Quando uma longa carta chegou via
e-mail para Munawwar Mohsin, editor do Frontier Post, jornal
paquistanês de língua inglesa, ele mal leu o
primeiro parágrafo. O título lhe pareceu
suficientemente inocente para publicação
direta: "Por que muçulmanos odeiam judeus."
O Paquistão é um país
muçulmano. "Achei que se a carta fosse negativa
para todos o seria também para judeus", afirmou
Mohsin, da prisão central de Peshawar, cidade na
fronteira do Paquistão com o Afeganistão,
tentando explicar por que pôs a carta no alto da seção,
que lhe rendeu a cadeia. Segundo reportagem de Barry Bearak
[The New York Times, 19/2/01], o editor se diz viciado em
heroína e sob tratamento - daí a explicação
para o lapso. A edição pode resultar em sentença
de morte para Mohsin e seis colegas do Frontier Post,
indiciados por blasfêmia, acusação, no
país, passível de pena capital. A carta,
publicada em 29 de janeiro, foi considerada ofensa sacrílega
ao profeta Maomé e suscitou a fúria de fiéis,
que fizeram motins nas ruas e atacaram a redação.
Autoridades fecharam o jornal.
O chefe do governo militar do país,
general Pervez Musharraf, censurou o gesto publicamente, que
considerou abuso da liberdade de imprensa. O autor da carta,
que assinou sob o nome de BenDZac, retratou Maomé
como mentiroso, assassino, anti-semita, nazista e machista
com intensa libido. Todos os jornais, inclusive o Frontier
Post, não ousam publicar o nome do profeta sem
acrescentar a frase de reverência "que a paz
esteja com ele."
"Como muçulmano, eu jamais
pensaria em abusar do profeta Maomé", disse
Mohsin, jornalista de 40 anos que salta de emprego em
emprego, sempre cambaleando e entrando ou saindo de
ocasionais tratamentos contra drogas. "Eu estava com
forte síndrome de abstinência naquela noite,
sou apenas um ser humano que comete erros."
Morte de muçulmanos
no Paquistão.
Publicado no Jornal Folha São
Paulo em 01/04/2001
Pelo menos 40 pessoas morreram e mais
de 100 ficaram feridas durante tumulto ontem à noite
(31/03/2001) em um santuário muçulmano na província
de Punjab, região central do Paquistão,
informou a polícia local.
O tumulto começou quando
milhares de pessoas começaram a espremer para passar
pelo portão sagrado que dá acesso ao sepulcro
de Baba Farib Shakar Gunj, em Pak Pattan, a 180 km da
capital Lahore.
Segundo as equipes de resgate, 30 fiéis
morreram esmagados após a abertura do Behishti
Darwaza (Portão do Paraíso) à
meia-noite de ontem (31/03/2001) - horário local,
durante festividade religiosa conhecida como "Urs".
Outros feridos morreram no hospital.
Segundo funcionários do hospital, cerca de 125
pessoas ficaram feridas. Muitas das pessoas que foram
pisoteadas haviam desmaiado devido ao calor sufocante dentro
do santuário. |