Publicado no Jornal Folha de São
Paulo em 24/01/96
O procurador-geral
da República, Geraldo Brindeiro, requisitou ao diretor do
DPF (Departamento de Polícia Federal), Vicente Chelotti,
a abertura de inquérito para apurar a suposta ligação
entre o narcotráfico e lideranças da Igreja
Universal do Reino de Deus.
O inquérito será aberto pela superintendência
da PF no Rio, onde já se investiga a acusação
de prática de formação de quadrilha, evasão
de divisas e sonegação fiscal pela cúpula
da Universal.
Em ofício enviado ao delegado federal Matheus Casado
Martins, o diretor do DPF determina a abertura de inquérito
caso a acusação de envolvimento com narcotráfico
não esteja sendo investigada.
O inquérito conduzido por Martins desde dezembro não
investiga a suposta ligação entre dirigentes da
Universal e narcotraficantes.
O delegado federal concentra suas apurações na
busca de provas para supostos crimes tributários
cometidos por dirigentes da igreja.
Na argumentação enviada a Chelotti, o
procurador-geral da República recomenda atenção
especial ''em relação aos recursos utilizados na
aquisição da televisão Record'' pela
Universal.
Dissidente da Universal, o pastor Carlos Magno de Miranda acusa
o bispo Edir Macedo _fundador e principal líder da
Universal_ de ter comprado a Record com dinheiro recolhido junto
a traficantes colombianos.
Segundo Miranda, Macedo foi à Colômbia para pegar
o dinheiro supostamente cedido por traficantes internacionais de
cocaína.
O advogado da Universal, Arthur Lavigne, disse ontem à
Folha que a igreja já foi investigada sob a mesma acusação
em inquérito aberto em São Paulo em 1991.
Segundo Lavigne, o inquérito (número 2-0255/91),
aberto pela PF em São Paulo, resultou em processo (número
910101357) na 4ª Vara Federal no Estado.
''Não deu em nada nem inquérito nem processo. Não
se chegou a conclusão alguma.''
Uma equipe do BC (Banco Central) trabalhará na agência
do BCM (Banco Crédito Metropolitano) no Rio em busca de
documentos para investigar a acusação de evasão
de divisas pela igreja.
Parte dos documentos do BCM _banco controlado pela Universal_
foram lacrados durante o cumprimento de mandado de busca e
apreensão expedido na semana passada pela 25ª Vara
Federal no Rio de Janeiro.
Os documentos não podem ser retirados da agência
porque podem revelar o sigilo bancário de correntistas
que não são ligados à Universal.
Livro português faz acusações
a Edir Macedo
Publicado no Jornal Folha de São
Paulo em 19/01/96
Autor: JAIR RATTNER
Foi lançado
ontem em Lisboa o livro ''Igreja Universal do Reino de Deus -
Tentáculos de um Polvo Monstruoso para a Tomada do
Poder'', com acusações contra a igreja. Escrito
por Gustavo Rosa e José Martins, ex-funcionários
da Universal, o livro diz que Macedo declara um salário
de R$ 240 reais como pastor e contribui para a Previdência
portuguesa, mesmo sem morar lá.
(Jair Rattner)
Operação conjunta faz busca
na Universal
Publicado no Jornal Folha de São
Paulo em 18/01/96
Autor: SERGIO TORRES
A PF (Polícia
Federal), a Receita Federal, o BC (Banco Central) e a
Procuradoria da República ocuparam ontem no Rio as sedes
de empresas ligadas à Igreja Universal do Reino de Deus,
em busca de provas para as supostas práticas de sonegação
fiscal e evasão de divisas por dirigentes da igreja.
A ocupação ocorreu um dia após ação
semelhante em São Paulo. O atraso pode ter alertado os
responsáveis pelas empresas no Rio, suspeitam policiais
federais envolvidos nas buscas. A possibilidade é apurada
pela PF.
A ação conjunta foi autorizada pelo juiz
Guilherme Calmon, que expediu mandados de busca e apreensão.
Ao final do dia, haviam sido apreendidos documentos variados,
disquetes, livros de contabilidade, extratos bancários,
contas telefônicas, balancetes, contratos e fitas de vídeo.
Anteontem, A PF vistoriou em São Paulo as sedes da LM
Consultoria e Participações e do BCM (Banco Crédito
Metropolitano S/A), em que costuma ser depositado o dinheiro
doado por fiéis.
A única agência do BCM no Rio, na zona norte, não
funcionou ontem por causa da blitz conjunta.
O gerente da agência, que se identificou como Fernando,
disse que o banco não pretendia se pronunciar sobre a ação
de busca.
As equipes também estiveram na sede da Rede Record (zona
norte). Emissoras de rádio que transmitem programas da
Universal _FM 105 e Copacabana (AM)_ também foram
vistoriadas.
Os envolvidos nas buscas também procuravam indícios
de que a Universal estaria omitindo à Receita valores de
doações de fiéis.
O juiz Guilherme Calmon proibiu o fornecimento de informações
sobre o processo.
Inquéritos
A PF encaminhou ontem à superintendência do Rio
solicitações da Procuradoria Geral da República
para abertura de novos inquéritos contra dirigentes da
Universal.
O procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro,
pediu os inquéritos com base em denúncias e fitas
de vídeo apresentadas pelo pastor Carlos Magno Miranda.
Colaborou a Sucursal de Brasília
VELHOS PECADOS
Publicado no Jornal Folha de São
Paulo em 26/07/96
A Prefeitura de São Paulo acaba de
liberar R$ 800 mil como forma de subvenção à
Associação Beneficente Cristã (ABC),
instituição filantrópica ligada à
Igreja Universal do Reino de Deus. De sua parte, o pastor
Ronaldo Didini, um dos dirigentes da entidade, vem fazendo
elogios aos programas do prefeito Paulo Maluf e expressa agora
publicamente sua preferência pelo candidato da situação,
Celso Pitta. Este, por sua vez, procura comparecer aos atos de
distribuição de alimentos promovidos regularmente
pela entidade.
Seria pouco realista acreditar que todas as ações
destinadas a favorecer os candidatos a cargos eletivos, durante
o período pré-eleitoral, viessem a primar pela
transparência e pela correção. No afã
de conquistar o maior número possível de votos,
frequentemente produzem-se muitos pecados, sobretudo no uso da
chamada máquina pública.
A reincidência pouco sutil em determinadas transgressões,
entretanto, parece pressupor que a grande maioria dos eleitores
é composta por otários incorrigíveis.
Considerando o grande número de adeptos que a igreja do
bispo Edir Macedo vem angariando nos últimos anos em São
Paulo, é absolutamente inevitável constatar que a
liberação de verbas para grupos assistenciais como
a ABC indica um cálculo eleitoral ostensivo, custeado, além
de tudo, por dinheiro público. Trata-se de evidente
oportunismo político, claramente voltado à
finalidade de obter uma maior adesão dos evangélicos
à candidatura do PPB.
Independentemente dos possíveis méritos do
trabalho assistencial da instituição, esse aspecto
meritório não afasta o inegável objetivo
político da doação de verbas oficiais,
feita a apenas dois meses da eleição.
Que não se acredite, pois, em meras coincidências.
Manobras como essa são definitivamente inaceitáveis.
Lobista diz que tentou comprar direitos
autorais para a Universal
Publicado no Jornal Folha de São
Paulo em 12/01/96
Autor: MARCELO RUBENS PAIVA; XICO SÁ
Da Reportagem Local
O lobista Gláucio Schmiegelow, 31, confirmou à
Folha ter sido o intermediário na tentativa da Igreja
Universal do Reino de Deus de comprar os direitos autorais do
livro ''Nos bastidores do Reino'', do ex-pastor Mário
Justino.
O livro acusa a igreja de ter montado uma estrutura para tirar
dinheiro dos seus seguidores. ''Procurei a editora para fazer o
negócio e engavetar o livro'', disse ontem o lobista.
O editor Luiz Fernando Emediato, dono da editora ''Geração'',
confirma ter sido procurado por Schmiegelow, que chegou a
oferecer US$ 1,5 milhão.
O editor do livro presta depoimento hoje às 14h na PF
(Polícia Federal), em São Paulo. No dia 16 de
novembro passado, assim que o livro foi publicado, ele recebeu a
visita de Schmiegelow.
Segundo Emediato, o lobista disse que representava um empresário
de Brasília que queria impedir que o livro circulasse.
Seria uma forma de retribuir uma ''graça'' alcançada
na Universal.
Como o negócio não teve êxito, a direção
da igreja então recorreu à Justiça e
conseguiu uma medida liminar que proibiu a venda do livro,
conforme relata o lobista.
No dia em que recebeu a proposta, Emediato acabou seguindo no
carro de Schmiegelow até o Conjunto Nacional, na avenida
Paulista, onde foi apresentado ao empresário Luiz
Federico Raijas.
A proposta foi feita mais uma vez a Emediato e Raijas se
ofereceu para cuidar do autor no Brasil _Justino mora em Nova
York e é portador do vírus da Aids. Emediato
chegou a ligar para o autor, que rejeitou a proposta.
O lobista relata que entrou na operação em
outubro, quando foi procurado por Maria de Almeida Gontijo, que
dirige a LM, holding dos negócios da Universal.
Schmiegelow se sente enganado pela LM, de quem não
recebeu ''nenhum centavo''. Além da tentativa de barrar o
livro, ele disse que chegou a planejar operações
financeiras para a holding.
Schmiegelow não apresentou documentos sobre estas operações,
mas afirmou que estava disposto a ajudar a PF com depoimentos.
''Não conheço este senhor. Muita gente vai na LM,
recebemos muitos telefonemas, e qualquer pessoa pode mentir, e
dizer que trabalha para nós'' disse Maria de Almeida.
''Ele que apresente provas. A imprensa tem de ser mais
prudente.''
UNIVERSAL
Publicado no Jornal Folha de São
Paulo em 12/01/96
Editoria: BRASIL Página: 1-4
Edição: São Paulo Jan 12, 1996
Assuntos Principais: RECIFE /PE/; IGREJA UNIVERSAL
UNIVERSAL - O pastor dissidente Carlos
Magno de Miranda manteve ontem as acusações contra
a Igreja Universal do Reino de Deus em depoimento à Polícia
Federal, em Recife (PE). Miranda sustentou a versão de
que pastores da igreja teriam recebido US$ 1 milhão de um
ex-traficante de drogas na Colômbia para a compra da TV
Record. A igreja nega as acusações. O pastor disse
que apresentará duas novas testemunhas da suposta operação
em Bogotá ''no momento em que julgar necessário'':
''Elas sabiam o motivo real da viagem''.
'Bilhete' da Universal custa mais que ônibus
comum
Publicado no Jornal Folha de São
Paulo em 08/01/96
Autor: GEORGE ALONSO; LUCIO VAZ Da
Reportagem Local e da Sucursal de Brasília
Nada é de graça na Igreja Universal do Reino de
Deus: R$ 2 foi o preço que cada fiel pagou para ir de ônibus
fretado pela igreja às manifestações em São
Paulo e Brasília. A passagem de ônibus custa R$
0,65 na capital paulista. No Distrito Federal, a viagem mais
cara custa R$ 0,95.
Os fiéis pagaram e ainda levaram, ao Vale do Anhangabaú
(centro de São Paulo), a faixa ''Ninguém pode
dizer o que fazemos com o nosso dinheiro''. Mas, no caminho,
muitos foram alvo de ironias de pedestres.
''Onde essa gente vai? Ainda se fosse para construir casas'',
gritou um homem em um bar próximo à av. 23 de
Maio. Uma senhora evangélica, que ouviu a provocação,
riu. Outro pedestre, no ponto de ônibus, disparou: ''Dá
os 10% pra mim''.
Quase na esquina da rua Líbero Badaró, vizinha ao
vale, uma loja de discos aproveitou a passagem dos fiéis,
com bandeirinhas da Universal, e tocou o sucesso carnavalesco
''Xô Satanás'', sátira aos evangélicos.
Os fiéis não reagiram nem quando, ao ''lê-leleô,
leleô, Jesus!'', um grupo de pessoas no Viaduto do Chá
completou ''Corinthians, Corinthians!''.
Nos templos, os pastores orientaram os fiéis para não
falar de doações, do vídeo veiculado na
Rede Globo e não aceitar possíveis ''provocações''
de ''infiltrados'' pela Rede Globo.
No templo em Ceilândia (cidade-satélite de Brasília),
nos preparativos da ida à Esplanada dos Ministérios,
o
Marcelo Santos alertou 400 fiéis.
''Vamos ficar atentos. A Globo pode infiltrar gente para
tumultuar. Eles querem passar a imagem de que somos violentos. Não
aceite provocações'', disse.
Ele afirmou ainda que obreiros estariam com câmeras de vídeo
e que os fiéis deveriam apontar suspeitos para que fossem
filmados. Pediu também que evitassem repórteres.
Em São Paulo, ônibus levavam faixas contra a Rede
Globo (''TV Globo, nada a ver''). No Anhangabaú, surgiu
outro apelo, político, em faixa: ''O povo evangélico
confia em FHC''.
Em Ceilândia, faltou dinheiro, segundo Santos, para pagar
35 ônibus fretados por R$ 2,6 mil. Ele organizou uma
coleta.
''Temos só R$ 1,4 mil. Quem puder dar R$ 1, dá.
Quem tem prosperado, com a ajuda de Deus, pode dar R$ 50, R$
100. Vamos colocar ali, em cima da Bíblia'', pediu. A
maioria contribuiu com notas de R$ 1.
Tanto em São Paulo como em Brasília, os
seguidores da Universal cantaram hinos religiosos no trajeto até
os locais dos atos.
Anonimamente, a Folha foi aos atos em Brasília e São
Paulo nos ônibus da Universal.
A expectativa da Universal de reunir 850 mil fiéis em
todo o país não se confirmou. Em São Paulo,
eram esperadas 300 mil pessoas. Segundo a Polícia
Militar, foram 80 mil. Em Brasília, foram 5.000 e, no
Rio, 15 mil, sempre de acordo com a PM.
(George Alonso e Lucio Vaz)
Dízimo é de Deus, diz teórico
da Universal
Publicado no Jornal Folha de São
Paulo em 07/01/96
Autor: FERNANDO MOLICA Da Sucursal do Rio
Pastor, teólogo e diretor do jornal ''Folha Universal'',
J. Cabral, 47, afirma que a Igreja Universal do Reino Deus não
separa ''dualisticamente o material do espiritual'', porque o
ser humano é ''uno e indivisível''.
Sobre a ênfase da igreja na coleta de dinheiro, o pastor
sustenta que ''o dízimo não é uma cota, é
uma idéia, uma mensagem de Deus''.
Responsável pelas publicações da Igreja
Universal e diretor do Iburd (Instituto Bíblico Universal
do Reino de Deus, que atua na formação dos
pastores), Cabral concedeu uma entrevista por escrito à
Folha. Leia os principais trechos:
Folha - Como o sr. explicaria a introdução, nos
cultos da Igreja Universal, de manifestações
estranhas à tradição evangélica como
as 'correntes' e o reconhecimento de poderes em óleos e
fitinhas?
J. Cabral - Não nos orientamos por uma tradição
evangélica européia ou americana. Partimos da fé,
dos princípios e da prática religiosa do povo.
Folha - O recurso a essas práticas não seria
apenas uma forma de se conseguir uma maior identificação
com a população?
Cabral - A Igreja Universal do Reino de Deus é filha do
povo; por isso, não precisa usar recursos para se
identificar.
Folha - Alguns estudiosos, ao abordarem a Universal, falam em
''Teologia da Prosperidade''.
Cabral - Pregamos a prosperidade, a cura divina, a libertação
do sofrimento, a conversão, a transformação
de vidas, a renovação do caráter e a
plenitude do Reino de Deus. Não podemos ser identificados
apenas por uma abordagem da nossa pregação.
Folha - A Igreja Universal não tende a valorizar em
excesso os bens materiais em detrimento dos valores espirituais?
Cabral - Cremos que o ser humano é uno e indivisível.
Não separamos dualisticamente o material do espiritual.
Folha - Como o srs. justificam a ênfase na coleta de
dinheiro, que muitas vezes ultrapassa a cota bíblica do dízimo?
É justificável biblicamente anunciar que as graças
recebidas serão proporcionais às doações?
Cabral - O dízimo não é uma cota, é
uma idéia, uma mensagem de Deus nos dizendo que o que
temos e somos é dele. Não pregamos que as graças
recebidas são proporcionais às doações.
Não seriam então graças.
(Fernando Molica)
Procuradoria da Paraíba pede inquérito
policial contra a igreja
Publicado no Jornal Folha de São
Paulo em 06/01/96
A Procuradoria
Geral de Justiça da Paraíba decidiu ontem pedir à
Secretaria de Segurança Pública do Estado a
abertura de inquérito policial contra a Igreja Universal.
A Procuradoria quer que a polícia investigue acusações
de charlatanismo, estelionato, curandeirismo e extorsão
feitas contra a igreja pelo Sindicato dos Administradores de
Empresas da Paraíba.
O procurador Marcos Navarro disse ontem que na próxima
segunda-feira vai pessoalmente entregar ao secretário de
Segurança, Pedro Adelson Guedes dos Santos, um ofício
formalizando o pedido de inquérito policial.
A Agência Folha não conseguiu falar ontem à
tarde com a direção da Igreja Universal na Paraíba.
O coordenador estadual da igreja, pastor José Aparecido
Pereira, não quis atender telefonema dado às 14h30
(15h30 em Brasília) pela Agência Folha. Ele mandou
avisar que estava atendendo um homem.
A Agência Folha voltou a telefonar às 15h05 e foi
informada que Pereira não estava na igreja.
A Polícia Federal encaminhou ontem para as superintendências
regionais de Pernambuco e São Paulo cartas precatórias
para que sejam ouvidas testemunhas relacionadas ao inquérito
que apura supostos crimes fiscais e financeiros cometidos por
dirigentes da Igreja Universal.
Em Pernambuco será ouvido o pastor Carlos Magno de
Miranda. Em São Paulo, a Polícia Federal irá
ouvir a advogada Maria de Almeida Gontijo, dirigente de empresas
ligadas à Universal.
Publicado
no Jornal Folha de São Paulo em 06/01/96
Autor:
FÁBIO GUIBU Da Agência Folha, em Recife
O pastor dissidente Carlos Magno de Miranda disse ontem à
Agência Folha que o deputado federal Laprovita Vieira
(PPB-RJ) consta como o único comprador da Rede Record
em contratos assinados no dia 8 de novembro de 89.
Os documentos estão guardados em uma pasta laranja com
a inscrição do departamento jurídico do
SBT, emissora que pertence aos antigos donos da Record.
A Agência Folha teve acesso aos papéis. Além
de quatro contratos, constam do dossiê 23 recibos de
parcelas do sinal de US$ 15 milhões supostamente pago
pelo deputado aos ex-proprietários da Rede Record, além
de comissões de venda.
Os contratos referem-se à venda da Rádio Record
de São Paulo, das TVs Record de Franca e de Ribeirão
Preto e da Colonial Administração e Imóveis
Ltda.
O grupo teria sido vendido por US$ 45 milhões. Parte
desse dinheiro, disse o teria sido obtido com um ex-traficante
de drogas colombiano. A Igreja Universal nega a denúncia,
que está sendo investigada pela polícia.
Carlos Magno disse que o bispo Edir Macedo costuma usar nomes
de terceiros em contratos da Universal.
Laprovita Vieira confirmou que assinou o contrato da TV
Record como único comprador. Segundo ele, essa foi uma
decisão da cúpula da Igreja Universal.
Ele disse que não é mais formalmente o dono da
empresa, que teria sido revendida a Macedo.
Colaborou a Sucursal do Rio
Publicado
no Jornal Folha de São Paulo em 03/01/96
Autor:
AZIZ FILHO Da Sucursal do Rio
A divulgação de fitas de vídeo com cenas
dos pastores da Igreja Universal do Reino de Deus não
deverá ter efeito negativo no crescimento da igreja no
país.
Além de os fiéis estarem há muito
''prevenidos contra a imprensa'', a igreja intensificou a
estratégia de desvincular sua imagem das figuras dos
pastores e do bispo Edir Macedo.
A análise é da socióloga Maria das Dores
Campos Machado, 39, cuja tese de doutorado "Adesão
Religiosa e seus Efeitos na Esfera Privada'' foi considerada o
melhor trabalho de 1995 pela Associação Nacional
de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências
Sociais.
''Não acho que isso faça os fiéis
recuarem. Eles vêem isso como uma perseguição,
presente na história da consolidação de
todas as religiões'', diz a socióloga.
Para Maria das Dores, a idéia de perseguição
une os fiéis. A desvinculação da imagem
do bispo foi intensificada, segundo ela, quando Macedo esteve
na prisão, em 1992, acusado de enriquecimento ilícito.
''Frequentei cultos na época e não se fazia menção
a isso.''
O episódio das fitas serviu também para
demonstrar a força que o bispo Edir Macedo tem no meio
evangélico.
O Bispo macedo Não é um pastor comum, disputa a
hegemonia está solitário na luta'', disse a socióloga,
que ouviu 120 pessoas em sua tese, iniciada em 1990.
(Aziz Filho)
Vasectomia
é exigida, diz Pastor
Publicado
no Jornal Folha de São Paulo em 02/01/96
Reino de Deus de
obrigar os seus pastores a se submeter à cirgurgia de
vasectomia.
A acusação consta de processo que corre na 11ª
Vara Cível da Justiça do Rio. Na ação,
o ex- Universal no início de 95, após trabalhar
na igreja durante 14 anos.
O objetivo da vasectomia seria, segundo Almeida, o de evitar
que os pastores se envolvessem em escândalos sexuais.
Haveria ainda a intenção de reduzir gastos com o
sustento das famílias dos pastores.
Almeida afirma que foi expulso da Universal porque não
estaria alcançando a meta de arrecadar R$ 60 mil por mês
no templo onde atuava, no Rio.
Em sua defesa, a Universal afirma que Almeida foi expulso
porque teria cometido adultério.
O bispo Carlos Rodrigues, de Minas Gerais, diz que convidará
a ex-mulher de Almeida para gravar um depoimento no programa "25º
Hora", da TV Record.
Segundo Rodrigues não há nenhuma norma da
igreja que obrigue todo pastor a fazer vasectomia. Ele
acrescenta que, na época, foi informado por Almeida que
a cirurgia havia sido realizada por recomendação
médica.
Publicado
no Jornal Folha de São Paulo em 02/01/96
Três
membros da Igreja Universal do templo de Botafogo (zona sul do
Rio) foram indiciados sob acusação de terem
agredido no dia 31 o fotógrafo André Felipe
Vieira, 24, da revista ''Manchete''.
Jonas Luis Querup, Márcio Rodrigues e Marco Antônio
Crespi, todos obreiros da igreja, teriam agredido o fotógrafo
dentro do templo e quebrado sua máquina.
Vieira também foi indiciado sob acusação
de agressão, por ter reagido quando seu equipamento foi
quebrado. Foi submetido a um exame de corpo de delito, que
registrou hematomas nos braços, barriga, e um corte no
lábio.
O tumulto começou às 20h. Vieira chegou ao
templo para cobrir a vigília que os fiéis fariam
na virada do ano. Querup tentou impedi-lo de fotografar.
Segundo Vieira, Rodrigues e Crespi chegaram logo depois e um
grupo de fiéis começou a cercá-lo e a
xingá-lo. Depois disso, o fotógrafo disse que
foi agredido e arrastado para fora da igreja.
O pastor do templo que se identificou apenas como Mauro
Vieira quem começou a provocação. ''Ele
quis tirar fotos na marra, mas não houve nenhuma agressão
de alguém da Universal. Ele é que deu um soco
num homem que entrava na igreja com uma criança no
colo.''
Publicado
no Jornal Folha de São Paulo em 02/01/96
Autor:
ANA MARIA MANDIM Da Reportagem Local
''A grande 'sacada' da Igreja Universal é aliar o
conservadorismo político à liberalidade do ponto
de vista do comportamento, inclusive sexual'', diz o geógrafo
Gualberto Gouvêia, 36, autor da dissertação
''A Cidadania dos Despossuídos, Segregação
e Pentecostalismo''.
Formado em geografia pela Pontifícia Universidade Católica
(PUC), Gouvêia fez o mestrado em geografia urbana na
Universidade de São Paulo (USP), onde apresentou a
dissertação. Atualmente, leciona geografia e
sociologia da Faculdade Capital, na Mooca (zona leste de São
Paulo).
Gouvêia atribui o crescimento das seitas conservadoras
na América Latina a um movimento estimulado pelo
governo norte-americano para enfrentar a ''Teologia da Libertação''
da Igreja Católica.
Liberalidade
Segundo Gouvêia, a Universal é a igreja
neopentecostal mais aberta em relação a sexo,
embora rejeite o homossexualismo.
''A Universal não prega a promiscuidade, mas, dentro
do casamento, tolera todo tipo de atividade sexual, inclusive
a sodomia.''
''A Universal é a igreja dos prazeres'', define Gouvêia.
''Os bispos chegam a sugerir que o marido dê um banho de
vinho na esposa antes de beijá-la, conforme os salmos
de Salomão.''
A Universal, segundo o geógrafo, não considera
pecado o sexo antes do casamento, quando se é jovem, e
não cerceia a mulher. ''Não é preciso
parar de cortar o cabelo ou deixar de se maquiar. Saia curta e
calça comprida não são proibidas.''
Gouvêia afirma que o inspirador do bispo Edir Macedo
foi o norte-americano Jerry Falwell, pastor da igreja batista,
em 1980 ele mudou-se para uma mansão12 quartos e
deixou-se fotografar de calção vermelho ao lado
de uma piscina, lendo a Bíblia. Ele dizia que o
dinheiro é um sinal da graça de Deus e, por
isso, bom.
Expansão
O crescimento das seitas na América Latina, segundo
Gouvêia, originou-se em um relatório feito em
1969 por Nelson Rockfeller, secretário de Estado do
presidente americano Richard Nixon.
''Após viajar pelo continente, Rockfeller aconselhou
seu governo a estimular igrejas e seitas conservadoras a
buscar fiéis na América Latina'', conta Gouvêia.
Rockfeller achava que a Igreja Católica, com sua
''subversiva'' Teologia da Libertação, não
era mais um ''aliado confiável''.
Segundo Gouvêia, para apoiar a vinda de missionários
evangélicos, criou-se o Instituto sobre Religião
e Democracia, presidido por Jane Kirkpatrick, depois
embaixadora dos Estados Unidos na ONU.
''O Missionary Information Bureau (Escritório de
Informação Missionária), que funcionou em
São Paulo, na rua 24 de Maio, centralizava a atuação
de 1.992 entidades evangélicas no Brasil.''
No Chile, segundo Gouvêia, as seitas apoiaram o golpe
de Estado contra o presidente Salvador Allende. Na Guatemala,
o general Efraín Ríos Montt, chefe do golpe de
1982, era líder da Igreja do Verbo, neopentecostal. No
Peru, as igrejas evangélicas ajudaram a eleger Alberto
Fujimori.
Publicado
no Jornal Folha de São Paulo em 01/01/96
Autor:
MARCELO BERABA
SÃO PAULO
_ Vamos distinguir três aspectos na questão da
Igreja Universal: o criminal, o jornalístico e o
religioso.
O aspecto religioso, se tratado sem hipocrisia, é o
mais simples. A Constituição assegura a
liberdade de crença e o livre exercício dos
cultos religiosos.
Quais são os senões religiosos feitos à
Igreja Universal? Seria uma igreja mercantilista, que promete
benefícios espirituais e materiais em troca de
contribuições financeiras e que explora a ignorância
do povo.
Bom, e que religião vive sem contribuições?
E que fiel não contribui para a expansão da sua
religião? E que religião não explora as
carências e a ignorância das pessoas?
Os pastores da Igreja Universal seriam criminosos porque
fazem contrabando, sonegam impostos, mantêm caixa dois,
têm ligações com o narcotráfico? É
possível que sim. A TV Record foi comprada
irregularmente? Idem.
A apuração desses crimes está nas mãos
da Polícia Federal, da Receita e da Procuradoria da República,
que deveriam estar sendo mais ágeis.
Os crimes denunciados são antigos e conhecidos. Alguns
já vêm sendo investigados há anos. Se
essas instituições fossem realmente sérias,
os resultados das investigações deveriam estar
concluídos há tempo e as fitas do pastor
dissidente.Sendo, no entanto, até este momento, as únicas
(e frágeis) peças acusatórias.
E há, por fim, a participação histérica
da imprensa.
De tempos em tempos assistimos a fenômenos como esse: a
imprensa perde suas referências, esquece os
procedimentos mínimos de investigação,
ignora a necessidade de se buscarem provas, dá como
verdade qualquer denúncia, priva os acusados do direito
de expor sua própria versão, manipula informações,
pré-julga, sataniza as pessoas e as expõe a
linchamento público.
Se olharmos a imprensa com perspectiva histórica,
verificamos que vem paulatinamente melhorando. É mais
precisa, imparcial e objetiva. Mas tem recaídas como
essa que a desmoralizam.
O problema dessa cobertura, em que as
informações são frequentemente
substituídas por versões e em que inexiste
compromisso com a verdade, é que a imprensa pode sair
mais desgastada do que a Igreja Universal.