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Biografias


Samuel Finley Breese Morse

  

 (1791 - 1872)

Uma rede mundial de telecomunicações por satélite significa, para o homem moderno, o simples desenvolvimento lógico de uma técnica já conhecida.

Nem sempre foi assim. O Império Persa (cerca de 600 anos antes de Cristo) mantinha sua unidade graças a um eficiente sistema de comunicações baseado em correios a cavalo. O americano Paul Revere, 2.300 anos depois, tornava-se herói nacional por ter cavalgado uma noite inteira para avisar da chegada dos exércitos ingleses.

"O mundo é uma aldeia", dizem as mais recentes teorias de comunicação. O que acontece em qualquer continente, em qualquer cidadezinha, acontece praticamente diante de toda a humanidade, influindo na vida cotidiana de milhões de pessoas. O mundo torna-se menor a cada dia, com o progresso constante dos meios de comunicação.

Um dos homens que mais contribuiu para isso era pintor; ainda hoje, mais de trezentos quadros de sua autoria acham-se espalhados por várias pinacotecas e museus. Mas a Samuel Morse deve-se, principalmente, a invenção do telégrafo elétrico e do código alfabético adequado ao seu funcionamento.

Atualmente, existem máquinas capazes de fazer cálculos complicadíssimos e de exprimi-los em linguagem codificada. Há 150 anos, no entanto, foi uma proeza excepcional criar a primeira linguagem para máquinas. Além disso, Morse precisou convencer os incrédulos da utilidade de um aparelho capaz de transmitir a distância o pensamento humano.

Filho de um pastor protestante, Morse nasceu em 1791, em uma família de antigas tradições puritanas de Charlestown (Massachusetts), nos Estados Unidos. Primeiramente estudou na sua cidade, depois na Phillips Academy; aos catorze anos, entrou para a Universidade de Yale.

Ali começaram a definir-se claramente aqueles que foram os interesses dominantes de sua vida: a pintura e a eletricidade. Esta última muito o atraía, mas apenas como estudo. Não se propunha seguir a carreira de físico pesquisador, porque esse campo, na época, tinha reduzidas aplicações práticas. Quanto à arte, estava seguro de si: sabia manejar o lápis e o pincel, seria pintor.

Assim, em 1811, partiu em companhia de seu amigo e mestre Washington Allston para a Inglaterra, onde se tornou discípulo de Benjamin West, célebre pintor americano, que residia em Londres e o acolheu de boa vontade. Deve ter aproveitado bem as lições do compatriota, pois, em 13 de outubro do mesmo ano, obteve a medalha de ouro da Sociedade de Arte com a obra Morte de Hércules. Depois de breve período de aperfeiçoamento, em 1815, considerou-se apto a trabalhar sozinho; retornou à sua terra, para iniciar a carreira de desenhista, dura e difícil, que o obrigou a viajar por muitas cidades em busca de clientes.

Contudo, não se interessava apenas pela arte. Durante esse tempo, inventou uma bomba a pressão adaptada para os serviços contra incêndios. Enquanto o pincel corria na tela, retratando pessoas modestas a preços modestos, o cérebro pensava mais ambiciosamente.

Em Boston conheceu sua futura esposa, Lucy Walker. Meses depois, casaram-se, indo morar em Charleston e, depois, em New Haven. Foram os anos amargos de sua vida: embora continuasse a trabalhar incansavelmente, não conseguia obter a segurança material para a mulher e os três filhos, chegando até a conjeturar uma impossível carreira diplomática no México.

Finalmente, o sucesso: obteve o encargo de retratar o primeiro cliente famoso, o Marquês de La Fayette. Era o início de sua fortuna, atingida tarde demais: enquanto se afastava de casa, a mulher morria do coração sem que ele a pudesse ver.

Seu êxito aumentava dia a dia. O quadro de La Fayette havia-lhe dado fama (hoje é conservado, juntamente com outra obra célebre, A Velha Casa dos Representantes, na Galeria Corcoran, de Washington), tornando-o muito requisitado para pintar retratos. Começou a fazer conferências; fundou a Academia Nacional de Desenho, da qual foi o primeiro presidente; juntamente com John William Drapere, introduziu o processo de impressão Daguerre nos Estados Unidos. Todas essas atividades permitiram-lhe acumular o dinheiro que tanto lhe serviria durante os anos em que se dedicou à sua célebre invenção.

Em 1829, retornou à Europa. Depois de haver visitado as mais famosas pinacotecas, estabeleceu-se em Paris, onde se tornou um dos membros mais ativos da colônia de artistas americanos. Um dia, a conversa amistosa recaiu sobre os meios de comunicação. Alguém exprimiu o desejo de que existisse algo veloz para enviar mensagens urgentes. Morse sugeriu: "Por que não a eletricidade? Ela viaja bem mais rápido que o som".

Naquela época, o meio mais veloz de comunicação ainda era praticamente o cavalo. Pode-se imaginar, por exemplo, quanto tempo levava uma notícia para ir de Moscou a Paris. A necessidade de sistemas mais eficientes era bastante sentida em um mundo fervilhante, no limiar da Revolução Industrial, com o consumo, a produção e o comércio sofrendo rápida evolução.

Hoje, até uma criança é capaz de construir um telégrafo: com uma pilha, um pouco de fio de cobre, um interruptor e uma lâmpada pode comunicar-se com um amigo. O brinquedo não serve para efetuar transmissões a longa distância, como é necessário para que possa ter utilidade real. Mas, no início do século XIX, mesmo aquelas noções elementares ainda eram metas científicas por conquistar.

A frase, dita na conversa com os amigos, atormentou o pintor que, a bordo do Sully, atravessava o Atlântico, de volta para a América. Logo, o capitão do navio e os passageiros discutiam com Morse os detalhes do assunto. A transmissão de palavras a distância tornara-se idéia fixa. Em seus rascunhos não mais se encontravam retratos ou esboços de figuras e paisagens, e sim esquemas do telégrafo. O primeiro esquema era um dispositivo igual ao brinquedo. Morse compreendeu que aquela idéia primitiva não convenceria ninguém e continuou a pesquisar, para desenvolver seu projeto e torná-lo comercialmente interessante. E, nesse processo, passou doze anos.

De início, continuou executando retratos, para recolher o dinheiro que empregaria em seu sustento e em suas experiências; depois, retirou-se para Nova York, vivendo em um único quarto, descuidando-se de alimento e vestuário. Naquela época Morse foi atingido por uma das mais cruéis decepções de sua vida. O governo de seu país abriu um concurso entre os artistas dos Estados Unidos para a decoração da rotunda do Capitólio. Como pintor, esperava ser um dos escolhidos, mas seu nome foi afastado sob suspeita de ser o autor de artigos atacando o Comitê do Congresso encarregado da escolha dos artistas. Foi a partir de então que Morse decidiu dedicar-se unicamente ao trabalho de inventor.

Para não pedir empréstimos, vendeu tudo que possuía. O artista, outrora elegante e popular, tornou-se um inventor mal visto, considerado louco por haver trocado uma carreira promissora por um sonho impossível. Mas ele superava todos os obstáculos: em 1835, aceitou o cargo de professor de história da arte e de desenho na Universidade de Nova York, para poder continuar com os seus experimentos.

Finalmente, no dia 2 de dezembro de 1837, apresentou a um grupo de amigos sua criação: um circuito telegráfico com o comprimento de 420 metros. Entre os que assistiram à demonstração estava Alfred Vail, rico proprietário de ferrarias, dotado de um notável tino comercial. Ele ofereceu a Morse o patrocínio do lançamento da invenção, para a qual previa um grande futuro. Colocou à sua disposição dinheiro e locais nas ferrarias, para que o inventor pudesse prosseguir as experiências. Morse aceitou e requereu imediatamente a patente para sua invenção.

(Telégrafo utilizado na primeira linha)

Em 24 de janeiro de 1838, demonstrou seu aparelho na Universidade de Nova York, transmitindo a primeira mensagem: "Atenção, Universo!" Em fevereiro do mesmo ano, repetiu-a diante do Congresso, onde teve fria acolhida. Como a América parecia não aceitar o telégrafo, partiu para a Europa em busca de melhor sorte; mas, no Velho Continente, o desinteresse foi idêntico. Na Inglaterra, dois inventores, Wheatstone e Cooke, já haviam criado qualquer coisa semelhante; na França, foi-lhe concedida a patente, mas sem qualquer compensação financeira; na Rússia, o czar rnostrou-se absolutamente indiferente.

Enquanto isso, Morse não perdia tempo. Sabia que não bastava ter realizado o esquema inicial; era necessário construir qualquer coisa capaz de transmitir a distâncias bastante grandes. Por isso, trabalhou na idéia que deveria decretar a possibilidade de aplicação de seu princípio.

(Código morse internacional)

A primeira idéia havia sido a de utilizar sinais elétricos, a segunda, a invenção do código que leva o seu nome. A terceira foi a de adotar um sistema de relê pra transmitir o sinal através de grandes distâncias. Um sinal elétrico se atenua se é transmitido por um fio demasiado longo. Morse pensou então em utilizá-lo, antes que ficasse muito fraco, para acionar um relê que fizesse repartir um novo sinal potente em um novo trecho da linha.

Ao retomar à América, estava reduzido à miséria. Somente em 1843 obteve o primeiro levantamento de verba do congressa: 30.000 dolares. O financiamento foi aprovado com maioria de apenas seis votos. A 24 de maio de 1844 inaugurou-se a primeira linha experimental, entre Washington e Baltimore (64 km de distância), com a transmissão e recpção da frase: "What hath God wrough" (Eis o que Deus realizou).

No entanto, os contratos tiveram de aguardar enquanto ele se defrontava com uma série de acusações e processos para defender seus direitos. O testemunho do capitão do Sully e dos passageiros convenceram finalmente os tribunais e, já idoso, pôde colher os frutos do persistente labor. Então, rico e famoso, casou-se com Sarah Griswold. Obteve honras de todos os países. Em qualquer parte via o sucesso de suas invenções, do telégrafo de cabos transatlânticos ao uso universal do seu alfabeto em código.

Sua morte, ocorrida em 1872, foi serena. Um médico lhe auscultava o coração, depois de ter sido chamado por causa de uma leve indisposição. Apoiando o estetoscópio em seu peito, disse, para animá-lo: "Assim telegrafam os médicos". "Bom", respondeu Morse, e foi aquela a última palavra que pronunciou. 

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