Os Homens Loiros


799 d.C. - Yorvik (antiga Eboracum)

Caer se tornou outra mulher desde que adotara Laissa. A menina trouxe a ela uma nova vontade de viver e muita alegria. Laissa era uma criança alegre e muito esperta. Aprendia tudo rápido e era muito companheira.

Desde o começo, Laissa soube que não nascera do ventre de sua mãe, mas isso não importava muito. Ela não entendia bem que diferença isso fazia, já que a mãe a amava do mesmo modo.

Ela estava brincando na porta de sua cabana, quando sua mãe veio correndo e a pegou no colo, levando-a para dentro.

- O que foi, mamãe? - a menina perguntou, assustada.

- Vikings! Eles estão invadindo a cidade novamente!

Laissa olhou para fora... Uma correria sem fim. Olhou para sua mãe. Ela procurava juntar algumas coisas numa bolsa de pele. Já tinha ouvido falar dos vikings. Homens loiros malvados.

- O que vamos fazer? - a menina perguntou.

- Vamos fugir. Eles não têm coração. Eles não se importam com mulheres e crianças. - pegou a bolsa de pele e a menina novamente. Correram para fora.

No colo de sua mãe, Laissa via as outras mulheres com crianças, fugindo para fora da vila. Enquanto homens e mulheres guerreiras corriam no sentido contrário, para defender o que ficaria para trás.

Ela viu quando os primeiros vikings chegaram e a luta começou. Segurando firme no pescoço de sua mãe, Laissa olhava horrorizada a violência daqueles homens.

Então, sua mãe parou de correr. Laissa olhou para frente (até então, estava olhando para trás, por cima dos ombros da mãe) e ficou apavorada. Um grande homem loiro (que ela supôs ser um viking) estava parado, bloqueando o caminho delas. E atrás dele, outros homens loiros pegavam as outras mulheres e crianças.

O homem olhava com um olhar estranho... Laissa não conseguiu tirar seus olhos dos olhos dele. Ele tinha uma cicatriz que ia de uma ponta a outra do rosto, começando em cima da sobrancelha direita, descendo na diagonal pelo nariz, acabando quase no canto da boca. Sua mãe começou a correr para o lado oposto, mas logo apareceram mais homens loiros. Onde estavam os homens da tribo? Caer deixou Laissa no chão e disse para que ela corresse para longe. Apavorada, ela não conseguiu se mexer. Ficou olhando petrificada aqueles homens pegarem sua mãe e a deitarem no chão. Eram três. Um deles, o da cicatriz, deitou sobre ela. Sua mãe gritava e o homem da cicatriz batia nela. Os homens até a esqueceram ali. Até que ela gritou. E continuou gritando histericamente, com toda a força de seus pulmões pequeninos. Ela corria nos arredores gritando até perder o fôlego.

Ceirdwyn acabara de matar um dos vikings quando ouviu um grito apavorado de criança. Olhou e viu uma menina que corria loucamente diante de três homens que violentavam uma mulher... Correu naquela direção e conforme foi se aproximando, sentiu um pequeno zumbido... E viu que atrás da menina, vinha um outro homem, pronto para tirar-lhe a vida. Erguendo sua espada e gritando de um modo selvagem, ela correu e interceptou o golpe do homem que tomou um susto com o grito dela. Ele estava alcoolizado (alguns homens bebiam para enfrentar os horrores das guerras), não foi difícil para ela acabar com ele. Foi rápido.

Laissa parou de gritar quando ouviu aquele grito selvagem. Viu então uma mulher vir para cima dela, mas bater num homem atrás de si. Ela não vira o homem. Mas se afastou mais para longe para não ser machucada pelos dois brigando. A briga não durou muito, aquela guerreira era boa. Assim que o homem caiu, a mulher foi para cima dos homens que violentavam Caer. O líder, o tal da cicatriz, foi o primeiro a vir. Ceirdwyn não hesitou e os dois lutaram com muita força. Ela venceu e o deixou muito ferido, mas não o matou pois quando ia fazê-lo, outro dos homens loiros a atacou. Ela então, partiu para cima dos outros.

Laissa viu então que um outro homem se aproximou correndo, com sua espada em punho. Mas ele não era viking. Devia ser da tribo da moça guerreira. Ele ajudou a mulher a vencer os outros dois. Enquanto eles lutavam, Laissa correu para perto de sua mãe, toda machucada, deitada no chão.

- Mamãe! Mamãe! - a menina dizia enquanto acariciava os cabelos da mãe, inconsciente - Fale comigo! Fale comigo! Acorde, mamãe!

Laissa dizia carinhosamente. Não sentiu que a mãe não respirava. E mesmo que sentisse, não saberia o que isso significaria. Ela parecia adormecida. Nem viu que Ceirdwyn e o homem já estavam ao lado dela, pois já tinham derrotado os outros dois. Ceirdwyn ajoelhou.

- Ela vai acordar, não vai, moça? Ela é minha mãe! Ela só está dormindo, não é? - Laissa disse - Ela está dormindo! - e acariciava os cabelos da mãe. Ceirdwyn tocou o pescoço da mulher e balançou a cabeça negativamente para o homem.

- Ela não vai acordar, criança... - Ceirdwyn disse com uma voz muito maternal - É melhor você vir comigo.

Laissa olhou para ela. Os olhos da mulher transbordavam segurança. Confiança. Um azul puro.

- E você vai cuidar de mim? Eu sou seu presente? Mamãe diz que eu sou um presente de Brighid, que sou especial.

Ceirdwyn fechou os olhos controlando uma emoção enorme que veio de dentro. Lembrou de sua irmã e algumas cenas do passado. O zumbido leve continuava e vinha dessa criança. Ceirdwyn percebeu que a menina não tinha consciência de que a mãe estava morta e que parecia em choque pois continuava a acariciar a mulher, que tinha o rosto ferido. Ela parecia muito serena e parecia "ignorar" as feridas no rosto da mãe.

- Sim, és um presente de Brighid e agora eu vou cuidar de ti. Como te chamam?

- Laissa MacBauer. - Laissa repetiu como sua mãe lhe ensinara a pronunciar.

- Eu sou Ceirdwyn, Laissa. Agora viverás comigo. - ela disse e estendeu os braços, para pegá-la.

Laissa, por sua vez, não hesitou. Sentiu muita confiança naquela mulher. Não entendia porque Caer não acordava, mas já tinha ouvido histórias de pessoas que não acordam. Elas vão para o Outro Mundo¹, é o que a Druida dizia. Então, ela sabia que sua mãe estava no Outro Mundo e esperaria por ela.

Não havia muito mais o que fazer ali. Ceirdwyn levou consigo a menina, o homem recolheu o corpo da mãe, o qual foi dado um funeral decente de acordo com os padrões da época. Laissa herdou as poucas peças de ouro que sua mãe tinha: um torque e uma pulseira.

Durante dias, teve pesadelos com os olhar daquele homem loiro e a cicatriz no rosto dele. Mas o tempo foi passando e ela foi superando os traumas daquele dia. Mas realmente, ninguém viu o corpo morto do homem com a cicatriz.

Ela tinha toda uma nova vida pela frente. E Ceirdwyn lhe dissera que ela deveria ser guerreira também.

Uma guerreira... Como Ceirdwyn. Laissa pensava nisso com muita seriedade. À medida que uma criança pensa com seriedade em tais coisas. Mas uma coisa era certa: o homem da cicatriz estava vivo e ela o encontraria um dia. Ela sabia. Lá dentro de si, ela sabia! Do mesmo modo que sabia ser especial.

*************

Notas explicativas:

1- Os celtas acreditavam que existia um Outro Mundo, para onde iam os mortos. Esta crença existe até hoje e é seguida por algumas tradições pagãs ligadas à cultura celta. O Outro Mundo é separado do "Nosso Mundo" por um véu fino e tênue, que "desaparece" na noite de Halloween (31 de outubro). Por isso o costume de usar fantasias, para "confundir" os espíritos dos mortos que atravessam para o "Nosso Mundo".
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