DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
A sensacional guinada da Record, que at� o final deste ano deve se
consolidar como a segunda maior rede de TV brasileira em audi�ncia e
faturamento, desbancando o SBT, n�o caiu do c�u. Ou caiu.
A Record n�o conseguiria produzir as novelas, os telejornais e os programas
de variedades que v�m alavancando seu ibope e suas receitas sem os quase R$
500 milh�es que a Igreja Universal do Reino de Deus injetou legalmente nela,
apenas nos dois �ltimos anos, comprando espa�o na madrugada a pre�os muito
acima da realidade do mercado.
A rede do bispo Edir Macedo, l�der da Igreja Universal, j� �, desde o in�cio
deste ano, a segunda maior audi�ncia da TV brasileira no hor�rio nobre
(18h/24h). At� o final do ano, espera passar o SBT tamb�m na m�dia di�ria
(7h/24h).
Alexandre Raposo, presidente da Record, estima que sua emissora fechar� 2006
com uma receita bruta de R$ 950 milh�es -R$ 150 milh�es a mais do que o SBT.
Desses R$ 950 milh�es, pelo menos R$ 240 milh�es sair�o do d�zimo depositado
pelos fi�is da Universal, segundo estimativas do mercado. Esse valor j�
coloca a igreja (que compra hor�rios em outras TVs) entre as institui��es
que mais investem em propaganda no pa�s.
Se fosse considerada um anunciante comum (o que ela n�o �), a Universal
seria o terceiro maior do pa�s no ranking dos 30 maiores de 2005 que a
revista especializada "Meio & Mensagem" publica amanh�. Ficaria atr�s apenas
das Casas Bahia (R$ 1 bilh�o) e Unilever (R$ 268 milh�es). Estaria � frente
das fort�ssimas Ambev (R$ 229 milh�es) e Lideran�a (do Grupo Silvio Santos,
R$ 162 milh�es). No governo federal, seria necess�rio juntar a Petrobras (R$
133 milh�es) e o Banco do Brasil (R$ 118 milh�es) para superar o que a
Universal investe somente na Record.
O valor que a Universal paga � rede de TV de seu l�der pode ser considerado
"superfaturado". Para conseguir faturar R$ 240 milh�es por ano com suas
madrugadas, a Record teria de vender tr�s minutos de publicidade por hora (o
m�ximo que a Globo consegue nas madrugadas), da 1h �s 7h, e cobrar R$ 17.100
l�quidos (sem incluir as comiss�es das ag�ncias de publicidade) pelo
comercial de 30 segundos -ou 3,5 vezes o que a Globo pede por uma inser��o
�s 4h, R$ 4.770.
No entanto, em maio, a Record marcou 0,8 ponto no Ibope da Grande S�o Paulo
entre 1h e 6h. A Globo cravou 4,9 pontos. Cada ponto na regi�o metropolitana
equivale a cerca de 54.500 domic�lios.
O presidente da Record afirma que esse valor (R$ 17.100) n�o faz sentido
porque a Igreja Universal n�o compra comerciais avulsos de 30 segundos, mas,
sim, blocos de v�rias horas de programa��o, que ela mesma produz em seus
est�dios.
"Quando se vende hor�rio n�o se trabalha com unidades de 30 segundos. � uma
tabela progressiva: quanto mais tempo o cliente compra, mais barato fica",
afirma Raposo.
Mesmo considerando o argumento da Record, ainda custa muito caro a madrugada
da emissora. O mercado avalia em R$ 2 milh�es mensais o m�ximo que vale a
faixa das 2h �s 5h (a programa��o da Universal vai da 1h �s 7h na maioria
dos dias). Rival de Edir Macedo, o mission�rio R.R. Soares desembolsa cerca
de R$ 3 milh�es mensais por 50 minutos di�rios no hor�rio nobre da Band, com
1,4 ponto no Ibope em maio.
A pedido da Folha, um especialista em custos de televis�o calculou quanto a
Record est� gastando para manter uma superestrutura de novelas (ser�o tr�s
simultaneamente no ar a partir de agosto), jornalismo (s�o 300 profissionais
s� em S�o Paulo), futebol e filmes.
O especialista, que pediu para n�o ser identificado, concluiu que a Record
de S�o Paulo (que inclui o RecNov, central de est�dios no Rio) custa R$ 680
milh�es por ano.
Dos R$ 950 milh�es que a Record prev� faturar neste ano, ela dever�
desembolsar R$ 256 milh�es com comiss�es de ag�ncias de publicidade e
repasses �s suas afiliadas (s�o 98 emissoras em todo o pa�s). Sem considerar
o dinheiro da Universal, a Record ter� um faturamento l�quido neste ano de
R$ 454 milh�es. Como custa R$ 680 milh�es, teria um d�ficit de R$ 226
milh�es. Ou seja, os R$ 240 milh�es da Universal fazem toda a diferen�a.
Alexandre Raposo contesta esses valores. Diz que os custos atribu�dos �
Record est�o superestimados. Ele, no entanto, n�o revela seus n�meros.
Raposo tamb�m n�o confirma (nem nega) que a Universal paga R$ 240 milh�es:
"N�o falamos sobre investimentos de clientes. A igreja n�o � acionista, � um
cliente. Acionista � Edir Macedo".
Mas � gra�as a esse poderoso "cliente" que a Record vem multiplicando seu
tamanho. Em 1995, ela ocupava uma �rea constru�da de 8.000 m2 no bairro da
Barra Funda, em S�o Paulo. Hoje, s�o 44 mil m2.
Mesmo assim, setores como o departamento comercial tiveram de se mudar para
um pr�dio nos Jardins. E a produ��o de novelas se concentrar� no RecNov,
complexo no Rio que ter� oito est�dios em 2007 e cinco cidades cenogr�ficas.