Igrejas vendem apoio a políticos, diz pastor
Patricia Zorzan

Publicado no Jornal Folha de São Paulo em 07/06/98

Ex-auxiliar de Macedo revela o assédio de candidatos

O apoio político de um pastor evangélico pode ser comprado por até US$ 100 mil na época das eleições. A declaração é do pastor e pré-candidato do PPB a deputado estadual Ronaldo Didini, ex-membro da Igreja Universal do Reino de Deus.

Afastado da Universal há 11 meses, Didini, que hoje atua como pastor da Assembléia de Deus Nipo-brasileira, afirma que uma dessas negociações ocorreu em 96, durante a disputa pela Prefeitura de São Paulo.

''Sei que um microcandidato pagou cerca de US$ 100 mil vivos (em dinheiro) para um pastor da Assembléia de Deus, que iria fazer a campanha dele. Não teve um voto naquela região. O candidato perdeu a eleição e o pastor está para perder a igreja dele'', declarou.

De acordo com o pré-candidato, o religioso envolvido na negociação reuniu cerca de 60 pastores com suas respectivas mulheres em um almoço em uma churrascaria.

Durante o encontro, o pastor da Assembléia de Deus teria declarado seu apoio ao político, afirmando que ele seria o seu candidato.

''Não quero falar quem é para não criar polêmica. Mas são várias as denominações que fazem isso.''

Depois de 12 anos fazendo campanhas pelos candidatos do bispo Edir Macedo _líder da Universal_, o pepebista afirma que o ''mercado negro de votos'' entre os evangélicos ocorre principalmente nas igrejas ''sem muita representatividade''.

''Há negociação financeira. Algumas lideranças recebem dinheiro para que determinados candidatos se apresentem nas igrejas. Aí ele vai lá, fala e vai embora. Na outra semana vai outro, de um partido diferente, dá dinheiro e fala. Os votos (dos fiéis) são vendidos descaradamente por falsos pastores, que cobram fortunas dos políticos'', disse.

Em sua avaliação, a venda de apoio político pelos religiosos é também reflexo do gigantismo de algumas denominações.

''A Assembléia, por exemplo, tem o problema de ser dividida em dois ministérios e de ser tão grande, que, muitas vezes, é difícil de controlar. Só na Grande São Paulo há 8.000 templos. Em um grupo tão amplo, é natural haver lobo vestido com pele de ovelha.''

O pepebista nega que acordos desse tipo tenham ocorrido durante sua permanência na Universal, mas afirma que as ofertas financeiras de candidatos eram encaminhadas ao setor ''empresarial'' da igreja.

''Infelizmente, assessores (de políticos) vinham oferecer dinheiro, mas nem os recebíamos. Quando ofereciam, levávamos para o lado empresarial. 'Se você que dar dinheiro para uma determinada empresa, conversa com o diretor da empresa tal, vai lá e negocia.' Isso é outra história. Mas nunca vi bispo receber dinheiro para apoiar candidato.''

Assessor e secretário particular do bispo Edir Macedo durante dois anos, Didini foi presidente-executivo da ABC (Associação Beneficente Cristã) _entidade filantrópica ligada à Universal_ e apresentador da Rede Record.

Segundo ele, a prática eleitoral mais comum dentro da igreja de Macedo é o voto de cabresto, quando lideranças evangélicas apóiam candidatos com o objetivo de elegê-los para ''encobrir'' suas atividades.

''Eles apresentam os candidatos para que, no futuro, eles venham a encobrir determinados erros administrativos que os líderes estejam cometendo à frente de suas denominações'', declarou.

''Esses mandatos nada mais são do que uma maneira de negociar com o governo para que esses problemas sejam encobertos.''

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