Bispo deputado esbanja poder com apoio da TV Record e da Universal

Publicado no Jornal O Estado de São Paulo em 03/06/2000

Com o cacife dos votos dos fiéis, Rodrigues é respeitado pelo governo e até temido pelos colegas EUGÊNIA LOPES BRASÍLIA - A parceria do bispo Rodrigues (PL-RJ) com a TV Record e o cacife eleitoral da Igreja Universal do Reino de Deus têm atraído os políticos que estão atrás de votos nestas eleições municipais. A capacidade de ganhar votos da Igreja Universal é tamanha que, na quarta-feira, o governador de Sergipe, Albano Franco, foi a Brasília em busca do apoio do bispo Rodrigues ao seu candidato à reeleição na prefeitura de Aracaju, João Gama. "Eles cresceram muito e, portanto, é importante contar com o apoio da Universal", disse o deputado Augusto Franco (PSDB-SE), sobrinho do governador. "Realmente conversamos sobre eleições", confirmou Rodrigues, sem entrar em detalhes. Deputado federal de primeiro mandato e coordenador político da Igreja Universal do Reino de Deus, o bispo é um parlamentar que consegue ter influência na aprovação dos mais diferentes projetos que transitam pelo Congresso. Seu poder é tal - dizem muitos parlamentares - que a melhor estratégia é não contrariá-lo. Os deputados temem a possibilidade de vir a ser execrados na rede de televisão. "A TV é para teus amigos e não inimigos", diz o bispo, ressalvando que não tem por que ser temido: "Jamais vou fazer uma coisa dessas de usar a TV para perseguir alguém." Ornélas - Muitos deputados dizem que a prática não corresponde ao discurso do bispo. Alguns afirmam que as pesadas críticas que o ministro da Previdência, Waldeck Ornélas, vem sofrendo na Record só começaram depois que o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) resolveu fiscalizar a TV em São Paulo. Ornélas passou a ser atacado quase que diariamente em programas da rede. A fiscalização do INSS fez uma auditoria no ramo paulista da emissora e encontrou, até agora, um débito de R$ 22 milhões da TV, segundo a assessoria do ministro. Apesar de formalmente controlar apenas 18 deputados, todos eleitos pela Universal, a ascendência do bispo Rodrigues no Congresso extrapola, na prática, a bancada que chegou à Câmara com os votos dos seguidores da Igreja. Sua influência, que comanda os minúsculos partidos PL e PSL, atinge a maioria dos 44 deputados federais da bancada evangélica das diferentes igrejas. "Hoje eles (a Igreja Universal) têm 18 deputados, mas na próxima legislatura vão ter 40", afirma Philemon Rodrigues (PL-MG), que é da Assembléia de Deus. Uma das provas do poder eleitoral da Universal, que tem como importante aliada a Record, é o crescimento de sua bancada de deputados/pastores: na legislatura passada tinha apenas 6 parlamentares federais e nas eleições de 1998 conseguiu eleger 18. O bispo Rodrigues não esconde que esse é o principal objetivo da Universal em 2000: multiplicar por quatro sua participação nas Câmaras de todo o País, elegendo pelo menos 500 vereadores. A presença mais forte da igreja deverá ser mesmo no Rio, Estado onde nasceu, nos anos 70, e no qual lançará 41 candidatos. Eleito pelo PFL do Rio com 75.611 votos, o poder do bispo Rodrigues foi há muito notado pelo Palácio do Planalto. E de olho nos votos controlados pelo deputado na Câmara, no início deste ano assessores do presidente Fernando Henrique Cardoso tentaram uma aproximação. "Para nos apoiar, eles queriam muitas coisas, como negociar um débito complicado com a Receita Federal", diz um ministro. E completa: "Fizemos as contas e o governo concluiu que o custo era muito alto e decidiu desistir de ter o apoio da Universal." Pressão - Com domínio da maioria da bancada evangélica, o bispo Rodrigues tem o poder de pressionar na aprovação de todo tipo de projetos na Câmara. Em uma das últimas investidas, ele conseguiu excluir os templos religiosos da obrigatoriedade de construírem vias de acesso especial para portadores de deficiência física. O deputado conseguiu também a isenção de instituições religiosas do pagamento de contribuição previdenciária de seus ministros. "O projeto exigia que fossem feitos elevadores nas igrejas que têm mais de um andar e dava um prazo de dois anos para essa adaptação e isso está errado", argumenta Rodrigues, ao defender a mudança no projeto para os deficientes físicos. "Nós entendemos que pastor não é empregado da igreja", justifica. A atuação do deputado da Igreja Universal na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara também foi importante para que o deputado José Aleksandro (PSL-AC) escapasse da cassação do mandato. "Ele (bispo Rodrigues) é muito forte porque tem dinheiro, voto e uma televisão", diz um deputado governista, que prefere o anonimato para evitar represálias.

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