Pastores da Igreja Universal em SP pedem voto para Serra em cultos
Patricia Zorzan

Publicado no Jornal Folha de São Paulo em 10/09/96

"A derrota dele vai ser um inferno", diz pregador a fiéis em templo no Brás

O candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra, começa a colher os frutos do acordo político entre seu partido e a Igreja Universal do Reino de Deus.

Pastores da igreja de Edir Macedo vêm pedindo votos para a candidatura do tucano durante seus cultos.

"Acredita em nós e vota no Serra", pediu o pastor Júlio César, da sede da igreja no Brás (zona central da cidade).

Até agora, o acordo só havia rendido críticas da Igreja Católica aos tucanos e suspeitas de favorecimento dos evangélicos junto ao governo federal.

Segundo o pastor Júlio César, a vitória do PSDB traria benefícios para a igreja. "Quero que se dane a política. Estamos preocupados com que ele ganhe porque a vitória dele é importante para nós. A derrota dele vai ser um inferno."

Além do pedido formal de voto aos fiéis, a oração final do culto foi iniciada com um apelo em favor do candidato.

"Senhor Jesus, elege o senador Serra", rogava o pastor, sendo acompanhado por uma platéia que repetia suas frases.

"Vocês vêem que eu deixei para pedir isso (o voto) cinco minutos antes do fim do nosso encontro, que é para não misturar as coisas", afirmou.

Propaganda

Logo na entrada do templo, uma faixa já evidenciava a preferência política dos responsáveis pelo local: "Vamos orar pelo candidato a prefeito Serra".

Além dessa, uma outra placa fazia propaganda pelo candidato a vereador Celso Cardoso, do PPB.

"Quem sabe o número do nosso vereador?", perguntava o pastor Júlio César, para imediatamente receber a resposta correta dos fiéis.

Nas unidades da rua Domingos de Morais e da praça da Árvore (zona sul), a propaganda da igreja está sendo feita para o vereador Murilo Antunes Alves (PMDB).

No final do culto no Brás, o pastor ressaltou ainda que não sabia se haveria distribuição de material do candidato à prefeitura, mas advertiu: ''Quem receber, vota".

Conforme a Folha verificou, não são raros os casos em que bandeiras, bonés e camisetas de Serra são entregues nas portas das igrejas.

Segundo um cabo eleitoral do PSDB, há duas semanas, cerca de 20 mil bandeiras foram dadas durante a inauguração de uma unidade da Universal, na zona leste.

Nos templos da rua Guaicurus (zona oeste) e da rua das Palmeiras (centro) já houve distribuição de material pró-Serra.

O pastor Afonso, responsável pelo culto de ontem à tarde na rua Domingos de Morais, explicou que segue instruções da sede para orientar os fiéis.

"A sede é no Brás. Você viu como é lá. O que eles fazem lá, a gente faz aqui", afirmou.

O coordenador político da Universal no Estado, o deputado federal Wagner Salustiano, estima que a igreja disponha de cerca de 600 mil eleitores potenciais.

"Nosso povo é fiel. Elegemos até poste", já declarou ele, sobre a influência dos pastores junto aos seguidores.

Na opinião de Neide de Oliveira, que assistia ao culto, é normal que as pessoas sigam o conselho dos pastores. "Eles não fazem a minha cabeça. Voto no Pitta. Mas, se arrancam tanto dinheiro do povo, imagina voto."

Ovelhas disciplinadas

Cena recente em um culto da Igreja Universal. Pastor: ''Os nossos bispos decidiram apoiar o Serra. Quem votará nele?''. Todos levantaram as mão. ''Quem ia votar em outro candidato?'' Quase a metade levantou a mão.

Leitura bíblica

Publicado no Jornal Folha de São Paulo em 08/08/96

O senador Esperidião Amin (PPB-SC) e o ministro do STF Paulo Brossard conversavam na segunda passada no aeroporto de Guarulhos, aguardando uma conexão para Brasília.

De repente, surgiu o senador Casildo Maldaner (PMDB-SC). Rapidamente, os três começaram a contar histórias.

Casildo falou da estratégia eleitoral de um pastor evangélico, candidato a prefeito de uma cidade de Santa Catarina, em 92.

Em um comício, o pastor fez o seguinte discurso:

_ Todos os dias rezo pelo progresso da cidade. Todos os dias rezo pelos amigos. Todos os dias rezo pelos adversários. Todos os dias rezo para ser prefeito.

A platéia aplaudiu. E o pastor se entusiasmou:

_ Sei que dizem que meu candidato a vice é ladrão. Mas digo a vocês, queridos, se Cristo foi crucificado entre dois ladrões, por que não posso abraçar um?

A multidão adorou. E o pastor foi eleito prefeito da cidade.

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