As ra�zes de um fracasso
Marcelo Musa Cavallari

Publicado na Revista Epoca Edi��o 218 de 19/07/2002

O mundo �rabe, vanguarda da cultura no passado, entra no s�culo XXI como a regi�o menos desenvolvida do planeta

At� o fim da Idade M�dia, a civiliza��o isl�mica esteve na vanguarda do progresso humano. Os maiores fil�sofos, matem�ticos, m�dicos e astr�nomos falavam �rabe ou persa. O mundo mu�ulmano era mais rico e mais poderoso que o Ocidente, visto no Oriente M�dio como uma regi�o sombria, habitada por b�rbaros ignorantes. Hoje os pa�ses �rabes, com poucas exce��es, est�o entre os mais pobres e atrasados do planeta. No resto do mundo, sua imagem est� associada � opress�o das mulheres, ao marasmo econ�mico, � distribui��o in�qua dos lucros do petr�leo, a ditaduras sangrentas, � revolta impotente dos palestinos sob a ocupa��o israelense e, sobretudo a partir dos atentados de 11 de setembro, ao terrorismo ensandecido.

O que deu errado no Oriente M�dio? Essa pergunta �, simultaneamente, o t�tulo de um livro de Bernard Lewis, um dos mais respeitados historiadores dos povos mu�ulmanos, rec�m-lan�ado no Brasil (Jorge Zahar Editor, 204 p�ginas, R$ 24), e o tema de uma pesquisa das Na��es Unidas divulgada no in�cio do m�s. Numa iniciativa do Programa das Na��es Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), um grupo de estudiosos debru�ou-se sobre o estado atual do mundo �rabe em busca de um diagn�stico de seus problemas. As conclus�es s�o desalentadoras. O estudo abarca as 22 na��es que integram a Liga �rabe - exclui, portanto, os Estados mu�ulmanos n�o-�rabes, como o Ir�, a Turquia, o Paquist�o e a Indon�sia. Os pa�ses �rabes, unidos pelo mesmo idioma, somam 280 milh�es de habitantes, um pouco mais que os Estados Unidos. O PIB de todos eles juntos � de US$ 531 bilh�es, menor que o da Espanha, com uma popula��o de 40 milh�es. A estagna��o econ�mica �rabe s� perde para a da �frica Subsaariana, a regi�o mais pobre do mundo. Nos �ltimos 20 anos os pa�ses �rabes cresceram a uma m�dia anual de 0,5%. A riqueza gerada pelo petr�leo trouxe poucos benef�cios, pois � aplicada nos mercados da Europa, dos Estados Unidos e do Jap�o. Para os pa�ses �rabes, com a popula��o mais jovem do mundo - um efeito dos alt�ssimos �ndices de natalidade -, esse atraso � sin�nimo de desemprego, cerca de 15% na m�dia da regi�o. O descontentamento dessa juventude sem perspectiva fica evidente na pesquisa. Entre os entrevistados, metade dos adultos com menos de 25 anos disse que seu maior desejo � emigrar.

Os pa�ses �rabes s�o um caso exemplar da insufici�ncia dos indicadores puramente econ�micos para retratar a situa��o de uma popula��o. Desde a d�cada de 90 o Pnud trabalha com o �ndice de Desenvolvimento Humano. Combinando expectativa de vida, taxa de analfabetismo, matr�culas nas escolas de primeiro, segundo e terceiro grau e PIB per capita, chega-se a uma nota de IDH. Por esse crit�rio, os pa�ses �rabes t�m o pior desempenho do mundo todo, atr�s de lugares mais pobres, como o sul da �sia e a �frica Subsaariana. 'A regi�o � mais rica que desenvolvida', conclui o estudo.

Para os pesquisadores da ONU, h� tr�s grandes d�ficits que mant�m o mundo �rabe aqu�m de seu potencial econ�mico e humano: liberdade, igualdade para as mulheres e conhecimento. Nenhum pa�s �rabe � uma verdadeira democracia. As varia��es v�o da tirania em seu estado mais bruto, como a de Saddam Hussein, no Iraque, a monarquias absolutas, como a da Ar�bia Saudita, passando por democracias de fachada, como no Egito. A imprensa �, no melhor dos casos, parcialmente livre. Tamb�m a utiliza��o das capacidades da mulher no mundo �rabe � a menor do mundo, segundo o Pnud. 'Toda a sociedade sofre quando metade de seu potencial produtivo � asfixiada', afirma o estudo. As mulheres, mantidas a dist�ncia da participa��o pol�tica e com menor acesso � educa��o, t�m pouca chance de mudar o quadro. Cerca de 50% da popula��o feminina �rabe � analfabeta, �ndice duas vezes maior que entre os homens. Outro grave empecilho ao desenvolvimento � a falta de investimento em pesquisa e o acesso restrito � tecnologia de informa��o. O mundo �rabe aplica em pesquisa sete vezes menos que a m�dia internacional. Quando se olha para a cultura em seu conjunto, a situa��o n�o � melhor. O mundo �rabe se mant�m fechado ao conhecimento que se produz no resto do mundo. Os autores do estudo do Pnud calculam que, nos �ltimos 1.000 anos, a quantidade de tradu��es feitas na regi�o equivale � de publicadas na Espanha em apenas um ano.

OPRESS�O - Said aponta a heran�a colonial como o principal problema

A Medida do Atraso

Fontes: UNDP e Inter-Parliamentary Union

Ao indagar sobre os motivos do atraso, Bernard Lewis procura a resposta na pr�pria cultura isl�mica. Para esse historiador de 85 anos, ingl�s radicado nos EUA, professor em�rito de estudos orientais na Universidade Princeton, os grandes culpados s�o os pr�prios �rabes - presos ao passado, refrat�rios aos valores da liberdade individual e terrivelmente machistas. Lewis detecta entre os mu�ulmanos de hoje duas rea��es poss�veis diante do �bvio fracasso de uma civiliza��o outrora esplendorosa. Uma � perguntar: o que fizemos de errado e como podemos consertar? A outra � indagar: quem fez isso conosco? Para Lewis, o mundo �rabe, se quiser sair do atoleiro, s� tem um caminho: seguir o exemplo da Turquia e adotar os padr�es e valores ocidentais da democracia e do mercado o mais rapidamente poss�vel. 'Perguntar quem nos causou esse atraso leva ao jogo de apontar culpados e a teorias conspirat�rias e fantasias neur�ticas de todo tipo', argumenta. Ditadores como Saddam Hussein acusam o Ocidente por todos os males do mundo �rabe e l�deres religiosos fundamentalistas apontam o abandono de um suposto verdadeiro Isl� como a causa do atraso. 'Se os povos do Oriente M�dio continuarem em seu presente caminho, os terroristas suicidas podem tornar-se uma met�fora para toda a regi�o e n�o haver� sa�da para uma espiral descendente de �dio, rancor, f�ria e autocomisera��o', conclui Lewis.

INJUSTI�A - A renda do petr�leo � aplicada no Ocidente, enquanto a mis�ria assola as popula��es �rabes. Na foto, mulheres eg�pcias no centro do Cairo

N�o � t�o simples, rebate Edward Said, um intelectual palestino exilado em Nova York que se tornou uma das vozes mais respeitadas do mundo �rabe no Ocidente. Para Said, de 66 anos, professor na Universidade Columbia, Lewis escreve como se entidades como o Ocidente e o Isl� 'existissem num mundo de desenho animado, em que Popeye e Brutus surram impiedosamente um ao outro e o boxeador mais h�bil leva a melhor'. A coloniza��o, argumenta, criou o mito de uma mentalidade oriental �rabe irreconcili�vel e, no fim das contas, inferior � do Ocidente. O complexo relacionamento entre hist�ria, cultura e religi�o, que gerou enormes diferen�as entre as v�rias regi�es �rabes assim como fecundos contatos entre estas e os povos crist�os do Ocidente, foi substitu�do por uma ideologia de confronto. Esmagados por s�culos de uma domina��o que imp�s cruelmente os pr�prios valores, os �rabes procuram, aos poucos, restabelecer suas identidades atrav�s do retorno a sua cultura. 'No mundo das ex-col�nias, esses retornos produziram variedades de fundamentalismo nacionalista e religioso', constata Said. Em sua vis�o, n�o h� nada de errado com a cultura �rabe ou o Isl� em si mesmos.

Curiosamente, tanto Lewis quanto Said assinalam o mesmo epis�dio - a invas�o do Egito pelas tropas francesas de Napole�o Bonaparte, em 1798 - como o �ltimo suspiro da civiliza��o �rabe. Quem expulsou os invasores, anos depois, foi outra pot�ncia colonial, a Inglaterra, com uma expedi��o liderada pelo almirante Horatio Nelson. Foi o in�cio de um longo per�odo de domina��o brit�nica, que s� terminaria depois da Segunda Guerra Mundial. Para Lewis, Napole�o e Nelson foram portadores da esperan�a. Para Said, os pioneiros da desgra�a.

Egito volta a julgar 50 homens por homossexualismo

Publicado no Jornal Folha de S. Paulo em 26/07/2002

da France Presse, no Cairo (Egito)

Cinquenta eg�pcios comparecer�o amanh� � Justi�a acusados por pr�ticas homossexuais, depois que o presidente Hosni Mubarak anulou um primeiro veredito pronunciado em novembro de 2001 pela Alta Corte de Seguran�a do Estado, um tribunal de exce��o.

O processo ser� tramitado no tribunal correcional de Abdin, no Cairo. Em maio passado, Mubarak anulou as condena��es e enviou o caso � Justi�a ordin�ria.

A alta corte, que jugou os 52 homens, condenou 21 a penas de um a dois anos de pris�o e 29 foram absolvidos. Outros dois acusados foram condenados a tr�s e cinco anos de pris�o por "desprezo pela religi�o".

Mubarak, o �nico habilitado para decidir sobre as decis�es da alta corte devido ao estado de emerg�ncia vigente desde 1981, confirmou as penas dos dois �ltimos acusados, mas anulou o veredito dos outros 50.

Segundo um dos advogados de defesa, Farid al-Dib, Mubarak adotou sua decis�o baseado no fato de que as acusa��es contra os 50 envolvidos n�o s�o da compet�ncia da Alta Corte de Seguran�a do Estado.

De maneira expl�cita, a lei eg�pcia, fundamentada na sharia [lei isl�mica], n�o considera a homossexualidade um crime. No entanto, v�rias leis punindo os "atentados aos bons costumes" podem ser aplicadas se tais atos forem provados.

O novo julgamento devia ter se iniciado em 2 de julho passado, mas foi adiado por raz�es de procedimento.

Desde seu in�cio, em 18 de julho de 2001, o processo destes eg�pcios provocou a indigna��o de associa��es homossexuais ou de defesa dos direitos humanos, principalmente na Su��a, Fran�a e Estados Unidos.

A Anistia Internacional interveio em duas ocasi�es para pedir a liberta��o dos acusados. O presidente franc�s, Jacques Chirac, manifestou a seu colega eg�pcio sua "inquietude" em rela��o �s condena��es, e o m�sico Jean-Michel Jarre entregou ao embaixador do Egito em Paris uma lista de quase 6.000 assinaturas em carta de protesto.

Sangue contra a paz Chacina de civis � arma de extremistas para impedir acordo na guerra civil da Arg�lia

Publicado na Revista Veja de 01 de outubro de 1997. Edi��o 1515

Autor: Izalco Sardenberg

Os assassinos, cerca de quarenta, chegaram de caminh�o, armados de metralhadoras, granadas, facas e machados, e come�aram a matan�a. Derrubaram as portas e expulsaram os moradores das casas. Quem resistiu foi morto na hora, quem se submeteu acabou fuzilado mais tarde. As casas mais dif�ceis de invadir foram dinamitadas. As mulheres jovens, �nicas cuja vida foi poupada, foram levadas embora suspeita-se que ser�o for�adas a casar e viver na clandestinidade com os terroristas. Os demais, homens, mulheres e crian�as, morreram degolados, eviscerados ou queimados. Muitos corpos foram mutilados, outros dinamitados. Cabe�as decapitadas foram espetadas em paus ou jogadas em po�os. � noite de horror e morte em Bentalha, um sub�rbio pobre de Argel, seguiu-se a dor dos sobreviventes emoldurada pela fileira de pequenos caix�es com o nome das crian�as estripadas e a idade, escritos a giz: "Samia 4 anos", "Mohamed 10 anos", "Yacine 3 anos".

O massacre em Bentalha, na noite de segunda para ter�a-feira da semana passada, foi um dos piores de uma s�rie de horrores. Nas contas oficiais, morreram 85 pessoas e 67 ficaram feridas. Os sobreviventes calculam que os mortos passam de 200. Nos �ltimos tr�s meses, cerca de 2.000 argelinos foram v�timas de chacinas similares, quase sempre executadas em povoados ou fazendas isoladas. Na pior de todas, um m�s atr�s, foram trucidados mais de 300 moradores de Sidi Rais, um vilarejo a 20 quil�metros de Argel. Os atacantes "uivavam como lobos", contou um sobrevivente. A guerra civil argelina come�ou no in�cio de 1992, quando um golpe militar impediu a vit�ria eleitoral da Frente Isl�mica de Salva��o, FIS. Apoiada pelo Ocidente, a virada de mesa impediu a transforma��o da Arg�lia numa teocracia ao estilo iraniano, mas gerou o conflito que j� matou mais de 60.000 pessoas, boa parte v�tima da repress�o indiscriminada das For�as Armadas ou das mil�cias armadas pelo governo. O massacre de inocentes dos �ltimos tr�s meses � atribu�do ao Grupo Isl�mico Armado, o GIA, uma fac��o extremada da FIS mas � dif�cil encaixar a ensandecida viol�ncia dos fan�ticos contra seu pr�prio povo em qualquer padr�o de reflex�o pol�tica, o que s� faz aumentar a suspeita de que ao menos uma parcela do mortic�nio atual tem sua origem no por�o militar que ap�ia o governo.

Chocado com o tamanho do barbarismo, o Ex�rcito de Salva��o Isl�mica, bra�o armado da FIS, anunciou um cessar-fogo. O comunicado diz que o objetivo � "expor o inimigo escondido atr�s desses terr�veis massacres e isolar os criminosos remanescentes do extremismo perverso do Grupo Isl�mico Armado". � a primeira vez que o fundamentalismo militante faz um apelo desse tipo, mas um cessar-fogo n�o � o bastante para interromper a matan�a. A FIS j� n�o consegue controlar a multid�o de movimentos guerrilheiros isl�micos, incluindo o GIA, que operam com independ�ncia e vontade pr�pria. Ningu�m at� agora conseguiu explicar inteiramente por que o grupo decidiu mergulhar o interior do pa�s num banho de sangue. Uma hip�tese � que pretende atemorizar a popula��o para mant�-la longe dos grupos de autodefesa organizados pelo governo, como fazia o Sendero Luminoso no Peru. "N�s somos o grupo que mata, trucida, queima e pilha com a permiss�o de Deus", diz um fax assinado pelo GIA e enviado na sexta-feira passada ao jornal de l�ngua �rabe Al Hayat, de Londres. Dificilmente, contudo, o GIA responde sozinho pela carnificina.

Com cerca de 1.500 moradores, ruas poeirentas e casario pobre, Bentalha lembra bastante a periferia das metr�poles brasileiras. A diferen�a est� no v�u que cobre os cabelos femininos, revelando que se trata de um reduto do fundamentalismo mu�ulmano. Tamb�m fica perto de um dos maiores quart�is da gendarmerie, a pol�cia militar argelina. Na noite de segunda-feira, apesar dos gritos e do barulho dos tiros, n�o apareceram policiais para socorrer os moradores. Uma sobrevivente contou ao jornal El Watan, um dos principais da Arg�lia, que tentou pedir ajuda pelo telefone, discando em v�o o 17, o n�mero local de emerg�ncia. Esse foi o terceiro grande massacre na capital ou em seus arredores no espa�o de um m�s. As perguntas que atormentam: Por que os rebeldes mu�ulmanos atacam um reduto isl�mico? Por que a pol�cia nunca chega a tempo?

Inocentes e anjos N�o s�o respostas f�ceis no labirinto argelino. O GIA nunca reivindicou oficialmente a autoria dos massacres, apesar de um de seus dirigentes ter explicado a um jornal franc�s que n�o tem import�ncia matar mulheres e crian�as, pois Al� reconhece os inocentes e os transforma imediatamente em anjos. O evento central, que parece ter desencadeado o surto de selvageria, s�o as negocia��es entre o governo e a FIS. Tr�s meses atr�s, atendendo � exig�ncia da organiza��o para iniciar as conversas, o presidente Liamine Zeroual libertou o principal l�der da FIS, Abassi Madani, na cadeia desde 1991. O entendimento desagradou aos dois extremos da guerra civil: os militares que se op�em a qualquer acordo e os grupos guerrilheiros, rompidos com a FIS.

O mist�rio � como essas duas for�as interagem para produzir a s�rie de massacres. Mas tanto os ataques de Rais como os de Bentalha foram cometidos t�o pr�ximos de guarni��es militares que fica dif�cil negar ao menos a coniv�ncia das For�as Armadas. O governo argelino n�o admite investiga��es independentes, restringe a circula��o de jornalistas estrangeiros no pa�s e censura a imprensa local, filtrando as informa��es e vers�es que deseja ver divulgadas. Tamb�m n�o h� estimativas confi�veis sobre o tamanho do GIA, que continua t�o b�rbaro como sempre apesar de o governo ter dizimado sua lideran�a duas ou tr�s vezes nos �ltimos cinco anos. Os militares erigiram um muro de sil�ncio em torno da guerra civil, e qualquer tentativa de ajuda externa � recebida pelo governo do presidente Zeroual como uma interven��o indevida num assunto dom�stico. A verdade � que pa�s algum quer meter a m�o no vespeiro argelino, apesar do sentimento de horror com que se acompanha cada novo massacre e do apoio da popula��o a toda proposta de paz. Resta saber se ainda existe quem tenha meios de instaur�-la.

Iraniano decapita filha por achar que ela fora estuprada

da Reuters, em Teer�, em 08/09/2002

Um iraniano decapitou sua filha de sete anos ap�s suspeitar que ela fora estuprada por seu tio, afirmou uma reportagem na edi��o deste domingo do jornal Jomhuri-ye Eslami. A aut�psia revelou que a menina era virgem.

"O motivo por tr�s da morte foi defender minha honra, nome e dignidade", teria dito o pai segundo o jornal.

Casos de estupro costumam ser abafados no Ir�, onde s�o causa de vergonha para a fam�lia e a v�tima.

Embora os habitantes locais pe�am que o homem, que foi detido, seja enforcado, a lei isl�mica atribui somente ao pai da v�tima o direito de exigir a pena de morte.

*** N�o se preocupe e ame a guerra at�mica ***

Publicado no Jornal O Estado de S�o Paulo, ter�a-feira, 4 de junho de 2002

Autor: Arnaldo Jabor

Me diz uma coisa: o mundo esta � beira de uma guerra nuclear no Oriente e ningu�m faz nada? Nos jornais, as manchetes s�o m�nimas. A Copa � muito mais importante. No entanto, a �ndia e o Paquist�o podem derreter milh�es a qualquer momento. Tanta � a impot�ncia no mundo moderno que ningu�m liga muito. Claro que, quando virmos na CNN ou algo assim o grande festival de cogumelos luminosos, diremos: "Que horror!..." - como foi no 11 de setembro.

Ningu�m se importa mais com nada, porque ningu�m pode fazer mais nada. Os pa�ses atrasados, as terras de loucos est�o ficando fora do controle dos pa�ses dominantes. N�o se trata de um mundo em crise porque os ricos est�o ditando nosso destino. N�o. � que os ricos e poderosos n�o t�m mais como exercer seu poder. S� resta a eles a defesa. N�o s� nos pr�dios com grades de S�o Paulo como no c�u de Nova York, com os escudos protetores da "guerra das estrelas".

Na guerra fria, ach�vamos que os emergentes poderiam impor um regime socialista, a ditadura do proletariado. Nada. Os fracos e dependentes est�o apenas desfazendo qualquer poder... � o in�cio do fim de um dom�nio da "Raz�o". H� uma "Renascen�a" suja, com deuses loucos do Oriente, com mil�nios de ignor�ncia e fanatismo, atacando tudo que n�o seja a "santa morte". Os terroristas do Al-Qaeda, os homens-bomba, os hindus malucos n�o querem reformar vida nem sociedade, como almejaram os fil�sofos e cientistas. H� um terr�vel desejo de se ver a grande morte no mundo. Os equipamentos existem para ser usados um dia. O Oriente quer morrer. S�o esmagados pelas teocracias bilion�rias que lhes inculcam a obedi�ncia louca ao Alcor�o, para serem controlados e acharem que o inimigo somos n�s. Antes, a guerra fria era entre dois filhos do racionalismo: a raz�o socialista contra a raz�o capitalista. E o medo da morte criava um "deterrent". Agora, a guerra virou loucura pura. Se um dos inimigos n�o tem medo de morrer, muda tudo, n�o h� vit�ria. Isso, porque existe "morte oriental" e "morte ocidental". Eles n�o descobriram arma nenhuma. N�s demos a eles a for�a at�mica que Einstein e outros descobriram e que o Ocidente militar transformou em m�quinas de exterm�nio. O Oriente s� entra com a loucura. Lembrem-se das negras palavras de Osama, h� alguns meses: "N�o permitiremos de novo a humilha��o que os mu�ulmanos sofreram na Andaluzia..." Sabem quando? Em 1492... quando os mouros foram expulsos da Pen�nsula Ib�rica. N�o � doideira pura?

E como controlar e se defender de "homens-bomba" como eles? Como dominar terroristas? Osama n�o � um cara, um sujeito. Ele � muitos. Ele � "legi�o", como nos disse o Dem�nio. Osama est� por tr�s dessa guerra. O Al-Qaeda e os talib�s fugiram para o Paquist�o e tudo que eles querem � derrubar o Musharraff e lan�ar o Paquist�o como a vanguarda do "califado da morte".

E n�o s� eles. Numa semelhan�a fan�tica e assustadora, seus inimigos indianos pensam assim tamb�m. O dr. Ab-dul Kalam, chefe do programa nuclear da �ndia, j� declarou: "O mundo agora � a religi�o armada. Agora, existem quatro bombas nucleares: a bomba crist�, a bomba judaica, a bomba de Conf�cio e Mao e agora a bomba oriental, seja ela hindu ou isl�mica. S�o os quatro cavaleiros de vosso Apocalipse." (...)

O mundo atual est� desmoralizando at� a trag�dia. A morte virou bobagem.

A Copa do Mundo pode parar no meio. Os homens-bomba est�o chegando. E a�... fazer o qu�? Cantar um tango argentino? Nem isso. A Argentina j� era.

Relat�rio da ONU critica Estados �rabes

da Reuters, em Londres e no Cairo

Relat�rio da ONU acusa os pa�ses �rabes de desperdi�ar a riqueza gerada pelas reservas de petr�leo e de privar milh�es de seus cidad�os de liberdades pol�ticas b�sicas. O documento, divulgado hoje, concentra-se nos 22 pa�ses-membros da Liga �rabe.

Realizado por especialistas �rabes nos �ltimos 18 meses, o relat�rio revela que o crescimento da renda per capita na regi�o nos �ltimos 20 anos -0,5% em m�dia- � um dos menores do mundo, atr�s apenas da �frica sub-saariana.

O PIB somado (Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas pelo pa�s) das 22 na��es � menor do que o de um pa�s como a Espanha, por exemplo.

O relat�rio afirma que metade dos jovens �rabes querem emigrar. Quase 38% dos 280 milh�es de �rabes t�m menos de 14 anos, a maior propor��o em todo o mundo.

O secret�rio-geral da Liga �rabe, Amr Moussa, ex-ministro das Rela��es Exteriores eg�pcio, conclamou os l�deres �rabes a encarar as conclus�es do relat�rio para evitar problemas.

"Deve haver melhorias na vida dos jovens porque as conseq��ncias dessa neglig�ncia podem ser s�rias. E n�o estou pensando em termos de terrorismo internacional ou da pol�tica norte-americana, mas de repercuss�o social", disse ap�s a divulga��o oficial do documento, na sede da Liga �rabe, no Cairo.

Clovis Maksoud, que j� ocupou o cargo de embaixador da Liga na ONU, tamb�m ressaltou que as press�es sociais representam um risco para a regi�o. "A demora em agir pode levar a um n�vel de estagna��o que pode conduzir a explos�o popular", afirmou.

O documento elogiou as na��es �rabes por conseguir elevar a expectativa de vida, diminuindo os �ndices de mortalidade infantil e reduzindo a pobreza extrema, mas criticou a falta de liberdade e de oportunidades. A expectativa de vida, por exemplo, cresceu 15 anos nas �ltimas tr�s d�cadas.

"Os tr�s principais problemas relacionam-se � quest�o da liberdade, � situa��o das mulheres e ao conhecimento", afirmou Rima Khalaf Hunaidi, chefe da se��o �rabe da ONU e l�der da equipe que escreveu o relat�rio, o primeiro das Na��es Unidas sobre o mundo �rabe, realizado pelos pr�prios �rabes.

O relat�rio acusa muitos dos pa�ses de conceder pouca liberdade pol�tica, manter as mulheres subjugadas e permitir que a qualidade de ensino caia drasticamente.

Cerca de 65 milh�es de adultos, na maioria mulheres, permanecem analfabetos, 10 milh�es de crian�as est�o fora da escola e a taxa de desemprego de cerca de 15% � o triplo da m�dia mundial. Um em cada cinco �rabes vivem com menos de US$ 2 ao dia. Em rela��o � participa��o pol�tica, as mulheres ocupam apenas 3,5% das cadeiras nos Parlamentos.

A publica��o do documento acontece em um momento em que os pa�ses �rabes se encontram no centro das aten��es ap�s os ataques de 11 de setembro, nos EUA.

Terrorismo em nome de Deus

*** Pedradas para matar 'blasfemo' ***

Publicado no Jornal da Tarde, domingo, 7 de julho de 2002

Um homem morreu apedrejado, em uma aldeia do Paquist�o, ap�s ser acusado de blasfemar contra o Cor�o.

O caso ocorreu na semana passada, em Barnala, a 26 quil�metros de Faisalabad - cidade industrial da prov�ncia de Punjab -, mas teve sua origem h� oito anos.

Em 1994, Zahid Shah, de 40 anos, foi preso sob acusa��o de "blasfemar contra o Cor�o". Ap�s cumprir pena, em 1997 abandonou o povoado e se mudou para Faisalabad. H� cerca de dez dias, por�m, resolveu visitar Barnala. E, na semana passada, se envolveu em uma discuss�o, ainda n�o esclarecida, com os vizinhos de seu irm�o, em cuja casa estava hospedado. Ao saber do fato, Maulvi Faqir Mohammad, o �m� (l�der religioso) da mesquita local, usando os alto-falantes do templo, instigou a popula��o a perseguir Shah. Localizado, ele foi agredido e levado para a pra�a central da aldeia. Ap�s ver o "blasfemo" capturado, Mohammad exortou a popula��o a apedrej�-lo. Shah foi gravemente ferido e morreu.

Embora tivesse sido notificada do assassinato, segundo o jornal Daw, a pol�cia local limitou-se a classificar o crime como "morte acidental", e n�o prendeu nenhum dos envolvidos no apedrejamento.

REBELDES MU�ULMANOS MATAM 15 NA �NDIA

AGESTADO, 13-07-2002

Militantes integristas isl�micos mataram pelo menos 15 civis e deixaram outros 28 feridos num ataque com granadas perpetrado na noite deste s�bado contra uma favela perto da cidade de Jammu, na Caxemira indiana, informaram fontes hospitalares e policiais. Segundo testemunhas, o ataque foi lan�ado por pelo menos oito rebeldes, que, em seguida, iniciaram uma troca de tiros com for�as de seguran�a. Entre os mortos havia seis mulheres e um menino de tr�s anos. Foi o mais sangrento ataque desde 14 de maio, quando militantes isl�micos mataram 34 pessoas numa base militar perto de Jammu. [i]

Original em: http://www.estadao.com.br/agestado/noticias/2002/jul/13/54.htm

Indon�sia vive nova onda de viol�ncia entre crist�os e mu�ulmanos

Publicado no Jornal do Brasil em 13/08/2002

JACARTA - Pelo menos cinco pessoas morreram no ataque contra tr�s povoados crist�os na ilha indon�sia de Sulawesi. Agressores tamb�m queimaram centenas de casas e duas igrejas em Poso, marcando uma nova escalada da viol�ncia na regi�o que desde 2000 � cen�rio de um grave conflito entre crist�os e mu�ulmanos.

H� poucos dias, um turista franc�s morreu e quatro indon�sios ficaram feridos, quando v�rios homens armados atacaram um �nibus, a 200 quil�metros de Poso. Nas �ltimas horas, foram registradas cenas de viol�ncia nos povoados de Silanca, Sepe e Batu Gencu.

O governo da Indon�sia elaborou em dezembro um plano de paz, para acabar com os conflitos religiosos, que j� mataram entre 500 e 1.000 pessoas em dois anos. Crist�os e mu�ulmanos trocam acusa��es quanto � responsabilidade pela viol�ncia.

O arquip�lago, de 212 milh�es de habitantes, abriga v�rios focos de tens�o �tnica, religiosa o separatista, que amea�am sua estabilidade.

Londres: v�deos chamam para o terror

Publicado no Jornal da Tarde em 28/01/2002

Jornais denunciam: v�deos com cenas de sangue e chamados � jihad (guerra santa) recrutam terroristas nas mesquitas da Gr�-Bretanha

As mesquitas da Gr�-Bretanha se transformaram em centros de recrutamento de militantes para a Al Qaida, o grupo do terrorista saudita Osama bin Laden. A den�ncia foi feita ontem, por jornais brit�nicos que tiveram acesso a fitas de v�deo que recrutam futuros terroristas com cenas de "infi�is" sendo degolados ao clamor da jihad (guerra santa).

Antigos "recrutas" podem estar entre os tr�s brit�nicos identificados ontem, na base americana de Guant�namo (Cuba). O n�mero de brit�nicos naquela base poderia chegar a cinco. Outros dois est�o presos pelas tropas americanas no Afeganist�o.

As fitas de v�deo, cujo conte�do foi revelado pelos jornais The Guardian e The Observer, circulam h� mais de um ano por v�rias mesquitas de Londres.

Uma delas, produzida antes dos atentados de setembro nos EUA, mostra supostos "infi�is" sendo degolados, e um massacre de civis pelo argelino Grupo Salafista para Prega��o e Combate, que ap�ia Bin Laden.

"Matar em nome de Al�"

Nos v�deos, cenas sangrentas s�o entremeadas por coment�rios e exorta��es a "matar em nome de Al� at� que nos matem", ou lemas ufanistas como "a guerra contra os judeus e crist�os j� est� ganha."

Um segundo filme, feito h� 18 meses, mostra militantes do Taliban, a mil�cia extremista que governava o Afeganist�o - e abrigava Bin Laden - decapitando inimigos da oposicionista Alian�a do Norte.

Ambas as fitas foram compradas, por rep�rteres dos dois jornais, pelo equivalente a US$ 14. Elas teriam como um dos principais p�blicos os freq�entadores de mesquitas como a de Finsbury Park, ao norte de Londres.

N�o por coincid�ncia, o local foi um dos freq�entados pelo brit�nico Richard Reid, preso ap�s tentar detonar explosivos escondidos em seus sapatos, durante um v�o entre Paris e Miami, em dezembro.

Reid tamb�m visitava outra mesquita londrina, a de Brixton, onde chegou a se encontrar com Zacarias Moussaoui - o primeiro terrorista indiciado pela Justi�a dos EUA como c�mplice dos atentados de setembro.

Brit�nicos em Guant�namo

A revela��o dos v�deos, que prova ser a Gr�-Bretanha um dos maiores centros de recrutamento para as fileiras da Al Qaida, dever� fazer com que o governo brit�nico adote pol�ticas mais duras para evitar a infiltra��o de extremistas isl�micos. De acordo com The Guardian, hoje s� os militantes do Grupo Salafista seriam 200 no pa�s.

No �mbito da repress�o ao terrorismo, o governo revelou ontem a identidade de tr�s brit�nicos levados presos para a base militar de Guant�namo.

Trata-se de Asif Iqbal, de 20 anos, e Shafiq Rasul, de 24. Ambos sa�ram de um grupo radical isl�mico de Tipton, centro da Gr�-Bretanha, para se alistar nas mil�cias do Taliban ap�s 11 de setembro. Iqbal e Rasul foram interrogados, na semana passada, por agentes do MI5 - o servi�o secreto brit�nico.

Um terceiro foi identificado, na semana passada, como Feroz Abbasi, de 22 anos e procedente de Croydon, sul de Londres. Outros dois talibans brit�nicos de Tipton est�o presos no Afeganist�o. "N�o daremos nenhum nome definitivo sem comprovar que se trata mesmo de brit�nicos", alegou um porta-voz do governo.

Original em: http://www.jt.com.br/editorias/2002/01/28/int009.html

Fotos do encarceramento de homossexuais no Egito.
Crime: ter a orienta��o sexual diferente dos outros

O que querem os fundamentalistas

Publicado na Revista Veja em 08/10/2001

Osama bin Laden e sua corte de fan�ticos vivem na clandestinidade, enfurnados em cavernas do Afeganist�o, envoltos numa aura de mist�rio, mas seus objetivos s�o bem claros. Basta consultar os escritos do milion�rio que virou o mais exaltado dos radicais isl�micos. Primeiro, ele pretende expulsar os militares americanos das bases que eles mant�m na Ar�bia Saudita, onde a mera presen�a de

n�o-mu�ulmanos � vista pelos fan�ticos como uma profana��o do solo santo onde nasceu o Isl�. "Todos os esfor�os devem ser concentrados em combater, destruir e matar o inimigo at� que, pela gra�a de Al�, esteja completamente aniquilado", esclarece Laden, em documento datado de 1996. Realizada a primeira miss�o divina, ele pretende partir para a segunda, de alcance mais amplo: unir todos os mu�ulmanos numa mesma comunidade, governada de acordo com a interpreta��o mais literal e estrita dos preceitos do Cor�o. Para isso, os governos dos pa�ses mu�ulmanos considerados corrompidos pela influ�ncia ocidental - ou seja, todos, com exce��o do Afeganist�o, onde j� reina o fundamentalismo mais radical - devem ser varridos do mapa. Sem fronteiras nacionais, unificados sob esse governo ideal, chamado califado, os verdadeiros crentes se lan�ariam ent�o rumo � etapa final - arrebatar o resto do planeta. "Chegar� o tempo em que voc�s desempenhar�o papel decisivo no mundo, de forma que a palavra de Al� seja suprema e as palavras dos infi�is sejam subjugadas", prometeu ele a seus seguidores. Em qualquer uma dessas etapas, o dever dos mu�ulmanos � empregar todas as armas poss�veis para atacar os inimigos de Al�. O t�tulo do documento em que faz essa afirma��o diz tudo: "A Bomba Nuclear do Isl�".

Parece coisa de uma mente delirante, dos g�nios do mal caricaturados no cinema ou nas hist�rias em quadrinhos. A forma aberrante de fanatismo religioso pregada por Laden, por�m, tem ra�zes bem fincadas na hist�ria da religi�o mu�ulmana, constantemente marcada por esse desejo de mergulhar na fonte original, de beber da palavra mais pura do Cor�o, de reviver um passado m�tico. Esse movimento � chamado, genericamente, de fundamentalismo e est� entranhado no pr�prio c�digo gen�tico do Isl�, religi�o que tem uma vis�o totalizante do mundo e apresenta um modelo para tudo o que se faz em qualquer das esferas da vida, p�blicas ou privadas. Na �tica fundamentalista, a uni�o da religi�o e do Estado � um ideal ordenado por Deus - e sua separa��o, uma inven��o ocidental que provocou o decl�nio do mundo mu�ulmano. Para retornar ao "verdadeiro Isl�", todas as sociedades mu�ulmanas devem se unir numa comunidade �nica, chamada ummah. Tudo isso sob o signo da charia, a lei cor�nica tal como foi estabelecida h� quase 1.400 anos, com castigos coerentes com a sociedade tribal da �poca: amputa��o de membros para os ladr�es, decapita��o para assassinos ou hereges, apedrejamento para as ad�lteras.

O modelo a ser seguido � o que vigorou no tempo dos quatro califas, como s�o chamados os primeiros sucessores diretos do profeta Maom�. Esse passado id�lico, um ideal comum �s correntes messi�nicas de v�rias religi�es, obviamente est� mais na imagina��o dos fundamentalistas. Na verdade, tr�s dos quatro califas foram assassinados nas violentas disputas sucess�rias - a morte do �ltimo deles, Ali, produziu a mais conhecida corrente minorit�ria da religi�o mu�ulmana, os xiitas. "Eles dizem que houve um momento na Hist�ria em que a comunidade social e seus l�deres foram perfeitos. Tudo, evidentemente, � uma interpreta��o muito pessoal do que apresentam como uma verdade eterna", explica o estudioso das religi�es Martin E. Marty, da Universidade de Chicago. "No fundo, todas as religi�es querem ser absolutamente puras e se consideram o �nico instrumento de Deus. Nesse anseio, os fundamentalistas se isolam, erguem barreiras psicol�gicas para se manter a dist�ncia. Dessa forma, o mundo fica dividido em dois: os seus seguidores e seus inimigos."

Uma compara��o que ajuda a entender a mentalidade fundamentalista � com a Igreja Cat�lica na fase em que se encontrava quando tinha a mesma "idade" do Isl� hoje. Naquela �poca, os padres da Santa Inquisi��o queimavam pessoas que n�o acreditassem em dogmas cat�licos. Torturavam e matavam suspeitos de crimes como bruxaria. Qualquer id�ia inovadora era condenada, mesmo que fosse uma id�ia cient�fica defendida por pesquisadores de talento, como Galileu Galilei, que sofreu persegui��o no s�culo XVII por ter afirmado que a Terra girava em torno do Sol. Os historiadores tamb�m coincidem ao apontar as raz�es desse movimento de refluxo: em compara��o com seu passado glorioso, os pa�ses isl�micos vivem hoje um per�odo de decad�ncia. O Ocidente crist�o, com o qual conviveram e combateram ao longo dos s�culos em p� de igualdade, �s vezes at� de superioridade, superou-os vastamente em mat�ria de progresso material, cient�fico, administrativo e tecnol�gico. A primeira organiza��o fundamentalista moderna, a Fraternidade Mu�ulmana, foi criada em 1928 pelo xeque Hasan al-Banna num Egito humilhado pelo colonialismo brit�nico. Tamb�m ganharam contornos de males a ser combatidos as liberdades individuais, a emancipa��o das mulheres, as mudan�as nos padr�es familiares e outras transforma��es que se sucederam nas sociedades ocidentais. "Aterrorizados por sua vis�o do mundo contempor�neo, os integristas procuram abrigo e prote��o num passado que nunca existiu da forma como imaginam hoje", analisou o iraniano Amir Taheri, autor de dois livros sobre o "terror sagrado".

Chegamos, assim, �quilo que distingue o fundamentalismo em sua vertente mais extremada: o recurso � viol�ncia como meio n�o s� leg�timo como obrigat�rio. Ancorados em textos do Cor�o ou ensinamentos do profeta e seus seguidores, evidentemente interpretados da maneira mais literal, os fundamentalistas aperfei�oam h� s�culos uma teoria da viol�ncia total. "Aqueles que ignoram tudo do Isl� pretendem que ele recomende n�o fazer a guerra. S�o insensatos. O Isl� diz: 'Matem todos os infi�is da mesma maneira que eles os matariam'", escreveu um dos aiatol�s que lan�aram as bases da revolu��o fundamentalista que derrotou o regime do x� Reza Pahlevi no Ir�. O aiatol� complementa: "Aqueles que estudam a guerra santa isl�mica compreendem por que o Isl� quer conquistar o mundo inteiro. Todos os pa�ses subjugados pelo Isl� receber�o a marca da salva��o eterna. Pois eles viver�o sob a luz da lei celestial". Quando Osama bin Laden diz que "matar americanos e seus aliados, civis e militares, � um dever individual de todo mu�ulmano que tenha condi��es de fazer isso, em qualquer lugar onde seja poss�vel fazer isso", ele est� seguindo exatamente o mesmo racioc�nio.

� interessante notar que Laden estabeleceu como objetivo n�mero 1 o seu pr�prio pa�s, a Ar�bia Saudita. Quer livrar o territ�rio saudita da presen�a contaminadora de militares americanos. A ironia � que na Ar�bia Saudita j� vigora o mais severo fundamentalismo. � um dos poucos pa�ses isl�micos onde o Cor�o � a Constitui��o e as normas punitivas isl�micas ocupam o lugar do C�digo Penal. O Ir� xiita, que tem rela��es g�lidas com as demais na��es mu�ulmanas, e o Sud�o tamb�m formam nesse grupo. A unifica��o e a independ�ncia da Ar�bia Saudita aconteceram sob a bandeira de uma seita chamada wahabita, cujo radicalismo � reproduzido agora no Afeganist�o do Talib�. Al�m de cobrir as mulheres de panos dos p�s � cabe�a, sem deixar uma �nica nesga de pele � mostra, os wahabitas t�m horror a tudo que lembre remotamente divers�o - m�sica, cinema, teatro, at� vasos de flores a certa altura foram proibidos. O rei Faisal foi assassinado em 1975 por um sobrinho por ter tomado uma medida muito liberal: depois de um longo debate teol�gico, liberou a televis�o. Bebidas alco�licas rendem chicotadas em pra�a p�blica, a pol�cia religiosa anda pela rua controlando qualquer desvio. At� uma princesa da fam�lia reinante foi executada, por adult�rio. Pois todo esse rigor, para Laden, n�o vale nada. Ao permitir que militares americanos se instalassem no pa�s (para proteger os sauditas, e todo seu petr�leo, da sanha de Saddam Hussein), a monarquia wahabita se transformou em traidora da f� e merecedora de todos os castigos. � para arrancar os americanos do solo saudita, reverenciado como o ber�o do profeta Maom� e da revela��o divina, que Laden iniciou a campanha de ataques terroristas que culminou com o massacre de Manhattan. O que pode vir em seguida?

Opera��es espetaculares como os atentados contra os Estados Unidos, estarrecedores tanto por sua magnitude quanto pelas conseq��ncias em todo o planeta, podem criar a impress�o de que o mundo est� � beira de ser engolfado pelo fundamentalismo mais ensandecido, com massas de seguidores do profeta tomando o poder de assalto. Na verdade, as duas grandes ondas de apoio popular aconteceram em 1979, com a revolu��o iraniana, e 1991, quando os integristas ganharam, mas n�o levaram, as elei��es na Arg�lia. Nos outros pa�ses mu�ulmanos onde existe algum tipo de teste das urnas, os partidos fundamentalistas costumam ter em torno de 20% dos votos. Inseridos no jogo pol�tico, acabam envolvidos em projetos nacionais. Isso � exatamente o oposto do que prega o fundamentalismo, que "rejeita violentamente n�o s� o nacionalismo, mas a pr�pria id�ia de construir um Estado isl�mico num s� pa�s", segundo analisa o pesquisador franc�s Olivier Roy, estudioso do tema.

Na vis�o de Roy, o fundamentalismo "cl�ssico" est� em refluxo. Desde 1997, quando aconteceu o massacre dos turistas estrangeiros em Luxor, n�o acontecem atentados de grande impacto no Egito. A situa��o acalmou-se na Arg�lia, a viol�ncia brutal dos atentados palestinos contra israelenses acontece contra o pano de fundo de uma luta nacional. E, ironia das ironias, o Ir� dos aiatol�s tem agora uma converg�ncia de interesses com os Estados Unidos no combate aos talib�s e seu aliado saudita. Para o pesquisador, Laden � uma aberra��o at� mesmo no contexto do fundamentalismo. Seus seguidores, arrancados do grupo familiar e da sociedade de origem, desenraizados e aculturados, "fazem um retorno individual a um Isl� abstrato e desligado da realidade social". Reside a�, justamente, seu ponto fraco. Como se diria no jarg�o de uma outra doutrina fundamentalista, j� extinta, eles se afastaram das bases - e por isso est�o condenados ao fracasso. Queira Al� que seja verdade.

Original em http://www.mre.gov.br/EUA/Clipping/vj1008.htm

Nigeriana � condenada � morte por adult�rio

Publicado no Di�rio OnLine em 20/08/2002

Um alto tribunal isl�mico do Norte da Nig�ria condenou � morte uma mulher de 31 anos por ter tido um filho fora do casamento. Amina Lawal Kurami dever� ser apedrejada logo ap�s deixar de amamentar seu filho, que est� com oito meses. A defesa deve recorrer da decis�o.

A condena��o � morte por lapida��o decretada nesta segunda-feira por um tribunal de apela��o isl�mico da Nig�ria contra uma mulher acusada de adult�rio � "incompat�vel com a Constitui��o" desse pa�s, afirmou em um comunicado a organiza��o de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional (AI).

A entidade se declarou "extremamente preocupada" com a senten�a da Corte de Funtua (Estado de Katsina, norte da Nig�ria) que confirmou uma primeira condena��o � morte pela mesma raz�o.

"Este julgamento � incompat�vel com a Constitui��o nigeriana e com as obriga��es legais contra�das pela Nig�ria em virtude dos tratados internacionais sobre direitos humanos e da Carta africana para os direitos humanos e dos povos", afirmou a AI em nota.

Amantes ad�lteros s�o condenados � morte na Nig�ria

Da AFP em 29/08/2002

Dois amantes ad�lteros foram condenados � morte por apedrejamento por um tribunal isl�mico do Estado de Niger, no Norte da Nig�ria, anunciaram esta quinta-feira autoridades do Estado.

Ahmadu Ibrahim e Fatima Usma, ambos de 32 anos, foram declarados culpados de ter mantido rela��es sexuais fora do casamento, o que desrespeita a Charia (lei isl�mica), em vigor no Estado de Niger desde 2000, precisou um representante do Minist�rio de Justi�a do Estado.

Os dois amantes, que reconheceram o fato, t�m 30 dias para apelar da senten�a.

Com esta senten�a, j� s�o quatro as pessoas condenadas a morrer por apedrejamento desde o come�o de agosto e segundo os termos da Charia, em vigor em 12 Estados do Norte da Nig�ria.

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