Publicado em 18/09/98 no Jornal Folha de São
Paulo
A ignorância científica pode
ser uma ameaça para a sociedade, disse anteontem em
palestra no auditório da Folha o físico e
colunista Marcelo Gleiser.
Ele citou como exemplo o caso de membros
de uma seita nos EUA que acharam que a passagem próxima
da Terra do cometa Hale-Bopp significava que eles poderiam pegar
carona para o céu em uma nave espacial _e por isso se
mataram.
A palestra de Gleiser, professor de física
teórica do Dartmouth College, em Hanover, nos EUA, teve
como tema "O Princípio e o Fim do Mundo - A Ciência
da Criação e do Apocalipse".
Para o físico, a proximidade do milênio
tem evocado "medos ancestrais" nos seres humanos. Ele
lembrou que a passagem para o ano 1000 levantou questões
parecidas _"o mundo mudou muito, mas os anseios continuam
presentes".
Gleiser afirmou que ciência e religião
têm uma origem comum: a necessidade humana de "controle
do medo", que pode ser feito pela razão ou por
rituais.
Ele fez um histórico dessa busca
humana de enxergar o mundo em termos racionais, desde os filósofos
gregos pré-socráticos até o nascimento da
ciência moderna, com o italiano Galileu Galilei e o inglês
Isaac Newton.
Para a pergunta básica da platéia
lotada, "como o Universo começou?", ele teve
uma resposta humilde: "Nós não sabemos".
Mas a cosmologia já consegue
explicar como era o Universo um milionésimo de bilionésimo
de segundo depois do Big Bang, a grande "explosão"
que teria dado origem ao Universo.
Quanto ao final, também não
há certeza. O Universo poderá se contrair ou
continuar se expandindo indefinidamente.
Mais certo é que o Sistema Solar em
que está a Terra deverá acabar em cerca de 5 bilhões
de anos, com a explosão do Sol.
Mas, bem antes disso, um asteróide
gigante poderá já ter arrebentado a Terra, ou
provocado extinções em massa, como fez aquele que
caiu há cerca de 65 milhões de anos, extinguindo
os dinossauros.