Publicado no Jornal O Dia no Domingo, 12
de setembro de 1999.
Pastores aderem ao golpe da pirâmide
para tirar dinheiro de ingênuos fiéis, prometendo o
paraíso
É o milagre diabólico da
multiplicação das notas de R$ 1. Uma pessoa que se
identifica como pastor Nelson Pires, que também seria
advogado aposentado, promete o paraíso para quem entrar
na corrente. Milhares de evangélicos em todo o País
têm recebido cartas com as orientações do
suposto pastor. Ele recomenda o envio de R$ 1 a cada integrante
da pirâmide de seis pessoas. Em seguida, o fiel - que
retirará um nome e incluirá o seu entre os
beneficiados - deve mandar 250 cartas com o mesmo pedido. Os
ganhos, escreve o papa-nota, podem ultrapassar R$ 379 mil. Só
se for no inferno. A pirâmide é um velho golpe,
mascarado agora sob o manto da fé. A armação
foi denunciada por leitor ao serviço O DIA FAZ POR VOCÊ,
que revela agora a nova roupagem da falcatrua. É crime
previsto na Lei 1.521 /51: "obter ou tentar obter ganhos ilícitos
em detrimento do povo (...), mediante especulações
ou processos fraudulentos". O DIA localizou dois
participantes da pirâmide evangélica. Apesar de
tanta esmola, muitos nem desconfiam. Só os primeiros a
entrar têm algum ganho. A maioria dos crentes leva 'beiço'.
Um fiel da Igreja Batista da Figueira, em Belford Roxo, que não
quis se identificar, gastou R$ 86 e não viu a cor do
dinheiro. Parou de mandar cartas ao ser alertado por um amigo.
Desempregado, amargou o prejuízo. Os participantes
cometem outra irregularidade ao usar carta simples. Pela Lei
Postal, dinheiro só pode ser enviado em vale-postal,
cheque-correio ou em carta registrada. A multa para o infrator,
se descoberto, é de R$ 10. A evangélica Valdinéia
Ferreira, 31, recebeu três cartas para participar da Pirâmide
da Fé. Todas foram para o lixo. "Eles sabem que os
irmãos são sinceros e muitas vezes, não têm
malícia. Tiram os evangélicos como bobo", diz
ela, casada com o pastor Kennedy Fábio, da Igreja Batista
Reviver, Cascadura. Durante os cultos, o pastor tratou de
alertar os fiéis para não caírem no conto
do vigário.