A guerra de tr�s mundos
Ali Kamel

Publicado no Jornal O Globo em 04 de abril de 2004

Essa � a hist�ria de um outro mundo que vive � espera de um outro mundo. E nenhum desses dois mundos � o nosso. Por isso, para prosseguir na leitura, � preciso que o leitor se dispa de suas no��es de poss�vel e imposs�vel. Se eu fosse fazer a genealogia do terror mu�ulmano, o leitor se perderia num emaranhado de nomes de dif�cil pron�ncia. Teria de voltar aos precursores dos homens-bomba, os adeptos da seita dos assassinos, no s�culo XI, que inauguraram os ataques suicidas. Mas n�o ser� necess�rio recuar tanto. Porque a sustenta��o te�rica do terror isl�mico contempor�neo foi elaborada no s�culo XX. Dois nomes se destacam: Hassan Al-Banna e Sayyid Qutb. Conhec�-los, saber o que pensam e o que pregam, � fundamental para entender a al-Qaeda e Bin Laden. � este o prop�sito da s�rie de tr�s artigos que tem in�cio hoje. Se eu obtiver �xito, o leitor nunca mais achar� que a possibilidade de um ataque terrorista usando armas at�micas � apenas uma paran�ia. E, talvez, passe a admitir que, contra essa gente, nossa forma ideal de combate, n�s que n�o gostamos de guerras, n�o tem serventia. Porque o lema que eles usam desde 1928 - �preparem-se para a Jihad e sejam amantes da morte� - n�o � uma frase vazia.

O primeiro passo � conhecer o mundo em que eles vivem, um mundo muito pequeno, apenas a Ar�bia Saudita (e outros min�sculos pa�ses do Golfo P�rsico) e micro-sociedades nas cavernas do Afeganist�o, onde Bin Laden e seus adeptos se escondem. Nele, s� h� uma cren�a que tudo rege: Deus � �nico e, por isso, ningu�m mais pode ser cultuado, nem o profeta Maom�, nem santos. As ora��es devem ser feitas somente tendo Deus em mente e, portanto, apelar pela interse��o de algum intermedi�rio � pecado grav�ssimo (� proibido comemorar datas festivas, mesmo que seja o anivers�rio de Maom�). Deve-se viver como eles acreditam que o Alcor�o prega, observando-se estritamente a Sharia (o c�digo de leis mu�ulmano), e os costumes devem ser apenas aqueles mencionados nas Hadith (a colet�nea de ditos e feitos de Maom� e seus companheiros). A m�sica, a dan�a, o �lcool e o fumo est�o banidos e, �s mulheres, � imposta uma condi��o de segunda classe. Elas n�o podem dirigir e s� podem viajar na companhia do marido ou de algum parente masculino de primeiro grau. Os homens s�o obrigados a fazer as cinco ora��es, e, �s sextas, devem comparecer �s mesquitas, sob pena de para l� serem levados sob vara. E as puni��es f�sicas est�o em pleno vigor: ad�lteros t�m de ser apedrejados, ladr�es devem ter o bra�o amputado, e a pena de morte deve ser executada em lugares p�blicos. Se obrigado a viver no Ocidente ou em pa�ses mu�ulmanos mais liberais (a maioria), o fan�tico leva esse mundo em sua cabe�a para onde for. E reza todos os dias para n�o se contaminar com a impureza que o cerca.

O mundo que eles querem � parecido com aquele descrito acima, mas com algumas cren�as a mais e algumas liberdades a menos. Se, para n�s, a liberdade � o direito mais sagrado, para eles a submiss�o a Deus � o dever mais absoluto. Como Deus � o criador de todas as coisas, tudo a Ele pertence e somente Ele pode ser o soberano de todos os homens. S� ele pode ser adorado, s� ele deve ser obedecido. � � primeira vista uma cren�a que muitas religi�es compartilham, mas, aqui, ela ganha dimens�es totalizantes. Como Deus j� revelou as suas leis e j� anunciou que seu �ltimo profeta foi Maom�, n�o abrindo assim possibilidade para um novo per�odo de revela��es, nenhuma lei feita pelo homem pode ser respeitada, sob pena de incorrer no pecado da Shirk (adorar outro deus ou associar Deus a outro deus, porque respeitar outra lei que n�o a de Deus � o mesmo que reconhecer que h� outro soberano). Um mu�ulmano n�o tem nenhuma nacionalidade, sen�o a sua cren�a. Votar, portanto, � tamb�m um ato de Shirk, porque n�o � poss�vel escolher um soberano - este � Deus. A cren�a de todo democrata - todo poder emana do povo - � Shirk, porque todo poder emana apenas de Deus. O mundo hoje se encontra no estado de Jahiliyyah, a completa ignor�ncia que reinava antes da revela��o do Alcor�o. Depois dos primeiros anos ap�s Maom�, inova��es de todo tipo teriam desvirtuado o Islamismo de tal forma que a Jahiliyyah tomou conta de todos novamente. Mesmo os mu�ulmanos que se acreditam mu�ulmanos s�o Jahilis, porque n�o seguem a religi�o com pureza. A luta �, portanto, fazer o Islamismo vencer em todo o mundo, porque a mensagem do Alcor�o � universal. � obriga��o de todo mu�ulmano se engajar nessa luta, em escala mundial, at� que a lei de Deus esteja implantada em todo o planeta. O mundo que eles querem � esse: todo ele isl�mico, sem exce��o. � um mandamento de Deus.

Chamar estes fan�ticos de fundamentalistas � uma imprecis�o, porque d� a entender que eles advogam a volta da religi�o aos seus fundamentos, com base numa leitura literal do Alcor�o. Eu mesmo j� disse mais de uma vez que a leitura que eles fazem do Alcor�o � literal, mas usei a defini��o, consagrada pela m�dia, apenas para me desviar de uma discuss�o mais aprofundada. Porque o termo �fundamentalismo� chegou ao Islamismo por empr�stimo. Os estudiosos e jornalistas aplicaram ao Islamismo o mesmo r�tulo que j� havia sido dado aos movimentos fundamentalistas crist�os do in�cio do s�culo passado: protestantes ultraconservadores propunham uma releitura literal da B�blia a que todos os crist�os deveriam se submeter. N�o � o caso dos fan�ticos do Isl�. Embora gostem de que pensem que eles t�m uma leitura literal do Alcor�o, o que os fan�ticos na verdade fazem � algo bem diverso: uma �interpreta��o� radical do que est� no livro sagrado dos mu�ulmanos. O Alcor�o, com uma linguagem ultrametaf�rica, presta-se bem mais a interpreta��es do que a leituras literais. Da mesma forma, as Hadith (os ditos e os feitos do profeta) s�o tantas que se costuma dizer que, para cada exemplo mandando fazer tal coisa, � poss�vel achar outro mandando fazer o seu contr�rio. O que os fan�ticos fazem � escolher, entre as Hadith, aquelas que mais se prestam � sua interpreta��o e, depois, dizer que elas s�o as �nicas. Para venc�-los, � preciso saber como surgiram, como se multiplicaram, quem s�o os seus mentores. � uma viagem necess�ria.

O in�cio de tudo � o ano de 1928, com a cria��o da Irmandade Mu�ulmana. Quando Hassan al-Banna a criou, aos 22 anos, ele j� n�o era mais aquele filho de um relojoeiro pobre do norte do Egito, mas um jovem e respeitado professor, formado pela tradicional Universidade de Al-Azhar, a mais prestigiada do pa�s. Al-Banna, por�m, j� tinha sido feito ref�m de uma corrente de pensamento dentro do Isl� que, ao longo dos s�culos, sempre ressurgiu em pa�ses mu�ulmanos. Trata-se de um desejo ardente de volta ao passado, a um idealizado estado de pureza que, supostamente, teria existido no tempo do Profeta Maom�. No s�culo XIII, o l�der religioso Ibn Tayniyya j� reclamava de que o Isl� havia se corrompido com inova��es de todo tipo e que era preciso voltar a pratic�-lo tal como no tempo do Profeta. No s�culo XVIII, Al-Wahhab, com o mesmo tipo de prega��o, varreu toda a regi�o da Ar�bia, praguejando contra tudo o que ele considerava estranho ao Isl� original. Foi t�o influente, que, quase tr�s s�culos depois, a seita que ele fundou � a religi�o dominante na Ar�bia Saudita. T�o dominante que sequer se apresenta como seita: eles se dizem o verdadeiro Isl�. Os sauditas dizem que somente detratores os chamam de wahhabistas, numa refer�ncia ao fundador, justamente para irrit�-los, j� que, tendo como norma cultuar apenas Deus, insinuar que eles cultuam al-Wahhab seria dizer que eles pr�prios comentem o pecado da Shirk, que atribuem a todos os outros mu�ulmanos. Eles, no m�ximo, se permitem chamar de unit�rios (uma refer�ncia � adora��o do Deus �nico) ou, tamb�m, salafis, que vem do termo �rabe Salafi, uma palavra que se refere �s primeiras gera��es de mu�ulmanos, os pioneiros do tempo do Profeta (hoje, os salafis seriam aqueles que vivem como os pioneiros viviam). Essa vis�o do Isl�, restrita a uma pequena parte do mundo, �, no entanto, a mais conhecida, porque, com o dinheiro do petr�leo, � a Ar�bia Saudita quem mais financia a abertura de mesquitas e escolas mu�ulmanas em todo o mundo: nos Estados Unidos, por exemplo, 80% das mesquitas s�o sauditas e, portanto, wahhabistas. O que o Ocidente acredita ser o Islamismo � apenas a pequena parte dele, a mais conservadora, a mais fechada, a mais repressora.

Em rela��o aos wahhabistas, qual ent�o a novidade de Hassan al-Banna, ao criar a Irmandade Mu�ulmana? Ele transp�s a prega��o, do terreno do religioso, para o campo pol�tico, e al�m do que advogavam os wahhabistas, ele postulou que a divis�o do mundo mu�ulmano em na��es-estado era essencialmente antiisl�mica. Al-Banna queria a reuni�o de todos os mu�ulmanos numa s� na��o, sob o comando de um novo califa. Para ele, a mis�ria e os males que afligiam os pa�ses isl�micos do in�cio do s�culo passado, e ainda afligem, eram conseq��ncias diretas dos desvios que o Isl� sofreu ao longo dos anos. Ele costumava dizer de si, imodesto: �Sou um altru�sta que, tendo desvendado o segredo sobre a exist�ncia, declaro ao mundo: Minhas ora��es, meu sacrif�cio, meu modo de vida s�o totalmente devotados a Deus. Ele � �nico. Isso me foi ordenado dizer e eu sou o primeiro dos mu�ulmanos.� Mas Al-Banna advertia: �O Isl� � f� e devo��o, � um pa�s e � cidadania, � uma religi�o e um Estado, � espiritualidade e trabalho duro, � o Alcor�o e a espada.� A Irmandade Mu�ulmana foi um sucesso imediato entre o povo pobre do Egito: seus membros se multiplicavam ao longo dos anos. No in�cio, Al-Banna assim classificava o movimento por ele fundado: �A Irmandade tem uma mensagem Salafi, segue o caminho dos sunitas (em oposi��o aos xiitas), � uma organiza��o pol�tica, um grupo atl�tico, uma uni�o cient�fica e cultural, um empreendimento econ�mico e uma id�ia social.� A Irmandade era tudo.

O livro mais popular de Al-Banna � tamb�m o mais curto: �Carta a um estudante mu�ulmano�, escrito em 1935, no qual ele ensina como um mu�ulmano deve se comportar no exterior. H� uma lista de obriga��es duras, estritas, severas, mas o que mais sobressai � a vis�o que ele tem do Ocidente: uma regi�o engolida pelo pecado. �Todos os prazeres trazidos pela civiliza��o contempor�nea n�o resultar�o em nada, sen�o dor. Uma dor que vai superar seus atrativos e remover a sua do�ura. Portanto, evite os aspectos mundanos desse povo; n�o deixe que eles tenham poder sobre voc� e o enganem.� Em 1934, j� havia 50 filiais da Irmandade em todo o Egito. Em 1939, passou a atuar como grupo pol�tico organizado e, depois de 1945, sofreu a sua mudan�a mais radical: aderiu � viol�ncia e ao terror, praticando assassinatos pol�ticos com o objetivo de derrubar a monarquia eg�pcia. A Irmandade j� tinha ent�o duas mil filiais, 500 mil militantes e o dobro de simpatizantes: eles abriam escolas, mesquitas, hospitais, f�bricas. Dizia-se que a Irmandade era um Estado dentro de um Estado. A mudan�a radical foi poss�vel porque Al-Banna foi quem primeiro modificou o conceito de Jihad, antes sempre definida de duas maneiras: uma �guerra� interna que o crente deve travar dentro de si para se manter no reto caminho e uma guerra defensiva propriamente dita, em caso de ataques de infi�is contra uma na��o mu�ulmana. Para Al-Banna, Jihad passou a ser a guerra que o mu�ulmano verdadeiro tem obriga��o de travar para reconverter o mundo mu�ulmano ao islamismo puro, mesmo que, para isso, tenha de pagar com a pr�pria vida.

No livro, �A mensagem dos ensinamentos�, Al-Banna diz: �Por sacrif�cio eu entendo dar-se totalmente, sua riqueza, seu tempo, sua energia e tudo o mais pela causa do Isl�. N�o h� Jihad sem sacrif�cio, e n�o h� sacrif�cio sem uma recompensa generosa por parte de Deus. Quem evita o sacrif�cio s�o pecadores. Por isso, queridos irm�os, voc�s entendem o nosso slogan: a morte na luta por Deus � a nossa grande esperan�a.� No mesmo livro, Al-Banna define os cinco objetivos da Irmandade: �Deus � o nosso objetivo, o Mensageiro � o nosso exemplo, o Alcor�o � a nossa constitui��o, a Jihad � o nosso m�todo, e o mart�rio � o nosso desejo.� Em 1948, a Irmandade foi posta na clandestinidade, seus bens foram confiscados e, no ano seguinte, Al-Banna, com apenas 43 anos, foi assassinado por agentes secretos do governo real eg�pcio, tornando-se um m�rtir para os fan�ticos e um exemplo a ser seguido. O assassinato n�o teve o efeito que o governo eg�pcio imaginou: a Irmandade tinha milhares de simpatizantes, espalhados por todo o pa�s, e eles j� pareciam ter absorvido a mensagem de Al-Banna, como a que ele exp�s no livro �A ind�stria da morte�: �Para uma na��o que aperfei�oa a ind�stria da morte e sabe como morrer de forma nobre, Deus d� uma vida de orgulho nesse mundo e eterna gra�a no mundo que est� por vir.� Naqueles dias, militantes costumavam marchar pelas ruas do Cairo, gritando: �N�s n�o temos medo da morte; n�s a desejamos.� A frase com que a al-Qaeda costuma terminar suas declara��es - voc�s amam a vida; n�s, a morte - vem da�.

Em 1950, o grupo voltou � legalidade e recebeu o apoio do movimento nacionalista pan-arabista do coronel Gamal Abdel Nasser, que tamb�m tentava derrubar a monarquia. Em 54, por�m, quando Nasser assumiu o poder, a Irmandade exigiu que a Sharia se tornasse a lei no pa�s. N�o foi atendida e foi posta novamente na ilegalidade. No mesmo ano, seus adeptos tentaram matar Nasser, que, numa rea��o furiosa, prendeu quatro mil militantes e cometeu o seu maior erro: expulsou do pa�s outros milhares de simpatizantes, que seguiram para S�ria, Ar�bia Saudita, Jord�nia e L�bano, internacionalizando o movimento. Na Ar�bia Saudita, eles foram abrigados com entusiasmo, porque eram salafis, e receberam dinheiro do rei para que criassem a sua pr�pria universidade em Medina. O impacto disso na vida de Bin Laden ser� grande. Em todos os pa�ses para onde fugiram, foram abertas se��es da Irmandade Mu�ulmana. O Egito era ent�o um centro para onde iam estudantes de todos os pa�ses �rabes e, por isso, jovens de todos os pa�ses da regi�o conheciam j� os ideais da Irmandade: com l�deres perto, abrir se��es internacionais foi bem mais f�cil.

Amanh�, na continua��o desse artigo, mostrarei como Sayyid Qutb transforma uma Jihad para reconverter o mundo mu�ulmano ao Islamismo numa Jihad global, visando ao mundo inteiro. Os leitores ter�o tamb�m uma id�ia sobre o estrago que uma mulher b�bada e seminua pode fazer na cabe�a de um fan�tico. E como o Ocidente inteiro pode sofrer por isso.

A ORIGEM DO TERROR ISL�MICO

Publicado em 05/04/2004

A mulher seminua e o �dio ao Ocidente

Ontem, tentei mostrar como a Irmandade Mu�ulmana, criada em 1928 por Hassan Al-Banna, lan�ou as bases te�ricas do terrorismo isl�mico contempor�neo, ao estabelecer que � obriga��o de todo mu�ulmano lutar, sem medo da morte, para que o islamismo volte a um idealizado estado de pureza dos tempos do Profeta. Com o slogan �a morte na luta por Deus � a nossa grande esperan�a�, o objetivo do grupo era reviver o califado, com a reuni�o de todas as na��es mu�ulmanas reconvertidas. Apesar da repulsa ao Ocidente, a Irmandade acenava, por�m, at� o fim da d�cada de 1940, com uma esp�cie de compromisso. No manifesto �Na dire��o da luz�, Al-Banna disse: �As pessoas imaginam que a nossa maneira mu�ulmana de viver nos desconecta do Ocidente. E isso s� serve para perturbar nossas rela��es pol�ticas com eles justamente agora que est�vamos para estabelec�-las. Nada � mais fantasioso. Porque os porta-vozes do Ocidente sempre disseram que todas as na��es s�o livres para estabelecer seus pr�prios caminhos, desde que n�o infrinjam os direitos dos outros.� Mas tudo isso iria mudar ainda na d�cada de 50, com a apari��o de Sayyid Qutb, principal ide�logo da Irmandade depois do assassinato de Al-Banna pelos agentes secretos do governo eg�pcio. Na verdade � Qutb, e n�o Al-Banna, quem � hoje o principal mentor dos atuais terroristas. A hist�ria de Sayyid Qutb � a de um convertido. E a convers�o ao radicalismo mu�ulmano se deve em grande parte aos Estados Unidos. Eg�pcio como Al-Banna, Qutb passou a juventude entre a intelectualidade do Cairo, ambicionando uma carreira de escritor. Embora sempre muito religioso, demorou a ligar-se � Irmandade. Formou-se em educa��o e atuou como inspetor de escolas. Mais tarde, j� trabalhando para o Minist�rio da Educa��o, foi mandado, em 1948, para os EUA, a fim de se inteirar dos m�todos educacionais e dos curr�culos americanos. A id�ia do governo eg�pcio era abrir-lhe os horizontes, mas o resultado foi tr�gico. Ele passou dois anos e meio nos EUA: Nova York, Washington, Colorado e Calif�rnia. A experi�ncia certamente mudou a vida dele, mas teve uma influ�ncia ainda maior sobre as nossas. J� na viagem de navio, de Alexandria a Nova York, ele enfrentou a situa��o mais embara�osa de sua vida: � porta de sua cabine, uma mulher seminua e b�bada tentou seduzi-lo. Ele n�o era nenhum garoto, tinha j� 42 anos de idade, mas o efeito daquele encontro o marcou para o resto de seus dias (ele permaneceu solteiro at� a morte). Sem nenhuma base na realidade, anos mais tarde ele disse ao seu bi�grafo Abd al-Fattah Khalidi que a mulher seria uma agente americana, cuja miss�o era corromp�-lo. John Calvert, professor de hist�ria da Creighton University, em Nebrasca, estudou a passagem de Qutb pelos EUA em seu artigo �O mundo � um menino sem modos: a experi�ncia americana de Sayyid Qutb� (o t�tulo � uma refer�ncia a um curto ensaio de mesmo nome que Qutb escreveu nos EUA, dizendo que o mundo era um menino sem modos por ter ignorado os dons do esp�rito que o Isl� legou � Humanidade). O pr�prio Qutb escreveu artigos e cartas sobre sua experi�ncia americana, anos mais tarde reunidos por seu bi�grafo em um volume chamado �Am�rica por dentro: atrav�s dos olhos de Qutb�. Qutb ficou pouco tempo em Nova York, mas o suficiente para detest�-la, classificando-a como uma grande oficina barulhenta e estrepitosa. Os nova-iorquinos tinham, segundo ele, a mesma sorte dos pombos que infestavam a cidade, �condenados a viver uma vida sem gra�a, entre engarrafamentos e os empurr�es�. Logo, ele estava em Washington, no Wilson Teacher's College, da Columbia University, tentando melhorar o seu ingl�s. Mas a repulsa por tudo o que era americano s� aumentou. Qutb desabafou em carta a um amigo, segundo conta Calvert: �Eu preciso muito de algu�m com quem possa conversar sobre outros assuntos, que n�o apenas dinheiro, estrelas de cinema e modelos de carro!� Na mesma carta, ele disse que os americanos eram totalmente desinteressados da dimens�o espiritual da vida e tinham p�ssimo gosto. Como prova da degenera��o americana, Qutb descreveu um rapaz que estava a uma mesa de dist�ncia no mesmo restaurante que ele, cujo corpo era marcado por enormes tatuagens representando um elefante e um leopardo. �Este � o gosto dos americanos�, disse, espantado.

Mas �quela altura, Qutb ainda n�o tinha visto tudo. Ele se mudou pouco tempo depois para Greeley, uma cidade do Colorado, onde foi continuar seus estudos de ingl�s. J� chocado com o �american way of life�, Qutb s� tinha olhos para ver degenera��o e v�cios nas mais singelas manifesta��es de vida. Como numa divertida tarde durante uma festa de igreja. Certo dia, Qutb visitou uma delas e viu casais dan�ando, � meia luz, na presen�a das fam�lias e do pastor, que botava na vitrola a m�sica �Baby, it is cold outside�. Mais tarde, quando descreveu a cena, Qutb a pintou como a vis�o de um bacanal: �A atmosfera era de sedu��o e a m�sica servia para criar um efeito rom�ntico e on�rico. A dan�a intensificou-se, o sal�o fervilhava em pernas, bra�os enla�avam bra�os, l�bios tocavam l�bios, peitos tocavam peitos, enfim, uma atmosfera cheia de sedu��o.� At� o h�bito de dedicar o fim de semana para aparar a grama era visto por Qutb como sintoma da preocupa��o americana com o externo, o material, o f�til, e prova do ego�smo dos indiv�duos. Detalhe: Greeley era uma das cidades mais conservadoras do Colorado, fundada em 1870 como uma experi�ncia ut�pica de puritanos protestantes, que cultivavam valores r�gidos (quando Qutb l� esteve, a venda de �lcool era proibida). Greeley � conservadora at� hoje, mas, para os olhos de Qutb, ela era a porta para o inferno. Quando voltou para o Egito, descreveu o que viu como o reino do pecado e da decad�ncia: para ele, as igrejas eram centro de lazer e playground sexual, a liberdade das mulheres era, mais que excessiva, um desrespeito aos valores mais sagrados de Deus, e os costumes, a vida social e pol�tica dos ocidentais, um atentado contra as leis divinas. Antes da visita aos EUA, Qutb era religioso e conservador, certamente. Mas a experi�ncia americana o transformou num radical. Em 1951, aderiu � Irmandade Mu�ulmana e passou a ser o seu principal te�rico. Em pouco tempo estaria preso. Passou mais de dez anos na cadeia, foi libertado por um breve per�odo, mas, mesmo sabendo que o risco de voltar � cadeia era grande, decidiu n�o emigrar. Quando publicou �Sinaliza��es na estrada�, sua obra mais conhecida e radical, considerada a b�blia do terror isl�mico, foi preso por pregar a derrubada do governo, por conspira��o e por trai��o. Julgado, foi enforcado em 1966. Durante todo o per�odo em que esteve na cadeia, sofreu toda sorte de tortura, mas n�o parou de escrever. O resultado � uma obra monumental, 30 volumes que ele chamou de �� sombra do Alcor�o�, uma minuciosa exegese do livro sagrado dos mu�ulmanos. Ele escreveu outros 24 livros, que se caracterizam por impor demandas implac�veis aos crentes que se quiserem crentes. Mas o �dio ao Ocidente ser� a grande marca de sua obra. A viagem aos EUA certamente abriu-lhe os horizontes, mas n�o na dire��o que a monarquia eg�pcia imaginava. Como Al-Banna, Qutb n�o tinha d�vidas existenciais. � eterna pergunta � quem somos, de onde viemos e para onde vamos � ele tinha uma resposta simples: �O Alcor�o explicou para o homem o segredo de sua exist�ncia e o segredo do universo que o cerca. Ele revelou quem o homem �, de onde ele vem, com que prop�sito e para onde vai ao fim da vida.� E, como Al-Banna, Qutb acreditava que at� mesmo o mundo mu�ulmano encontrava-se no estado de Jahilliyyah, a ignor�ncia pr�-isl�mica.

Apesar das semelhan�as, Qutb superou Al-Banna. Ele � o respons�vel pela principal transforma��o do movimento radical isl�mico: se antes a luta era para devolver ao Isl� a sua forma original e reunir todos os mu�ulmanos num s� califado, depois de Qutb a meta passou a ser a convers�o de todo o mundo ao islamismo, sem exce��o. � Qutb quem lan�a as bases para uma Jihad mundial, hoje principal objetivo da al-Qaeda e de Bin Laden. Para Qutb, a luta para livrar as terras mu�ulmanas de governos corruptos vinha se mostrando infrut�fera porque n�o se percebia, at� ali, que o Ocidente, com sua influ�ncia diab�lica (o que n�o faz uma americana b�bada!), era o grande entrave: era preciso tamb�m convert�-lo. Para ele, o homem quis tomar o lugar de Deus, tanto nos pa�ses ditos mu�ulmanos como nos ocidentais. �A rebeli�o contra Deus transferiu ao homem o maior atributo de Deus, a soberania sobre todas as coisas. E fez alguns homens senhores de outros. Somente num sistema isl�mico de vida, todos os homens se tornam livres da servid�o de alguns homens a outros homens e se devotam � submiss�o do Deus �nico, recebendo Dele orienta��o e se curvando diante Dele.� Qutb dir� que � preciso criar antes um Estado mu�ulmano modelo, que d� o exemplo da virtude isl�mica ao mundo. E, logo depois, empreender a luta para que o Isl� purificado ven�a, indistintamente, no Ocidente e nas terras mu�ulmanas. �A beleza do nosso sistema n�o pode ser apreciada a menos que ele tome uma forma concreta. Por isso, � essencial que uma comunidade ordene a sua vida de acordo com ele e o mostre ao mundo. Para que isso aconte�a, � preciso que o movimento para o renascer do Islamismo seja iniciado em algum pa�s isl�mico�, pregava Qutb em �Sinaliza��es da estrada�, para logo em seguida descrever os passos seguintes: �Essa religi�o � realmente uma declara��o universal para libertar o homem da servid�o a outros homens e da servid�o a seus pr�prios desejos. � uma declara��o de que a soberania pertence apenas a Deus e que Ele � o senhor dos mundos. � um desafio a todos os tipos e formas de sistemas baseados na soberania do homem. (...) Em resumo, � preciso proclamar a autoridade e a soberania de Deus para eliminar toda forma humana de governo e anunciar o mando Daquele que sustenta o Universo sobre a Terra inteira.� E, para que n�o pairasse d�vidas sobre os seus m�todos, Qutb deixava bem claro que a meta de expandir o Isl� s� seria obtida com o uso da for�a. �O estabelecimento do dom�nio de Deus sobre a Terra n�o pode ser atingido apenas com prega��o. Aqueles que usurparam o poder de Deus n�o desistir�o do seu poder meramente atrav�s de prega��o. Se assim fosse, a tarefa de estabelecer a religi�o de Deus no mundo teria sido muito f�cil para os profetas de Deus. E isso � contr�rio a toda evid�ncia da hist�ria dos profetas e da hist�ria das lutas da verdadeira religi�o em todas as gera��es.� Lendo essas declara��es conjugadas, � imposs�vel n�o lembrar a estrat�gia usada pela al-Qaeda: primeiro, estabeleceu o que considerava ser um Estado mu�ulmano perfeito no Afeganist�o e, depois, t�o logo p�de, declarou guerra ao mundo ocidental com os atentados �s Torres G�meas e ao Pent�gono.

Outro ponto na obra de Qutb faz lembrar a al-Qaeda e o 11 de Setembro. Diferentemente de Al-Banna, para quem todo contato com o Ocidente devia ser evitado, Qutb enxergava a necessidade de que os mu�ulmanos aprendessem com n�o-mu�ulmanos toda sorte de t�cnicas e ensinamentos. �Um mu�ulmano pode ir a um n�o-mu�ulmano para aprender ci�ncias abstratas como qu�mica, f�sica, biologia, astronomia, medicina, t�cnicas em produ��o, agricultura, tecnologia, artes militares. A raz�o fundamental � que quando a comunidade mu�ulmana pura vier a existir, ela ter� de ter especialistas em todos esses campos em abund�ncia, para n�o incorrer em pecado�, dizia Qutb. Isso talvez explique por que, durante anos, os participantes do 11 de Setembro estudaram na Europa e nos EUA (e foi em escolas americanas que eles aprenderam a pilotar avi�es). Para justificar as suas teses, Qutb teve, no entanto, de dar nova interpreta��o a antigos mandamentos do Alcor�o. Somente uma interpreta��o bastante heterodoxa poderia justificar o �dio que ele prega aos judeus e aos crist�os, tradicionalmente vistos por mu�ulmanos como �homens do Livro�, ou seja, como parte da mesma tradi��o religiosa, filhos de Abra�o e, portanto, merecedores de respeito. �O Profeta, que a paz esteja com ele, definiu claramente, de acordo com a Sharia, que �obedecer� � �cultuar�. Tomando esse sentido do verbo �cultuar�, quando judeus e crist�os n�o obedecem, eles se igualam �queles que associam outros a Deus�, diz Qtub, pondo ent�o judeus e crist�os no mesmo n�vel que os id�latras e polite�stas, a quem o Alcor�o manda punir com a morte. Vem da�, tamb�m, a ret�rica de Bin Laden e da al-Qaeda sobre os novos �cruzados�, o �dio a Israel e aos judeus de todo o mundo, e a luta que deve ser empreendida contra eles.

Mas a heterodoxia de Qutb, travestida de ultraortodoxia, deu outros passos. Como fez Qutb para conciliar sua interpreta��o segundo a qual impor o Islamismo ao mundo � um mandamento de Deus e a clara e reiterada proibi��o do Alcor�o de converter qualquer pessoa � for�a ao Islamismo? Qutb disse que os estudiosos do Alcor�o sempre erraram ao considerarem as duas coisas inconcili�veis. Para ele, a mensagem de Deus � t�o clara, o Islamismo � t�o obviamente uma forma de vida superior, que os indiv�duos se converter�o a ele t�o logo os governos de todo o mundo deixem de impedir que os seres humanos enxerguem isso. �Quando o Isl� libertar as pessoas de toda press�o pol�tica e apresentar a sua mensagem espiritual, apelando para a raz�o, ele dar� a todas elas a liberdade para aceitar ou n�o as suas cren�as�, dizia Qutb. Mas ele pr�prio advertia: �Entretanto, essa liberdade n�o significa que eles possam fazer de seus desejos seus deuses ou que eles possam escolher continuar na servid�o a outros seres humanos. Mas, num sistema isl�mico, h� espa�o para que todo tipo de gente siga suas cren�as, desde que obede�am �s leis que ser�o baseadas na autoridade divina.� Algo semelhante acontece hoje na Ar�bia Saudita, onde a liberdade de religi�o � bastante restrita. N�o � poss�vel, para nenhuma outra religi�o, fazer cultos em p�blico, fazer proselitismo religioso, tentar conquistar adeptos: o crente de outra religi�o s� pode rezar em casa e, mesmo assim, sem a presen�a de pessoas de fora do meio familiar, porque, do contr�rio, arrisca-se a ser acusado de desobedi�ncia, uma vez que nunca se sabe ao certo a partir de que n�mero de participantes um culto, mesmo realizado privadamente, torna-se p�blico.

Amanh�, no �ltimo artigo, como Qutb destr�i a esperan�a de muitos ocidentais que acreditam na estrat�gia de deixar o Isl� em paz para que ele nos deixe em paz tamb�m. E como Bin Laden se torna herdeiro de Qutb e p�e em pr�tica as suas id�ias. E, por �ltimo, a amea�a: por que pode ser evidente que n�o � apenas um blefe a afirma��o de Bin Laden de que j� disp�e de capacidade nuclear.

A ORIGEM DO TERROR ISL�MICO

Publicado em 06/04/2004

A capacidade nuclear de Bin Laden

Ontem, expus as id�ias de Sayyid Qutb, que radicalizou a heran�a do fundador da Irmandade Mu�ulmana, Hassan al-Banna, estabelecendo a necessidade de uma Jihad global para a convers�o do mundo ao Isl�. Qutb confirmou a no��o de Al-Banna de que a Jihad n�o � apenas defensiva, mas ampliou-a, deixando para tr�s a no��o de que o terror isl�mico deixaria o Ocidente em paz se o Ocidente deixasse em paz o mundo mu�ulmano. Em seu livro �Sinaliza��es na estrada�, Qutb diz: �Pode acontecer que os inimigos do Isl� considerem conveniente n�o tomar nenhuma medida contra o Isl�, se o Isl� os deixar sozinhos em suas fronteiras geogr�ficas para que continuem o dom�nio de alguns homens sobre outros homens, e se o Isl� n�o estender a eles a sua declara��o de liberdade universal. Mas o Isl� n�o pode concordar com isso.� E complementa: �De fato, o Isl� tem o direito de tomar a iniciativa. Ele n�o � uma heran�a de nenhuma ra�a particular ou pa�s. O Isl� � a religi�o de Deus e � para o mundo inteiro. Ele tem o direito de destruir todos os obst�culos na forma de institui��es e tradi��es que limitem a liberdade de escolha dos homens.� Foi o que fez a al-Qaeda ao atacar as Torres G�meas e o Pent�gono. Os terroristas tomaram a iniciativa.

A morte de Qutb em 1966, enforcado por Nasser depois de mais de dez anos na pris�o, transformou-o num m�rtir. Seus adeptos foram perseguidos implacavelmente pelos ditadores �rabes laicos da d�cada de 60 e 70. Mas o Ocidente, ignorante dos reais prop�sitos dos radicais, chegou a enxergar neles um ant�doto contra o comunismo no mundo �rabe. A Ar�bia Saudita, como se estivesse olhando num espelho, viu neles apenas ultraconservadores, e os incentivou. � conhecido o apoio que os radicais receberam na luta contra os sovi�ticos no Afeganist�o. Faltou leitura. Qutb, j� em 1965 em seu �Sinaliza��es�, recusava ambos os sistemas: �O mundo ocidental tem consci�ncia de que a civiliza��o ocidental � incapaz de apresentar valores para guiar a Humanidade. (...) O marxismo foi derrotado no plano do pensamento, n�o h� nenhuma na��o do mundo que seja de fato marxista. A R�ssia, que � a l�der dos pa�ses comunistas, sofre de desabastecimento de comida.� De qualquer forma, pa�ses como o Egito, que se aproximou dos Estados Unidos depois da morte de Nasser, relaxaram a guarda contra os remanescentes do grupo, ent�o em decl�nio. E arrependeram-se amargamente. No Egito, os adeptos da Irmandade foram todos novamente libertados por Anwar Sadat. Depois do acordo de paz com Israel, em 1979, a Irmandade tomou novo f�lego, promoveu a��es contra o governo, que prendeu dois mil militantes. Para tentar acalmar os �nimos, Sadat prometeu estabelecer a Sharia no pa�s, mas n�o o fez. Em 1981, fan�ticos mataram Sadat, num de seus feitos mais ousados. Para justificar o crime, os quatro membros da Jihad Isl�mica, um grupo que nasceu da Irmandade, citaram os estudos de Qutb sobre o religioso do s�culo XIII Ibn Taymiyya, que pregava a purifica��o do Isl�. Segundo Qutb, Taymiyya teria apoiado o sult�o do Egito na guerra contra os mu�ulmanos mong�is do Ir�, porque, �apesar de se dizerem mu�ulmanos, eles n�o seguem absolutamente todas as regras da religi�o e, por isso, podem ser considerados pag�os, contra quem a guerra � leg�tima.�

O assassinato de Sadat teve repercuss�es negativas para a Irmandade Mu�ulmana em todo o mundo �rabe. Em 1982, o ent�o ditador s�rio, Hafez Assad, sufocou uma revolta liderada pela Irmandade na cidade de Hama, matando cerca de dez mil pessoas. A Irmandade continua ativa em todos os pa�ses �rabes, mas deu origem a muitas dissid�ncias: quase todos os grupos terroristas v�m dela. Al�m da Jihad Isl�mica, o Hamas nasceu da Irmandade � o xeque Ahmed Yassin, recentemente assassinado por Israel, foi membro do grupo durante anos. E a hist�ria da al-Qaeda � indissoci�vel da Irmandade. O primeiro grande parceiro de Bin Laden foi Abdullah Azzam, fundador da Irmandade Mu�ulmana da Palestina, que se desencantara com o laicismo de Yasser Arafat. Azzam n�o era um qualquer, mas uma das mais respeitadas autoridades em Sharia, tendo se graduado no assunto em Damasco, na S�ria e, mais tarde, obtido um PhD na Al-Azhar, do Cairo. Depois de se desencantar com a OLP, Azzam foi lecionar na Ar�bia Saudita, onde deu aulas a Bin Laden. T�o logo os sovi�ticos invadiram o Afeganist�o, Azzam mudou-se para o Paquist�o, decidido a fazer o que sempre quisera: dedicar-se de corpo e alma a uma verdadeira Jihad. Em pouco tempo, foi para o Afeganist�o ajudar a organizar a guerra dos Mujaahedeem, a partir da cria��o da MaK (Maktabu I-Khidamat, que quer dizer �escrit�rio de servi�os�), uma organiza��o destinada a recrutar guerreiros em todas as terras mu�ulmanas, trein�-los e arm�-los. No mesmo per�odo, Bin Laden, 17� filho de um bilion�rio saudita de origem iemenita, com a idade em torno de 25 anos, partiu tamb�m para o Afeganist�o, juntou-se a Azzam e logo tornou-se um dos l�deres da organiza��o, por ser um dos seus maiores financiadores. H� muita discuss�o sobre se o movimento foi financiado pela CIA e outros servi�os secretos ocidentais, mas, ao menos indiretamente, n�o h� d�vidas de que isso aconteceu. O pr�prio governo americano admite isso, mas alega que jamais negociou diretamente com Bin Laden: o dinheiro era repassado ao governo do Paquist�o, que os repassava aos diversos grupos de Mujaahedeen do Afeganist�o.

Nove anos depois, com a derrota dos sovi�ticos, Bin Laden voltou para a Ar�bia Saudita como her�i. A MaK teria treinado e doutrinado cerca de dez mil homens, que, de volta a seus pa�ses (Egito, Arg�lia, Ar�bia Saudita, Turquia), estavam prontos a organizar seus pr�prios grupos terroristas. Em 89, o parceiro de Bin Laden, Abdullah Azzam, foi morto num atentado que provocou a explos�o do carro em que viajava, no Paquist�o. Nunca se soube os motivos reais do atentado, mas diz-se que Azzam discordava do uso dos fundos da MaK na cria��o da al-Qaeda. Azzam queria que eles fossem usados integralmente na constru��o do Estado isl�mico no Afeganist�o ou na luta contra Israel. Nada ficou provado e alguns dizem que insinuar que Bin Laden tenha alguma coisa a ver com o atentado � uma cal�nia, se � que se pode usar este termo em rela��o a Bin Laden. Azzam, ligado � Irmandade Mu�ulmana no passado, n�o foi, no entanto, o introdutor de Bin Laden nos ensinamentos de Qutb. J� antes de ter aulas com ele, Bin Laden bebeu diretamente na fonte: Mohamed Qutb, irm�o do ide�logo do terror Sayyid Qutb, mudara-se para a Ar�bia Saudita na d�cada de 50, quando os adeptos da Irmandade foram perseguidos por Nasser. L�, foi aceito como professor e deu aulas a Bin Laden na d�cada de 70, antes mesmo que ele ingressasse na universidade. N�o h� d�vidas, por�m, de que Bin Laden se inspira nos ensinamentos de Qutb, embora, hoje, haja muitos outros autores (entre eles o pr�prio Azzam, que publicou muitos livros), que desenvolveram, aperfei�oaram ou at� mesmo criticaram as teorias de Qutb. � curioso ver hoje como o establishment religioso da Ar�bia Saudita tenta se distanciar de Bin Laden, com argumentos que chegam a ser engra�ados. Engra�ados, mas n�o ing�nuos ou pobres intelectualmente. Porque todos eles s�o grandes estudiosos. No site �salafipublications.com�, h� muitos artigos de eruditos, tentando entender o que se passou no reino saudita que pudesse ter dado origem a desvios como o de Bin Laden. A conclus�o � de que o reino deixou-se enganar ou foi enganado pelos membros da Irmandade que l� foram acolhidos quando perseguidos por Nasser. Acreditando que eram salafis �puros� (aqueles que acreditam que vivem o Isl� como no tempo do Profeta, sem inova��es), os sauditas, que se consideram salafis, lhes deram plena liberdade para trabalhar em escolas e universidades durante d�cadas. Somente mais tarde, quando o movimento terrorista de Bin Laden eclodiu, no in�cio dos anos 90, � que teriam descoberto que eles tra�ram o reino ao lecionar livremente os ensinamentos de Al-Banna e Qutb. Os eruditos sauditas dizem que tarde demais se deram conta de que os dois n�o eram verdadeiros salafis, mas o seu contr�rio: inovadores da religi�o! A principal inova��o, evidentemente, era pregar a derrubada de governos, especialmente do governo saudita. �Todo salafi sabe que n�o se prega a derrubada de um governante justo, quando ele erra. Um salafi aponta os erros para que o governante possa mudar�, diz um dos textos do site. Os sauditas seguem os ensinamentos de um salafi do s�culo XVIII chamado al-Wahhab, mas se ofendem quando chamados de wahhabistas (porque isso d� a entender que eles cultuam outro que n�o o Deus �nico). Mas eles pr�prios tentam ofender Bin Laden chamando-o de qutbista! Na verdade, trata-se de uma guerra para ver quem � o Isl� mais puro. Porque Bin Laden tamb�m renega o wahhabismo, e, portanto, o credo em vigor na Ar�bia Saudita, acusando-o de Shirk (adorar outro deus ou associar outro a Deus): �Eles deixaram Deus de lado para se submeter a outro senhor�, diz Bin Laden, referindo-se � doutrina de al-Wahhab.

A Ar�bia Saudita tem mesmo muito do que se lamentar, porque criou um monstro. Assim que o Iraque invadiu o Kuwait, e a Ar�bia Saudita aceitou a ajuda americana para expuls�-lo de l�, evitando, assim, a invas�o de seu pr�prio territ�rio, houve muita discuss�o. Bin Laden e muitos no reino n�o se conformavam com a ajuda de Kuffars (n�o-mu�ulmanos) no que eles consideravam uma Jihad. Se eles tinham obtido �xito, sozinhos, no Afeganist�o contra o imp�rio sovi�tico, porque n�o seriam capazes de enfrentar Saddam Hussein? Os eruditos mu�ulmanos do reino foram obrigados a divulgar estudos provando por �a� mais �b� que a tradi��o permitia tal tipo de ajuda, contanto que fosse tempor�ria. Mas Bin Laden nunca aceitou tais estudos e passou a desafiar a fam�lia real, acusando-a de n�o praticar o Isl� puro, salafi. Com a ret�rica de que tropas americanas estavam maculando as terras santas do Isl�, Bin Laden anunciou uma luta contra a fam�lia real e acabou expulso do pa�s. Seguiu primeiro para o Afeganist�o, onde passou um ano, depois mudou-se para o Sud�o, onde morou por quatro anos, totalmente livre para continuar seus neg�cios (banco, construtora, empresa de exporta��o e importa��o). Por press�o americana, acabou expulso novamente e voltou para o Afeganist�o, onde deve estar at� hoje. Em 98, ele divulgou um manifesto, dizendo: �Matar americanos e seus aliados, civis e militares, � uma obriga��o individual de todo mu�ulmano.�

E ele se mostrou capaz de tudo. Aqui no Brasil, quando queremos dizer que algu�m n�o � de fato maluco, afirmamos: �Ele � louco, mas n�o rasga dinheiro�. Bin Laden rasga: sua imensa fortuna, calculada em US$ 300 milh�es, vem sendo dilapidada desde que se lan�ou em sua Jihad contra o Ocidente. Hoje, a al-Qaeda conta com uma rede de centenas de grupos terroristas, espalhados no Oriente M�dio, na �sia, na Europa. Em novembro de 2001, um rep�rter paquistan�s disse que Bin Laden lhe havia garantido que a al-Qaeda tinha �capacidade nuclear�. Esse mesmo rep�rter, h� poucas semanas, aproveitando-se da amn�sia coletiva, repetiu a mesma hist�ria com grande sucesso (o rep�rter concedeu uma entrevista a uma TV australiana e a not�cia voltou a varrer o mundo). Poucos lhe d�o cr�dito.

Mas leiam isso. Existe um instituto em Israel dedicado a pensar o terrorismo. Chama-se The International Policy Institute for Counter-Terrorism (ICT), criado em 1996, em Herzliya. Um dos seus pesquisadores mais conceituados chama-se Yoram Schweitzer. Durante a Confer�ncia Internacional sobre Terrorismo Suicida, realizada na sede do ICT em 21 de abril de 2000, Schweitzer dissertou sobre o tema �Terrorismo suicida, desenvolvimento e caracter�sticas�. Depois de todos os dados hist�ricos, do relato das a��es mais recentes contra Israel, ele disse que o n�mero m�dio de v�timas era de nove a 13 por atentado. E, bem ao final, declarou: �O terrorismo suicida pode representar no futuro um grande potencial de risco se os terroristas fizerem opera��es combinadas com a��es espetaculares, tais como explodir avi�es ou usar armas de destrui��o em massa. Esta combina��o vai aumentar imensamente o n�mero de mortos de um simples ataque terrorista e vai ter um efeito psicol�gico terr�vel sobre o moral do p�blico. Nesse n�vel, o terrorismo suicida se constituir� numa genu�na e estrat�gica amea�a e ser�, provavelmente, enfrentada como tal.� Schweitzer disse isso um ano e cinco meses antes do 11 de Setembro, quando, vale lembrar, 19 suicidas usaram quatro avi�es para matar cerca de tr�s mil pessoas. Como ele previu, a rea��o, � altura, desencadeou uma guerra, que estamos vivendo at� hoje.

O mesmo pesquisador, quando confrontado em 2001 com a afirma��o de Bin Laden de que j� tinha capacidade nuclear, escreveu um artigo para desmenti-la (�Osama e a bomba�). Schweitzer disse que muitos ditadores investiram anos e milh�es de d�lares tentando, sem sucesso, desenvolver ou comprar armamentos nucleares. N�o seria, portanto, assim t�o f�cil para Bin Laden, isolado nas montanhas afeg�s, conseguir realizar seus desejos nucleares. Mas, tamb�m ao final do artigo, como fez em 2000, Schweitzer advertiu: �No entanto, � preciso ter uma aten��o meticulosa para a habilidade criativa de Bin Laden. Ele n�o investiu seu dinheiro em avi�es, equipamentos ofensivos ou explosivos para realizar o 11 de Setembro. Em vez disso, ele simplesmente usou as ferramentas de seus oponentes contra eles pr�prios. Tomando o controle de quatro avi�es, usando recursos m�nimos, ele teve sucesso, sendo o autor do pior ataque terrorista da hist�ria da Humanidade. A li��o deve ser clara para os encarregados da seguran�a mundo afora. Rigorosas medidas devem ser tomadas para inspecionar instala��es e materiais n�o-convencionais. N�s n�o devemos ser pegos de surpresa novamente, se Osama bin Laden tentar tirar vantagens de nossa complac�ncia ou neglig�ncia para virar nossas pr�prias armas contra n�s.� Ou seja, o pesquisador esclarece que Bin Laden j� tem capacidade nuclear: as nossas.

Eles s�o muitos, t�m uma id�ia clara sobre o que querem fazer, s�o resolutos, cultivam a certeza e j� demonstraram que sabem como agir. Al�m de tudo, �sentem� que t�m Deus ao seu lado e, por isso, amam a morte (e mais de 300 deles j� demonstraram isso nos �ltimos vinte anos). Para mim, isso seria o bastante para que o Ocidente se unisse. Por tr�s vezes no s�culo passado, o mundo que pensa, o mundo que duvida, o mundo que respeita as diferen�as, o mundo que ama a liberdade se uniu para derrotar o inimigo comum: os totalitarismos. Dessa vez, o nosso mundo ainda caminha dividido talvez porque nem todos tenham ainda percebido que o outro mundo � o totalitarismo do s�culo XXI.

ALI KAMEL � jornalista



Alcor�o numa m�o e arma na outra. Isso � o islam

Alcor�o numa m�o e a morte na outra. Isso � o islam.

Alcor�o numa m�o e arma na outra. Isso � o islam.












O �cido sulf�rico e o �lcool s�o usados para tortura de maridos que queriam castigar suas esposas infi�is, jogando este mesmo �cido no rosto delas e ainda fazem isto at� hoje, em pa�ses como a Indon�sia.

Tratamento dado as mulheres no Islam

Mul�umanos e seus presos



Indon�sios mu�ulmanos tem como palavra de ordem decaptar kafires (n�o-mul�umanos)

terrorismo




NO IR�, MATAR UMA FILHA � UM CRIME QUE CONTA COM A INDULG�NCIA DA LEI

Teer�, 24 abr de 2004 - O caso de um pai iraniano, acusado de ter assassinado a filha, de apenas cinco dias de vida, pelo simples motivo de ser uma menina e n�o um menino, trouxe � ribalta, uma vez mais, a chocante atualidade da legisla��o que, na Rep�blica isl�mica do Ir�, garante ao homem, uma esp�cie de propriedade sobre seus filhos.

O infantic�dio foi perpetrado em Kerman, no sudeste do pa�s, e ocorreu apenas poucos dias ap�s outro crime hediondo, do mesmo g�nero, que viu um homem decapitar sua filha, de nove anos, em Teer�, porque a sua exist�ncia era a �nica coisa que o impedia de se divorciar da mulher.

A lei iraniana comina a pena de morte para um homic�dio, enquanto o pai que mata um filho consegue safar-se com poucos anos de reclus�o. Isso n�o contribui _ sublinham as organiza��es de defesa dos direitos femininos _ para extirpar a praga dos �delitos de honra�, que s�o numerosos no pa�s, sobretudo nas regi�es tribais do sudoeste.

Nessa �rea � comum que uma jovem seja �eliminada� pelo pai ou um irm�o, apenas por se ter recusado a um matrim�nio combinado pela fam�lia ou porque suspeita de manter rela��es sexuais pr�-matrimoniais.

O delito que vitimou a rec�m-nascida foi denunciado pela m�e da menina. A mulher disse ainda que, durante a gravidez, quando se soube o sexo da nascitura, o marido a espancou mais de uma vez, tentando provocar-lhe um aborto. (AF)

JORDANIANO MATA IRM�, GR�VIDA DE OITO MESES, PARA "LAVAR A HONRA DA FAM�LIA"

Aman, 22 abr de 2004 -

Uma mulher gr�vida de oito meses foi assassinada a punhaladas por seu irm�o, que confessou � pol�cia que cometeu o crime para �limpar a honra da fam�lia�, publicou nesta quinta-feira, a imprensa jordaniana.

A v�tima, de 25 anos, que n�o teve o nome divulgado, recebeu mais de 20 punhaladas em diferentes partes do corpo quando estava na cozinha de sua casa acompanhada de seu irm�o, disseram fontes oficiais jordanianas citadas pela imprensa.

Uma vez cometido o crime, o homem ligou para a pol�cia e esperou que os agentes chegassem � casa, para efetuar sua pris�o.

O assassino, de quem n�o se h� nenhum tipo de informa��o, confessou � pol�cia que matou sua irm� com uma faca de cozinha �para limpar a honra da fam�lia�, acrescentaram as fontes.

Segundo as primeiras informa��es, a mo�a havia se casado h� um ano, sem o consentimento da fam�lia, com um eg�pcio, com quem vivia no pa�s deste �ltimo.

H� poucos dias, a mulher, gr�vida de oito meses, voltou para a Jord�nia para dar � luz e, quando seu irm�o soube que ela estava no pa�s, foi a sua casa e a matou.

Este ano, 50 mulheres foram assassinadas por um parente pr�ximo ou marido na Jord�nia, cujo C�digo Penal permite que os ju�zes ditem senten�as ben�volas contra aqueles que cometem �crimes de honra�. (AF)

Nova onda de viol�ncia atinge Tail�ndia ap�s "bombardeio da paz"

Publicado em 06 Dez de 2004

Fonte: http://br.news.yahoo.com//041206/5/pq4s.html

BANGCOC (Reuters) - Novos epis�dios de viol�ncia atingiram na segunda-feira o sul da Tail�ndia, regi�o majoritariamente mu�ulmana, horas depois de a For�a A�rea do pa�s ter jogado cerca de 100 milh�es de "p�ssaros da paz" de origami, em meio a um conflito que j� matou quase 500 pessoas.

A pol�cia disse que uma bomba explodiu perto de um mercado de uma cidade do sul do pa�s, ferindo ao menos um soldado.

Na noite de domingo, pouco depois de 50 avi�es da For�a A�rea tailandesa terem "bombardeado" a regi�o com p�ssaros de papel, uma bomba explodiu na Prov�ncia de Narathiwat, ferindo gravemente uma autoridade do governo e destruindo o carro em que ele estava.

A casa de um professor de Narathiwat, uma das tr�s do sul da Tail�ndia atingidas pela viol�ncia, foi queimada. Na Prov�ncia de Yala, o pr�dio de uma escola tamb�m acabou incendiado, mas sem provocar grandes preju�zos, disseram as for�as de seguran�a.

Em um outro incidente, ocorrido no domingo, dois homens armados mataram um ex-promotor da Prov�ncia de Pattani, afirmou a pol�cia.

A campanha de distribui��o das figuras de origami, lan�ada pelo primeiro-ministro Thaksin Shinawatra semanas antes da elei��o geral, chamou aten��o nesse pa�s majoritariamente budista.

V�rias pessoas, de ministros de governo a taxistas, reuniram-se em grupos para dobrar peda�os de papel no formato de p�ssaros depois de o premi� ter convocado a popula��o a participar da campanha.

Com esses esfor�os, o governo pretende dar mostras de harmonia e boa vontade na regi�o, onde uma insurg�ncia come�ou em janeiro, quando 300 fuzis de assalto foram roubados de uma base militar.

A situa��o piorou ainda mais em outubro, ap�s as For�as Armadas matarem 85 manifestantes mu�ulmanos depois de um protesto. A maior parte deles morreu asfixiada ao ser transportada em caminh�es militares.

(Por Khettiya Jittapong)

JUSTI�A ESPANHOLA CONDENA IMAME QUE ENSINA A ESPANCAR AS MULHERES SEM DEIXAR VEST�GIOS

Barcelona, 14 jan de 2004 � A Justi�a espanhola condenou a 15 meses de reclus�o, o l�der religioso mu�ulmano Mohamed Kamal Mustaf�, por incitar � viol�ncia contra as mulheres, num livro de sua autoria.

Um processo celebrado em Barcelona concluiu-se com a condena��o de Kamal Mustaf�, imame da localidade sulista de Fuengirola, sentenciando-o al�m dos 15 meses de reclus�o, a pagar uma multa de US$ 2.700 pelo delito de incita��o � viol�ncia contra as mulheres. No livro que escreveu, o imame ensinava a espancar as mulheres sem deixar vest�gios. Fontes judiciais informaram que esta foi a primeira vez na Espanha, que um caso de discrimina��o sexual foi imputado como delito, ainda que a senten�a n�o implique na pris�o do l�der religioso mu�ulmano, considerado como um dos grandes s�bios do Islamismo na Espanha.

O livro em quest�o, intitulado �A mulher no Isl� foi publicado em 2000, pela Casa do Livro �rabe, de Barcelona, e distribu�do tamb�m em outras cidades.

O imame foi denunciado em julho de 2000 pelo Conselho da Mulher, de Madri, que re�ne cerca de 80 associa��es. A querela esteve paralisada por mais de um ano e meio, em raz�o de um conflito de compet�ncia para julgar a a��o.

Em sua obra, o imame Kamal Mustaf� recomenda que as mulheres sejam surradas nos p�s e na m�os, �utilizando uma vara n�o demasiadamente grossa, para n�o deixar marcas�.

Ele observa que �os golpes n�o devem ser fortes nem muito duros porque a finalidade � fazer sofrer psicologicamente a mulher, e n�o humilh�-la nem maltrat�-la fisicamente�.

Segundo a senten�a, toda a obra �� escrita num tom de machismo obsoleto, em alguns momentos muito acentuado�, que �ofende abertamente o princ�pio de igualdade consagrado pela Constitui��o, promovendo condutas de discrimina��o, por raz�es de sexo intoler�veis e penalmente reprov�veis�. (AF)

O v�u � um inferno

Publicado na Revista Veja - Edi��o 1861 . 7 de julho de 2004

Entrevista: Azar Nafisi

A autora do best-seller Lendo Lolita em Teer� fala do terror imposto �s mulheres pelo fanatismo dos aiatol�s

Gabriela Carelli

"A quest�o n�o � usar ou n�o o v�u. � se a mulher tem o direito de escolha, se pode interpretar a religi�o como bem entender"

Nos �ltimos meses, a vida da iraniana Azar Nafisi, de 54 anos, deu uma reviravolta. Professora de literatura inglesa na Universidade Johns Hopkins, em Washington, ela foi promovida a celebridade das letras com seu livro Lendo Lolita em Teer� (A Girafa, 502 p�ginas, 58 reais), que ser� lan�ado no Brasil nesta semana. A obra est� h� 26 semanas no primeiro posto da lista de livros mais vendidos do jornal New York Times e � um retrato sens�vel � �s vezes chocante � da situa��o das mulheres no Ir�, submetidas ao fanatismo do regime isl�mico. Esse drama � mostrado atrav�s da experi�ncia de Nafisi e de sete de suas alunas da �poca em que ela lecionava na Universidade de Teer�. Por dois anos, desafiando a repress�o do regime dos aiatol�s, elas se encontraram semanalmente para discutir autores proibidos no pa�s, como Henry James e Vladimir Nabokov. Nascida em Teer�, Nafisi deixou seu pa�s aos 13 anos para estudar na Europa e nos Estados Unidos. Retornou ao Ir� em 1979, logo ap�s a Revolu��o Isl�mica, e l� permaneceu por dezoito anos. Cansada de lutar contra a "atmosfera de terror", decidiu voltar para os EUA. "Para uma mulher, viver no Ir� � compar�vel a fazer sexo com o homem que ela mais odeia, � um estupro dissimulado", diz Nafisi. De Washington, onde vive com o marido e os dois filhos, ela deu a seguinte entrevista a VEJA.

Veja � Por que os mu�ulmanos se preocupam tanto em cobrir o cabelo das mulheres?

Azar Nafisi � O objetivo � eliminar a personalidade da mulher. Ao colocar o v�u, ela passa a fazer parte de uma massa padronizada, sem identidade. � uma forma de repress�o psicol�gica. Nas �ltimas d�cadas, as mulheres se tornaram s�mbolos de abertura e de democracia. As mudan�as mais importantes em termos de conquista de direitos foram femininas. Ao se tornarem mais vis�veis, elas ganham maior controle sobre sua vida. Eis por que as sociedades autorit�rias, principalmente nos pa�ses mu�ulmanos, sentem necessidade de conter as mulheres. As conquistas do feminismo, para os radicais isl�micos, s�o representa��es do imperialismo ocidental.

Veja � No passado, o cristianismo tamb�m relegou a mulher a pap�is subalternos. Mas o mundo crist�o evoluiu e se modernizou nesse aspecto. � poss�vel modernizar o Isl�?

Azar � Todas as religi�es t�m flexibilidade para mudar, inclusive o Isl�. A quest�o � que o mundo isl�mico est� passando por uma crise cujo piv� � o fundamentalismo. Diferentemente do que possa parecer, o radicalismo n�o � uma tradi��o mu�ulmana, mas um fen�meno moderno. As outras religi�es passaram por momentos de rigidez e intoler�ncia similares aos que n�s, mu�ulmanos, vivemos agora � e por isso se reformaram. O que se v� hoje em alguns pa�ses isl�micos � muito parecido com o que ocorreu com a Igreja Cat�lica na Idade M�dia. Muitos mu�ulmanos querem uma mudan�a, uma abordagem mais moderna dos costumes religiosos. Mas esbarram na resist�ncia daqueles que t�m medo de um novo estilo de vida, do que pode acontecer, de tornar ainda pior o que j� est� ruim.

Veja � Muitas mu�ulmanas expressam a convic��o de que o Isl� � generoso e justo com as mulheres e que elas s�o mais felizes que as ocidentais. � poss�vel que a maioria das mu�ulmanas esteja satisfeita com a situa��o?

Azar � Muitas mu�ulmanas, aquelas que n�o vivem sob tortura, t�m uma vida agrad�vel. O problema n�o � a religi�o, mas quando a religi�o se transforma em Estado, quando a religi�o vira lei. A submiss�o total e irrestrita nunca fez parte da cultura das mulheres do Ir�. Tanto que houve muita resist�ncia por parte delas. As ruas de Teer� se tornaram zonas de guerra. Mulheres enfrentaram guardas armados para poder se expressar. A quest�o n�o � usar ou n�o o v�u. � se a mulher tem o direito de escolher, se pode interpretar a religi�o da forma que bem entender. Eu n�o gosto de usar v�u, mas n�o digo que seja errado. Digo que n�o � certo imp�-lo a todas. O problema atual n�o � a religi�o. � a liberdade de escolha.

Veja � Seu livro conta a hist�ria do Ir� sob o comando dos aiatol�s por meio das impress�es de um grupo de mulheres que se reunia para discutir literatura. O que a motivou a montar esse grupo?

Azar � Formei-o depois de pedir demiss�o de meu cargo de professora de literatura inglesa na Universidade de Teer�. Havia chegado ao meu limite com as normas da revolu��o isl�mica. As regras e imposi��es arbitr�rias eram constantes. N�s, mulheres, entr�vamos por uma porta especial e �ramos revistadas diariamente. Os fiscais nos apalpavam para ver se port�vamos maquiagem, tiravam nossas roupas. Alunas que subiam as escadas correndo ou riam nos corredores eram castigadas. Lecionar era uma tortura. Na sala de aula, tudo o que eu dizia e fazia era controlado. Al�m disso, viv�amos num ambiente hostil � literatura. As �nicas obras consideradas importantes eram aquelas que manifestavam algum tipo de ideologia. O resto era conspira��o. Tudo no Ir�, at� o menor gesto, era interpretado � luz da pol�tica vigente. Eu n�o podia abandonar a literatura, uma de nossas poucas formas de reden��o. Chamei minhas alunas mais dedicadas, aquelas em que realmente confiava, para continuar as aulas em minha casa.

Veja � Por que a senhora considera a literatura uma forma de reden��o?

Azar � Quando todas as possibilidades nos s�o tiradas, a menor das aberturas se transforma numa grande liberdade. O escritor russo Vladimir Nabokov, o autor de Lolita, explica bem isso ao dizer que todo romance � um conto de fadas. As hist�rias sempre oferecem uma maneira de superar os limites. De certa forma, os contos de fadas, ou os romances, nos d�o a liberdade que a realidade nos nega.

Veja � Como eram as reuni�es do grupo?

Azar � Propus que estud�ssemos os autores na tentativa de encontrar nossa sa�da pessoal. As reuni�es ocorreram por dois anos, todas as quintas-feiras de manh�. Duravam de tr�s a sete horas. Algumas de minhas alunas mentiam para os familiares para poder comparecer a elas, outras se intimidavam porque aquilo que eu estava promovendo era contra a lei. Mas nunca, durante esse per�odo, elas deixaram de aparecer. Era naquela sala de estar que tir�vamos nosso v�u, escap�vamos dos olhos dos aiatol�s, redescobr�amos nossa identidade. N�o importava o regime nem o medo que sent�amos. Cri�vamos nosso pequeno o�sis de liberdade, assim como fazia a personagem Lolita, de Nabokov.

Veja � Por que Lolita foi o livro mais discutido durante esses encontros?

Azar � Geralmente as pessoas acham que escolhemos Lolita, cuja narrativa trata da rela��o proibida entre um homem maduro e uma crian�a, porque viv�amos numa sociedade reprimida sexualmente. N�o foi por isso. Na verdade, na literatura de fic��o, o romance de Nabokov � uma das representa��es que mais se aproximam do regime totalit�rio em que viv�amos. Vai muito al�m de 1984, de George Orwell, que se tornou um s�mbolo do autoritarismo. Mais do que expor a dor f�sica e a tortura das ditaduras, Nabokov transmite em Lolita como � apavorante viver num estado de terror permanente. A trag�dia maior da hist�ria n�o � o estupro de uma menina de 12 anos por um senhor, mas o confisco de uma vida individual por outra. Lolita � uma menina que n�o tem para onde ir. Ela depende de Humbert, o personagem que faz de tudo para possu�-la, tenta transform�-la em sua fantasia, em seu amor, mas a destr�i. Ela satisfaz os desejos dele porque n�o h� outra sa�da, porque sempre � levada a crer que ser� recompensada.

Ela � o tipo de pessoa que n�o pode articular a pr�pria hist�ria. Assim � a vida numa sociedade totalit�ria. Um mundo de solid�o, em que o Estado � o salvador e o carrasco.

Veja � Por que a senhora decidiu voltar ao Ir� logo ap�s a revolu��o dos aiatol�s, depois de dezessete anos vivendo no exterior?

Azar � Assim como v�rios iranianos que viviam fora, eu estava feliz com as not�cias de mudan�as. Sob o regime do x�, que perdurou por mais de 25 anos, viv�amos sob uma ditadura pol�tica, e quer�amos derrot�-la. Acredit�vamos que a revolu��o para instaurar a teocracia seria um bom caminho. Quer�amos mais direitos, e n�o menos. Tanto para quem estava fora como para quem vivia no Ir�, a revolu��o foi bem-vinda. Levamos um choque quando soubemos de suas caracter�sticas, quando percebemos que a ditadura pol�tica avan�ou, minou a vida das pessoas, transformou-se numa forma de aniquilar a individualidade e os direitos dos cidad�os. Ningu�m tinha a dimens�o do pesadelo que estava por vir.

Veja� O que havia mudado na vida das mulheres iranianas � �poca de seu retorno ao pa�s, em 1979?

Azar � A idade m�nima para o casamento passou de 18 para 9 anos. O apedrejamento at� a morte se tornou o castigo para o adult�rio e a prostitui��o. Nos �nibus, adotou-se a segrega��o. Destinaram-se �s mulheres a porta traseira e os assentos no fundo do ve�culo. At� pouco tempo atr�s, as ruas de Teer� e de outras cidades eram patrulhadas por mil�cias formadas por homens armados, chamados de Sangue de Deus. Eles tinham como obriga��o assegurar o bom comportamento das mulheres. Um vest�gio de maquiagem, uma mecha de cabelo para fora do v�u e eles vinham, implac�veis. Prendiam-nos, arremessavam-nos para dentro de carros, deixavam-nos em pris�es imundas, chicoteavam-nos. Por fim, jogavam-nos nas ruas. A situa��o era pior para as solteiras. Muitas de minhas alunas tiveram de passar por coisa pior, como o teste de virgindade. N�o havia nada mais humilhante e nojento do que aquilo, feito em qualquer lugar, sem nenhuma assepsia, a qualquer hora. Quantas jovens n�o foram presas e chicoteadas s� porque, sem querer, cruzaram o olhar com o de um guarda?

Veja � A situa��o das mulheres no Ir� melhorou com a elei��o do presidente Khatami?

Azar � S� na apar�ncia. Desde que o reformista Khatami derrotou um aiatol� em 1997, o governo iniciou o que chamamos de abertura de fachada. Para acalmar a popula��o, as autoridades fazem vista grossa a determinadas atitudes, evitam entrar em conflito. Hoje, nas ruas, as mulheres podem usar v�u colorido e batom. Camel�s vendem CDs pirateados de cantores americanos. Mas nada disso mudou a concep��o do governo. As leis continuam as mesmas. Ainda se apedrejam at� a morte mulheres que caem na prostitui��o ou traem o marido. Os carros da Sangue de Deus, antes presentes em todos os lugares, s�o mais raros. O que n�o impede que patrulhas armadas abordem mulheres por achar que elas est�o desrespeitando a religi�o. Na verdade, quem controla o pa�s � o Conselho dos Guardi�es, formado por aiatol�s. Eles apenas se disfar�aram. N�o se sabe por quanto tempo.

Veja � � poss�vel democratizar o Isl�?

Azar � O fundamentalismo isl�mico � fraco. Quando a �nica arma de um Estado � a viol�ncia extrema, ele se debilita. A sociedade abaixa a cabe�a por determinado tempo, mas n�o para sempre. Parece contradit�rio, mas esses regimes, ao ditar suas regras, ao impor um Isl� que n�o � verdadeiro, aumentam o questionamento das pessoas sobre o que � certo ou n�o. � o que tem ocorrido em meu pa�s. No Ir�, a busca pela democratiza��o � ainda maior por causa da nova gera��o, as chamadas crian�as da revolu��o. Os jovens nunca desfrutaram a liberdade que tivemos. Eles a desejam mais do que qualquer coisa. N�o concordam com tudo o que � ocidental, mas no fundo querem viver o sonho americano. Quando jovem, eu era muito mais cr�tica ao Ocidente. Para essa gera��o, tudo o que se relaciona com a Am�rica parece bom.

Veja � Qual a situa��o atual das universidades iranianas?

Azar � Ainda existe repress�o, mas as universidades s�o os maiores p�los do movimento democr�tico. Principalmente porque l� est�o esses jovens descontentes, que n�o vislumbram nenhum futuro. Eles t�m muito menos a perder que seus pais. Outra coisa importante � que, por mais que haja controle no que se ensina a esses jovens, pela internet eles t�m acesso a literatura, a ensaios. Eles podem ser proibidos de ler Nabokov, mas v�o achar seus livros nos sites de busca.

Veja � A impress�o que se tem � que essas manifesta��es pela democracia s�o fracas, desorganizadas, sem poder de fogo para competir com a for�a do Isl� radical.

Azar � � um erro achar isso. O que ocorre � que as vozes da viol�ncia s�o muito mais ouvidas que as da raz�o. As pessoas que est�o lutando contra o terror de forma coerente n�o saem gritando nem fazem gestos espetaculares. At� porque seriam reprimidas. Em todo o mundo isl�mico h� gente questionando a situa��o, achando que o radicalismo e a coer��o n�o representam o melhor caminho. O problema � que as vozes dos homens-bomba repercutem de forma muito mais estrondosa. A impress�o que se tem � que existem poucas vozes contr�rias a esse tipo de coisa, mas s�o muitas. V�rios de meus alunos que apoiavam a teocracia hoje est�o presos porque defendem um estado secular.

Veja � Os aiatol�s iranianos dizem que seu livro � uma conspira��o sionista apoiada pelos americanos. Como a senhora avalia essas cr�ticas?

Azar � Muitos amigos me contaram que o livro � sucesso no Ir�, que as pessoas fazem c�pias xerox para conseguir l�-lo. Os fan�ticos, n�o importa o que eles defendem, est�o sempre prontos para criticar, tanto aqui como l�. Quando viram as fotos que fiz para a campanha publicit�ria da Audi, os americanos que segregam os mu�ulmanos disseram: "Olha l�, ela ganhou milh�es de d�lares, e tamb�m ganha dinheiro com hist�rias melosas". No Ir� � bem pior. A t�tica que o governo usa contra os intelectuais e escritores � difam�-los. H� um programa na televis�o chamado Identidade. Nele, todos os intelectuais iranianos, tanto os que moram no pa�s como os que vivem no exterior, s�o chamados de traidores, acusados de ter liga��o com a CIA. Eu s� os ignoro. O que mais posso fazer?

Depois do Cineasta, "Ex-mu�ulmana" Pode Ser o Pr�ximo Alvo

Quinta-feira, 11 de Novembro de 2004

Ayaan Hirsi Ali, que escreveu o gui�o do �ltimo filme de van Gogh, "Submiss�o", est� sob protec��o policial por receio de que seja o pr�ximo alvo dos extremistas isl�micos. Em 11 minutos, o filme denuncia a forma como a sociedade isl�mica trata as mulheres, destacando o casamento for�ado e a penaliza��o de v�timas de viola��o por adult�rio. Entre as cr�ticas � religi�o na qual foi educada, Ayaan j� chamou a Maom� "tirano devasso" e ao isl�o "religi�o retr�grada". Somali de nascen�a, a agora deputada viveu em v�rios pa�ses mu�ulmanos antes de, fugindo de um casamento for�ado, chegar � Holanda. Sem um tost�o e sem falar holand�s, trabalhou at� concluir o curso de Ci�ncia Pol�tica. No Parlamento a sua atitude directa incomoda por vezes os colegas, e os grupos mu�ulmanos moderados preferem que a sua comunidade seja capaz de, por si s�, n�o interpretar o Cor�o � letra. "N�o penso calar-me agora que posso dizer e fazer coisas que jamais me seriam permitidas [numa] na��o mu�ulmana", diz Ayaan. topotopo

Fonte: http://jornal.publico.pt/2004/11/11/Mundo/I04CX01.html

Realizador holand�s assassinado em Amesterd�o

O realizador e argumentista holand�s Theo van Gogh, autor de diversos filmes sobre tem�ticas pol�micas -incluindo o �ltimo, sobre o Isl�o-, foi assassinado na ter�a-feira em Amesterd�o. Foi detido um extremista isl�mico com alegados la�os a grupos terroristas.

Theo van Gogh, de 47 anos, realizador, argumentista, escritor e cronista holand�s, foi v�rias vezes apunhalado quando andava de bicicleta numa rua da Amesterd�o esta ter�a-feira, 2 de Novembro. O crime deixou a sociedade holandesa em estado de choque.

Theo van Gogh ter� ainda suplicado miseric�rdia ao seu assassino, um extremista isl�mico de 26 anos de nacionalidade holandesa e marroquina com alegados contactos a grupos terroristas, que foi detido hoje. Depois de esfaquear primeiro o realizador, que ter� conseguido fugir, e o alvejar a tiro oito ou nove vezes, ter-se-� inclinado sobre a sua v�tima para lhe cortar a garganta. Um pol�cia e um transeunte tamb�m ficaram ligeiramente feridos no confronto que se seguiu.

Realizador muito conhecido pela sua condena��o da sociedade multicultural e pelos seus filmes, muitos deles pol�micos (incluindo o �ltimo, sobre o Isl�o), Theo van Gogh, de 47 anos, tinha agora terminado o filme �06-05�, sobre o assassinato do l�der populista holand�s Pim Fortuyn a 6 de Maio de 2002, que ir� estrear na Internet a 12 de Dezembro. Van Gogh tamb�m j� escrevera cr�nicas sobre o Isl�o que eram publicados no seu site e no jornal Metro.

A sua curta-metragem televisiva �Submission�, que criticava o tratamento das mulheres no Isl�o, foi exibida na televis�o holandesa em Agosto. Falado em ingl�s, o filme tinha argumento de uma pol�tica de direita, Ayaan Hirsi Ali, natural da Som�lia e agora uma advogada que tem assento no parlamento holand�s, que anos antes renunciara � sua f� isl�mica de nascen�a e que agora se intitula "ex-mu�ulmana".

A pel�cula contava a hist�ria ficcionada de uma mulher mu�ulmana for�ada a um casamento violento, violada por um parente e brutalmente punida por adult�rio. Uma das cenas mostrava o corpo nu da actriz com inscri��es de vers�culos do Cor�o e o filme enfureceu alguma da comunidade mu�ulmana da Holanda e grupos femininos, que consideraram o retrato do abuso das mulheres "insens�vel". O cineasta, bisneto do irm�o de Vincent Van Gogh, ter� recebido v�rias amea�as de morte, mas j� no passado gozara com um proeminente judeu holand�s ao referir-se a Jesus como o "peixe pobre de Nazareth" e chamara a um pol�tica radical mu�ulmano o "chulo de Al�".

Muitos holandeses que nem sequer partilhavam a arte do realizador, tem vindo a prestar homenagem no local onde este foi assassinado e uma manifesta��o de 20 mil pessoas protestou contra o ataque numa das pra�as centrais de Amesterd�o, defendendo que a liberdade de express�o � um direito que lhes � querido e que deve ser preservado. Ayaan Hirsi Ali, que tem vindo repetidamente a enfurecer os mu�ulmanos ao criticar os costumes isl�micos e o facto das fam�lias mu�ulmanas n�o adoptarem costumes holandeses, mostrou-se muito chocada com o epis�dio, que trouxe � mem�ria dos holandeses a morte de Pim Fortuyn.

Tamb�m o governo holand�s levou a cabo reuni�es de crise pela noite dentro e o ministro da imigra��o encontrou-se com grupos mu�ulmanos para discutir como evitar confrontos com a comunidade mu�ulmana. Esta, tal como a comunidade judaica, embora considerasse as opini�es do realizador ultrajantes, condenou o crime, dizendo que nada legitima a morte e apelou � reconcilia��o.

Este epis�dio volta a colocar na actualidade as quest�es dos imigrantes mu�ulmanos na sociedade holandesa, onde representam j� 5% da popula��o, quando os partidos da direita pressionam para a aprova��o de leis de imigra��o mais restritivas. O assassinato de Van Gogh vem numa altura em que as tens�es sociais aumentam, com muitos a culpar a minoria mu�ulmana pelos crimes violentos e estes a expressar o medo de repres�lias depois do assassinato do cineasta. Tanto mais que o suspeito alegadamente era amigo de Samir Azzouz, um mu�ulmano de 18 anos actualmente detido e a aguardar julgamento por acusa��es de planear um atentado terrorista contra um reactor nuclear e o aeroporto de Schiphol, em Amesterd�o.

*****

* Foram entretanto detidos mais oito suspeitos (seis de origem marroquina, um de origem argelina e outro de nacionalidade esaponhola e marroquina), o que pode indicar tratar-se de uma conspira��o. Ayaan Hirsi Ali, a argumentista do filme �Submission� foi alvo de uma amea�a de morte por mail esta quarta-feira, dizendo que � a pr�xima.

* Alguns dados mais concretos: a Holanda tem cerca de 16 milh�es de habitantes, dos quais 20%, tr�s milh�es, s�o imigrantes de primeira ou segunda gera��o, o que ajuda a explicar os extremismos sociais referidos no artido em cima. 300 mil s�o nacionais de Marrocos.

* A Holanda j� prendeu mais de 40 pessoas suspeitas de terrorismo desde os ataques de 11 de Setembro. Pensa-se que o pa�s � um forte posto de recrutamento da grupos ligados � al-Qaida, al�m de contribuir para o seu financiamento.

03-11-2004

http://www.cinema2000.pt/ficha.php3?id=4396&area=noticias

Ayaan Hirsi Ali

Ayaan Hirsi Ali � uma deputada holandesa pelo Partido Liberal Holand�s. Recentemente, promoveu a cria��o de um filme de 10 minutos, sobre a condi��o feminina no Isl�o, chamado de Submiss�o. (poder� ver excertos num document�rio holand�s, aqui).

O filme mostra mulheres com hijab's transparentes, bem como versos do Cor�o escritos no corpo das actrizes. O filme descreve v�rios assuntos tabu no mundo isl�mico, como o habitual abuso sexual de mulheres por membros masculinos da fam�lia, o espancamento sistem�tico das esposas, a excis�o genital feminina, os casamentos for�ados, a impossibilidade sistem�tica de uma mulher ter uma vida pr�pria e independente, etc. O filme foi considerado um esc�ndalo e uma afronta por parte da comunidade isl�mica holandesa. Ayann retorquiu que o simbolismo da nudez n�o se destina aos homens, mas sim �s mulheres mu�ulmanas na Ar�bia Saudita, Som�lia, Qu�nia e outros pa�ses onde impera a sharia (n�o h� restri��es de nudez entre elementos do mesmo sexo no Isl�o, onde ali�s, se preservou o h�bito cultural romano dos banhos p�blicos).

Mas os problemas de Ayaan come�aram antes deste filme. Num debate televisivo com elementos da comunidade isl�mica, declarou que j� n�o praticava nem se considerava mu�ulmana. Passou a ser amea�ada de morte a partir desse momento, porque no Cor�o, deixar a f�, � ser-se automaticamente condenado com a pena de morte. Assim neste momento, Ayann vive em casas seguras e protegida pela pol�cia.

Ayaan nasceu na Som�lia. Filha de um dissidente pol�tico somali, viveu no Qu�nia, Eti�pia, Ar�bia Saudita durante os seus primeiros 20 anos de vida. Viveu profundamente a realidade di�ria de uma mu�ulmana, tendo inclusive sido excisada aos 5 anos. O seu pai, aos 15 anos, arranjou-lhe um casamento com um mu�ulmano canadiano, que queria que ela tivesse 6 filhos.

Foi assim que com 20 anos, Ayann se encontrou num aeroporto alem�o, prestes a encontrar a sua �cara-metade�, quando algo se moveu dentro de si. Fugiu, apanhando um comboio para a Holanda, onde pediu o estatuto de refugiada.

Durante os anos seguintes, Ayann subiu a pulso na vida. Trabalhando como empregada de limpeza, aprendeu o holand�s, e fez a educa��o obrigat�ria holandesa em pouco tempo. Conseguiu entrar na universidade de Leiden, onde realizou estudos superiores em Ci�ncias Pol�ticas. Durante estes anos, Ayann conheceu o submundo holand�s dos abrigos de mulheres, onde mulheres abusadas de origem mu�ulmana se refugiam e tentam reconstruir a sua vida.

Acabado o curso, Ayaan dedicou-se � pol�tica. Ideologicamente pr�xima da esquerda, Ayaan juntou-se ao Partido dos Trabalhadores Holand�s (o equivalente ao nosso PS), onde lhe foi pedido que estudasse, porque � que tantos jovens mu�ulmanos nascidos na Holanda, est�o em guerra com a sociedade que os viu nascer. A conclus�o de Ayann foi brutal para o establishment holand�s. O culpado, segundo o seu estudo, n�o era nada mais que o pr�prio multi-culturalismo holand�s.

Na �nsia de agradar e cultivar a �toler�ncia�, o estado holand�s financiou centenas de clubes isl�micos, onde im�ns radicais, aproveitando-se do dinheiro do estado holand�s, constru�ram uma cultura � parte, pregando uma mensagem fundamentalista.

Ayann acabou por deixar o Partido dos Trabalhadores, porque este se aliou, cinicamente, com os conservadores mu�ulmanos fundamentalistas para alcan�arem o poder. Revoltada, com tal exerc�cio de hipocrisia pol�tica, Ayann foi encontrar no Partido Liberal Holand�s uma nova casa.

O que, para Ayaan Hirsi Ali diferencia a Europa e em certa medida o mundo ocidental, do resto do mundo?

Nas suas pr�prias palavras:

� Eu queria compreender porque � que os pa�ses ocidentais estavam a desenvolver-se t�o bem, quando o resto do mundo parecia estar em colapso. Eu estudei a hist�ria do pensamento pol�tico europeu, desde os gregos e os romanos at� � Segunda grande Guerra.

Descobri que as pessoas no Ocidente valorizam o individuo aut�nomo. Elas compreendem a import�ncia da ci�ncia e do conhecimento. S�o capazes de se criticar a elas pr�prias e existe uma capacidade de registar a hist�ria, para evitar repetir os erros do passado. � exactamente, o oposto da Som�lia onde n�o h� institui��es que procedam a um registro hist�rico e as mem�rias da minha av� das guerras dos cl�s ir�o morrer com ela.�

MULHER � CONDENADA A SER ESTUPRADA NO PAQUIST�O - ISLAMISMO RADICAL PRATICA UM DOS MACHISMOS MAIS ATROZES DO MUNDO

The New York Times, 30 set de 2004 - Segundo a pol�cia, em junho de 2002 membros de uma tribo da elite local abusaram sexualmente de um dos irm�os de Mukhtaran e a seguir acobertaram o crime acusando-o falsamente de ter um caso com uma mulher da elite local. O conselho tribal da vila determinou que a puni��o recomend�vel para o suposto relacionamento indevido seria fazer com que uma das irm�s do garoto fosse estuprada por membros da elite do lugar.

Assim, o conselho condenou Mukhtaran a ser estuprada por um grupo de homens. Enquanto membros da tribo dan�avam alegremente, quatro homens arrancaram a sua roupa e se revezaram em estupr�-la. Depois, eles a obrigaram a andar nua at� a sua casa em frente a 300 moradores da aldeia.

Na sociedade mu�ulmana conservadora do Paquist�o, o dever de Mukhtaran ap�s esses acontecimentos era bem claro: ela deveria se suicidar.

"Assim como outras mulheres, a princ�pio pensei em me matar", conta Mukhtaran, que hoje tem 30 anos. O seu irm�o mais velho, Hezoor Bux, explica: "Uma garota que foi estuprada n�o possui um lugar honroso na vila. Ningu�m respeita tal garota ou os seus pais. Existe um estigma, e a �nica sa�da � o suic�dio".

Uma mo�a de uma vila pr�xima foi estuprada nas mesmas circunst�ncias uma semana ap�s Mukhtaran, e escolheu a sa�da tradicional: tomou uma garrafa de pesticida e caiu morta.

Mas, ao inv�s de se matar, Mukhtaran dep�s contra os seus algozes e prop�s a id�ia chocante de que a vergonha reside no estupro, e n�o no fato de ser estuprada.

Os estupradores aguardam agora a execu��o no corredor da morte, e o presidente Pervez Musharraf indenizou Mukhtaran com uma quantia equivalente a US$ 8.300 (n�o chega a R$ 25 mil) e ordenou que ela recebesse prote��o policial 24 horas por dia.

Mukhtaran, que nunca freq�entou uma escola, usou o dinheiro para construir na vila uma escola para meninas e outra para meninos --j� que, segundo ela, a educa��o � a melhor forma de se promover mudan�as sociais.

Voltar
Hosted by www.Geocities.ws

1