&bnsp;

Governo vai investigar venda da Record à Igreja Universal

Publicado no Jornal Folha de São Paulo de 02/04/00

Comerciante diz que foi 'laranja' na compra da emissora

O Ministério das Comunicações vai investigar a venda da Rede Record de Televisão a pessoas ligadas à Igreja Universal do Reino de Deus, oito anos após a negociação ter sido concretizada. Amanhã, o delegado Gil Ribeiro Filho, da Delegacia do Ministério das Comunicações no Rio de Janeiro, irá à sede da emissora em busca de todos os documentos da negociação. Caso ele encontre qualquer suspeita de irregularidade, o ministério deve abrir um inquérito. Segundo Paulo Menicucci, secretário de serviços de radiodifusão do ministério, o processo pode gerar multa ou cassação da concessão.

A investigação partiu de declarações do comerciante José Antônio Alves Xavier, sócio da emissora. Segundo ele, a direção da Universal o usou como "laranja'' na compra. Ele promete processar a igreja por danos morais por ter sido usado no negócio. Xavier e outras cinco pessoas adquiriram a empresa por US$ 20 milhões, em 92, com empréstimos feitos por dois bancos com sede nas ilhas Cayman, paraíso fiscal no Caribe. Os negócios da Universal em Cayman foram revelados por reportagem da Folha em 18 de julho do ano passado.

O comerciante afirmou que era fiel da igreja e foi convencido a entrar no negócio pelo pastor Laprovita Vieira, hoje deputado estadual no Rio pelo PPB. Ele disse ter cedido apenas seus documentos garante não ter recebido nada pelo negócio. A denúncia teria sido motivada por vários processos a que responde, decorrentes da compra da emissora.

A direção da emissora preferiu não comentar o assunto.

Jornal Folha SP - 04 de Junho de 2006

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0406200606.htm

D�zimo da Universal leva Record � vice-lideran�a

Igreja paga cerca de R$ 240 milh�es pelo tempo que usa nas madrugadas; valor, n�o confirmado pela rede, supera os pre�os praticados pelo mercado


DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

A sensacional guinada da Record, que at� o final deste ano deve se consolidar como a segunda maior rede de TV brasileira em audi�ncia e faturamento, desbancando o SBT, n�o caiu do c�u. Ou caiu.

A Record n�o conseguiria produzir as novelas, os telejornais e os programas de variedades que v�m alavancando seu ibope e suas receitas sem os quase R$ 500 milh�es que a Igreja Universal do Reino de Deus injetou legalmente nela, apenas nos dois �ltimos anos, comprando espa�o na madrugada a pre�os muito acima da realidade do mercado.

A rede do bispo Edir Macedo, l�der da Igreja Universal, j� �, desde o in�cio deste ano, a segunda maior audi�ncia da TV brasileira no hor�rio nobre (18h/24h). At� o final do ano, espera passar o SBT tamb�m na m�dia di�ria (7h/24h).

Alexandre Raposo, presidente da Record, estima que sua emissora fechar� 2006 com uma receita bruta de R$ 950 milh�es -R$ 150 milh�es a mais do que o SBT. Desses R$ 950 milh�es, pelo menos R$ 240 milh�es sair�o do d�zimo depositado pelos fi�is da Universal, segundo estimativas do mercado. Esse valor j� coloca a igreja (que compra hor�rios em outras TVs) entre as institui��es que mais investem em propaganda no pa�s.

Se fosse considerada um anunciante comum (o que ela n�o �), a Universal seria o terceiro maior do pa�s no ranking dos 30 maiores de 2005 que a revista especializada "Meio & Mensagem" publica amanh�. Ficaria atr�s apenas das Casas Bahia (R$ 1 bilh�o) e Unilever (R$ 268 milh�es). Estaria � frente das fort�ssimas Ambev (R$ 229 milh�es) e Lideran�a (do Grupo Silvio Santos, R$ 162 milh�es). No governo federal, seria necess�rio juntar a Petrobras (R$ 133 milh�es) e o Banco do Brasil (R$ 118 milh�es) para superar o que a Universal investe somente na Record.

O valor que a Universal paga � rede de TV de seu l�der pode ser considerado "superfaturado". Para conseguir faturar R$ 240 milh�es por ano com suas madrugadas, a Record teria de vender tr�s minutos de publicidade por hora (o m�ximo que a Globo consegue nas madrugadas), da 1h �s 7h, e cobrar R$ 17.100 l�quidos (sem incluir as comiss�es das ag�ncias de publicidade) pelo comercial de 30 segundos -ou 3,5 vezes o que a Globo pede por uma inser��o �s 4h, R$ 4.770.

No entanto, em maio, a Record marcou 0,8 ponto no Ibope da Grande S�o Paulo entre 1h e 6h. A Globo cravou 4,9 pontos. Cada ponto na regi�o metropolitana equivale a cerca de 54.500 domic�lios.

O presidente da Record afirma que esse valor (R$ 17.100) n�o faz sentido porque a Igreja Universal n�o compra comerciais avulsos de 30 segundos, mas, sim, blocos de v�rias horas de programa��o, que ela mesma produz em seus est�dios.

"Quando se vende hor�rio n�o se trabalha com unidades de 30 segundos. � uma tabela progressiva: quanto mais tempo o cliente compra, mais barato fica", afirma Raposo.

Mesmo considerando o argumento da Record, ainda custa muito caro a madrugada da emissora. O mercado avalia em R$ 2 milh�es mensais o m�ximo que vale a faixa das 2h �s 5h (a programa��o da Universal vai da 1h �s 7h na maioria dos dias). Rival de Edir Macedo, o mission�rio R.R. Soares desembolsa cerca de R$ 3 milh�es mensais por 50 minutos di�rios no hor�rio nobre da Band, com 1,4 ponto no Ibope em maio.

A pedido da Folha, um especialista em custos de televis�o calculou quanto a Record est� gastando para manter uma superestrutura de novelas (ser�o tr�s simultaneamente no ar a partir de agosto), jornalismo (s�o 300 profissionais s� em S�o Paulo), futebol e filmes.

O especialista, que pediu para n�o ser identificado, concluiu que a Record de S�o Paulo (que inclui o RecNov, central de est�dios no Rio) custa R$ 680 milh�es por ano.

Dos R$ 950 milh�es que a Record prev� faturar neste ano, ela dever� desembolsar R$ 256 milh�es com comiss�es de ag�ncias de publicidade e repasses �s suas afiliadas (s�o 98 emissoras em todo o pa�s). Sem considerar o dinheiro da Universal, a Record ter� um faturamento l�quido neste ano de R$ 454 milh�es. Como custa R$ 680 milh�es, teria um d�ficit de R$ 226 milh�es. Ou seja, os R$ 240 milh�es da Universal fazem toda a diferen�a.

Alexandre Raposo contesta esses valores. Diz que os custos atribu�dos � Record est�o superestimados. Ele, no entanto, n�o revela seus n�meros.

Raposo tamb�m n�o confirma (nem nega) que a Universal paga R$ 240 milh�es: "N�o falamos sobre investimentos de clientes. A igreja n�o � acionista, � um cliente. Acionista � Edir Macedo".

Mas � gra�as a esse poderoso "cliente" que a Record vem multiplicando seu tamanho. Em 1995, ela ocupava uma �rea constru�da de 8.000 m2 no bairro da Barra Funda, em S�o Paulo. Hoje, s�o 44 mil m2.

Mesmo assim, setores como o departamento comercial tiveram de se mudar para um pr�dio nos Jardins. E a produ��o de novelas se concentrar� no RecNov, complexo no Rio que ter� oito est�dios em 2007 e cinco cidades cenogr�ficas.

Voltar
Hosted by www.Geocities.ws

1