Publicado no Jornal Folha de São
Paulo no dia 28/12/97
Igrejas oferecem comidas, roupas e
medicamentos e ganham adesão de índigenas a seus
dogmas
enviada especial a Campinápolis
(MT) e à Ilha do Bananal (TO)
Ocupando espaços deixados vagos
pelo Estado, evangélicos se espalham entre as populações
indígenas e alteram os costumes das comunidades por meio
da pregação da Bíblia.
Assistidos precariamente pelo governo, os índios
se apegam às missões e aos benefícios
oferecidos pelos religiosos e prometem fidelidade a um único
deus em troca de comida, roupas e medicamentos.
Dados de 1996 da Funai (Fundação
Nacional do Índio) revelam que 35 diferentes grupos
religiosos desenvolvem atividades junto aos índios. Desse
total, pelo menos 19 são evangélicos.
A Igreja Universal do Reino de Deus atua
na aldeia Campinas, em Campinápolis (MT), desde 1993.
Com um templo construído na reserva
sem a autorização da Funai, a igreja já
formou pastores e obreiros de origem indígena e tem entre
os moradores da comunidade seus maiores defensores.
''Quem manda aqui sou eu, não a
Funai'', diz o índio Marino Martins, administrador do
posto da entidade na aldeia.
Além de curas milagrosas que
incluem até a suposta ressurreição de
mortos, Martins aponta a atividade assistencialista da Universal
como a principal causa de sua aceitação pela
comunidade.
Segundo ele, a igreja providencia a
manutenção do estoque de medicamentos da Campinas,
o socorro de doentes e ainda envia médicos à
aldeia a cada seis meses.
"A Universal traz de tudo para a
gente. Dizem que não vão parar até o mundo
acabar. Sem eles, iríamos ficar sem remédio e sem
socorro. Já a Funai é pior do que satanás.
Não faz nada.''
Embora os índios neguem que a
igreja promova alterações na comunidade, funcionários
da Funai com experiência entre xavantes da Campinas
identificam mudanças no modo de vida da aldeia.
A coordenadora de pedagogia da área
de educação da Funai, Neide Martins Siqueira,
viveu de 1977 a 1985 na comunidade que deu origem à
Campinas.
"A igreja desequilibra os valores do
grupo porque impõe coisas. Quando estive lá em
agosto, não vi cascos de jabuti (usados como alimento)
espalhados e todos estavam de cabelo cortado, o que é
muito esquisito. Perguntei se ainda faziam suas festas
religiosas. Enrolaram e não responderam, mas vi que não
faziam'', afirma.
Carne de tartaruga
Outro caso de mudança cultural
acontece na aldeia carajá Fontoura, na Ilha do Bananal
(Tocantins).
Comandada pelo pastor índio João
Werreriá e também sem autorização da
Funai, a Igreja Adventista do Sétimo Dia desenvolve na
aldeia um projeto com custo estimado em R$ 80 mil. A parte
inicial do programa, que inclui construção de
salas de aula (onde haverá cursos de religião,
entre outros), farmácia, enfermaria, consultórios
médico e dentário, centro comunitário e uma
igreja, foi concluída no dia 18 de dezembro.
Ao se aproximar dos carajás, os
adventistas "aconselham'' os índios a abandonar o
consumo de carne de tartaruga e proíbem a participação
na festa de invocação de espíritos _o Aruanã_
e a bigamia entre os caciques.
Caso se recusem a seguir as orientações,
os fiéis não podem ser batizados.
"A Bíblia diz que não
se pode comer tartaruga. Também não aconselho a
dança do Aruanã porque falam palavrões
durante a cerimônia e cristãos não podem
usar linguagem pornográfica. Além disso, invocam vários
espíritos. Não se pode servir a dois senhores nem
ter duas mulheres'', diz Werreriá.
PF INVESTIGA PRESENCA DE MISSIONARIOS EM ALDEIA INDIGENA
Publicado no Jornal O ESTADO DE S. PAULO
em 25-08-2000
Autor: Edmilson Ferreira
RIO BRANCO -- A Policia Federal instaurou
inquerito para apurar denuncias de que membros da Missao Novas
Tribos do Brasil estariam retirando especies da flora da reserva
dos indios catuquinas, em Tarauaca' (a 300 km de Rio Branco), e
enviando-as para o exterior. A Procuradoria da Republica iniciou
investigacoes ha' cerca de dez dias. A PF investiga tambem o uso
de uma pista de pouso construida pelos missionarios. A Funai,
segundo Pereira Neto, sempre soube da presenca dos americanos
naquela area. Alem de evangelizar, eles prestavam assistencia
educacional e de saude aos indios. O grupo traduziu a Biblia na
lingua catuquina. [e]
Cacique diz que religião
gerou conflito em aldeia
Publicado na Trinuna digital em 30 de
junho de 2000
Autor: Carlos Ratton
Acusado de, com a ajuda de seu grupo,
expulsar 18 famílias, destruir barracos e implantar
terror na Aldeia Bananal, em Peruíbe, o cacique João
Gomes resolveu dar sua versão sobre o conflito na área
que já dura seis dias. Conforme explicou a A Tribuna, o
impasse deve-se à postura do cacique nomeado pela Funai
para susbstituí-lo, Davi Honório Cardoso, que vem
tentando impor a religião evangélica na aldeia,
destruindo a cultura e tradição da tribo.
Cercado por seus filhos - todos pintados
e armados de arco e flecha - no interior da aldeia, que fica a
18 quilômetros do centro de Peruíbe, o cacique
Kirinrindju, como é conhecido pela comunidade
tupi-guarani, revela um lado da história que até
então não conseguia ultrapassar os 200 alqueires
da reserva, até ontem isolada do resto da Cidade em função
do confronto.
Segundo o cacique, a religião
evangélica, seguida pelo grupo de Davi Honório
Cardoso, é a responsável pela divisão dos
grupos e pela briga interna se arrasta há anos na Aldeia
Bananal.
''O centro das discussões é
a imposição do grupo liderado por Davi Cardoso,
com o respaldo do ex-chefe da Funai, José Maurino
Kirsten, de impor a religião e instalar uma igreja evangélica
na aldeia, o que eu e meu grupo não concordamos pois, além
do estatuto dos índios proibir, a religião dos
brancos extermina nossa cultura, origem e identidade. Além
disso, divide a tribo e prega uma política que só
interessa a quem segue a religião evangélica''.
Segundo ele, a religião promove
conflitos e divide interesses quando parte da aldeia não
concorda com as determinações impostas e a maneira
de pensar e agir dos evangélicos. ''O grupo de Davi chega
a ir para a beira da estrada, que dá acesso à
aldeia, para xingar e jogar pedra nos índios que não
fazem parte da religião deles, causando uma rivalidade
muito grande, que hoje se tornou insustentável''.
Terra - O cacique João Gomes também
desmente boa parte da versão apresentada pelo grupo que
saiu da aldeia, sob a alegação de que foi expulso
violentamente porque João Gomes estaria interessado na
posse das terras da reserva.
''Essa versão apresentada por Davi
e seu grupo não tem fundamento. As terras da reserva são
da União e não minhas. Eles (grupo de Davi) jamais
foram expulsos da aldeia. Meu problema é com o Davi, que é
um cacique escolhido por José Kirsten e imposto pela
Fundação Nacional do Índio (Funai). Outra
coisa que precisa ser enfatizada é que eu sou o real
cacique da Aldeia Bananal, pois isso é uma tradição
que passa de pai para filho. Um cacique indígena não
pode nunca ser nomeado''.
Sete mortos em suicídio
coletivo no Peru
Publicado no Jornal O Globo em 2 de julho
de 2000
RIO, 2 - Sete membros de uma família
peruana foram encontrados mortos, com bíblias ao redor,
depois de, ao que tudo indica, se invenenarem em casa. O suicídio
teve, de acordo com a polícia de Lima, capital peruana,
motivação religiosa. Os cadáveres em
decomposição de um homem, sua mulher e cinco
filhos ficaram estendidos na casa por quase uma semana, sendo
encontrados hoje por vizinhos, em um pobre bairro da região
oeste de Lima. Os mortos eram evangélicos. Seis das vítimas
foram encontradas enroladas em lençóis, de acordo
com a imprensa local. A mais jovem vítima era um rapaz de
15 anos. As informações são da Reuters