Publicado no Jornal O Estado de S. Paulo
em 04/06/01
"TV e rádio devem mostrar
fitas do programa de Garotinho", copyright Agência
Estado, 4/06/01
"A rádio Tupi e a TV Record
foram intimadas hoje, por um oficial de Justiça, para
apresentar até quarta-feira as fitas com as gravações
do programa 'Fala, Governador', apresentado aos sábados
pelo governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), nas emissoras.
Garotinho é acusado de propaganda eleitoral ilícita.
O procurador eleitoral Antônio
Carlos Martins Soares apresentou uma representação
pedindo a suspensão dos programas. Ele havia requerido a
apreensão das fitas no período de março,
abril e maio, além da cópia dos contratos com as
emissoras.
As fitas serão analisadas pelo juiz
relator Marco Aurélio Bellizze. O eventual julgamento do
caso será feito pelo plenário do Tribunal Regional
Eleitoral (TRE).
Em março, os deputados da bancada
do PT na Assembléia Legislativa ajuizaram no TRE uma
representação acusando o governador de autopromoção
e pedindo a suspensão dos programas. O partido também
pretende obrigar o governador a devolver o dinheiro público
que, eventualmente, tenha gasto nas duas produções,
por meio de uma ação popular.
Segundo a representação
eleitoral, Garotinho, possível candidato a presidente em
2002, faz 'intensa campanha publicitária de sua própria
pessoa' no programa na rádio. Os parlamentares alegam no
texto que o governador 'enaltece sua administração
e sua própria pessoa em gritante agressão ao que
dispõe o parágrafo 1º do Artigo 37 da
Constituição Federal, além de configurar
propaganda eleitoral vedada pelo Artigo 240 da Lei n.º
4.737/65, e pelo Artigo 36 da Lei n.º 9.504/97'.
Os deputados alegam que, após meses
em 'intensa campanha de autopromoção, sem que
ninguém lhe coibisse o agir ilegal, o governador,
incentivado pela impunidade, resolveu ampliar os meios de
divulgação de sua campanha, inaugurando um
programa semanal de televisão, que estreou em março'.
Os deputados dizem que Garotinho usa, na
produção, funcionários do governo ou
terceirizados, 'em evidente desvio de recursos públicos
para patrocinar interesses privados'. No pedido, os
parlamentares, além da suspensão dos programas,
solicitam a proibição e que o governador seja
multado. Assinam a representação os deputados
Artur Messias (líder da bancada), Chico Alencar, Hélio
Luz, Heloneida Studart, Carlos Minc, Cida Diogo e Paulo
Pinheiro."
"Campanha nas
ondas de rádio e TV",
Publicado no Jornal do Brasil em
03/06/01
Autor: Tomás Absalão
"Em dois anos à frente do Palácio
Guanabara, o governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), 41
anos, conseguiu ampliar sua presença nacional graças
à ajuda da Bíblia e de um organizado sistema de
comunicação de seus amigos de fé e irmãos
evangélicos.
Pré-candidato declarado à
Presidência da República, Garotinho conta hoje com
o apoio de pelo menos três redes de comunicação,
todas de cunho evangélico. A rede Record, do bispo Edir
Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus; a rádio
Melodia, do deputado federal Francisco Silva (PST-RJ); e a Rede
Boas Novas, da Assembléia de Deus. Garotinho e sua
mensagem que mistura Deus e política vai ao ar em 11
estados e no Distrito Federal durante 15 minutos por dia. Sem
contar os eventos evangélicos dos quais participa - em
que aproveita para autografar o livro que conta a história
de sua conversão - e suas aparições, cada
mais freqüentes, em programas populares na TV.
A aproximação com o PL, braço
político da Igreja Universal, rendeu ao governador um
programa semanal na TV Record. A aliança também
rendeu à Universal a presidência da cobiçada
Loteria do Rio, a Loterj. Aos sábados, depois de comandar
na rádio Tupi, das 7h às 10h, o programa Fala,
Governador, a imagem de Garotinho invade a tela da Record, das
11h15 às 12h, comandando um programa que leva o mesmo
nome do da Tupi, em que, em tese, presta contas de seu governo.
O programa só vai ao ar no Rio de Janeiro. 'Mas queremos
que seja nacional', afirma um diretor da emissora, que abriu as
portas para o governador, que passou a ser habitué de
programas como o de Adriane Galisteu e Raul Gil. Também
bate ponto no SBT e na Rede TV!. Na quinta-feira passada,
Garotinho e sua mulher, Dona Rosinha, foram entrevistados no
programa de Otávio Mesquita, quando chegavam de helicóptero
para mais uma participação, em São Paulo,
do programa de Galisteu.
Mas é no rádio que a voz de
Garotinho ecoa pelo país. Do estúdio da Melodia,
na Vila da Penha (subúrbio do Rio), o programa A paz do
senhor governador é distribuído de segunda a sábado
em dez cidades de seis estados, num esquema montado pela
Organização de Emissoras Integradas de Radiodifusão
- razão social da Melodia. Sob o comando do deputado
Francisco Silva, a rádio Melodia ganhou fôlego
financeiro e arrendou, nos últimos dois anos, emissoras
de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Piauí e
Distrito Federal. Nos casos de Paraná, Piauí e
Brasília, a programação da Melodia alcança
cidades em Santa Catarina, Maranhão e Goiás.
No Norte do país, o programa é
transmitido pela Rede Boas Novas (RBN) para Amazonas, Pará
e Rondônia. O forte da RBN, porém, é a
televisão. Segundo o presidente do grupo, pastor Samuel Câmara,
irmão do deputado federal Silas Câmara (PFL-AM), a
RBN tem 48 canais de TV aberta e 34 de TV a cabo. Todas à
disposição do governador. 'Quando tem material
dele, nós veiculamos', disse Samuel.
Radialista por profissão, Garotinho
conta com sua facilidade como comunicador para tentar chegar à
Presidência da República, sua maior ambição.
A partir de julho, ele vai intensificar sua participação
em grandes cultos evangélicos, do tipo que reúne
até 50 mil pessoas, em todos os estados. Seu grupo mais
próximo de assessores acredita que, se Garotinho chegar a
15 pontos percentuais na preferência do eleitorado
nacional até dezembro, poderá deixar sem medo o
governo estadual para partir para a aventura presidencial. A última
pesquisa Census, feita pela CNI, lhe deu 10.6% na pesquisa
estimulada. 'Se ele chegar ao segundo turno, ninguém
segura', avalia um desses assessores.
O raciocínio dos garotistas segue a
seguinte linha: dos 40 milhões de evangélicos
brasileiros, segundo dados do Censo, o governador poderia ter o
voto de 20 milhões. O que, somado ao eleitorado popular não
religioso das classes D e E, poderia dar a ele 15% do eleitorado
nacional. Votos com potencial para garantir-lhe, numa eleição
pulverizada, a vaga no segundo turno das eleições.
A tese que não convence o cientista
político Marcos Coimbra, diretor do Instituto de
Pesquisas Vox Populi: 'Embora o universo da população
evangélica tenha aumentado, continua a ser muito heterogênea.
Não há sinal de que os evangélicos se
comportem de maneira homogênea em questões
eleitorais', afirma Coimbra.
Apesar do discurso evangélico,
Garotinho, recém-filado a um partido de sigla socialista,
tenta cooptar o apoio do PC do B. Ao lado dos aliados de
esquerda, o discurso muda de tom: em vez de Deus, o tema é
o ataque ao modelo econômico do governo FH.
Outro braço importante na campanha
de garotinho atende pela sigla Adhonep (Associação
dos Homens de Negócios Evangélicos), coordenada
pelo deputado estadual Eduardo Cunha (PPB). Afilhado político
de Francisco Silva e ex-caixa de campanha de Fernando Collor de
Mello, Cunha está sendo investigado há um ano pelo
Ministério Público por suspeita de irregularidades
à frente da Cehab (Companhia Estadual de Habitação).
É a Adonep quem - pelo menos oficialmente - assume bancar
as despesas feitas do governador em seu périplo político-religioso
Brasil afora."
"Garotinho
inventa populismo multimídia",
Autor: Antonio Carlos de Faria
Publicado na Folha de S. Paulo, 3/06/01
"O governador do Estado do Rio,
Anthony Garotinho, usa uma parafernália multimídia
para se tornar conhecido nacionalmente e viabilizar sua
candidatura à Presidência da República, recém-lançada
mas com objeções por parte de setores do PSB.
O lance mais recente do neopopulismo midiático
do governador é o livro 'Virou o Carro, Virou a Minha
Vida', editado pela Agência Soma, em que narra o processo
de sua conversão religiosa. Na mesma linha, aparece como
autor de músicas no CD 'Louvor da Luz', lançado
pela Igreja Presbiteriana Luz do Mundo.
Em março, iniciou o programa
semanal de TV 'Fala, Governador', mesmo título do que já
mantinha na rádio Tupi nas manhãs de sábado.
Além disso, o governador tem programas com duas edições
diárias na rádio Melodia, que tem emissão a
partir dos Estados do Rio, Paraná, São Paulo,
Minas, Piauí e de Brasília.
Completando o arco dos meios de informação,
ele dispõe desde o final do ano passado de um endereço
sobre si próprio na internet (www.2002garotinho.com.br),
administrado por Mauro Silva, seu ex-subsecretário
estadual para a área de publicidade. Silva deixou o
governo no início do ano para montar um jornal em Campos
(280 km ao norte da capital do Rio), base eleitoral de
Garotinho.
O governador diz que não gasta
dinheiro público nessas empreitadas, sendo convidado
pelos donos das atividades a divulgar suas idéias. Na área
pública, ele acabou de concluir um processo licitatório
em que cinco agências de publicidade ganharam o direito de
administrar R$ 90 milhões para fazer campanhas sobre as
realizações do governo.
Com base nesse complexo sistema de divulgação,
o governador intensifica, a partir deste mês, as viagens
pelo país. Tudo tendo em vista um cálculo milimétrico.
Garotinho já declarou que, se não atingir 15% das
intenções de voto até o final do ano,
desiste da Presidência e disputa a reeleição.
Na última pesquisa feita pelo Datafolha, em março,
ele aparecia com 7%. Nesta semana, pesquisa do instituto Sensus
apontou o governador com 10,6%.
Em qualquer caso, já definiu que
deixará o governo em 3 de abril de 2002, para evitar a
acusação de uso da máquina pública.
Todo o planejamento de Garotinho gira em
torno de duas agendas. Uma, a do governante que comparece a
reuniões de entidades políticas. Outra, a de
religioso que participa de encontros promovidos por igrejas
protestantes.
Ambas as agendas se interpenetram e são
permeadas pela figura do radialista, profissão original
de Garotinho.
Para lançar o livro, onde descreve
como se tornou evangélico após um acidente de
automóvel em 1994, quando disputou e perdeu sua primeira
eleição para governador, Garotinho esteve em Vitória
(ES), em abril. Depois de falar da obra, deu entrevistas sobre
suas possibilidades na disputa presidencial.
O governador tem mais de 200 convites para
realizar viagens como essa, patrocinadas por líderes
evangélicos de cidades de vários Estados do país.
Segundo assessores, o governador só aceita viajar quando
todas as despesas são pagas pelos anfitriões.
'Acho que a política é a
forma de transformação da nossa sociedade, e os
evangélicos que sentirem essa missão e essa vocação
não devem hesitar em participar da vida política
do país', afirma o governador em seu site, onde expõe
artigos, citações e um resumo de sua biografia.
Investigação
Tanta movimentação acabou
chamando a atenção do Ministério Público
Eleitoral, que está analisando fitas dos programas de
Garotinho na TV Record e na rádio Tupi, buscando
comprovar se configuram abuso de poder político e, caso
confirmado, retirá-los do ar.
O procurador Antonio Carlos Martins Soares
tomou como base uma representação apresentada por
deputados petistas -rejeitada pelo TRE porque teria que ser
oferecida pelo partido. Ele diz que o governador não pode
alegar que está apenas divulgando suas realizações.
'A lei prevê que a publicidade dos
atos do governo só pode ser paga, e o governador diz que
não está pagando nada pelos seus programas',
afirma Soares, que diz estar atento aos programas da rádio
Melodia, que não fizeram parte da primeira representação
encaminhada ao TRE.
Os programas da Melodia, que têm
duração média de dez minutos, são
gravados no Palácio das Laranjeiras, residência
oficial do governador, nos fins de semana. O apresentador é
o deputado federal Francisco Silva, dono da rádio, que em
fevereiro trocou o PST pelo PL.
Silva foi secretário da Habitação
de Garotinho em 1999, quando nomeou Eduardo Cunha, integrante do
governo Collor, para presidir a Cehab (Companhia Estadual de
Habitação).
Cunha acabou deixando o cargo em meio à
crise causada pela revelação de irregularidades em
torno da construção do conjunto de Sepetiba (zona
oeste), a maior obra habitacional de Garotinho. Hoje, é
deputado estadual e produtor do programa apresentado por
Garotinho na Melodia, 'A Paz do Senhor, Governador'.
A mudança de Silva de partido se
deu ao mesmo tempo em que o governador estabeleceu relações
com a TV Record, de propriedade da Igreja Universal, para a
realização do programa semanal. No Rio, o PL é
presidido pelo deputado federal bispo Rodrigues, coordenador político
da Universal."
Pensamento:
"O ignorante não dúvida porque desconhece que
ignora" Anônimo
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