Sociólogo e religiosos criticam
a surgimento de igrejas em cada esquina, principalmente das
que exploram a aflição das pessoas.
Miséria e o desejo de encontrar
uma significação para a sua existência.
São os motivos que levam o homem a buscar determinada
crença, na opinião do sociólogo e
professor Diatahy Bezerra de Menezes. Ele considera que a fé
tornou-se uma mercadoria rendosa, daí a proliferação
dos grupos religiosos.
De um modo geral, diz o sociólogo,
as religiões exploram a aflição das
pessoas fazendo promessas de emprego, riqueza e saúde.
Na opinião do pastor Otoniel Martins, da Igreja
Presbiteriana de Fortaleza, muitas pessoas ficam
influenciadas ou têm curiosidade de conhecer o novo
``e vão atrás de rotulagem''. Mas, quando
descobrem que não era o que esperavam, acabam
retornando às origens.
Otoniel Martins compara o surgimento
de determinadas igrejas aos partidos políticos.
Muitos são fundados, mas somente os que têm
base histórica e demonstram credibilidade continuam a
existir. ``Tem de existir seriedade'', acrescenta.
O pastor da Igreja Presbiteriana de
Fortaleza diz que para se inaugurar um novo templo são
adotados alguns critérios, como o número de
membros suficientes, pessoas capazes de assumir e conduzir a
igreja com um conselho de presbíteros e uma junta de
diáconos e as condições financeiras
para a sua própria manutenção. A Igreja
Presbiteriana tem 117 anos no Ceará e congrega
atualmente 22 templos na Capital.
O vigário geral da Arquidiocese
de Fortaleza, monsenhor Antônio Souto, diz também
que há critérios para inaugurar cada novo
templo católico: que seja situado num local onde haja
um grande número de fiéis e que tenha um
alcance pastoral, além da disponibilidade de um pároco
ou vigário. ``Sem ter um padre que dinamize o
trabalho pastoral e dê assistência aos fiéis,
não pode existir a igreja''.
Monsenhor Souto acredita que, no
decorrer dos anos, muitos católicos ficaram perdidos,
sem evangelização, por isso é tão
fácil desviá-los para outras igrejas. Ele
concorda que a Igreja Católica vem perdendo um número
considerável de seguidores para as outras religiões,
mas acredita que isso pode até ser providencial. Os
que ficam são muito mais fervorosos.
O vigário geral da Arquidiocese
de Fortaleza acha que os movimento surgidos mais
recentemente entre os católicos, como a Renovação
Carismática Católica e, antes, as Comunidades
Eclesiais de Base (CEBs), resgataram muitos que estavam se
afastando da igreja. ``Eles são muito responsáveis'',
conclui.
Universal cresce sob polêmica
Entre as igrejas evangélicas, a
que tem causado mais polêmica, no mundo inteiro, é
a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Considerada
seita em alguns países, como a França, a IURD
demonstra um crescimento assustador a partir dos anos 80 e,
23 anos após sua fundação no prédio
onde funcionava uma modesta funerária no subúrbio
carioca, já registra a média de nove templos
inaugurados por mês no Brasil. Calcula-se que pelo
menos 4 milhões de pessoas vão aos cultos diários.
A IURD detém pelo menos 21
emissoras de televisão e cerca de 80 rádios,
todas registradas em nome de pastores, bispos, deputados e
executivos da igreja. A primeira rádio adquirida pelo
bispo Edir Macedo (seu fundador) foi a Rádio
Copacabana (RJ) e a emissora de televisão foi a TV
Record (SP), em 1989 por US$ 45 milhões. A compra da
sede da emissora no Rio, e equipamentos sofisticados, em
1995, ainda é alvo de investigação pelo
Ministério das Comunicações, Ministério
Público, Polícia Federal e Receita Federal.
Há cinco anos, dois escândalos
envolveram a IURD no Brasil. Edir Macedo foi acusado de
sonegação fiscal, estelionato, charlatanismo,
curandeirismo e incitação ao crime. Naquele
ano, estimava-se que o império de Macedo arrecadaria
R$ 350 milhões por ano e havia a acusação
de que estaria envolvido até com o tráfico de
drogas. Outro escândalo nacional foi quando no dia 12
de outubro daquele ano, no programa de TV ``Palavra de
Vida'', o pastor Sérgio Von Helde chutou, esmurrou e
xingou uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do
Brasil. Ele foi acusado de ``vilipêndio a objeto
religioso, além da prática, indução
e incitação à discriminação
e preconceito religioso''.
No Ceará, divergências
entre o bispo Edir Macedo e o pastor Carlos Magno de Miranda
terminaram pela dissidência de Magno, que estaria
sendo preparado para suceder Macedo no comando da Igreja
Universal do Reino de Deus no Brasil. Macedo ficaria, então,
livre para se preocupar com o crescimento da igreja no
mundo. Mas, com o rompimento, Carlos Magno passou a
denunciar que o dinheiro arrecadado dos fiéis
(ofertas) enriquecia o bispo. Disse ainda que a Record tinha
sido comprada a um preço superior ao declarado por
Macedo, que estaria burlando a Receita. Carlos Magno, que
atualmente mora em Recife, disse ainda que os pastores
recebiam prêmio de acordo com o arrecadado nos cultos,
variando entre 5% a 10% das ofertas.
Cristianismo avança
mais em países pobres
Publicado no Jornal O Estado de S.
Paulo em 15/04/2001
Igreja ganha fiéis em áreas
tradicionalmente dominadas por outras religiões
KENNETH WOODWARD - Newsweek
É domingo em Agbor, um afastado
povoado no sudoeste da Nigéria, onde as galinhas
ciscam em ruas de terra e há mais bicicletas do que
carros. Durante toda a manhã, mulheres vestidas com
roupas de colorido vivo, crianças de olhos grandes
segurando as mãos de seus pais que trajam camisas
brancas e calças pretas, seguem em bandos para
igrejas.
Há mais de 20 templos no espaço
de 1 quilômetro quadrado na cidade. Muitos deles católicos,
anglicanos e protestantes - frutos da ação de
missionários ocidentais. Mas, em sua maioria, são
de origem puramente africana, como a Igreja Celestial de
Cristo, a Igreja do Milagre Apostólico e a Capela dos
Vencedores. O mesmo ocorre em todo o subcontinente africano,
onde o cristianismo faz parte da vida de quase um terço
da população.
O papa João Paulo II visitou a África
dez vezes - mais do que qualquer outro continente fora da
Europa - e por um bom motivo. Lá, o cristianismo está
se espalhando mais rapidamente do que em qualquer outra época
ou lugar. Entre os mais notáveis cristãos
africanos está o cardeal Francis Arinze, um nigeriano
funcionário do Vaticano, considerado um dos
principais candidatos a tornar-se o primeiro papa negro da
história.
Em 1900 - o início do que os
protestantes norte-americanos batizaram como o século
cristão -, 80% dos cristãos eram europeus ou
norte-americanos. Hoje, 60% deles são cidadãos
da África, Ásia e América Latina. "O
centro do cristianismo mudou para o sul", diz Andrew
Walls, da Universidade de Edimburgo, na Escócia,
especialista em história das missões cristãs.
"Os acontecimentos que estão moldando o
cristianismo do século 21 ocorrem na África e
na Ásia."
Pós-cristã - A Europa é
agora uma sociedade pós-cristã. Na Escócia,
menos de 10% dos cristãos vão regularmente à
igreja, enquanto nas Filipinas esse número é
de quase 70%. Só na Nigéria, os anglicanos são
sete vezes mais numerosos do que os episcopalianos em todo
Estados Unidos. Lá, há também quatro
vezes menos presbiterianos que na República da Coréia.
A maré crescente dos cristãos
não-ocidentais está alterando o mapa do
cristianismo mundial e revertendo também a influência
dentro do mundo católico e protestante.
Em fevereiro, o papa ampliou o Colégio
dos Cardeais e, dos 135 aptos a eleger seu sucessor, 41% são
de nações não-ocidentais. E, à
medida que o cristianismo se torna uma religião
verdadeiramente global, os teólogos da Índia e
outras partes da Ásia estão desenvolvendo
novas interpretações da fé, baseadas em
seus contatos com tradições hindus e budistas.
O surgimento do cristianismo não-ocidental
tem muitas causas convergentes.
Na Índia, por exemplo, o
crescimento é principalmente entre os pertencentes às
castas mais desprezadas, que encontram no cristianismo a
esperança e a dignidade, negadas a eles pelo rígido
sistema.
Em toda a parte onde se espalha, o
cristianismo é também encarado como a religião
do Ocidente bem-sucedido. Os missionários
norte-americanos jamais foram tão ativos no mundo em
desenvolvimento como agora, atingindo, por meio da televisão,
os lares humildes com mensagens de milagre e salvação.
Como resultado, pela primeira vez na história, o
cristianismo tornou-se uma religião particularmente
dos pobres, dos marginalizados, dos destituídos de
poder e dos oprimidos.
Seminaristas - Os cristãos do
Ocidente já estão experimentando os efeitos
dessa grande mudança demográfica. Países
que antes eram considerados terras cristãs
transformaram-se em territórios de missão do
novo milênio. Evangelizadores procedentes da América
Latina e da África fazem hoje cruzadas em Londres e
Berlim. Em Roma, os seminaristas de antigos países de
missão são agora tão numerosos quanto
os da Europa e da América do Norte. Os Estados Unidos
costumavam ser a fonte primária de novos recrutas
para os jesuítas. Atualmente, a Índia é
o maior fornecedor dos seus noviços.
Mas, para milhões de cristãos
na África e na Ásia, palavras como "protestante"
e "católico" inspiram pouco. Segundo David
Barrett, co-autor da Enciclopédia Mundial Cristã,
existem agora 33.600 denominações cristãs
diferentes. Como no passado, os novos cristãos de
hoje tendem a tirar da Bíblia tudo o que atende a
suas necessidades e a ignorar o que não combina com
suas tradições. Na Índia, onde o pecado
é identificado com o "mau carma" nesta vida
e em vidas anteriores, muitos convertidos interpretam a cruz
como um sacrifício de Jesus que retira suas próprias
falhas cármicas, libertando assim suas almas de
futuros renascimentos.
Em algumas partes da África,
onde a urbanização dissolveu a antiga
moralidade tribal, muitos novos cristãos substituíram
essa moral pelo rigoroso "código de pureza"
que rege o comportamento pessoal que eles encontram esboçado
no Livro do Levítico. |