Publicado no Jornal Folha de S. Paulo em
23/07/2001
O governador Anthony Garotinho (PSB-RJ)
usou hoje a religião para promover sua pré-candidatura
à Presidência, chamar Fernando Henrique Cardoso de
ateu e se defender das acusações que vem sofrendo
_inclusive se comparando à prostituta bíblica
Maria Madalena.
Garotinho falaria sobre ''a importância
da família'' a cerca de mil evangélicos
pentecostais da Igreja do Evangelho Quadrangular em Belo
Horizonte.
''Vou falar sobre a palavra de Deus'',
disse, ao começo. Mas, passados alguns minutos,
amparou-se em citações bíblicas para falara
sobre "calúnias", "mentiras" e "discriminações"
que estaria sofrendo por ser evangélico _o governador é
presbiteriano.
Garotinho é investigado pela
Receita Federal por causa de suspeitas de irregularidades em
suas declarações de rendas e em sorteios feitos em
1995 por seu programa de rádio.
"Os senhores têm visto
ultimamente tudo o que tem sido dito contra mim pelo único
fato de eu confessar que Jesus Cristo é o senhor da minha
vida. Provocações, mentiras e calúnias,
como se a população de um país de maioria
esmagadoramente cristã não pudesse eleger um
presidente cristão. Ora, se pôde eleger um ateu,
por que não pode eleger um cristão", disse,
em referência ao presidente.
Em 1985, o então candidato a
prefeito de São Paulo FHC foi perguntado se acreditava em
Deus. Não respondeu afirmativamente, dizendo que
respeitava ''as várias religiões do povo''. Ficou
colada a pecha de ateu, a que assessores atribuíram sua
derrota para Jânio Quadros.
Garotinho também se comparou à
personagem bíblica Maria Madalena, prostituta que foi
salva por Jesus do apedrejamento.
"Os religiosos da época
queriam condenar Madalena. Jesus disse: 'Nem eu te condeno, seus
pecados estão perdoados'. Se fosse um intolerante, diria:
'Sua prostituta, vagabunda, você não presta, vai
presa, apedrejada'", declarou.
Garotinho foi bastante aplaudido pela platéia,
que rezou no final de seu discurso para que ele seja o próximo
presidente da República. O pastor Rogério Amorim,
primeiro secretário do Conselho Nacional dos Diretores da
Igreja do Evangelho Quadrangular, foi o responsável por
puxar a prece.
"Que a Sua graça esteja com
ele. O Senhor, que inclina coração de reis,
inclina o coração da sociedade, a sociedade
brasileira, Senhor, para levar esse homem à Presidência
da República (...) todos aqueles que se levantarem com
mentiras, com intrigas e com falsidades atentando contra a moral
do seu servo [Garotinho] e de sua família, faça
com que eles sejam envergonhados, mas que o seu filho seja,
nessa questão, mais do que vencedor", discursou.
Garotinho se recusou a falar com a
imprensa logo após a palestra. "Para vocês
falarem mal de mim amanhã, não precisam me ouvir",
disse. Momentos depois, voltou atrás e confirmou
acreditar que as acusações contra ele seriam, na
verdade, uma discriminação contra os evangélicos.
Disse que pretende manter e acrescentar
elementos à afirmação de que as acusações
estariam sendo orquestradas pelo governo federal, temeroso de
seu desempenho nas pesquisas eleitorais.
A Advocacia Geral da União entrou
na Justiça com pedido de interpelação para
que o governador confirme ou não as afirmações.
Garotinho disse não tê-la recebido ainda, mas que
manteria sua afirmação ou até a faria
''mais fortes''.
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