Um Dia de Sol

- Piscina, Amanda? Tem certeza?

- Piscina, sim! Vocês vão ou não vão comigo?

Há quase uma hora os três Imortais brigavam para decidir o que fariam juntos, naquele lindo dia ensolarado no Nordeste brasileiro. Eles tinham permanecido à força na cidade porque seu vôo de conexão para o sul fora cancelado na última hora e, como o próximo avião com poltronas disponíveis só partiria em dois dias, a companhia aérea ofereceu-lhes hospedagem gratuita num hotel em frente à praia como compensação pelo atraso. Methos, como sempre avesso a qualquer coisa que demandasse esforço maior do que pressionar botões num controle remoto, espichou-se no sofá e de lá discutia com Amanda, que zanzava de um lado para outro com Duncan em seus calcanhares.

- O tempo está lindo, o hotel está cheio de turistas, estamos numa suíte dupla de frente para o mar e não temos nada melhor para fazer! - resumia Amanda, com os óculos escuros na testa e enchendo uma enorme bolsa de palha trançada com cacarecos que, segundo ela, eram "indispensáveis" - Além do mais, quero estrear meu biquíni novo!

- Aquele que o Richie deu para você no Natal? - Duncan parou no meio do caminho - Um que ele comprou no Rio de Janeiro? E desde quando você cabe naquilo?

Amanda fuzilou-o com o olhar enquanto Methos bocejava.

- Quer dizer, o biquíni é tão pequeno que chega a ser indecente! - prosseguiu Duncan - Você não teria coragem de...

- Ora, Mac, não seja careta! - resmungou Amanda - É só um biquíni! E nós não estamos tão longe assim do Rio...

- Sim, lá eles chamam isso de "fio dental"! - ironizou Methos - De onde será que eles tiraram esse apelido?

Amanda fingiu não escutar e trancou-se no banheiro, dando um ultimato:

- Quando eu sair, quero os dois prontos, ouviram?

Vendo que ela estava irredutível, Methos a custo levantou-se do sofá e rumou para o quarto, enquanto MacLeod corria até a loja do hotel para comprar uma roupa de banho. Quando todos apareceram, já vestidos, Amanda quase teve um chilique:

- Aonde vocês pensam que vão?!

Os dois homens não podiam estar mais contrastantes. Methos parecia um moleque, com uma camiseta regata três números maior que ele, uma bermuda enorme até o meio das canelas, boné surrado e chinelão de dedo, enquanto Duncan exibia uma berrante sunga estampada em laranja e amarelo, combinando com um camisão de mangas curtas com desenhos havaianos, chapelão de palha e sandálias de couro. Quando os dois miraram-se através dos óculos escuros, Methos caiu na gargalhada e o escocês reclamou:

- O vendedor me garantiu que é a última moda!

Amanda revirou os olhos e, apertando o nó da longa canga enrolada em estilo sarongue, encaminhou-se para a porta.

- E as espadas? - lembrou Methos - Ninguém vai levar?

- Eu estou com uma adaga na bolsa! - gritou Amanda saindo para o corredor - Vocês eu não sei...

- Eu não tenho onde esconder a espada! - Methos coçou a cabeça - E você, Mac?

Duncan fitou-o com cara de interrogação, abrindo a camisa e dando uma volta, como perguntando o que Methos achava.

- Tem razão! - concordou o Imortal mais velho - Ia ficar ainda mais ridículo do que já está!

- Engraçadinho!

De repente, tendo uma idéia, Methos correu até o quarto e voltou com a espada embrulhada numa enorme toalha de praia. Duncan então lembrou-se de ter visto um guarda-sol no armário do banheiro, provavelmente uma cortesia do hotel para os hóspedes desprevenidos. Em dois minutos ele regressava, com um sorriso triunfante e a katana escondida entre as dobras do guarda-sol, correndo para o elevador atrás dos amigos.

Na passagem pelo bar, Methos parou para comprar uma latinha de cerveja. Quando os três finalmente chegaram à piscina lotada, tiveram que lutar para encontrar espreguiçadeiras vazias. Sem a menor cerimônia, Amanda largou a canga nas mãos de Duncan e pulou na água, levando consigo os olhos de todos os homens num raio de cem metros.

- Você está chamando a atenção! - resmungou o escocês quando ela emergiu e voltou para junto dele - Precisava usar um biquíni tão... Tão... Tão...

- Pornográfico? - sugeriu Methos, abaixando os óculos escuros para apreciar melhor.

- Vamos, Mac, não seja tão chato! - Amanda entregou-lhe um frasco que retirou da bolsa - Deixe de ser implicante e passe bronzeador nas minhas costas, sim?

Notando que muitos homens ainda babavam por ela, Duncan empertigou-se e começou a lambuzar as costas de Amanda com o óleo escuro, encarando os mais eufóricos para mostrar que o "monumento" tinha dono.

- Você está parecendo um peru de Natal, Amanda! - riu Methos, abanando-se com o boné - Nem precisa mais tomar sol, já ficou marrom! Pelo jeito esse bronzeador é bom mesmo...

- Mac! - gritou Amanda, arrancando o frasco da mão de Duncan - Olha o que você fez, gastou meio vidro de bronzeador em mim! Estou toda melecada, tenho que lavar isso!

Furiosa, Amanda marchou até as duchas para um banho, porém encontrou uma placa avisando que o encanamento estava em manutenção e os chuveiros permaneceriam interditados até o dia seguinte. Rosnando como uma onça, Amanda fez menção de atirar-se na piscina, mas um salva-vidas agarrou-a pelo braço:

- Sinto muito, madame, é proibido mergulhar com óleo no corpo!

- Mas as duchas estão fechadas e eu...

- São normas do hotel para não sujar a água, madame!

- Assim eu é que vou ficar toda suja... Quer fazer o favor de me largar?

- O que você fez dessa vez, Amanda? - Duncan aproximou-se com cara de poucos amigos - Devolva logo!

- Eu não roubei nada! - rosnou ela entre os dentes - Onde você acha que eu ia conseguir esconder alguma coisa com esse biquíni?

- Algum problema? - quis saber Methos, surgindo por trás de MacLeod.

- Esse cavalheiro não me deixa entrar na água! - Amanda bateu o pé e cruzou os braços - As duchas estão com defeito e...

- Infelizmente estou apenas cumprindo ordens, senhores! O hotel não permite o uso de óleos bronzeadores nas dependências da piscina para não poluir a água! - fazendo um sinal para dois seguranças, pedindo reforços, o salva-vidas apontou para a cerveja de Methos - E também não permitimos latas e garrafas de bebidas!

- Então como eu vou beber alguma coisa por aqui?

- O bar da piscina serve cerveja em copos plásticos, senhor!

Vendo os dois seguranças que se aproximavam, Duncan preferiu desistir da discussão. Estavam dando um vexame.

- Vamos embora daqui! - decidiu, puxando Amanda pelo cotovelo - Eu sabia que esse negócio de piscina não ia dar certo!

Bufando mais que uma locomotiva, Amanda enrolou-se novamente na canga e, recolhendo suas coisas na sacola, decretou:

- Vamos para a praia! O mar é público e ninguém vai me impedir de mergulhar o quanto quiser!

- E eu vou levar minhas cervejas! - apoiou Methos, revoltado por sua lata ter sido confiscada - Vou comprar uma caixa de isopor!

Quando Methos ia atravessando a porta da loja do hotel, entretanto, o alarme disparou e dois outros seguranças acorreram:

- O senhor está carregando algum objeto de metal?

- Bom, eu... Sim, mas...

- Por favor, cavalheiro, saia e deixe tudo o que tiver de metal do lado de fora! São ordens da gerência!

Methos saiu e, advertindo os amigos com um olhar furioso para que não rissem, entregou-lhes a espada embrulhada na toalha. Quando ele passou novamente pela porta, o detector de metais não apitou e os seguranças afastaram-se, desejando-lhe boas compras. Ao sair da loja, Methos trazia não só a caixa de isopor como também uma cadeira de armar com tiras de plástico colorido.

- Bem lembrado, eu também vou precisar de uma cadeira! - Amanda fez um chamego em MacLeod - Compre uma para mim, Mac, por favor...

Incapaz de resistir ao biquinho charmoso que ela fazia, o escocês lembrou-se de deixar o guarda-sol do lado de fora da loja e comprou uma cadeira para cada um. A essa altura Methos já estava no bar do hotel, enchendo o isopor com gelo e latas de cerveja.

- Coloque algo "diet" para mim, querido! - pediu Amanda, fazendo dengo - Mas não esqueça os canudinhos!

- Nem vem que comigo isso não cola! - resmungou Methos - Passe o dinheiro, Mac!

Duncan entregou os últimos trocados que ainda tinha no bolso e finalmente os três saíram do hotel, com Amanda rebolando na frente e os homens, cheios de tralhas para carregar, seguindo atrás. Após um trabalhão para atravessar a avenida congestionada por carros, motos e bicicletas, eles cruzaram o calçadão e enfiaram-se no emaranhado de cadeiras e guarda-sóis em busca de um espaço para acampar.

- Mãe, o homem destruíu meu castelo! - berrou um menino, quando Methos sem querer afundou o pé num monte de areia enfeitado com palitos de sorvete.

- Isso aqui é uma selva pior do que a Amazônia! - xingou Duncan, desviando das esteiras e quase espetando a testa na vareta de um guarda-sol.

Enfim os três chegaram à beira da água e armaram as cadeiras na areia molhada.

- Por que ninguém fica aqui na frente? - estranhou Duncan, abrindo uma lata de cerveja que Methos lhe passou - Todo mundo espremido lá no fundo e tanto espaço aqui na beir...

Antes que ele pudesse completar a frase, uma onda rasteira subiu levando tudo. Ao inclinar-se para tentar agarrar os chinelos, Methos desequilibrou-se e sua cadeira fechou, prendendo-o dentro. Enquanto Amanda corria catando o que podia, Duncan chorava de rir tentando salvar o amigo:

- Você parece um caranguejo, só com a cabeça e as patas de fora!

- Cala a boca e me tira daqui!

Foi preciso que Amanda voltasse para ajudar a desdobrar a cadeira, desentalando Methos da armadilha. Os três então recolheram tudo e saíram em busca de outro lugar. Após quase meia hora indo e voltando entre as barracas, tropeçando em vendedores ambulantes e desviando de crianças, Amanda encontrou um espaço deixado por uma família que se retirava:

- Divido que a água chegue até aqui! Pode armar o guarda-sol para mim, Mac?

- Não dá!

- Como não dá?

- Tive que deixar a parte de baixo do cabo no hotel para sobrar espaço para a katana...

- Aquilo é camarão nos espetinhos? - quis saber Methos, abrindo outra cerveja - Vi tanta gente comendo que fiquei com fome!

A vendedora de camarões, vestida como baiana, ofereceu também acarajés e abarás. Além de comprar meia dúzia de espetinhos, Methos teve que desembolsar o dinheiro para pagar os acarajés dos amigos.

- Minha grana acabou, depois eu pago! - pediu Duncan - Eles não aceitam cartão de crédito na praia!

Quando Amanda fez menção de entrar no mar, Duncan avisou:

- Cuidado, tem tubarões na água!

- Como você sabe?

- Eu não entendo direito esse sotaque português do pessoal daqui, mas ouvi a turma da barraca aqui atrás dizendo que já comeram três pessoas só nessa praia!

- Que horror!

Amanda decidiu ir só até a beirada molhar os pés, mas uma onda mais forte logo jogou um menininho numa bóia contra suas canelas, fazendo-a voltar irritada para a cadeira. Duncan roncava com o chapéu na cara e Methos reclamava porque um surfista bateu com a prancha em sua caixa de isopor, derrubando-a e espalhando as latas de cerveja pela areia.

- Tio, me empresta isso? - pediu uma garotinha, apontando para o reluzente cabo da espada de Methos que escapara da toalha - Eu perdi minha pá e queria cavar um buraco!

Methos desfiou um rosário tão comprido de palavrões que a menina fugiu correndo. De repente, uma nuvem cinzenta encobriu o sol e muita gente começou a ir embora.

- Ótimo! - Amanda bateu palmas - Assim refresca um pouco e sobra mais espaço para nós!

Uma hora depois, entretanto, quando a praia já estava quase vazia, desabou um enorme temporal de verão e os três tiveram que recolher tudo às pressas, voltando encharcados para o hotel.

- Eu falei que isso não ia dar certo! - comentou Duncan pela décima vez, torcendo a camisa na pia do banheiro.

- Sai logo daí, Mac! - murmurou Amanda, empurrando-o para fora e trancando a porta - Não estou me sentindo bem... Acho que aquele tal bolinho de "jacaré" estava estragado!

- Estragado estava o camarão! - decretou Methos, coçando as manchas vermelhas que começavam a surgir-lhe por todo o corpo.

- Amanda, quando você sair é a minha vez! - Duncan bateu à porta do banheiro com uma careta, enquanto torcia-se e massageava a barriga - E não demore, por favor!

- Não enche, Mac!

No dia seguinte, apesar do sol, os três permaneceram trancados no quarto jogando baralho.

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