Publicado no Jornal Folha de São
Paulo em 07/06/98
Ex-auxiliar de Macedo revela o assédio
de candidatos
O apoio político de um pastor evangélico
pode ser comprado por até US$ 100 mil na época das
eleições. A declaração é do
pastor e pré-candidato do PPB a deputado estadual Ronaldo
Didini, ex-membro da Igreja Universal do Reino de Deus.
Afastado da Universal há 11 meses,
Didini, que hoje atua como pastor da Assembléia de Deus
Nipo-brasileira, afirma que uma dessas negociações
ocorreu em 96, durante a disputa pela Prefeitura de São
Paulo.
''Sei que um microcandidato pagou cerca de
US$ 100 mil vivos (em dinheiro) para um pastor da Assembléia
de Deus, que iria fazer a campanha dele. Não teve um voto
naquela região. O candidato perdeu a eleição
e o pastor está para perder a igreja dele'', declarou.
De acordo com o pré-candidato, o
religioso envolvido na negociação reuniu cerca de
60 pastores com suas respectivas mulheres em um almoço em
uma churrascaria.
Durante o encontro, o pastor da Assembléia
de Deus teria declarado seu apoio ao político, afirmando
que ele seria o seu candidato.
''Não quero falar quem é
para não criar polêmica. Mas são várias
as denominações que fazem isso.''
Depois de 12 anos fazendo campanhas pelos
candidatos do bispo Edir Macedo _líder da Universal_, o
pepebista afirma que o ''mercado negro de votos'' entre os evangélicos
ocorre principalmente nas igrejas ''sem muita
representatividade''.
''Há negociação
financeira. Algumas lideranças recebem dinheiro para que
determinados candidatos se apresentem nas igrejas. Aí ele
vai lá, fala e vai embora. Na outra semana vai outro, de
um partido diferente, dá dinheiro e fala. Os votos (dos
fiéis) são vendidos descaradamente por falsos
pastores, que cobram fortunas dos políticos'', disse.
Em sua avaliação, a venda de
apoio político pelos religiosos é também
reflexo do gigantismo de algumas denominações.
''A Assembléia, por exemplo, tem o
problema de ser dividida em dois ministérios e de ser tão
grande, que, muitas vezes, é difícil de controlar.
Só na Grande São Paulo há 8.000 templos. Em
um grupo tão amplo, é natural haver lobo vestido
com pele de ovelha.''
O pepebista nega que acordos desse tipo
tenham ocorrido durante sua permanência na Universal, mas
afirma que as ofertas financeiras de candidatos eram
encaminhadas ao setor ''empresarial'' da igreja.
''Infelizmente, assessores (de políticos)
vinham oferecer dinheiro, mas nem os recebíamos. Quando
ofereciam, levávamos para o lado empresarial. 'Se você
que dar dinheiro para uma determinada empresa, conversa com o
diretor da empresa tal, vai lá e negocia.' Isso é
outra história. Mas nunca vi bispo receber dinheiro para
apoiar candidato.''
Assessor e secretário particular do
bispo Edir Macedo durante dois anos, Didini foi
presidente-executivo da ABC (Associação
Beneficente Cristã) _entidade filantrópica ligada à
Universal_ e apresentador da Rede Record.
Segundo ele, a prática eleitoral
mais comum dentro da igreja de Macedo é o voto de
cabresto, quando lideranças evangélicas apóiam
candidatos com o objetivo de elegê-los para ''encobrir''
suas atividades.
''Eles apresentam os candidatos para que,
no futuro, eles venham a encobrir determinados erros
administrativos que os líderes estejam cometendo à
frente de suas denominações'', declarou.
''Esses mandatos nada mais são do
que uma maneira de negociar com o governo para que esses
problemas sejam encobertos.''