Publicado no Jornal O Globo em 22/03/2001
BRASÍLIA. O Ministério Público
Federal abriu ontem procedimento administrativo criminal para
investigar o desvio de recursos da Legião da Boa Vontade
(LBV) para financiar mordomias do diretor-presidente, José
de Paiva Netto.
O procurador-geral da República,
Geraldo Brindeiro, está decidindo se a investigação
será centralizada em São Paulo, onde funciona a
sede da entidade, ou compartilhada pelas procuradorias da República
em todos os estados do país em que há atuação
da LBV. Os desvios de recursos foram denunciados por série
de reportagens publicadas pelo GLOBO desde domingo.
Depois de receber representação
do deputado Pedro Celso (PT-DF) contra a LBV e Paiva Netto, o
procurador-chefe da Procuradoria da República no Distrito
Federal, Luiz Augusto Santos Lima, também determinou a
abertura de procedimento administrativo criminal.
Com base nas reportagens do GLOBO, o
Ministério Público investigará a LBV e seu
braço religioso, a igreja Religião de Deus, que
paga a Paiva Netto um salário mensal de R$ 13 mil. Além
disso, serão rastreados os caminhos dos recursos que a
LBV repassa à igreja, em torno de R$ 400 mil por mês,
pelo uso do ideário religioso.
- O excesso patrimonial do senhor José
de Paiva Netto sugere desvio de verbas, formalmente destinadas à
igreja Religião de Deus ou a outras entidades, para
proveito pessoal do próprio dirigente - disse o deputado
Pedro Celso.
O Ministério Público também
vai requerer informações sobre a LBV ao INSS, à
Receita Federal, ao Ministério do Trabalho e à
Caixa Econômica Federal. O Objetivo é confirmar se
os recolhimentos previdenciários são descontados
pela LBV de seus funcionários e não são
encaminhados ao INSS, checar o montante real da dívida
com a Receita Federal e saber se a LBV mantém vínculos
empregatícios sem pagar direitos trabalhistas e Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço. O não recolhimento
do FGTS representa uma dívida também com a CEF, órgão
gestor do fundo.
Comissão decide ouvir Paiva Netto
Na Câmara dos Deputados, a nova
presidente da Comissão de Seguridade Social, Laura
Carneiro (PFL-RJ), anunciou que a LBV será o primeiro
assunto tratado pelos membros da comissão. Segundo ela,
serão convidados a depor um representante do INSS, para
relatar o andamento da fiscalização nacional que
está sendo feita na LBV, e o próprio José
de Paiva Netto.
- Na semana que vem, apresentarei
requerimento para que os dois possam prestar informações
sobre a questão da LBV - disse Laura.
A deputada adiantou que, caso seja
constatada alguma irregularidade, será nomeado um relator
para aprofundar a investigação sobre a LBV,
acompanhando a do Ministério Público.
Depois da LBV, a comissão vai
ampliar seu campo de ação. De acordo com a
presidente, serão analisados os casos das outras 24
entidades filantrópicas que estão sob a mira do
INSS. Juntamente com a LBV, devem R$ 1,3 bilhão ao
instituto. Para cada entidade que apresentar irregularidades,
será designado um relator para investigá-la.
- Essa será a forma de a comissão
diferenciar as entidades que vêm malversando seus recursos
daquelas que realmente prestam serviços à
sociedade - afirmou a deputada.
Procuradorias Investigarão LBV
em quatro estados
O Estado S. Paulo 24 de marco de 2001
Os procuradores da República de São
Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Distrito Federal e
Mato Grosso vão investigar possíveis
irregularidades praticadas por dirigentes da Legião da
Boa Vontade (LBV). O procurador-geral da República,
Geraldo Brindeiro, resolveu pedir providências depois que
o deputado Vivaldo Barbosa (PDT-RJ) entregou um ofício
solicitando que sejam realizadas investigações
sobre supostos crimes cometidos por dirigentes da entidade.
Os procuradores não têm prazo
para concluir os trabalhos, mas se descobrirem indícios
de irregularidades cometidas por dirigentes da LBV poderão
encaminhar denúncias à Justiça. Segundo o
deputado, baseado em reportagens publicadas no jornal O Globo, há
indícios de desvio de finalidade na aplicação
das doações recebidas pela entidade, indícios
de sonegação fiscal e apropriação
indébita de contribuições previdenciárias
arrecadadas dos empregados e não recolhidas ao Instituto
Nacional de Seguro Social (INSS).
Campanha - Depois do bispo Edir Macedo e
do deputado Eurico Miranda (PPB-RJ), agora é a vez de José
de Paiva Netto voltar sua ira contra a Rede Globo. Ontem, na
sede da LBV, em São Paulo, centenas de legionários
reuniram-se para protestar. Muitos erguiam faixas como "LBV
x Globo/Quem faz mais por você?" ou "Chega de
novela/Queremos comida na panela". Crianças da
escola e da creche mantidas pela entidade participaram do ato.
Coordenadores conclamavam os legionários a ocuparem, nos
próximos dias, as esquinas da cidade para panfletar
contra a emissora.
Também ontem, Paiva Netto daria uma
entrevista, convocada pela Assessoria de Imprensa de Brasília,
mas ela foi cancelada. O motivo seria "problemas de saúde"
do presidente da LBV. Na escola da Avenida Rudge, a rotina foi
alterada pela presença de dezenas de assessores e um
caminhão de som que tocava insistentemente músicas
em louvor à entidade.
Em Brasília, assessores da LBV
afirmaram que as denúncias feitas pela Rede Globo contra
a instituição teriam uma motivação:
a concessão de uma emissora à Fundação
José de Paiva Netto. No dia 8 de março, Paiva
Netto assinou um contrato de "concessão e outorga",
garantindo à fundação o direito de
retransmitir imagens de som e televisão para o País
pelo prazo de 15 anos. A sede da emissora será em São
José dos Campos. "Muitas emissoras vão se
filiar à fundação e isso fere os interesses
da Globo", disse o assessor Paulo Alziro. "As denúncias
de má utilização do dinheiro da LBV não
têm qualquer relação com a concessão",
disse Andréia Dodi, da Central Globo de Comunicação.
(Colaboraram Hugo Marques e Beatriz Coelho Silva)
Entidade defende-se acusando Rede
Globo
Estado S. Paulo 24 de março de 2001
Autores: EDUARDO NUNOMURA e HUGO MARQUES
Depois do bispo Edir Macedo e do deputado
Eurico Miranda, agora é a vez de José de Paiva
Netto voltar sua ira contra a Rede Globo. Ontem, na sede da LBV,
em São Paulo, centenas de legionários reuniram-se
para protestar. Carregavam faixas como "LBV x Globo/Quem
faz mais por você?" ou "Chega de novela/Queremos
comida na panela". Crianças da escola e da creche
mantidas pela entidade participaram do ato. Coordenadores
conclamavam os legionários a ocuparem as ruas, nos próximos
dias, para panfletar contra a emissora.
Ontem, Paiva Netto daria uma entrevista,
convocada pela Assessoria de Imprensa de Brasília, mas
ela foi cancelada. O motivo seria "problemas de saúde"
do presidente da LBV.
Em Brasília, assessores da LBV
afirmaram que as denúncias feitas contra a instituição
teriam uma motivação: a concessão de uma
emissora de TV à Fundação José de
Paiva Netto. Em 8 de março, Paiva Netto assinou um
contrato que garante à fundação o direito
de retransmitir imagens de som e televisão para o País
pelo prazo de 15 anos. "Muitas emissoras vão se
filiar à fundação e isso fere os interesses
da Globo", disse o assessor Paulo Alziro. "As denúncias
de má utilização do dinheiro da LBV não
têm qualquer relação com a concessão",
disse Andréia Dodi, da Central Globo de Comunicação.
(Colaborou Beatriz Coelho Silva)
LBV promete coletiva. Mas oferece uma
sucessão de trapalhadas
Estado S. Paulo 24 de março de 2001
Autor: Daniela Tófoli
Legião da Boa Vontade convocou a
imprensa para uma entrevista com o diretor Paiva Netto na sede
da Avenida Rudge. Quando repórteres e fotógrafos
chegaram, entevista foi cancelada
Uma sucessão de informações
erradas. Foi isso o que ocorreu ontem na sede da Legião
da Boa Vontade (LBV), na Avenida Rudge, zona norte. Depois de
convocar a imprensa para uma coletiva, a assessoria da fundação
acabou por cancelar a entrevista.
De acordo com os primeiros dados da LBV, o
diretor-presidente da entidade, José de Paiva Netto,
daria explicações sobre as acusações
que vem recebendo nos últimos dias, como a de desvio de
doações.
Mas, quando repórteres e fotógrafos
chegaram no local, uma das assessoras explicou que não
haveria coletiva, já que os advogados de Paiva Netto
ainda estariam levantando as informações para
rebater as denúncias.
A assessora disse que o que ocorreria ali
seria a gravação de um programa que o presidente
mantém na Rede Bandeirantes e que poderia ser acompanhada
pelas reportagens, desde que nenhuma pergunta fosse feita.
Informações desencontradas
Poucos minutos depois, no entanto, outra assessora negou a
informação. Não haveria mais gravação.
O que estava ocorrendo, de fato, era o início de uma
manifestação de funcionários, mães e
alunos no templo ecumênico, que fica ao lado da sede.
Lá, cerca de mil estudantes de
rosto pintado com a sigla LBV, funcionários segurando
faixas e mães com bandeirinhas do Brasil e da entidade
cantavam, ouviam pregações e gritavam contra as
Organizações Globo - a primeira a revelar o
suposto desvio de verbas da LBV.
Nas faixas, frases como "Chega de
novela. Queremos comida na panela" e "LBV x Globo.
Quem faz mais por você?" revelavam o apoio à
entidade. "Tenho dois filhos aqui e vim lutar por uma boa
causa", dizia Mônica Cristina Barnabé, de 33
anos.
Mônica está com medo de que a
creche e a escola sejam fechadas. "Aqui as crianças
são bem tratadas. Recebem educação de
qualidade, atendimento médico e alimentação",
conta. "Estas denúncias não são
verdadeiras porque a gente pode ver o trabalho da LBV todo o
dia."
O funcionário da entidade Fábio
Mussato, de 26 anos, que trabalha na lancchonete, também
estava na manifestação levando apoio. "Estão
fazendo uma injustiça. Não há provas contra
o Paiva Netto."
A assessoria da LBV ainda não sabe
se as acusações estão interferindo no número
de doações, mas está recebendo mais
visitantes em sua sede, que querem conferir de perto o que é
feito com o dinheiro deles. Para a semana que vem, a entidade
promete a tão anunciada' coletiva.
Engenheiro nega ter avaliado fazenda
da LBV
O Globo 27 de março de 2001
Autor: Rubens Valente
SÃO PAULO. O laudo de avaliação
do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) da fazenda que a
Legião da Boa Vontade (LBV) adquiriu em Mato Grosso é
fraudulento, segundo declarou ontem o engenheiro a quem o
trabalho foi atribuído, o servidor aposentado do INSS
Lourival Ferreira. O laudo, que apontava um valor mais de 100%
superior ao total desembolsado apenas um mês antes pela
LBV pela mesma propriedade (R$ 8,56 milhões), foi
apresentado pela entidade à Justiça Federal, ao
INSS e ao Incra. A LBV queria vender a propriedade ao Incra por
R$ 20,9 milhões em Títulos de Dívida Agrária
(TDAs) para quitar uma dívida com o INSS de R$ 8,4 milhões.
Por determinação do
procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, a
transação será investigada em inquérito
pela Procuradoria da República em Cuiabá. A
fazenda, em Santa Cruz do Xingu, teria 39.500 hectares e é
improdutiva.
Localizado em Matupá (MT), Lourival
afirmou que anos atrás foi procurado por uma pessoa, de
nome Admilson, que tentou contratá-lo. Lourival disse que
não aceitou a proposta e jamais avaliou qualquer terra da
entidade. Informado de que seu nome e um carimbo com seus dados
funcionais aparecem no documento apresentado à Justiça
pela LBV, Lourival disse que "é uma fraude".
- A única relação que
tive com a LBV foi fazer uma doação de alguns
reais para carentes - disse.
O advogado da LBV, Márcio Pollet,
afirmou que o laudo é verdadeiro. Ao saber da negativa do
avaliador, disse que "a assinatura dele está lá".
O engenheiro disse que não é
a primeira vez que seu nome é usado num esquema de venda
de títulos fraudulentos de terra. Segundo ele, uma
quadrilha de Barra do Garças (MT) já usou laudos
com seu nome para vender terras griladas em Goiás.
Lourival disse que foi procurado por
Admilson porque ele é casado com a filha de um amigo. Mas
negou ter recebido qualquer valor de Admilson para a avaliação
das terras.
O nome Admilson aparece na entrevista
concedida na semana retrasada pelo advogado Márcio
Pollet. Ele afirmou que as terras de Mato Grosso foram
adquiridas de Admilson da Silva e Altamiro Martins, nomes que não
constam das escrituras de compra e venda da fazenda da LBV
apresentadas à Justiça, ao Incra e ao INSS.
Há também um Admilson Silva
que serve de testemunha do diretor-presidente da LBV, José
de Paiva Netto, na proposta de venda da fazenda ao Incra por
TDAs. Silva residiria em Cuiabá. Essa proposta de venda
das terras, segundo a LBV, foi rejeitada pelo Incra.
A fazenda de Mato Grosso chegou a ser
hipotecada em favor do INSS, segundo uma comunicação
feita à Justiça Federal pelo advogado Márcio
Pollet.
No domingo retrasado, o GLOBO publicou
entrevista com um dos supostos vendedores da terra, segundo os
documentos apresentados pela LBV, o jornalista Plínio
Martins Marchini, de Vitória. O jornalista afirmou que
jamais vendeu a terra e que seu nome foi usado numa fraude.
Os templos da Boa Vontade, tão
ricos, tão vazios
O Estado de S. Paulo 01-04-01
Religião fundada pelo presidente da
LBV recebe R$ 150 mil por mês com dízimo e doação
Autor: EDUARDO NUNOMURA
De segunda a sexta-feira, sempre às
18 horas, é realizada fielmente a Hora do Ângelus,
um momento de oração nos diversos espaços
religiosos da Legião da Boa Vontade (LBV) espalhados pelo
Brasil. O ritual é idêntico. A luz diminui de
intensidade e surgem os primeiros acordes de uma música
tocada de um CD. Uma mesa coberta com um pano branco permanece
vazia. Uma foto de Jesus Cristo iluminada no altar ganha
destaque. Apenas um detalhe chama mais atenção:
quase não há fiéis.
A Religião de Deus, o braço
religioso da LBV, carece dos chamados "cristãos do
Novo Mandamento". Eles podem existir, mas aparecem pouco
nos templos. Na segunda-feira, 20 pessoas puderam escolher entre
as 561 confortáveis poltronas do espaço ecumênico
da Avenida Rudge, no centro. Às 18 horas de terça,
em São Miguel Paulista, periferia de São Paulo, as
117 cadeiras de plástico não acomodaram ninguém.
O encontro diário da oração das 20 horas só
existe nas placas. Na quarta-feira, os 51 lugares do espaço
no Tucuruvi, na zona norte, ficaram ociosos.
Segundo Antônia, da sede da LBV,
quinta-feira é o dia em que eles aparecem. Pouco mais de
30 compareceram à "reunião de meditação"
na semana que passou. Os templos da Boa Vontade têm
entrada franca. São abertos a pessoas de todos os credos.
"O que é religião?", pergunta uma
pregadora, que se prontifica a dar a resposta: "É o
meio pelo qual os homens, independentemente do credo, buscam
harmonizar-se com Cristo."
Para Paulo Alziro Schnor, porta-voz da LBV
e pregador-ministro, a união das religiões
mundiais é irreversível. "A mentalidade do
mundo vai amadurecendo para o ecumenismo. A LBV, ou melhor, a
Religião de Deus é um posto avançado nessa
linha. Quando as pessoas chegarem a compreender mais os outros,
talvez a Religião de Deus não tenha mais razão
de ser."
Revelações - O ritual das
orações das 18 horas é semelhante ao de uma
sessão espírita, com o perdão da comparação.
Quem faz a associação da Religião de Deus
com o espiritismo é o próprio presidente do credo,
José de Paiva Netto, atual dirigente da LBV. Em seu livro
Diretrizes Espiritualistas da LBV Mundial, ele explica que "a
Religião de Deus realizou a Unificação
Harmonizada das Quatro Revelações Divinas".
Pela ordem, são elas: os Dez Mandamentos, apresentados
por Moisés; o cristianismo, trazido por Jesus; o
espiritismo, revelado por Kardec e Roustaing; e "a de Deus,
do Cristo e dos Espíritos, proclamada pela LBV,
unificando todas as Revelações".
A Hora do Ângelus dura meia hora.
Nesse tempo, um pregador pede aplausos para a figura de Cristo,
orienta as pessoas a viverem harmoniosamente com o próximo,
enfatiza a importância da caridade e reza o pai-nosso,
numa versão psicografada por Chico Xavier. Também,
como nas sessões espíritas, os sensitivos no altar
dão os passes, denominados "fluido cósmico".
Em pé e de olhos fechados, os
sensitivos, equivalentes aos médiuns, incorporam um espírito
e, com as mãos espalmadas sobre a cabeça do fiel,
libertam-no de seus males. É a chamada imposição
das mãos. Depois, cada um é autorizado a beber um
pouco de água oferecida no canto do altar. É a "fluidificação
do precioso líquido", como afirma o dirigente da LBV
em seu livro, que custa R$ 15 e já vendeu mais de 40 mil
exemplares.
A religião presidida por Paiva
Netto defende o fim dos símbolos, como o das imagens de
santos. As exceções são as fotos de Alziro
Zarur, José de Paiva Netto, Nossa Senhora e São
Francisco, penduradas nas paredes laterais. Foi criada em 1973,
segundo os princípios que Alziro Zarur, fundador da LBV,
pregava desde 1926. É contrária ao aborto e
defensora do esperanto. Prega o ecumenismo e se autodenomina a
religião unificadora de todas as outras.
"É o espiritismo evangélico",
define a socióloga Regina Novaes, do Instituto de Estudos
da Religião (Iser). Segundo ela, a Religião de
Deus carrega os símbolos do espiritismo e faz a fusão
com o lado evangélico de não pregar a idolatria de
símbolos. "Eles transformam uma idéia difusa,
do sincretismo, como uma moeda para eles próprios. Se não
fizessem isso, estariam apresentando um produto requentando",
explica.
"Ela não é uma religião
fechada", prefere o pregador Alcides. Segundo ele, a
principal meta dos fiéis deve ser levar a oração
para os corações. "Cada templo tem de estar
aqui", explica, batendo a mão no lado esquerdo do
peito. Oficialmente, a Religião de Deus possui 150 mil
freqüentadores, sendo 30 mil dizimistas. Somada às
doações, a arrecadação dos dízimos
rende R$ 150 mil mensais à entidade.
A religião de Paiva Netto paga à
LBV, de Paiva Netto, 60% do valor arrecadado na venda de CDs e
livros expostos nos espaços ecumênicos. Nos 96
templos, arrecada-se com a venda desses produtos R$ 1 milhão
por mês. Os valores apresentados por Schnor tentam
justificar a remuneração do presidente da
entidade, acusado de desvio de recursos da LBV em benefício
próprio. Segundo o jornal O Globo, Paiva Netto tem
despesas pagas pela LBV, recebe um salário de R$ 13 mil e
usaria seis casas - duas estão em seu nome e as outras
pertenceriam à entidade e à Religião de
Deus. Dívidas dos legionários com o INSS já
somam R$ 2,6 milhões.
Expansão - Talvez a pouca freqüência
dos fiéis seja explicada pela forma como é feita a
pregação. Ela permite, por exemplo, que os legionários
criem "igrejas familiares" nas suas casas, desde que
eles mostrem estar de acordo com os princípios do credo.
Outro meio tem sido usar à exaustão os meios de
comunicação para arrebanhar novos fiéis.
Nas reuniões de oração
e meditação, não é cobrado o dízimo.
Qualquer pessoa pode entrar, rezar e sair livremente. Ninguém
pergunta o que você faz nem por que está lá.
Se não voltar nunca mais, tudo bem.
Nos últimos anos, a Religião
de Deus começou a se espalhar pela periferia de São
Paulo e cidades vizinhas, como Suzano e Ferraz de Vasconcelos,
locais onde os evangélicos lotam seus templos há
mais tempo. O espaço de São Miguel foi criado há
dois anos; o de São Mateus e o do Tucuruvi, no ano
passado. Todos continuam esperando a chegada deles, os "cristãos
do Novo Mandamento".
Pensamento:
"Crença religiosa não é uma condição
prévia para a conduta ética ou para a felicidade."
Dalai Lama, "Ética para o Novo Milênio"
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