Publicado no Jornal O Dia no Domingo, 24
de outubro de 1999.
Deputado Carlos Rodrigues controla bancada
da Universal e já é visto como sucessor de Edir
Macedo
O chamado baixo clero da Câmara dos
Deputados ainda não elegeu seu pontífice, mas já
tem um bispo polêmico candidato ao trono. "Arrogante"
e "autoritário" para uns, ou simplesmente "esquisito"
para outros, o fato é que, em seu primeiro mandato como
deputado federal, o bispo Carlos Rodrigues (PL-RJ) conseguiu
feito jamais alcançado pela maior parte dos seus 512
pares: foi apontado pelo Diap (Departamento Intersindical de
Assessoria Parlamentar, ligado à CUT) como uma das 65
cabeças coroadas da Câmara, das quais apenas oito são
do Rio. O feito não se deve tanto à sua atuação,
que não chegou até hoje a influenciar o destino
das votações, mas sim pelo que representa: mais do
que o braço político da Igreja Universal do Reino
de Deus no Congresso Nacional, o bispo Rodrigues é a
personificação do todo-poderoso Edir Macedo em
Brasília. No meio evangélico, é apontado
como o sucessor do bispo Macedo. A ambição
declarada de Rodrigues, no entanto, é eleger-se senador,
em 2002. E não descarta a possibilidade
de disputar a Prefeitura do Rio. "Seria
um bom teste. Posso não ganhar, mas vou atrapalhar",
diz, referindo-se à também evangélica
Benedita da Silva (PT), da Igreja Betânia. Aos 42 anos, 24
dos quais dedicados à construção do reino
de Edir Macedo, o bispo Rodrigues conheceu seu líder aos
18 anos, quando Macedo ainda pregava na Praça do Méier
e era contador da Loterj. "No começo, éramos
eu e ele", conta. O garoto filho de imigrantes portugueses,
cujo pai era dono de botequins no Rocha, hoje é o segundo
na hierarquia da Igreja e controla com mão de ferro a
bancada da Universal na Câmara, formada por 18 deputados
de diferentes partidos. Eles são orientados a votar
sistematicamente contra o Governo. Há quem diga que a
disposição para a briga é uma represália
à recusa do presidente em ceder ao insaciável
apetite da Universal por cargos e à marcação
cerrada da Receita sobre a Universal, que deve R$ 398 milhões
em impostos. O bispo nega. "Se eu quisesse cargos, teria
ficado no PFL. Quanto às demais pendências , a
orientação que tenho é que elas sejam
discutidas na Justiça". Rodrigues é um líder
mais temido do que respeitado. À boca pequena, alguns de
seus liderados criticam a postura do general, dizendo que tem
pouco jogo de cintura político. "Ele não se
entrosa e vota contra até quando o PT é a favor.
Parece um elefante em loja de louças. Sua postura ainda
vai nos causar problemas", desabafa um deputado da
Universal, implorando pelo anonimato. Às vezes, os
deputados da Universal se vêem entre a orientação
do bispo e a do partido pelo qual se elegeram. O veterano Luiz
Moreira (PFL-BA), pastor da Universal mas ligado ao grupo do
senador Antonio Carlos Magalhães, fica literalmente entre
a cruz e a espada. Entre o bispo e o cacique, vence o bispo.
Desobedecê-lo poderia significar arder no fogo do inferno.