Peça coloca mito entre o bem e o mal
Sylvia Colombo

Publicado no Jornal Folha de São Paulo em 12/07/94

A comédia "O Cipriano", que estréia hoje, às 21h, no Teatro Ruth Escobar, aborda os cultos evangélicos, satirizando sua linguagem e como eles vêm se utilizando da mídia para arrebatar fiéis.

A diretora Cintia Alves, que foi postulante a noviça, trouxe músicas de igreja para compor a trilha sonora, que é interpretada pelo coral "Cantar é Viver", formado por integrantes do Coralusp.

Ela se diz preocupada com a força que estes cultos estão tomando hoje em dia e com a linguagem por eles utilizada.

"Não é uma crítica a uma forma de religião, apenas queremos mostrar o absurdo a que chegou a exploração de mitos", diz.

A peça conta a história de S. Cipriano como se ela acontecesse hoje. S. Cipriano é um santo maldito que pratica magia negra e bruxaria até conhecer uma moça religiosa que o leva a descobrir Deus.

Ao deparar com seu poder, ele desfaz o pacto com o diabo. Este, contrariado, apodera-se de seu corpo.

Na história, um grupo de evangélicos é incumbido por Deus de encontrar o causador dos males da Terra e formam a "Campanha de Caça ao Bruxo".

"O grupo é mais que uma simples comunidade, é um clã, uma família, do tipo 'Tim Tones"', diz Cintia Alves.

"Se Cipriano existisse hoje estaria nestes cultos, pois eles carregam esta dubiedade entre bem e mal", diz Cintia Alves.

O elenco assistiu a diversos cultos durante a preparação do espetáculo e traz para o palco símbolos e nomenclatura típicos dos rituais evangélicos.

"Algumas coisas nós amenizamos pois o público não acreditaria", diz o ator Eduardo Ruiz.

Eduardo, que interpreta um pastor, se diz impressionado com as sessões de cura encenadas pelos pastores e os recolhimentos de dízimos.

"A verdade é mais surrealista do que nossa encenação", afirma a diretora.

O envolvimento com o tema foi tão grande que os atores deram o nome para sua equipe de Comakum - Comunidade Teatral Mea Maxxima Culpa.

Eduardo considera seu personagem um ator. "Ele acha que está enganando todo mundo, mas no fim da peça, ele é o grande enganado", explica.

A idéia do espetáculo é "mostrar o calcanhar-de-aquiles de todo este aparato tele-cene-evangélico dos cultos", nas palavras da diretora Cintia Alves.

O bom humor fica por conta da irreverência com que é tratado o tema da bruxaria, com receitas e simpatias sendo mostradas em cena no decorrer da peça.

"O Cipriano" fica em cartaz às terças e quartas-feiras, até o dia 17 de agosto

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