Publicado no Jornal do Brasil em
08/07/2001
Associação de empresários
religiosos e PSB custeiam visitas de Garotinho oficialmente para
pregar como pastor
Guará, ao centro, é monitora
do Programa Jovens pela Paz de São João de Meriti:
presença obrigatória em eventos políticos
Amigos de fé, irmãos
camaradas, empresários evangélicos filiados à
Associação dos Homens de Negócios do
Evangelho Pleno custeiam as viagens do governador evangélico
Anthony Garotinho pelo Brasil. Na teoria, as viagens são
exclusivamente para que o governador conte ao rebanho de fiéis
como Deus ''entrou e está presente'' em sua vida. Na prática,
as viagens tratam de temas mais terrenos.
Nos bastidores dos encontros, as conversas
são políticas e mesmo durante as palestras o
governador costuma usar passagens bíblicas com leituras
políticas. Não é à toa que o próprio
Garotinho narra um episódio ocorrido em um desses
jantares, em Porto Alegre, em que o filho do senador Pedro Simon
(PMDB) se aproximou emocionado e disse que votaria nele caso o
pai não se candidatasse a presidente. Atualmente, uma das
passagens bíblicas prediletas de Garotinho está no
livro de Samuel, no qual é narrado como Davi, então
um menino, foi escolhido por Deus como rei de Israel. A conclusão
implícita à audiência é de que o
escolhido é um garotinho, tal como o governador.
Criada em 1961 nos EUA por um empresário
armênio, a associação chegou ao Brasil nos
anos 70. Hoje existem cerca de 800 núcleos (chamados de
''capítulos'') independentes espalhados pelo país.
Todos os meses , cada capítulo promove um jantar em que
um convidado fala sobre Deus. Ou seja, mensalmente, há
800 palanques disponíveis para ouvir a palavra do Senhor.
O número de integrantes desses capítulos varia
-pode chegar a algumas centenas-, mas a composição
muda pouco. A maioria é de empresários e
profissionais liberais.
Pelas contas de Garotinho -que é sócio
do capítulo em Campos-, só em São Paulo ele
já esteve seis vezes à custa da Associação
dos Homens de Negócio do Evangelho Pleno. No mês
passado foram três viagens, para São Paulo, Belém
e Belo Horizonte. Todas com jatinhos fretados.
Além dos empresários evangélicos,
segundo a chefia de gabinete do governador, as viagens de cunho
político são pagas também pelo PSB. Todos
os gastos são controlados pessoalmente pela ex-assessora
de imprensa da campanha ao governo estadual e hoje chefe de
gabinete do governador, Ana Paula Costa. É ela quem freta
os aviões, invariavelmente na Líder Táxi Aéreo.
Uma viagem de ida e volta a Brasília, para o governador,
fica por R$ 12 mil.
As faturas são entregues a duas
pessoas: na associação ao vice-presidente, pastor
Altomir Régis; e, no PSB, ao deputado federal Alexandre
Cardoso.
É Ana Paula quem controla também
quem vai no vôo (normalmente de oito lugares). Quando ela
não integra a comitiva, seu ex-marido, Carlos Henrique
Vasconcellos, que cuida da publicidade do governo, viaja em seu
lugar.
Até 1999, entretanto, parte das
viagens do governador foi custeada pela rádio Melodia, do
empresário e deputado federal Francisco Silva (PST), um
dos principais aliados de Garotinho.
Na sexta-feira, o deputado estadual Paulo
Ramos (PDT) entrou com uma representação no Ministério
Público Eleitoral requerendo a apuração de
quem está pagando as viagens do governador e de onde vem
o dinheiro.
Turma da maçaneta no palácio
Publicado no Jornal do Brasil 08 de julho
de 2001
Eles têm uma atuação
discreta e, bem diferente do estilo do chefe, são avessos
a flashes e a entrevistas. Mas quem conhece de perto o governo não
titubeia em apontar o chefe do Gabinete Civil, Augusto Ariston,
o secretário-executivo do governo, Luiz Rogério
Magalhães, e o presidente do Grupo Executivo de Apoio à
Municipalidade (Geam), Ranulfo Vidigal, como os homens mais
poderosos no governo, depois do governador. Não tanto
pelo montante de verbas e projetos que controlam, mas sim pelo
grau de proximidade e confiança que desfrutam junto ao
chefe, com quem convivem há muitos anos, mas de quem
ninguém se considera realmente amigo. ''O Garotinho é
fechado. Seus amigos são a sua família'', afirma
um velho conhecido de Garotinho.
Luiz Rogério e Ranulfo são
legítimos representantes da República do Chuvisco
- uma referência ao famoso doce feito com ovos e açúcar
de Campos dos Goytacazes, terra natal de Garotinho. Luiz Rogério
foi secretário de Agricultura nos tempos de Garotinho
prefeito e Ranulfo ocupou a Fazenda. Ariston, natural do Rio
Grande do Norte, conheceu Garotinho no início da década
de 80, quando os dois eram deputados estaduais pelo PDT. Ficaram
próximos por conta da atividade de Ariston: é dono
de rádios no norte e noroeste fluminense. Ariston, Luiz
Rogério e Ranulfo formam a chamada turma da maçaneta
do governador - pessoas que entram a qualquer hora no gabinete
do homem, sem precisar ser anunciados.
Ariston tem bom trânsito nos meios
político e empresariais. A ele é atribuída
a recente aproximação entre o presidente nacional
do PSB, Miguel Arraes, e Garotinho, o que aconteceu graças
à sua proximidade com Eduardo Campos, neto do
ex-governador de Pernambuco. Também assessorou um velho
conhecido de Garotinho, Amaury Andrade, dirigente da Fetranspor
e dono da empresa de ônibus 1001 - a quem o governador foi
acusado de favorecer ao não estender às linhas
intermunicipais a redução obrigatória das
tarifas, no início de seu governo.
Ariston tornou-se chefe do Gabinete Civil
depois que Jonas Lopes, outro representante da República
do Chuvisco e da turma da maçaneta, foi alçado a
conselheiro do Tribunal de Contas do Estado - por coincidência,
em um momento em que o governo Garotinho recebia uma saraivada
de denúncias de corrupção. Embora fora do
governo, Jonas cumpre no TCE um papel fundamental no esquema político
de Garotinho.
Luiz Rogério Magalhães,
secretário-executivo do Governo, é um dos
auxiliares que Garotinho pretende eleger deputado federal no ano
que vem. Pelo organograma do estado, é dele o segundo
cargo mais importante na hierarquia estadual, depois de
Garotinho. É ele quem toca, na prática, o dia a
dia do governo e com quem o governador fala várias vezes
por dia. ''Não tem hora. Ele às vezes me chama de
madrugada '', conta Luiz Rogério, que tem ainda o papel
de articulador político com os prefeitos do interior.
Dos três, Ranulfo Vidigal é
quem tem passado mais controvertido. Em 1996, prefeito de São
João da Barra, no Norte Fluminense, teve seu mandato
cassado por conta de denúncias de corrupção.
Alçado por Garotinho a presidente da poderosa Agência
Reguladora de Serviços Públicos (Asep), que tem a
função de fiscalizar empresas concessionárias,
como gás e trens, deixou o posto depois qie foi acusado
de receber propinas entre R$ 30 mil e R$ 50 mil para facilitar o
andamento de interesses das empresas, como o reajuste de
tarifas. O Ministério Público, entretanto,
arquivou o imquérito por falta de provas.
Em breve, Ranulfo vai deixar o Palácio
Guanabara, mas continuará trabalhando para o chefe, num
escritório da torre do Rio Sul, em Botafogo. Será
dele a função de tesoureiro da campanha
presidencial de Garotinho, função, aliás,
que pertenceu a Jonas Lopes na eleição de 1998.
Pensamento:
"A tragédia da vida consiste naquilo que morre
dentro de uma pessoa enquanto ela ainda está viva."
Albert Einstein.
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