Publicado no Jornal Folha de São
Paulo em 25/03/95
Produtos químicos apreendidos em
sedes no Japão serviriam para fazer cerâmica, diz líder
à TV
A polícia do Japão revelou
que os produtos químicos apreendidos esta semana nas
sedes da seita Aum Shinrikyo dariam para produzir gás tóxico
suficiente para matar 10 milhões de pessoas.
A Aum Shinrikyo (Ensinamento da Verdade) é
a principal suspeita do atentado com o gás sarin que
deixou 10 mortos e mais de 5.000 pessoas intoxicadas em estações
do metrô de Tóquio segunda-feira.
Respondendo a perguntas da rede de TV NHK
numa fita de vídeo entregue ontem na sede da emissora, o
líder da seita, Shoko Asahara, que está foragido,
voltou a negar qualquer envolvimento do grupo com o atentado.
A análise das 40 toneladas de
produtos químicos apreendidos em sedes da seita foram
feitas no Centro de Investigação Militar de
Tachikawa, a 70 km de Tóquio.
Os produtos incluem tricloreto de fósforo,
fluoreto de sódio (ingredientes do sarin), álcool
isopropílico e acetonitrila (solventes usados na fabricação
do gás).
Tudo isso é uma campanha para
esmagar a nossa seita, disse Asahara na fita. Fluoreto de sódio
é usado para fazer cerâmica. Tricloreto de fósforo
é usado para fazer plástico e também como
herbicida. Eu não sou capaz de ver como se poderia fazer
sarin com essas substâncias, afirmou.
O uso desses produtos para a fabricação
do gás de nervos sarin, inventado na Alemanha antes da
Segunda Guerra, foi explicado por químicos ao longo da
semana.
Nunca ouvi falar de fluoreto de sódio
sendo usado para fazer cerâmica, comentou professor de
artesanato da escola de Artes Plásticas da Universidade
de Tóquio.
Numa entrevista separada, o advogado e
membro da seita Yoshinobu Aoyama insistiu que os produtos químicos
apreendidos se destinavam a artesanato e acusou as forças
militares norte-americanas baseadas no Japão pelo
atentado de Tóquio.
A Embaixada dos EUA na capital japonesa
descartou a acusação como indigna de comentário.
Além de Asahara, 40 (cujo
verdadeiro nome, revelado anteontem, seria Chizuo Matsumoto), a
polícia está procurando por Takeshi Matsumoto, 29,
e Junko Shimizu, 23, também líderes da seita.
Os quatro médicos detidos
quarta-feira na operação policial na sede da seita
em Kamiku-Isshiki foram indiciados por detenção
ilegal de pessoas em cárcere privado e administração
irregular de drogas.
Além dos produtos tóxicos,
no local foram encontradas 50 pessoas, muitas delas em coma
provocado por subnutrição e outras aparentemente
drogadas