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Biografias


Niels Henrik David Bohr

  

 (1885 - 1962)

Arquitetado o plano, só falta esperar escurecer para pô-lo em prática. É a noite de 23 de setembro de 1943. Na cidade de Copenhague, mais uma vez o toque de recolher traz o silêncio forçado. Mas a Resistência dinamarquesa - uma das mais bem organizadas da Europa - não cede. Continua sua incansável e perigosa missão de ajudar pessoas que procuram deixar o país ocupado pelas forças alemãs.

Nessa noite, um pequeno barco de pesca leva a bordo um clandestino excepcional, cuja permanência na Dinamarca poderia ser incalculavelmente vantajosa para os alemães. Niels Bohr, um dos maiores cientistas europeus em questões nucleares, é levado até a Suécia, de onde embarca num avião que se dirige para a Inglaterra.

Como medida extrema de segurança - uma vez que o avião pode ser abatido pelos inimigos -, o cientista viaja numa cabina especial que em caso de perigo pode ser aberta para deixar seu ocupante cair de pára-quedas. E leva consigo uma garrafa para cerveja cheia com "água pesada" (uma vez em Londres, porém, verificaria que se havia equivocado, transportando por 900km, com todo o cuidado, uma garrafa para cerveja contendo. . . cerveja).

Bohr deixa seu país pelo receio de ser enviado a um centro de pesquisas nazista, onde deveria colaborar na construção de armamentos atômicos.

Nascido em Copenhague no dia 5 de outubro de 1885, Niels David Bohr formou-se em Física em 1911. Nesse mesmo ano transferiu-se para o Laboratório Cavendish, na Universidade de Cambridge. Aí trabalhou com J. J. Thomson, com o objetivo de concluir a elaboração de sua tese sobre eletrônica.

No ano seguinte foi para Manchester, para trabalhar com E. Rutherford. Este, recém-chegado do Canadá, não escondeu sua admiração pelo jovem assistente, definindo-o como "o homem mais inteligente que já tenha conhecido", sem saber que mais tarde Bohr seria o continuador de sua obra no estudo da interpretação da estrutura do átomo. Rutherford acabara de propor uma nova teoria "nuclear", baseando-se em experiências sobre o espalhamento de partículas alfa.

Para Bohr, o encontro com Rutherford foi decisivo: daí por diante resolveu dedicar-se ao estudo da estrutura do átomo. De fato, Rutherford descobrira que o átomo possui, no centro, um núcleo no qual se concentra praticamente toda sua massa. Os elétrons, descobertos por J. J. Thomson poucos anos antes, localizavam-se ao redor do núcleo. Não se sabia exatamente, porém, como esses elétrons se dispunham e quais suas relações com o núcleo.

Voltando à Dinamarca em 1913, Bohr procurou estender ao modelo atômico proposto por Rutherford os conceitos quânticos sugeridos por Plank, em 1900.

Bohr acreditava que, utilizando a teoria quântica de Planck, seria possível criar um novo modelo para descrever o átomo, capaz de explicar a maneira como os elétrons absorvem e emitem energia radiante. Esses fenômenos eram particularmente visíveis na análise dos espectros luminosos produzidos pelos diferentes elementos. Ao contrário daquele produzido pela luz solar, esses espectros apresentam linhas de luz com localizações específicas, separadas por áreas escuras. Nenhuma teoria conseguira até então explicar o porquê dessa distribuição.

Estudando o átomo de hidrogênio, que é o mais simples de todos, Bohr conseguiu, em 1913, formular seu novo modelo. Concluiu que o elétron desse átomo não emitia radiações enquanto permanecesse numa mesma órbita, mas somente ao se deslocar de um nível mais energético (órbita mais distante do núcleo) a outro de menor energia (órbita menos distante).

A teoria quântica lhe permitiu formular essa concepção de modo mais preciso: as órbitas não se localizariam a quaisquer distâncias do núcleo; ao contrário, apenas algumas órbitas seriam possíveis, cada uma delas correspondendo a um nível bem definido de energia do elétron. A transição de uma órbita a outra não seria gradativa, mas se faria por saltos: ao absorver energia, o elétron saltaria para uma órbita mais externa; ao emiti-la, passaria para outra mais interna. Cada uma dessas emissões, de fato, aparece no espectro como uma linha luminosa bem localizada.

A teoria de Bohr, embora tenha sido sucessivamente enriquecida e em parte modificada, representou um passo decisivo no conhecimento do átomo, podendo ser comparada à introdução do sistema de Copérnico em contraposição ao de Ptolomeu. Embora em ambos os casos se tratasse de uma primeira aproximação, foi o aperfeiçoamento dessas hipóteses que possibilitou mais tarde a elaboração de teorias mais precisas.

Assim, graças a Copérnico foi possível compreender o mecanismo do universo em geral e do sistema solar em particular; quanto a Bohr, sua teoria permitiu a elaboração da mecânica quântica partindo de sólida base experimental.

A publicação da teoria sobre a constituição do átomo teve enorme repercussão no mundo científico. Com apenas 28 anos de idade, Bohr já conhecia a fama, prosseguindo sua brilhante carreira.

De 1914 a 1916 foi professor de Física Teórica em Manchester. Voltou depois para Copenhague, onde, em 1920, foi nomeado diretor do Instituto de Física Teórica. Finalmente, sua contribuição foi internacionalmente reconhecida quando recebeu o Prêmio Nobel de Física em 1922, aos 37 anos de idade.

Sua produção científica prosseguia no ritmo incansável de sempre: com o fim de comparar os resultados obtidos por meio da mecânica quântica com os resultados que, com o mesmo sistema, se obteriam na mecânica clássica, Bohr enunciou o princípio da correspondência. De acordo com esse princípio, a mecânica clássica representa o limite da mecânica quântica quando esta trata de fenômenos do mundo microscópico.

Estudou a interpretação da estrutura dos átomos complexos, a natureza das radiações X e as variações progressivas das propriedades químicas dos elementos.

Bohr dedicou-se também ao estudo do núcleo atômico. O modelo de núcleo em forma de "gota de água", que ele propôs independentemente de Frenkel, foi tratado quantitativamente.

O modelo revelou-se muito favorável para a interpretação do fenômeno da fissão do urânio, que abriu caminho para a utilização da energia nuclear. De fato, Bohr notou que durante a fissão de um átomo de urânio desprendia-se enorme quantidade de energia. Notou então que se tratava de uma nova fonte energética de elevadíssimas potencialidades. Justamente com a finalidade de aproveitar essa energia, Bohr foi até Princeton (Filadélfia) para se encontrar com Einstein e Fermi e discutir com eles o problema.

Em 1933, juntamente com seu aluno Wheeler, Bohr aprofundou a teoria da fissão, evidenciando o papel fundamental do urânio 235. Tais estudos permitiram prever também a existência de um novo elemento, descoberto pouco depois: o plutônio.

(Bohr, Heisenberg e Paul Dirac)

Em janeiro de 1937, em Washington, participou da V Conferência de Física Teórica, na qual defendeu a interpretação de L. Meitner e Otto R. Frisch, também do Instituto de Copenhague, para a fissão do urânio: que podia ser feita uma comparação grosseira entre um núcleo atômico de massa instável e uma gota de água que se rompe.

Apenas três semanas depois os fundamentos da teoria da "gota de água" foram publicados na revista "Physical Review". Essa publicação foi seguida por muitas outras, todas tratando da parte mais "íntima" dos sistemas atômicos: o núcleo e a disposição e características dos elétrons que giram em torno dele.

Um ano após ter-se refugiado na Inglaterra, Bohr transferiu-se para os Estados Unidos, ocupando o cargo de consultor do laboratório de energia atômica de Los Alamos, onde cientistas do mundo inteiro canalizavam todos os seus esforços na construção da bomba atômica.

Compreendendo a gravidade da situação e o perigo que essa bomba poderia representar para a humanidade, Bohr dirigiu-se a Churchili e Roosevelt, num apelo à sua responsabilidade de chefes de Estado, no sentido de evitar a construção da bomba.

Mas a tentativa de Bohr foi inútil. Em julho de 1945 a primeira bomba atômica experimental explodia em Alamogordo. Em agosto desse mesmo ano, uma bomba atômica destruía a cidade de Hiroxima, matando 66.000 pessoas e ferindo 69.000. Três dias depois, uma segunda bomba foi lançada em Nagasáqui.

Em 1945, finda a II Guerra Mundial, Bohr voltou à Dinamarca, sendo eleito presidente da Academia de Ciências. Continuou apoiando as vantagens da colaboração científica entre as nações e para isso foi promotor de congressos científicos organizados periodicamente na Europa e nos Estados Unidos.

Em 1950 Bohr escreveu uma carta aberta às Nações Unidas em defesa da preservação da paz, por ele considerada como condição indispensável para a liberdade de pensamento e de pesquisa. Em 1957 recebeu o Prêmio Átomos para a Paz. Ao mesmo tempo, o Instituto de Física Teórica, por ele dirigido desde 1920, firmou-se como um dos principais centros intelectuais da Europa.

Bohr morreu em 1962, vítima de uma trombose, aos 77 anos de idade. 

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