Quarta, 10 de maio de 2000.
A Igreja Pentecostal Deus é Amor
foi fundada pelo pastor David Miranda em 1962. Hoje, é a
segunda maior igreja pentecostal do Brasil. São nove mil
templos espalhados pelo País, dos quais três mil só
em São Paulo. Um ex-funcionário acusou a igreja de
enviar ilegalmente 40 milhões de dólares ao
exterior, nos últimos cinco anos. Além do crime de
evasão de divisas, a Deus é Amor foi acusada de
lavar dinheiro dos traficantes Marcinho VP, Fernandinho
Beira-Mar e Escadinha. Segundo o ex-funcionário, cada
fiel paga R$ 10 para participar de um culto. O líder da
igreja, David Miranda, é um milionário e tem sua
fortuna espalhada por paraísos fiscais. Só anda
com seguranças e colete à prova de balas. Nos
cultos, ele aparece protegido por uma cabine à prova de
balas.
Federal indicia pastor Líder
da igreja Deus é Amor vai responder por evasão de
divisas e sonegação fiscal
Quarta, 17 de maio de 2000.
Autor: Odair Del Pozzo
O pastor David Miranda, líder da
Igreja Pentecostal Deus é Amor, foi indiciado ontem pela
Polícia Federal por evasão de divisas e sonegação
fiscal. A PF continua investigando o envolvimento da igreja com
a lavagem de dinheiro e também as viagens dos pastores da
Deus é Amor para paraísos fiscais, principalmente
no Caribe. A polícia também vai pedir a quebra dos
sigilos bancário, fiscal e telefônico do pastor e
da igreja. Foi a primeira vez em que David Miranda prestou
depoimento. O pastor chegou às 15h15 à sede da Polícia
Federal, no Centro de São Paulo, num Tempra preto. Seu
advogado já estava a sua espera e oito seguranças
que seguiam o pastor isolaram os jornalistas: "Não
tenho nada a declarar. Leiam Mateus, capítulo 5, versículos
11 e 12", limitou-se a dizer David Miranda. Ele se referia
ao trecho do Sermão da Montanha que diz respeito a
perseguições sofridas por profetas - "Bem-aventurados
sois, quando vos insultarem e vos perseguirem (...), pois assim
perseguiram os profetas que existiram antes de vós".
O pastor foi interrogado pelo procurador-geral da República
em São Paulo, Pietro Barbosa Neto, e pelo delegado da
federal em Cascavel (PR), Protógenes Queirós.
Durante o depoimento, O DIA teve acesso a documentos da Deus é
Amor que comprovam o envio de dólares para outros países.
Em uma lista assinada por toda a cúpula da igreja, a
orientação para o responsável de cada país
era retirar sua "pasta" no setor de "exterior".
Segundo o G., ex-tesoureiro da igreja, primeiro a denunciar o
pastor David Miranda, "havia muito cuidado com as pastas,
justamente porque dentro delas estavam os dólares".
Entre outros documentos entregues à Polícia
Federal, G. também incluiu os "Recibos de Transferência
de Material". Em um outro documento, a cúpula
obrigou todas as sedes do Brasil e do mundo a "arrumar"
programas de rádio, sem deixar de mencionar que a hora em
rádios comunitárias, geralmente piratas, custa
entre R$ 1 e R$ 5. O Ministério Público Federal
também investiga a informação de que a
igreja teria mais de 100 rádios piratas em todo o Brasil.
O documento também autoriza o aluguel de imóveis
sem escritura para os cultos.
R$ 30 milhões em
nome de Deus
Sexta, 12 de maio de 2000
Testemunha diz que, só do Rio,
congregação paulista recebe R$ 460 mil, parte
deles recolhida dos fiéis
Autor: Odair Del Pozzo e Sérgio
Ramalho
Um pequeno templo da Igreja Pentecostal
Deus é Amor que era encravado no meio da Vila Beira-Mar,
em Duque de Caxias, teria servido de esconderijo para drogas e
armas pertencentes ao traficante Luiz Fernando da Costa, o
Fernandinho Beira-Mar. A denúncia - feita antes das
revelações do ex-tesoureiro G. sobre o
envolvimento do fundador da seita David Miranda em um esquema de
lavagem de dinheiro - está sendo investigada pela
Superintendência da Polícia Federal, no Rio. Em
depoimento à CPI do Narcotráfico de São
Paulo, G. confirmou que a igreja arrecada R$ 30 milhões
por mês através dos nove mil templos espalhados
pelo País. Somente as igrejas do Rio deveriam enviar
mensalmente R$ 460 mil à sede da seita em São
Paulo. Templo na Vila Beira-Mar receberia dinheiro do tráfico
As denúncias sobre a ligação de integrantes
da Deus é Amor com Beira-Mar também chegaram aos
integrantes da CPI do Narcotráfico, em Brasília.
De acordo com a deputada federal Laura Carneiro (PFL-RJ), os
dados foram repassados à Polícia Federal. Segundo
as informações, representantes da igreja usavam
seus carros para transportar dinheiro, drogas e até armas
para a Vila Beira-Mar, reduto do traficante no Rio. Parte da
movimentação financeira do tráfico local
também teria sido enviada através da seita para
paraísos fiscais. Ex-tesoureiro da Deus é Amor, G.
reforçou em São Paulo a denúncia de que os
templos da igreja eram usados na lavagem de dinheiro de
traficantes. Promotor do Ministério Público
paulista, Carlos Cardoso ouviu G. na última quarta-feira.
Na ocasião, o ex-tesoureiro afirmou que os pastores
levavam mensalmente de 500 mil a 1 milhão de dólares
para serem depositados em contas do fundador da igreja, David
Miranda, em paraísos fiscais. "Cada pastor
transportava até 20 mil dólares em cada viagem,
caracterizando crime de evasão de renda", disse o
promotor. Ministério da Justiça quer a PF
investigando o caso Em Brasília, o Ministério da
Justiça só está aguardando relatório
do Ministério Público Federal, em São
Paulo, para acionar a Polícia Federal para apurar as denúncias.
Em Cascavel, no Paraná, a PF já tem um inquérito
aberto contra a Igreja Pentecostal Deus é Amor para
apurar crime de evasão fiscal. Para o promotor Carlos
Cardoso, o fundador da seita pode vir a ser processado por evasão
de divisas, estelionato e até formação de
quadrilha. Cardoso justifica: "Além de mandar
dinheiro ilegalmente para o exterior, ele ficava com a maior
parte dos recursos, transportados com a ajuda de seus pastores".
A fé que move o tráfico
Quarta, 10 de maio de 2000
Denúncia liga Igreja Deus é
Amor aos traficantes 'Beira-Mar' e 'Marcinho VP'
SÃO PAULO - Um ex-funcionário
denunciou ontem que a Igreja Pentecostal Deus é Amor, com
sede em São Paulo, está envolvida em esquema de
lavagem de dinheiro do narcotráfico. Em entrevista à
TV Bandeirantes, ele disse que os líderes da igreja têm
ligações com os traficantes Luiz Fernando da
Costa, o Fernandinho Beira-Mar, Márcio Amaro de Oliveira,
o Marcinho VP, e José Carlos dos Reis Encina, o
Escadinha. Segundo o ex-funcionário, que trabalhou 18
anos para a igreja e está sob os cuidados do Serviço
de Proteção à Testemunha do Ministério
da Justiça, nos últimos cinco anos a Deus é
Amor enviou ilegalmente 40 milhões de dólares ao
exterior. O lucro vem das doações de fiéis
e da lavagem de dinheiro do tráfico. Ele disse ainda que
os responsáveis pela igreja ficam com 40% do dinheiro. Os
traficantes recebem o restante em forma de bens e imóveis.
Pastores usam agência de viagens para levar dinheiro O
dinheiro é levado para o exterior todos os meses por
cerca de 40 pastores, através da agência Andy
Viagens Turismo Ltda, de propriedade da Igreja Pentecostal Deus
é Amor e com sede num dos templos do bairro da Liberdade,
em São Paulo. "Só no ano passado, a Andy
recebeu R$ 114.712 dos lideres da igreja", denunciou. O
deputado estadual Renato Simões convocou a testemunha a
prestar esclarecimentos na Comissão Parlamentar de Inquérito
da Assembléia Legislativa de São Paulo que apura a
ligações do narcotráfico no estado. O
ex-funcionário contou também que cada filial da
igreja espalhada pelo País manda em média R$ 100
mil por mês à sede. Em dezembro do ano passado, a
filial de Belo Horizonte enviou R$ 200mil; Porto Alegre, R$ 150
mil; e Bahia, R$ 60 mil. Outras 11 sedes de capitais menores
teriam enviado R$ 1 milhão, ao todo. "Cada fiel paga
R$ 10 para participar de um culto", disse. O fundador e líder
da igreja, David Martins Miranda, acusado de acumular uma
fortuna milionária em paraísos fiscais, negou
qualquer ligação como o tráfico de drogas e
lavagem de dinheiro. Através de seu advogado Rubem Dario
Leme Cavalhero, David Miranda declarou que prefere manter a sua
privacidade. e que os atos da igreja são feitos com base
na Constituição, que isenta os templos de
pagamento de impostos. O advogado disse ainda que toda a
movimentação financeira da igreja é
coordenada pelo seu departamento de contabilidade.
Conselho investiga
movimentação de dinheiro
Sexta, 12 de maio de 2000
O Conselho de Controle das Atividades
Financeiras (Coaf) funciona como uma espécie de termômetro
da lavagem de dinheiro no País. Ligado ao Ministério
da Fazenda, o órgão investiga a movimentação
suspeita de recursos. Segundo especialistas, o Brasil "lava"
anualmente cerca de US$ 18 bilhões. A maior parte desse
dinheiro seria movimentada pelos traficantes, que usam o sistema
financeiro do País para legalizar os lucros do narcotráfico.
A lavagem dos "narcodólares" - como é
classificado o dinheiro proveniente do tráfico - seria
feita de maneira simples. Para isso, o dinheiro é
aplicado em operações falsas e, na maioria dos
casos, acaba remetido para contas em paraísos fiscais.
Ex-tesoureiro da Deus é Amor, G. disse aos deputados da
CPI do Narcotráfico paulista que o fundador da seita,
David Miranda, usava os pastores para levar o dinheiro das
contribuições para o exterior. Com isso, evitaria
passar os dólares através do sistema financeiro,
deixando de pagar as taxas cobradas pelo mercado. Em bancos de
paraísos fiscais, a taxa cobrada para "limpar"
uma grande quantia de procedência duvidosa pode chegar a
25% do total movimentado.
Cofre de igreja tem que
ser trancado com dois cadeados
Quarta, 17 de maio de 2000
Os documentos das normas da Igreja
Pentecostal Deus é Amor revelam uma preocupação
excessiva da cúpula da congregação com o
dinheiro arrecadado nos cultos. Ao ponto de exigir que todas as
igrejas tenham cofres trancados com pelo menos dois cadeados,
que somente podem ser abertos na presença dos
administradores regionais e de alguém ligado à
diretoria da Deus é Amor. Os líderes da igreja vão
mais longe: fixam que as chaves devem ficar na sede da igreja e
que os cofres das sedes das principais capitais só podem
ser abertos pela diretoria. A documentação ao qual
O DIA teve acesso indica ainda que o dinheiro arrecadado com a
venda de CDs e fitas deve ser depositado nas contas bancárias
do missionário David Miranda. Quem desobedece às
regras pode ser punido com a perda de 25% do salário e
ser afastado. Mas, se a negligência for com o cofre da
igreja, as punições são ainda mais
impiedosas: pode levar o responsável a ter desconto de
50% do salário e suspensão de 90 dias. É o
medo de ser roubado.
Os documentos revelam também que as
sedes regionais receberam no ano passado um reforço de
caixa. Belo Horizonte, por exemplo, teve a sua cota ampliada
para R$ 200 mil, enquanto Curitiba, Vitória e Porto
Alegre passaram a receber R$ 150 mil.