Publicado no Jornal Folha de São
Paulo em 28/12/95
O jornal "The New York Times", o
mais influente dos Estados Unidos, publicou em sua edição
de ontem notícia sobre a Igreja Universal do Reino de
Deus.
O texto foi produzido pela agência
de notícias britânica Reuters e apareceu na página
A-4 do "Times", abaixo da dobra, em três
colunas.
O título foi "Brasil vai
investigar fundos de igreja evangélica". O texto
cita promotores públicos federais que anunciaram ter dado
início a investigações para checar se a
igreja usou dinheiro de tráfico de drogas.
O texto se refere a reportagem veiculada
na última sexta-feira pelo "Jornal Nacional",
da Rede Globo de Televisão, em que o pastor dissidente da
igreja, Carlos Magno de Miranda, a acusa de ter recebido US$ 1
milhão de traficantes ligados ao cartel de Cali (Colômbia)
para a compra da TV Record.
PF investiga formação
de quadrilha
Publicado no Jornal Folha de São
Paulo em 28/12/95
A superintendência da PF (Polícia
Federal) no Rio abriu ontem inquérito para apurar a
suposta formação de quadrilha criminosa por parte
de dirigentes da Igreja Universal do Reino de Deus.
O inquérito aberto pela PF também
investiga as acusações de prática de sonegação
fiscal e evasão de divisas por Edir Macedo e por pastores
a ele ligados, como o deputado Laprovita Vieira (PPB-RJ).
As investigações foram
pedidas pelos procuradores da República Artur Gueiros e
Alex de Miranda.
O objetivo é tentar descobrir "testas-de-ferro
de um suposto esquema criminoso comandado pelo bispo Macedo.
Para o procurador Gueiros, há indícios
de que a Igreja Universal estaria usando empresas "fantasmas"
para "lavar" o dinheiro arrecadado junto aos fiéis.
Uma das empresas citadas pelo procurador
fica na rua Silva Jardim, vila São Luiz, em Duque de
Caxias (Baixada Fluminense).
A empresa chama-se Usinagem Irmãos
Laprovita Vieira Limitada, fechada há pelo menos três
anos.
Segundo a PF, a empresa está
registrada em nome de Enyr e Olayr Laprovita Vieira, irmãos
do deputado federal Laprovita Vieira.
No vídeo divulgado na semana
passada pela TV Globo, a pastor Honorilton Gonçalves
pergunta a Laprovita Vieira, em tom de brincadeira, se a empresa
dele em Duque de Caxias havia sido comprado com dinheiro do "caixa
dois".
Outros inquéritos
O procurador-geral da República,
Geraldo Brindeiro, enviou ofício à Polícia
Federal pedindo abertura de inquéritos por suspeita de
sonegação fiscal e ligações da
Universal com o narcotráfico
Governo Collor protegeu
Macedo, diz pastor
Publicado no Jornal Folha de São
Paulo em 27/12/95
Autor: VANDECK SANTIAGO Da Agência
Folha, em Recife
O pastor Carlos Magno de Miranda, que
gravou vídeos mostrando bastidores da Igreja Universal do
Reino de Deus, disse ontem à Agência Folha, em
Recife, que o governo de Fernando Collor de Mello "acobertava"
as ações do bispo Edir Macedo.
Carlos Magno disse que teve uma comprovação
disso em 1990, quando ele e o então diretor da TV Record,
Aílton Trevisan, foram a Brasília em busca de
verbas publicitárias oficiais para a emissora.
"Fomos recebidos pelo secretário
particular de Collor, o Cláudio Vieira. Na época,
se noticiava que a Receita iria investigar as contas da Igreja.
O Cláudio Vieira disse que, de manhã, havia falado
com o presidente Collor, e que o presidente lhe havia dito:
'Olha, Cláudio, fala com Tuma que esse pessoal da
Universal é meu"', conta Carlos Magno.
No mesmo dia, segundo Carlos Magno, ele e
Trevisan encontraram-se com o hoje senador Romeu Tuma (PSL-SP),
então diretor da Polícia Federal e da Receita.
"O Trevisan disse que a Universal
estava de portas abertas para qualquer investigação,
e aí o Tuma disse: 'Não, não, o presidente
já falou que não é pra mexer com vocês"',
afirmou Carlos Magno.
O pastor disse que, ontem à noite,
iria reunir-se com seu advogado para tratar da divulgação
de novas fitas e documentos. Segundo Carlos Magno, a Universal
lhe deve cerca de R$ 150 mil relativos aos vencimentos que ele
teria direito pelo seu trabalho como um dos líderes da
igreja.
O pastor disse que, em 1990, foi convidado
para ser o principal líder da Universal no Brasil. "Fui
para São Paulo. O bispo Edir Macedo, que estava em Nova
York, voltou ao Brasil com a mulher e ficou quatro meses morando
comigo, orientando-me sobre como funcionava a Universal",
afirmou.
"Nós estávamos numa
campanha de arrecadação, e o bispo Macedo comprou
um apartamento de U$ 1 milhão na Chácara Flora e,
por U$ 1,2 milhão, uma mansão que pertencera ao
ex-governador de São Paulo José Maria Marin.
Aquilo me chocou muito", disse.
A Universal teria ainda comprado a Record
usando, segundo Carlos Magno, US$ 1 milhão de um
narcotraficante colombiano. Ele diz ter sido um dos pastores que
viajaram à Colômbia.
"Foram quatro ou cinco casais num avião
fretado da Líder Táxi Aéreo, que saiu do
aeroporto do Galeão, no Rio. Fui o único que se
recusou a trazer o dinheiro."
Fora da Universal, Carlos Magno fundou a
Igreja do Espírito Santo de Deus, que tem apenas um
templo, em Recife.
É proprietário de duas lojas
de produtos importados, também na capital pernambucana.
Foi candidato (derrotado) a deputado federal pelo PMDB do Ceará,
em 90.
Receita e Justiça vão
investigar Universal
Publicado no Jornal Folha de São
Paulo em 26/12/95
Edir Macedo volta a apontar crescimento da
Rede Record como causa da "perseguição"
que diz estar sofrendo
Da Sucursal de Brasília
O procurador-geral da República,
Geraldo Brindeiro, vai requisitar hoje à Receita Federal
as declarações de Imposto de Renda do período
de 1990-1994 dos principais bispos da Igreja Universal do Reino
de Deus. O chefe do gabinete do Ministério da Justiça,
José Gregori, por sua vez, começa a analisar a hipótese
de cassação das emissoras da Record.
Para a Universal, o crescimento da Rede
Record está no centro do que seus líderes
consideram "perseguição" contra a
igreja.
Anteontem à noite, a Record
reproduziu pronunciamento que Macedo havia feito à tarde
nas rádios da igreja, em que acusa a existência de
uma campanha orquestrada pela Rede Globo. O presidente das
Organizações Globo, Roberto Marinho, disse à
Folha que considera a acusação "uma bobagem".
Brindeiro
Por meio de sua assessoria, Brindeiro
afirmou ontem que há indícios de crime fiscal nas
cenas exibidas pela Rede Globo.
As informações da Receita
poderão instruir a abertura de inquérito pela PF
(Polícia Federal) para investigar se os bispos sonegaram
imposto nos últimos cinco anos.
"A Constituição garante
a liberdade de religião, mas veda a exploração
religiosa", disse o assessor-chefe de Comunicação
Social da Procuradoria Geral da República, Antonio
Arrais.
Segundo o assessor, o procurador-geral vai
mandar a PF ouvir em depoimento o pastor Carlos Magno de Miranda
_que gravou as fitas_ a respeito das acusações de
que Edir Macedo tem ligações com o narcotráfico.
Arrais informou que as providências
a serem tomadas pelo procurador-geral não impedem que os
procuradores da República nos Estados adotem outras
medidas.
De acordo com o assessor, em outubro
procuradores de São Paulo abriram inquéritos e
requisitaram informações da Receita sobre a
Universal.
Concessão
O governo federal poderá cassar as
concessões da Rede Record de Televisão por causa
do comportamento de Macedo.
"A legislação exige um
comportamento ético da direção dessas
concessões, o que não pode se dizer de um sujeito
que se intitula bispo e se ajoelha sorrindo diante de um monte
de dinheiro", disse Gregori.
A cassação das concessões
da Record poderá ser feita por meio de uma representação
contra a Igreja Universal ao Ministério das Comunicações.
Segundo Gregori, a direção
da Record está fazendo "mau uso dos meios de
comunicação", e o Ministério da Justiça
tem de agir por ser "guardião da fé pública".
Operação "segura
fiéis" combate fita
Publicado no Jornal Folha de São
Paulo em 26/12/95
Autor: GEORGE ALONSO Da Reportagem Local
A Igreja Universal do Reino Deus pôs
em prática uma espécie de "operação
segura fiéis" em todos os seus cultos. A Folha
visitou quatro templos no último fim-de-semana.
Em todos os cultos, os pastores rebatem as
acusações contra a igreja, deflagradas pela exibição
de uma fita de vídeo pela Rede Globo, em que Macedo
aparece ensinando aos pastores como obter dinheiro dos fiéis.
Nas imagens, Macedo também aparece,
sorrindo, contando dólares arrecadados em culto numa
igreja nos EUA. Em determinado momento, o bispo põe a língua
para fora, em sinal de satisfação.
Ontem, no principal templo da Universal em
São Paulo, na av. Celso Garcia, no Brás (zona
leste), o pastor (Sidney Marques, segundo uma obreira) tocou no
tema, aproveitando a igreja tomada por cerca de 1.800 fiéis.
Para justificar a postura dos membros da
Universal nas imagens exibidas pela TV, ele afirmou: "Os
pastores não são santos. Mas, ninguém aqui
ora pelos pastores. Ora para Jesus". Houve silêncio
na igreja.
Cova dos leões
O pastor procurou desfazer dúvidas
sobre o destino dos recursos arrecadados, dizendo que, no último
ano, foram erguidas, "só em São Paulo, 120
igrejas".
A escolha dos trechos bíblicos tem
o claro intuito de induzir os fiéis a não
abandonar a igreja. Ontem, por exemplo, o trecho escolhido foi "Daniel
na Cova dos Leões". O comentário do pastor
sobre o texto: "Faça como Daniel, que, mesmo sendo
jogado aos leões, não perdeu a sua fé".
Chegou até a pedir para que só
os novos fiéis levantassem as mãos. Como apenas
sete o fizeram, lançou outra pergunta: "Quem já
ouviu falar mal da igreja, mas veio para a igreja e viu que não
é nada disso?" Pelo menos cem pessoas se levantaram.
Rotina
Apesar da repercussão da fita
exibida pela TV, o culto seguiu ontem sua rotina. Foram cantadas
orações e, logo em seguida, o pastor pediu o dízimo.
Centenas de pessoas deram dinheiro.
Ao final, houve o pedido da oferta _uma
doação suplementar do fiel. Perto do "altar",
foi colocada uma grande porta de madeira, que deveria ser
cruzada para a entrega do dinheiro.
A oferta deveria ser feita ali para que "todas
as portas se abrissem". Novas filas se formaram.
Em seu pronunciamento de anteontem,
transmitido primeiro por rádios da Universal e depois
pela Rede Record de televisão, Edir Macedo disse que não
deve pedir perdão a ninguém por fatos ocorridos "há
dez anos".
Macedo reafirmou a defesa do dízimo:
"Nós assumimos a oferta, que é o sangue da
igreja de Jesus, tão sagrada quanto a vontade de Deus".
Demônio é
responsabilizado pelo passado
Publicado no Jornal Folha de São
Paulo em 26/12/95
A "endemonização"
do mal e a alusão frequente ao diabo, centrais nos cultos
da Igreja Universal, fazem com que seus fiéis
protagonizem os casos mais espetaculares de mudança em
suas vidas no momento em que aderem àquela religião.
A menção ao diabo permite
com que o fiel opere uma espécie de "partição
meio esquizofrênica em sua vida", nas palavras da
socióloga Maria das Dores Campos Machado. "A pessoa
pode assumir que fez vários abortos, que era drogada, que
roubava, porque tudo isso passa a ser atribuído ao demônio,
a culpa é dele, não de quem se dizia possuído."
Esse mecanismo de "desculpabilização"
foi percebido pela socióloga na vida familiar dos fiéis.
Segundo ela, as mudanças mais radicais ocorrem quando o
homem acompanha a mulher e também se converte. "Se o
homem bebe, espanca a mulher, trai, quando se converte deixa de
beber, de ser violento, de gastar dinheiro fora de casa. Não
há como falar que a vida dessa família não
melhorou. É uma revolução."
Ela afirma que cerca de 70% dos fiéis
da Universal são mulheres. O papel decisivo da mulher
nessa religião pode ser exemplificado, segundo ela, pelo
caso da mulher do bispo Von Helder, que agrediu a imagem de
Nossa Senhora no dia 12 de outubro.
"A mulher de Von Helder, formada em
química, foi quem o levou para a Universal. Ele dizia
estar no banditismo e se torna pastor em pouco tempo. A mulher,
que o tirou da marginalidade, aparece para nós como
mulher do pastor, do orientador espiritual. Quem fez a inversão
nos valores da família foi a mulher, mas ela aparece como
apêndice dele", diz Maria das Dores.
Pastores pedem oferta de
R$ 100 em troca de "realizações em 96"
Publicado no Jornal Folha de São
Paulo em 25/12/95
Autor: XICO SÁ Da Reportagem Local
A Igreja Universal do Reino de Deus
anunciou ontem em seus templos uma campanha que pede R$ 100 (a
quantia é determinada) em troca de um "ano novo
extraordinário" em realizações.
Os pastores distribuíram envelopes
para que as pessoas colocassem o dinheiro e uma lista de pedidos
que gostariam que fossem realizados.
Em letras douradas, os envelopes trazem a
seguinte inscrição: "1996, ano de ouro, tá
ligado!".
Entre as "realizações
extraordinárias" para o próximo ano, os
pastores destacaram a possibilidade de o fiel deixar de ser
empregado e "virar dono do seu próprio negócio".
Caso não tivessem os R$ 100 no
momento, os fiéis poderiam trazer de casa até o último
dia deste ano.
Além da campanha, os pastores
pediram a "oferta" do dia, como é de costume,
sem nenhuma inibição por conta do episódio
da fita exibida pela Rede Globo.
Para os seguidores do bispo Edir Macedo, o
caso foi a "última cartada do diabo" contra a
Igreja Universal do Reino de Deus.
"Eu poderia ficar inibido, me
esconder de vocês, ficar envergonhado com isso tudo que
estão falando da gente por aí, mas não é
isso que vai acontecer", disse o pastor Ivanildo, no templo
da rua das Palmeiras (região central de São
Paulo), no momento de pedir a "oferta" aos fiéis.
Com uma platéia de 120 pessoas _a média
dos cultos na manhã de domingo_, o pastor ordenou que os
fiéis levantassem as suas bolsas e carteiras e
desafiassem as "difamações e calúnias"
da Rede Globo.
Na fita exibida no "Jornal Nacional"
de sexta-feira, o bispo Edir Macedo ensina aos pastores regras
para obter dinheiro dos frequentadores da Universal.
No culto acompanhado pela Folha, o pastor
encorajou a platéia a não se deixar levar pelo que
pode ver na televisão contra Macedo.