Publicado no Jornal Folha de São
Paulo em 10/09/96
"A derrota dele vai ser um inferno",
diz pregador a fiéis em templo no Brás
O candidato do PSDB à Prefeitura
de São Paulo, José Serra, começa a colher
os frutos do acordo político entre seu partido e a Igreja
Universal do Reino de Deus.
Pastores da igreja de Edir Macedo vêm
pedindo votos para a candidatura do tucano durante seus cultos.
"Acredita em nós e vota no
Serra", pediu o pastor Júlio César, da sede
da igreja no Brás (zona central da cidade).
Até agora, o acordo só havia
rendido críticas da Igreja Católica aos tucanos e
suspeitas de favorecimento dos evangélicos junto ao
governo federal.
Segundo o pastor Júlio César,
a vitória do PSDB traria benefícios para a igreja.
"Quero que se dane a política. Estamos preocupados
com que ele ganhe porque a vitória dele é
importante para nós. A derrota dele vai ser um inferno."
Além do pedido formal de voto aos
fiéis, a oração final do culto foi iniciada
com um apelo em favor do candidato.
"Senhor Jesus, elege o senador Serra",
rogava o pastor, sendo acompanhado por uma platéia que
repetia suas frases.
"Vocês vêem que eu deixei
para pedir isso (o voto) cinco minutos antes do fim do nosso
encontro, que é para não misturar as coisas",
afirmou.
Propaganda
Logo na entrada do templo, uma faixa já
evidenciava a preferência política dos responsáveis
pelo local: "Vamos orar pelo candidato a prefeito Serra".
Além dessa, uma outra placa fazia
propaganda pelo candidato a vereador Celso Cardoso, do PPB.
"Quem sabe o número do nosso
vereador?", perguntava o pastor Júlio César,
para imediatamente receber a resposta correta dos fiéis.
Nas unidades da rua Domingos de Morais e
da praça da Árvore (zona sul), a propaganda da
igreja está sendo feita para o vereador Murilo Antunes
Alves (PMDB).
No final do culto no Brás, o pastor
ressaltou ainda que não sabia se haveria distribuição
de material do candidato à prefeitura, mas advertiu:
''Quem receber, vota".
Conforme a Folha verificou, não são
raros os casos em que bandeiras, bonés e camisetas de
Serra são entregues nas portas das igrejas.
Segundo um cabo eleitoral do PSDB, há
duas semanas, cerca de 20 mil bandeiras foram dadas durante a
inauguração de uma unidade da Universal, na zona
leste.
Nos templos da rua Guaicurus (zona oeste)
e da rua das Palmeiras (centro) já houve distribuição
de material pró-Serra.
O pastor Afonso, responsável pelo
culto de ontem à tarde na rua Domingos de Morais,
explicou que segue instruções da sede para
orientar os fiéis.
"A sede é no Brás. Você
viu como é lá. O que eles fazem lá, a gente
faz aqui", afirmou.
O coordenador político da Universal
no Estado, o deputado federal Wagner Salustiano, estima que a
igreja disponha de cerca de 600 mil eleitores potenciais.
"Nosso povo é fiel. Elegemos
até poste", já declarou ele, sobre a influência
dos pastores junto aos seguidores.
Na opinião de Neide de Oliveira,
que assistia ao culto, é normal que as pessoas sigam o
conselho dos pastores. "Eles não fazem a minha cabeça.
Voto no Pitta. Mas, se arrancam tanto dinheiro do povo, imagina
voto."
Ovelhas disciplinadas
Cena recente em um culto da Igreja
Universal. Pastor: ''Os nossos bispos decidiram apoiar o Serra.
Quem votará nele?''. Todos levantaram as mão.
''Quem ia votar em outro candidato?'' Quase a metade levantou a
mão.
Leitura bíblica
Publicado no Jornal Folha de São
Paulo em 08/08/96
O senador Esperidião Amin (PPB-SC)
e o ministro do STF Paulo Brossard conversavam na segunda
passada no aeroporto de Guarulhos, aguardando uma conexão
para Brasília.
De repente, surgiu o senador Casildo
Maldaner (PMDB-SC). Rapidamente, os três começaram
a contar histórias.
Casildo falou da estratégia
eleitoral de um pastor evangélico, candidato a prefeito
de uma cidade de Santa Catarina, em 92.
Em um comício, o pastor fez o
seguinte discurso:
_ Todos os dias rezo pelo progresso da
cidade. Todos os dias rezo pelos amigos. Todos os dias rezo
pelos adversários. Todos os dias rezo para ser prefeito.
A platéia aplaudiu. E o pastor se
entusiasmou:
_ Sei que dizem que meu candidato a vice é
ladrão. Mas digo a vocês, queridos, se Cristo foi
crucificado entre dois ladrões, por que não posso
abraçar um?
A multidão adorou. E o pastor foi
eleito prefeito da cidade.