Garotinho condena homossexualismo

Publicado no Jornal do Brasil em 09/11/2001

Mais do que nunca o governador Anthony Garotinho (PSB) vai precisar dos votos evangélicos se quiser chegar ao Palácio do Planalto. Ontem o pré-candidato do PSB perdeu os da comunidade homossexual. Em entrevista ao vivo para o programa ''Em Questão'', da TV Gazeta de São Paulo, o governador se declarou contrário ao homossexualismo. ''Eu sou contra (o homossexualismo) porque eu não gostaria para os outros, o que não desejaria para mim.''

A declaração do presidenciável evangélico foi uma tentativa de corrigir o que havia dito antes, ao ser indagado por um telespectador sobre o que achava da união entre pessoas do mesmo sexo. ''Uma coisa é o homossexualismo, outra coisa é o homossexual. Uma coisa é o pecador, outra é o pecado. Sou contra o homossexualismo. Abertamente contra'', disse usando uma passagem da Bíblia. Diante de um fax enviado por outro telespectador, impressionado com as enfáticas afirmações, o socialista tentou contemporizar: ''Algumas pessoas exercem (o homossexualismo) até de uma forma tão elegante que eu admiro''.

A retórica de Garotinho soou mal aos ouvidos do teólogo e pastor luterano Mozart Noronha. ''Se você vai ler a Bíblia sob uma perspectiva fundamentalista pode tirar essa ou aquela parte para justificar seus conceitos. Julgar atitudes à luz de textos bíblicos isolados é uma coisa perigosa'', disse o pastor evangélico. Noronha lembra que a grande conquista do Reforma Protestante, no século 16, foi o livre exame da sagrada escritura. ''Jesus Cristo não interpretou o antigo testamento. Nem o governador nem ninguém pode usar a Bíblia para condenar uma pessoa.''

A comunidade homossexual reagiu com indignação. ''Como é possível dissociar a homossexualidade do homossexual? É uma visão ignorante e estúpida'', acusa Cláudio Nascimento, presidente do grupo Arco-Íris - ONG defensora dos direitos dos homossexuais. Em maio do ano passado, o governador sancionou a lei 3.406, que proíbe a discriminação nos estabelecimentos comerciais e por agentes do Estado. ''Isso mostra a total incoerência dele''. Nascimento não descarta um boicote da comunidade gay ao governador. ''Ele pode perder 15 milhões de votos''.

Para o antropólogo Luiz Mott, presidente da ONG Grupo Gay da Bahia, o governador foi intolerante. ''A posição dele reflete a mesma intolerância da Igreja católica e das denominações protestantes, que interpretam erradamente a Bíblia para justificar a condenação dos ''pecadores''. O vice-presidente da organização, Marcelo Cerqueira, foi mais radical: ''Para o inferno ele e sua piedade. Nas eleições de outubro, Garotinho vai receber o troco''.

Essa é a segunda vez, em menos de um mês, que o governador do Estado do Rio provoca polêmica com suas declarações. No dia 17 de outubro passado, Garotinho acusou a vice-governadora Benedita da Silva (PT) de ter desviado uma doação de R$ 500 mil. O dinheiro seria usado na construção do Restaurante Popular Betinho, para ONG Ação da Cidadania. Dias depois, veio a público dizer que não chamara a petista de corrupta, mas de omissa, pois ela era a responsável pela fiscalização e aplicação da verba.

No debate político durante o programa, Garotinho reforçou a disposição de disputar à Presidência da República. E garantiu que o primeiro escalão do governo estadual deixa o cargo em abril. ''Vai ser a grande oportunidade de o PT mostrar que sabe fazer além de falar''. O governador voltou a descartar uma candidatura única das esquerdas no primeiro turno da eleição presidencial, como havia proposto, o presidente de honra do PT e provável candidato do partido à Presidência, Luiz Ignácio Lula da Silva. ''O Lula está sonhando''. E ironizou o adversário: ''Eu já votei nele (Lula) duas vezes e ele perdeu as duas vezes. Espero agora que ele retribua.''

Universal quer eleger 300 vereadores este ano

Publicado no Jornal O Estado de S. Paulo em 20 de março de 2000

Objetivo, segundo Bispo Rodrigues, é multiplicar por quatro presença nas Câmaras do País

Autor: WILSON TOSTA

RIO - A Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) vai tentar multiplicar por quatro sua presença nas Câmaras de todo o País, elegendo 300 dos 500 candidatos a vereador que decidiu lançar - hoje, cerca de 70 são ligados a ela. Mas o ímpeto da Iurd, que inclui o lançamento do deputado Bispo Rodrigues (PL-RJ) para a prefeitura do Rio, já preocupa líderes de outras correntes evangélicas. Para alguns, a vice-governadora Benedita da Silva, que deve disputar pelo PT, pode ser prejudicada pela divisão do seu eleitorado.

"Se sentir que posso ameaçar a ida da Benedita para o segundo turno, retiro a minha candidatura, porque não vou prejudicar minha irmã", diz Rodrigues, que cita números para mostrar o crescimento político de sua corrente. A Iurd, conta, tem 18 deputados federais e 24 estaduais. No Rio, são 3 vereadores. As bancadas já equivalem às de partidos pequenos a médios. A Iurd tem, por exemplo, quase 10% dos votos da Assembléia Legislativa do Rio: 6 em 70.

Rodrigues diz que será o único candidato da Universal a prefeito em todo o País. Em São Paulo, a Iurd vai lançar o pastor Vanderval como vice na chapa de Marcos Cintra (PL). A presença mais forte da Iurd em 2000 deverá ser mesmo no Rio, Estado em que nasceu, nos anos 70, e no qual lançará 90 candidatos a vereador.

Rodrigues conta estar conversando com evangélicos que integram o governo para evitar dividir os votos de Benedita. Ela ainda não é candidata, pois disputará a prévia do PT com o ex-deputado Vladimir Palmeira domingo. Desde o ano passado, seus assessores acompanham a movimentação de Rodrigues. Mas Benedita garantiu ao Estado não ter a pretensão de ter todos os votos evangélicos, pois a questão não é de religião, mas de política. "Não tenho essa coisa de dizer: todos os evangélicos vão votar em mim", afirmou. "Podem até lançar outra candidatura evangélica."

O deputado diz saber que representa um grupo polêmico e espera dividendos políticos disso. "Não tenho discurso político, pode ser que as pessoas prestem atenção em mim." Rodrigues fará campanha nos templos da Iurd, que promove cultos diários lotados. "São 300 igrejas na capital e se cada uma tiver mil pessoas por semana, são 300 mil pessoas."

O deputado nega que a Iurd tenha um projeto político maior, como criar um partido próprio. Ele estima que 30% de seu eleitorado é formado por evangélicos e acha que as metas eleitorais da corrente são modestas, diante do número de vagas em relação ao tamanho do eleitorado evangélico. "São mais de 50 mil vereadores que serão eleitos em todo o País este ano."

No Rio, a Universal conta com os vereadores Ely Patrício (PFL), Waldir Abrão (PMDB) e Aloísio Freitas (PTB), que tentarão reeleger-se, e pretende lançar um quarto candidato, a ser escolhido. Em 1998, a igreja elegeu no Rio, além de Rodrigues, os deputados federais Aldir Cabral (PFL), Jorge Wilson (PMDB) e Valdeci Paiva (PSDB) e os estaduais Laprovita Vieira (PPB), Magaly Machado e José Divino, pelo PL, e Armando José, Eraldo Macedo e Mário Luiz, pelo PMDB. "Está tudo espalhado por partidos do centro para a direita", diz Rodrigues.

A força política das correntes evangélicas cresceu nos anos 90 e principalmente em 1998 no Rio. A vitória de Anthony Garotinho (PDT) e Benedita -ambos presbiterianos - refletiu-se na Assembléia. Dez deputados ligados a correntes evangélicas elegeram-se: os seis da Universal, Washington Reis (PSDB), Alessandro Calazans (PV), Alberto Brizola (PFL) e Edson Albertassi (PSB).

Evangélico desde 1994, Garotinho leva sua eloqüência de político a templos de todo o País, onde prega com regularidade, mesclando temas políticos e religiosos. Um de seus articuladores políticos é o deputado federal Francisco Silva, da Congregação Cristã, que articula a transformação do PST numa possível alternativa partidária para o governador.

Garotinho tem tido constantes conflitos com o presidente do PDT, Leonel Brizola e, em alguns dos piores momentos dessa briga, irritou-se com suas críticas à mistura de política e religião - segundo Brizola, expressa na presença de pastores evangélicos em cargos de governo. "A liberdade de culto é assegurada pela Constituição", repete o governador.

Benedita também mostra preocupação com a mistura de política e religião, mas por outro ângulo. "Não quero estigma", diz ela. A vice-governadora diz que o crescimento da participação política dos evangélicos teve de enfrentar resistências, inicialmente, dentro das próprias correntes evangélicas. "Éramos aconselhados a não sair candidatos, isso era visto quase que como um pecado", conta.

Evangélicos trocam farpas eleitorais

Publicado no Jornal do Brasil em 10/DEZ/2001

Manoel Ferreira, comandante da Assembléia de Deus, enfrenta Universal com apoio a Garotinho e candidatura ao Senado

Autor: HELAYNE BOAVENTURA

BRASÍLIA - O voto da multidão de evangélicos brasileiros aguçou a cobiça dos políticos e gerou uma guerra surda nos templos. O bispo Manoel Ferreira, comandante maior da Assembléia de Deus, está decidido a tomar o trono do bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus. Ferreira não se conforma de ter mais fiéis e templos do que a Universal e mesmo assim amargar a obscuridade. Decidiu batalhar uma cadeira no Senado pelo PPB do Rio. Também negocia apoio à candidatura presidencial do governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho (PSB), uma forma de se diferenciar dos colegas da Igreja Universal, que estão a caminho de pregar uma aliança com o petista Luiz Inácio Lula da Silva.

Em público, representantes da duas igrejas trocam amabilidades. Mas as farpas não custam a aparecer. Cada um se gaba do arsenal pronto para ser disparado na campanha política. E não perde a oportunidade de subestimar a artilharia do adversário. O bispo da Assembléia de Deus aposta na força numérica do rebanho dele. Comandante de oito milhões de almas, segundo afirma, vangloria-se de ser líder da maior igreja do segmento evangélico. A Assembléia de Deus tem 31% dos crentes brasileiros. Também - garante Ferreira - está presente em 120 países do mundo. Na Rússia a igreja ocupa o prédio da KGB, o antigo serviço secreto da extinta União Soviética.

Planalto - Manoel Ferreira passou a circular com freqüência em Brasília. Há duas semanas foi recebido pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. O governador de Goiás, Marconi Perillo, também tucano, abriu as portas do Palácio do Planalto para o bispo evangélico. A Assembléia de Deus apoiou Fernando Henrique nas campanhas de 1994 e 1998. Para 2002, a igreja tomou ares oposicionistas. Diz que descarta Lula, ''por se posicionar muito à esquerda'', mas se derrama em elogios ao governador fluminense e ao de Minas Gerais, Itamar Franco.

O bispo da Assembléia de Deus já conta em lotar estádios com a multidão de seguidores de sua igreja. Pensa em showmícios com estrelas gospel, como a apresentadora de TV Mara Maravilha. Mas a campanha vai ser feita, principalmente, nos templos. Durante o culto, às quartas e domingos, os pastores apelam aos fiéis para escolherem nomes identificados com a igreja ''no momento de exercitar a cidadania''.

Na reta final da campanha, a orientação chega a ser explícita. O pastor cita a lista de ''preferidos'' da instituição. O Conselho Político da Assembléia já escolheu os cinco candidatos a deputado federal pelo Rio de Janeiro que a igreja vai apoiar: o ministro Francisco Dornelles (PPB), os deputados Arolde de Oliveira (PFL) e Carlos Nader (PFL) e os pastores Lourival Machado (PMDB) e Itagibe Cabral (PL). ''O retorno em voto é de 90%'', confia o bispo. O otimismo está comprovado. Os freqüentadores da igreja seguem à risca a orientação dos pastores.

Astro - Com a determinação, a Assembléia de Deus embarcou numa briga pesada. Para conquistar uma cadeira no Senado tem de superar um astro da Igreja Universal: o bispo-cantor Marcelo Crivella, sobrinho de Edir Macedo. Crivella é a nova estrela da igreja, sendo uma espécie de versão evangélica do padre católico Marcelo Rossi. Nos cantos em que canta leva milhares de fiéis a estádios.

Manoel Ferreira vai dividir com Crivella a simpatia e os votos dos eleitores evangélicos. Políticos já com mandato vão disputar a outra vaga do Rio de Janeiro. O prefeito de Caxias, Zito (PSDB), é um nome que pode estar na lista. Afirma que quer se candidatar ao governo do Estado, mas pode acabar disputando uma cadeira no Senado. O presidente da Assembléia Legislativa do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), é outro cotado. O senador Arthur da Távola (PSDB) também pensa na reeleição. E até o nome da primeira-dama do Estado, Rosinha Matheus (PSB), é lembrado. E o PT pode lançar o deputado Milton Temer, derrotado ontem na prévia que escolheu Benedita da Silva candidata do partido ao governo do Estado.

Os líderes da Universal estão certos que Crivella ficará com uma das vagas. A estratégia de mídia é o principal trunfo. ''Ele tem status grande nas igrejas, mas fora não é conhecido, é difícil ganhar'', torce o Bispo Rodrigues (PL-RJ), que abriu mão da candidatura ao Senado para catapultar o nome de Crivella. ''A Assembléia é maior, mas o importante é saber quem consegue se mostrar para a sociedade, quem tem mais visibilidade na rádio, no jornal''.

Nenhuma igreja evangélica entende mais de mídia do que a Universal. Edir Macedo é dono de um império composto por 20 emissoras de TV, 50 rádios, um jornal semanal com tiragem de 1,3 milhão de exemplares e mais de uma dúzia de empresas de variados setores.

Atuação alvo de críticas

Publicado no jornal A Noticia em 23/01/2002

A participação de religiosos na política enfrenta oposição ferrenha. "Onde existe religião metida com governo há conflito. Veja os casos da Irlanda do Norte, o Oriente Médio", exemplifica Leo Vines, coordenador da organização não-governamental Sociedade da Terra Redonda (STR Brasil), criada para divulgar ciência e defender os direitos dos ateus.

A penetração dos evangélicos na política partidária, argumenta Vines, é motivada pela necessidade de garantir benefícios para as respectivas religiões. "Querem incentivos fiscais, canais de televisão e leis que os protejam. Na cidade do Rio de Janeiro, a bancada evangélica conseguiu aprovar uma lei aumentando o número de decibéis permitido nas proximidades dos templos", diz ele. Em 2000, os evangélicos conseguiram o veto do presidente Fernando Henrique Cardoso ao artigo da Lei de Crimes Ambientais que previa punições para autores de crimes de poluição sonora.

De acordo com Vines, a pré-candidata do PFL à Presidência da República, governadora Roseana Sarney, está sendo atacada em templos evangélicos fluminenses por representar uma ameaça às pretensões presidenciais do governador Anthony Garotinho (PSB). "Temos que temer o conflito armado com o avanço das religiões sobre a política. Afinal, os confrontos militares que existem envolvendo religiões também começaram apenas no campo das idéias."

Nem o trabalho "social" dos religiosos escapa às críticas. "Isso também é questionável, porque a ajuda chega somente aos fiéis daquela religião. Em democracia, isso não é critério", afirma. (Jefferson Saavedra)

GAROTINHO GANHA PALANQUES NA RECORD

Publicado no Jornal O ESTADO DE S. PAULO em 29-01-2002

Propaganda eleitoral gratuita. Assim pode ser definida a participação do governador do Rio e pré-candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho, nas gravações realizadas ontem do Programa Raul Gil, da Rede Record. Além de ser muito elogiado e receber apoio explícito do apresentador, Garotinho pôde ver, no vídeo, cenas com realizações de seu governo. A Record, que só ontem levaria o presidenciável do PSB três vezes ao ar - no Note e Anote, Cidade Alerta e Amaury Jr. - reservou um bloco inteiro do Programa Raul Gil para Garotinho. A emissora é comandada pelo bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus. O governador fluminense é evangélico. Garotinho negou que esteja usando a emissora como palanque. Procurada pelo Estado, a direção da Record informou que não se pronunciaria ontem.

http://www.estado.estadao.com.br/editorias/2002/01/29/pol007.html

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