Desde
1993, O RAPPA vem provocando polêmica e despertando curiosidade por onde passa. O
coquetel rítmico que produz é marcado por uma verdadeira mistura de gêneros musicais e,
até hoje, não se conseguiu definir qual é a praia destes cinco cariocas. Não é
reggae, não é rap, não é dub, não é rock, não é samba, mas ao mesmo tempo é tudo
isso devidamente digerido e com identidade própria. Nélson Meirelles foi peça-chave
para formação do grupo ao assumir o compromisso de acompanhar o cantor Papa Winnie em
uma série de shows Brasil afora. Faziam parte da banda o tecladista Marcelo Lobato e o
baterista Marcelo Yuka. Curriculum não faltava aos três. Nelson foi um dos produtores e
apresentadores de um programa de rádio de reggae; produtor, empresário e faz-tudo do
Cidade Negra; além de ter tocado com os Rapazes de Vida Fácil (com Alvin L.) e Robôs
Efêmeros, de Fausto Fawcett. Lobato, além de vários trabalhos como free-lancer, tinha
feito parte da ótima banda Africa Gumbe (que chegou a gravar um disco pela Eldorado) e
Yuka fez parte do grupo de reggae da Baixada Fluminense, KMD-5. Como era de se esperar, os shows foram ótimos e os três
resolveram continuar tocando juntos. Alexandre Menezes, que tocou com grupos africanos na
noite de Paris, assumiu a guitarra. Faltava, contudo, uma voz. Um anúncio colocado em
importante jornal do Rio de Janeiro resolveu o problema - e com sobras. Último de uma
extensa lista de candidatos, Falcão ganhou a vaga com nota 10 em técnica e emoção. O
RAPPA foi fazendo o circuito boca-a-boca da cidade, bastando alguns shows para formar um
fiel grupo de seguidores. A cada apresentação, novos fãs e mais blá-blá-blá ecoando
em ouvidos virgens. Um círculo viciante que levou à contratação do grupo pela WEA.Logo
no primeiro álbum, homônimo, O RAPPA conseguiu coisa que muita gente só alcança depois
de anos de estrada. Yuka e Lobato foram escalados para ir a Londres acompanhar a mixagem
do disco, a cargo do baixista Dennis Bovell, parceiro inseparável do poeta dub Linton
Kwesi Johnson.E não ficou por aí. No primeiro single do disco, "Candidato Caô
Caô", o grupo contou com a participação especial de Bezerra da Silva, a
malandragem em pessoa. Mas o maior trunfo da estréia, sem dúvida, foram suas letras
contundentes e muito groove, como a faixa "Camburão" que diz que "todo
camburão tem um pouco de navio negreiro. "Rappa-Mundi",
o segundo disco do grupo, foi produzido por Liminha e marca a entrada de Lauro Farias no
lugar de Nelson, no baixo. No repertório, além de suas próprias canções ("A
Feira", "Tumulto" e "O Homem Bomba"), eles resgataram "Vapor
Barato" (Wally Salomão e Jards Macalé), "Ile Ayê" (Paulinho Camafeu) e
uma versão arrasadora de "Hey Joe" (Jimi Hendrix). O RAPPA esperou três anos
para lançar um novo CD. Neste álbum, a banda escancara ainda mais as diferenças
políticas e sociais de nosso país, deixando evidente seu amadurecimento. Logo no
primeiro single de "Lado B, Lado
A" fica fácil entender o que grupo andou fazendo neste intervalo: gritou as
diferenças absurdas e buscou suavizar a vida de quem tem pouca esperança em um futuro
melhor. A letra de Marcelo Yuka para "Minha Alma (A Paz que Eu Não Quero)" é
clara: "Paz sem voz / Não é paz, é medo".Nos seis anos que separaram o
primeiro disco deste lançamento, o quinteto saiu do anonimato, criou público cativo em
seus shows e soube guardar sua alma, sem jamais deixar de expô-la. Mais do que nunca, a
preocupação com a dura realidade em que vivemos é coerente com a postura que seus
integrantes assumiram. Das músicas, eles passaram a atuar em projetos socias, como o do
grupo AfroReggae, de Vigário Geral (RJ). Não satisfeitos, criaram o "Na Palma da
Mão" - Campanha de Incentivo aos Jovens Carentes. Com o apoio de uma das mais
conceituadas ONGs brasileiras, a FASE (Federação de Órgãos para a Assistência Social
e Educacional), O RAPPA decidiu aproveitar o encarte do CD e folhetos distribuídos
durante seus shows para apresentar o projeto e pedir a colaboração de todos com
doações que visam beneficiar jovens carentes de todo o país com programas educacionais,
passando da alfabetização à conquista dos direitos individuais de cada um. "Lado
B, lado A" foi produzido por Chico Neves, exceto a faixa-título e "Na Palma da
Mão", que ficaram sob a responsabilidade de Bill Laswell (Bob Marley e Peter
Gabriel, entre outros) que encerra o álbum com um solo dub de baixo.
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LADO B
LADO A - (1999)
1. Tribunal de rua
2. Me deixa
3. Cristo e oxalá
4. O que sobrou do céu
5. Se não avisar o bicho pega
6. Minha alma (a paz que eu não quero)
7. Lado b lado a
8. Favela
9. Homem amarelo
10. Nó de fumaça
11. A todas as comunidades do engenho novo
12. Na palma da mão
Produzido por Chico Neves,
exceto nas faixas
Lado B Lado A e Na Palma da Mão,
produzidas por Bill Laswell
Gravado no estúdio 304
Mixado por Jacquie Turner e Ben Finday
no Real World Studio |
RAPPA
MUNDI (1996)
1. A feira
2. Miséria s.a.
3. Vapor barato
4. Ile ayé
5. Hey joe
6. Pescador de ilusões
7. Uma ajuda
8. Eu quero ver gol
9. Eu não sei mentir direito
10. O homem bomba
11. Tumulto
12. Lei da sobrevivência
13. Óia o rapa
Produzido por Liminha
no Estúdio Nas Nuvens
Masterizado por Ricardo Garcia
Participação especial de Marcelo D2
na faixa Hey Joe |
RAPPA
(1994)
1. Catequeses do medo
2. Não vão me matar
3. Todo camburão tem um pouco de navio negreiro
4. Take it easy my Brother Charles
5. Brixton, Bronx ou Baixada
6. R.A.M.
7. Skunk Jammin'
8. Coincidencias e paixões
9. Fogo cruzado
10. A noite
11. Candidato caô caô
12. Mitologia gerimum
13. Sujo
14. Sujo-dub (bonus track)
15. Todo camburão tem um pouco de navio negreiro-dub
16. Vinheta da Silva
Produzido pelo Rappa
e Fábio Henriques
Gravado no Estúdio Discover
Mixado por Dennis Bovell
em Sparkside Studio, em Londres |