartão a essa altura já era! - gargalhou Richie - Quero só ver quando a conta chegar, hahahahaha! - Deixe os hipopótamos em paz, Connor! - esbravejou Methos - Richie, o que esse imbecil bebeu ontem afinal? - Foi um negócio chamado pinga... - Richie tentou puxar pela memória - Tinha também uma tal de cachaça, e outra coisa que tinha um número, acho que era 51... Isso sem contar as caipirinhas, que são umas bebidas com limão, açúcar e aguardente de cana! - Puxa, deve ter sido uma mistura assassina! - Joe espantou-se - Nem eu no meu bar sirvo essas bombas todas, não é à toa que o Connor está desse jeito! - Connie, seus tempos de Tarzan já foram, querido! - pediu Amanda, afastando o amigo da jaula dos gorilas antes que um segurança aparecesse para prender aquele bêbado que urrava e batia no peito como um possesso - Aquilo foi só um filme que você fez para ganhar um dinheirinho, lembra? Venha com a titia, venha! - Olha, pessoal, não é por nada, mas eu estou com fome! - Richie esfregou a barriga na altura do estômago - Não comi nada desde que acordei, será que vocês se importam de fazer um lanche? Com um suspiro, Duncan já foi logo tirando a carteira do bolso e estendeu algumas notas ao rapaz, lançando-lhe um olhar gelado. - Valeu, Mac! - agradeceu Richie, cheio de sorrisos - Como você sabia que eu estava sem dinheiro? - E quando você TEM dinheiro? - implicou Methos, calculando se deveria deixar Connor enfiar a mão na jaula dos leões enquanto os outros estavam distraídos. - Traga alguma coisa para mim também! - Duncan chamou o rapaz novamente antes que ele se afastasse - Ah, Richie... Eu quero o troco de volta, sim? - E eu, mon amour, você não vai me pagar nem um suco de laranja? - Amanda abaixou os óculos gigantescos e encarnou seu olhar mais falso de apaixonada, justamente o que sempre derretia o coração de Duncan - Para mim, sua Lolita galopante... Meu fauno incendiário! - Lolita galopante? - Joe quase perdeu o fôlego de tanto rir, enquanto Connor oferecia folhas de capim a um búfalo, chamando-o de boi bonitinho - Fauno incendiário? Ah, essas merecem ir para as Crônicas dos Sentinelas! - Não se atreva, Joe! - corado até a raiz dos cabelos, Duncan ergueu um dedo ameaçador - Se você divulgar isso nos seus relatórios eu... Eu... - Você o quê, Mac? - Methos cruzou os braços, assumindo ar de mafioso - Vamos lá, quanto vale seu segredo? Vale um almoço no zoológico? Pense bem, eu também sou um Sentinela! - Chantagistas! - Duncan puxou Connor pelo braço bem a tempo de livrá-lo da cusparada de um camelo enfurecido - Está bem, eu pago o lanche de todo mundo... E você vai se ver comigo depois, Amanda! - Você é muito sovina, meu bem! - Amanda mandou-lhe um beijinho e correu atrás de Richie para conseguir um lugar na fila da lanchonete. - Mulheres! - bufou Duncan, voltando-se depois para os outros dois - E vocês vão se arrepender, vou descobrir um segredo dos dois para fazer chantagem também! - E quem iria acreditar em você? - Methos colocou-se logo atrás de Amanda na fila, seguido por Joe - Ei, olhem, eles têm cerveja aqui! Nada mau com um calor desses, hein? - Ouvi dizer que aqui no Brasil eles bebem mais cerveja do que na Alemanha! - comentou Joe, sacando do bolso seu dicionário inglês-português para poder decifrar os nomes na tabela de preços da lanchonete - Que diabos será isso de empadinha? - É claro que eles bebem mais cerveja aqui do que na Alemanha, Joe! - implicou Methos - Você já comparou o tamanho dos dois países num mapa? - E agora com você por aqui, então, a Alemanha vai chorar de inveja! - Richie abaixou-se mas não conseguiu escapar de um peteleco de Methos - Ei, isso dói, viu? Com os lanches e bebidas finalmente em mãos, mas sem encontrar lugares para sentar, o grupo voltou a circular pelo zoológico. Connor não quis comer nada, preferiu ficar pulando em frente à gaiola dos tigres, achando enorme graça naquelas zebras amarelas. - Vamos sentar naqueles bancos mesmo, ou desse jeito não vamos conseguir comer em paz! - apontou Dawson, equilibrando a custo o lanche e a bebida. - Não tem espaço para todo mundo... - Duncan olhou ao redor - Richie, você senta no chão e dá lugar para a Amanda e o Joe! - Isso não é justo! - resmungou o rapaz, fazendo cara feia mas aceitando a ordem - Sempre sobra para mim, só porque sou o mais novo! - Está vazio por aqui, é impressão minha ou todo mundo está indo para o outro lado? - comentou Methos, observando o movimento do público que passava - Será que já está na hora de fecharem o parque? - AAAAI! - Richie pulou da grama, batendo com desespero nas pernas da calça - Isso aqui está cheio de formigas, que droga! - Ei, tem alguma coisa pingando em mim! - Amanda olhou para o alto - Ah, não acredito, é chuva! O grupo levantou às pressas e saiu em busca de um telhado, largando os lanches para trás e arrastando Connor pelos cotovelos. Várias outras pessoas corriam também, mas todos os lugares que pudessem abrigar alguém já estavam lotados. Em poucos minutos o grupo estava encharcado e ainda não tinham encontrado um lugar para proteger-se. O único que achava graça era Connor, pulando dentro de todas as poças d'água que encontrava pelo caminho. - Vamos logo embora, já estamos perto da saída! - decidiu Duncan, diante das reclamações dos amigos - Essas chuvas tropicais podem durar horas, nem adianta querer continuar o passeio desse jeito! - Nunca mais me convide para um programa desses, Mac! - Amanda não cabia em si de raiva - Olhe só a minha peruca, as minhas roupas... Minha maquiagem está toda borrada! Sabe quanto me custou esse lenço de seda? - Nem me fale em maquiagem, olhe só para a cara do Methos! - Dawson começou a rir, mesmo vendo a expressão ameaçadora do velho Imortal - A tinta azul está escorrendo, hehehehe! - Olhem, tem um lugar ali, vamos entrar! - apontou Richie, dirigindo-se às pressas para uma porta entreaberta num prédio, onde estava escrito "CUIDADO - OFIDÁRIO EXPERIMENTAL" - Não entendo português e nem sei o que diz a placa, mas ao menos vamos ficar abrigados da chuva! - Que bonito, parece um pedaço da floresta! - Duncan logo sentou-se num tronco que parecia servir de banco sob uma árvore frondosa - Por que será que não tem ninguém aqui? Eles deviam abrir esse lugar para o público poder ver as plantas! Enquanto falava, Duncan nem percebeu que os outros empalideciam, olhando fixamente para algo ao lado dele. Até Connor engoliu os soluços e agarrou-se ao braço de Amanda, recuperando a sobriedade num instante. Só quando viu que os amigos recuavam lentamente, buscando em bloco a porta por onde tinham entrado, foi que Duncan pressentiu o perigo e voltou-se para ver o que os assustara - uma enorme jibóia o encarava a poucos centímetros de seu rosto, deslizando o resto do longo corpo ao redor do tronco onde ele estava sentado. - S-s-socorro! - gaguejou Duncan, tentando permanecer imóvel enquanto a cobra enroscava-se com agilidade em suas pernas - Tirem esse bicho de cima de mim, desviem a atenção dele para eu poder levantar daqui! Sem ouvir o que ele dizia, os outros começaram a sair correndo assim que alcançavam a porta. - Bem, Mac, você disse que queria um contato maior com a natureza... - disse Methos, com uma piscadela e um sorrisinho de vingança antes de sair também - Acho que não vai se incomodar com um abraço apertado, não é mesmo? Tchauzinho! - Methos, volte aqui... SOCOOOOORROOOOO! ************* São Paulo, 30 de abril de 2005. |
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