Púlpito eleitoral
Walter Huamany e Leticia Helena

Publicado no Jornal O Globo em 24/07/2001

A estratégia eleitoral do governador Anthony Garotinho (PSB) na disputa pela Presidência da República ficou clara no fim de semana e ontem, quando rodou mais de seis mil quilômetros, por quatro estados, misturando política e religião em discursos para eleitores, a maioria evangélicos. Depois de percorrer cidades do Piauí, de Pernambuco e da Bahia, ontem participou de dois eventos evangélicos em Minas. Ele se disse um servo de Deus que está sendo perseguido e se comparou ao apóstolo Paulo.

No seminário "Ministros labaredas de fogo", em Belo Horizonte, Garotinho voltou a se defender das denúncias de envolvimento no pagamento de propina a um fiscal da Receita Federal para obter autorizações de sorteio no programa "Show do Garotinho", em 1995. Ele citou Maria Madalena, prostituta perdoada por Jesus em passagem bíblica, para dizer que defende a tolerância. E disse que está sendo perseguido por ter se tornado evangélico, comparando-se ao apóstolo Paulo, que passou a ser perseguido depois de se converter ao cristianismo.

- Não esperaram a apuração das denúncias para me acusar. Até se fosse verdade, e não é, um fato ocorrido em 1995, que envolvia R$ 500.... Dentro do que se vê de corrupção no país inteiro, eu deveria ganhar um prêmio como o político mais honesto - disse, referindo-se à denúncia de pagamento de propina ao fiscal da Receita.

Encontro era para falar sobre família

Em palestra para três mil pessoas durante o encontro da Igreja Quadrangular, Garotinho foi ovacionado. À noite ele ainda foi a Ipatinga, no Vale do Aço, onde participaria de um show para evangélicos.

Na Igreja Quadrangular, apesar de ter sido convidado para falar de questões relacionadas às dificuldades das famílias e sobre religião, o governador usou todo o discurso de 20 minutos para falar de política, sempre citando passagens bíblicas. Disse que foi acusado de tentar criar uma ditadura de crentes, mas afirmou que uma das características dos seguidores de sua religião é pregar a tolerância.

- Quiseram condenar Maria Madalena. Disseram a Jesus que usasse a lei contra aquela prostituta, que deveria ser apedrejada. Mas Jesus disse: aquele dentre vocês que for isento de pecado que atire a primeira pedra. Os cristãos verdadeiros, que seguem Jesus, são tolerantes - disse, arrancando gritos de Aleluia!

O governador disse ainda que os adversários criticam sua candidatura por temerem que um crente seja presidente e por ele dizer sempre que Jesus é o senhor de sua vida.

- Por que isso, se somos um país de maioria cristã que já elegeu até um ateu? - perguntou, numa referência ao ateísmo atribuído ao presidente Fernando Henrique.

"Paulo não negou o nome de Deus"

Para os evangélicos, Garotinho disse ainda que seus problemas aumentaram depois que cresceu nas pesquisas eleitorais. O governador disse que os adversários pensam que o estão prejudicando, mas que "nunca o nome de Deus foi tão repetido", o que disse considerar uma vantagem. Disse que vai enfrentar "corajosamente as injúrias", como ocorreu com o apóstolo Paulo:

- Paulo foi preso, chicoteado e não negou o nome de Deus.

Ao ser perguntado por que falara tanto de política em eventos religiosos, o candidato a presidente disse que foi convidado para dar seu testemunho e que falou o que achou melhor. Citou ainda o petista Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Pedro Malan, dizendo que os dois também falam de política nos eventos a que comparecem.

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