Aqui vai mais um conto escrito por um dos alunos do 3° ELT C.

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Olho por Olho

Por HLA e CS
 
            "– E aí Cabelo? Beleza?
            Começava mais um dia para o 3o ELT C e Hugo cumprimentava aqueles que conhecia antes de entrar na sala. Não que ele não conhecesse os outros, mas era que os outros eram "incumprimentáveis" na sua opinião. Ele então entrou e foi logo contagiado pelo espírito eufórico da turma. O fim do ano se aproximava e a turma havia decidido que passaria o feriadão num sítio alugado nos arredores da cidade. Aquela Sexta-feira precedia o tão esperado feriadão.
            Ali na sala, no momento em que Hugo entrava, Calção e Juquinha estavam rindo (como sempre) de algo que Varginha e Cláudio também comentavam. Até os mais "nerds" da sala se deixavam contagiar pelo espírito eufórico. Todos iriam estar presentes no feriadão, o que caracterizaria a situação como especial.
            Aquela situação de risos prosseguiu até que o professor de AC entrou na sala. Todos se ajeitaram do modo que julgavam ser o melhor para suportar aqueles dois horários de tortura: AC era disparada uma das piores matérias do terceiro ano de eletrônica. A melancolia prosseguiu se arrastando pelos dois horários em que o professor trocou algumas informações com aqueles alunos que se sentavam à frente da sala.
            Enfim, chegou a aula de Teleco... e a de EG. A Sexta-feira estava passando.... o feriadão tão esperado estava para começar! Todos foram para suas casas terminar os seus preparativos e na Sexta à tarde quase todos estavam em frente ao CEFET, ponto de encontro com o motorista do ônibus fretado.
            O sítio, escolhido num anúncio de jornal, encontrava-se na fronteira de Tocantins com Goías. Tal local era o que apresentava o menor preço em relação à suas dependências, compatível então a todos os alunos da sala.
            – Ô gente, peraê! Tá faltando gente aqui.... Cadê o Janaúba... a Roberta... Tá faltando mais... Vamos esperar mais uns quinze minutinhos! – falava Pedro Carvalho, o de alcunha Escovinha.
            Todos concordaram mas os quinze minutos não foram precisos. Dali a uns 3 minutos o grupo já se completara e muitos entraram no ônibus. As panelinhas já se haviam formado e comentavam sobre seus assuntos particulares, mesmo antes do motorista dar a partida.

             As 18 horas de viagem transcorreram muito bem. Com muitas risadas como não poderia deixar de ser. No final da viagem, Weslei e Rodrigo Acácio jogavam pif com Varginha e Hugo. O outro Rodrigo, apelidado de Pato, ria de alguma gracinha dita por Aline Santos.
             Chegaram então ao tão esperado sítio. Em meio a comentários do tipo : "Graças a Deus eu tô inteiro", "É isso ai o sítio?" e "Vão descer aí galera!", os jovens desciam e se amontoavam à entrada do sítio. Uma voz sensata comentou a respeito de não se ter levado nenhum "responsável" para a viajem, e uma voz, que se julgava sensata, disse que não era necessário pois estavam todos grandinhos. Este foi o clima da chegada.
             Ficara combinado que o motorista voltaria 10 dias depois para buscar toda a turma.
             Entrando no sítio, todos logo procuraram acomodações. Escovinha ia à frente, seguido de perto por Fernanda, Dácio, Lango e Giovanni. O comboio ainda se arrastava por alguns metros até chegar ao seu final, composto de Breno e Reuber. O clima feliz que permeara toda a viagem ainda se fazia presente, quando Pedro, o de alcunha PeeWee, fez a sua infeliz observação:
             – Vai chover, heim galera!
             – Não me diga ! Usou a inteligência, hein PeeWee? – falou Cabelo, mais uma vez tentando provocá-lo.

              Mas PeeWee estava mais do que certo. A serra já demonstrava a força da chuva quando as garotas começaram a se dirigir para seus aposentos, que se encontravam no que se chamava de parte de trás do sítio, separado dos quartos dos garotos. Pedro, conhecido também como Baiano, achou então conveniente intervir e dizer:
              – Ei! A chuva parece não estar muito boa não... parece mais é um temporal. Se as meninas quiserem ficar no nosso lado com a gente até a chuva passar...
              As meninas aceitaram o convite, pois afinal de contas, a chuva não parecia mesmo estar para brincadeiras. Entraram então todos e se acomodaram. Eram quartos muito grandes que acomodavam perfeitamente umas 10 pessoas cada um. Em alguns quartos se jogava; ou baralho ou algum outro jogo que todos pudessem participar. Em outros o que se jogava era apenas conversa fora. E o temporal resolveu aprontar das suas. Aí então se fizeram verazes as palavras de Baiano. Chovia e ventava muito forte e todos começaram a demonstrar de uma forma ou de outra o seu medo. Resolveram se ajuntar na cozinha, onde estariam todos juntos no caso da energia elétrica acabar. E foi bem a tempo, pois a luz se foi, logo após a queda de um raio que trouxe consigo um barulho estrondoso de um trovão.
            – Calma gente.... calma! – falava a voz sensata de Aline, que conseguiu em segundos acalmar o povo. Vamos pensar antes de tomar qualquer decisão!
            – Eu tenho uma sugestão! – dizia Escovinha. Eu vi o telefone assim que a gente chegou. Se a gente conseguir luz eu acho que eu sei voltar lá no cômodo por onde a gente entrou e tentar algo.
            Lauro se ofereceu para acompanhar Escovinha com o seu isqueiro, enquanto o restante do grupo já se acalmava ao ver que o temporal estava passando. Passados alguns minutos, Escovinha e Lauro retornavam com a chocante notícia:
            – Não funciona! O telefone não funciona!
            – Funciona sim! – interveio Guilherme. Foi a primeira coisa que eu olhei quando a gente chegou!
            – Mas não tá funcionando! Não tá dando linha! A luz também não quer voltar.
            O clima de desconfiança e insatisfação já tomava conta de todos. Mas mesmo assim foram dormir ao pensar que no Sábado todos os problemas seriam resolvidos. Mera ilusão. No decorrer do Sábado o telefone não deu sinal de vida e a energia elétrica não mostrou a sua cara. A noite chegou e também as meninas aos quartos dos meninos, com o pretexto de alguns bichos terem sido vistos em alguns dos quartos de trás do sítio. Foram redivididos os quartos a fim de que as meninas pudessem dormir juntas. Os quartos dos meninos se enchiam de dúvidas a respeito da situação. Nem as piadinhas de Varginha e Cabelo conseguiam salvar o feriadão que passava de mal a pior. Foi quando alguém percebeu uma cama vazia, e perguntou logo:
           – Onde está o Lango?
           – É mesmo... ele sumiu!
           – Alguns ET’s devem ter abduzido ele... brincou Cabelo.
           – É sério Cabelo... eu já tinha observado isso e passei por todos os quartos com o isqueiro do Lauro mas nem sinal de Lango...
           – E você acha isso ruim Escovinha? – ainda insistia Cabelo.
           – Pára Cabelo... o cara sumiu... eu só vim aqui pedir para vocês não deixarem os seus quartos... só por precaução.
           – Que é que o Calção tem a ver com isso? – ainda tentava Cabelo fazer uma piadinha.
           – Pára com isso Cabelo! – Foi a reação de todos os presentes no quarto.
           Escovinha saiu e pensou em passar pelo quarto onde estavam Lauro, Marco e PeeWee para pedir companhia. Deixaram então a área dos aposentos e se dirigiram para fora, para procurar o Lango.

           – Temos que ir lá procurá-los gente! – dizia Baiano, agora que todos novamente encontravam-se reunidos na cozinha. Já são cinco os sumidos- Escovinha, Lauro, Marco, PeeWee e Lango!. Já se passou mais de uma hora desde o desaparecimento deles. Vamos pensar em algo pra fazer.
           Passado quatro horas os meninos que haviam saído para procurar Lango ainda não tinham voltado.
           – Olha, quando acabarem os fósforos de Dácio não teremos mais luz... estaremos num breu! Façam tudo o que vocês têm para fazer então... mas procurem ficar juntos... vamos fazer da cozinha o nosso ponto de encontro e designar grupos de busca mistos. – dizia Caratinga.
           – É! Vamos fazer o que o Daniel falou! Grupos de 6... não, melhor de 8 pessoas. Vamos então. – Falava Dácio.
           Cabelo, Hugo, Adonias, Cláudio, Clauson, Sabrina, Roberta e Claret foi o último grupo a sair da cozinha. Combinou-se que em uma hora todos se encontrariam lá, na cozinha. 
           – Que tal se a gente ficasse aqui parado fingindo que a gente procurou e voltarmos para a cozinha em uma hora? – sugeriu Adonias (também apelidado de Juquinha) que demonstrava o medo que tomava conta de todos do seu grupo.
           – Não! – foi a resposta do restante do grupo.
           O clima de cooperação estava no ar mas não era bem esta a pretensão daqueles jovens daquele grupo. Eles estavam certos de que alguma coisa de ruim havia acontecido... e estavam certos.

            Aquela hora que se passou não havia sido muito boa para os meninos do grupo de Hugo. Eles não haviam encontrado nada, nem mesmo uma pista que desse uma dica de onde os rapazes pudessem estar e resolveram voltar para a cozinha. Mas infelizmente esta não havia sido a mesma sorte dos outros grupos. Ali na cozinha estavam a maioria das pessoas que haviam partido para a busca mas faltavam pessoas no grupo de Alair, que contava que o grupo havia subdividido em dois. Luiz ficara com Daniel Alves e Thais enquanto Alair e Daniel Franco haviam se unido a Christiane e Aline Cristina. Falava ainda que o motivo da separação era que a área onde vasculhavam era extensa e não sobrava muito tempo para se concluir a busca.
            – O problema é que a outra metade do meu grupo ainda não voltou e já passamos de cerca de 15 minutos do prazo combinado. – explicava Alair, conhecido também como Tatu.
Esta era apenas uma das preocupações. O grupo de Fernanda havia encontrado o isqueiro de Lauro, no chão.
            – Em vista da situação do local onde foi encontrado o isqueiro de Lauro eu acho que os meninos se encontram em apuros pois lá estava muito escuro e a gente até achou melhor retornar pois gastaríamos todos os fósforos se continuássemos por lá. – tentava explicar Jussara.
            No canto da cozinha Dácio, Jhon e Giovanni fumavam e divagavam sobre os acontecimentos das últimas horas.
            – Nem chegamos direito e já acontece uma coisa dessas. Esse sítio é meio estranho mesmo... e olha que o feriadão tá só começando.... – lembrava Jhon.
            Michelle ainda lembrava:
            – Não podemos nem ir embora pois o ônibus só volta prá pegar a gente na Terça-feira!
            Rostos pensativos se espalhavam pela cozinha... entre eles o de Zeck, que comentava a respeito de um livro que havia lido em que um grupo de jovens foi abduzido. Quase ninguém conseguia organizar direito as idéias e foi Paula quem teve uma idéia com a qual todos concordaram:
            – Gente... é óbvio que todo sítio tem uma despensa... onde fica a despensa desse aqui?
– Quem conversou com o caseiro antes de ele ir embora foi o Pedro... agora a gente tá mais do que perdido aqui dentro...
            – É, mas a gente pode procurar... vamos tentar usar pensamentos lógicos para tentar encontrar essa bendita despensa. – animava Janaúba.
            – Isso... mas dessa vez não vamos todos. A metade vai e a outra metade fica aqui mesmo, na cozinha!
            Lá se foi a metade aventureira. Entre eles estavam a maioria dos meninos e algumas das meninas.               Ali na cozinha, entre alguns dos meninos que ficaram, estavam Hugo, Adonias, Cláudio, Calção, Guilherme e Ramon, este último saindo alguns minutos depois para ir ao banheiro. Ele não estava presente quando os aventureiros voltaram, alguns em prantos, outros chocados. Haviam encontrado uma coisa séria!
            – Encontraram a despensa? O que aconteceu? – perguntavam atônitos os que haviam ficado.
            – Encontramos a despensa... com alguns alimentos e fósforos.... mas encontramos algo mais na despensa. Alguns corpos ensangüentados. É horrível!
            Aquela notícia chocava a todos que estavam na cozinha e também a Ramon, que acabava de retornar...(do banheiro?). Os que tinham sangue frio vasculharam os corpos e constataram: eram deles, dos seus amigos de classe desaparecidos, aqueles corpos que jaziam ali na despensa.

             Aquela notícia havia abatido a todos ali no sítio. O silêncio tomava conta de todos e o choro ainda se fazia presente nos olhos de alguns. Ninguém conseguia organizar as idéias e muito menos dormir. Eram 2:48 da manhã no relógio de Zeck quando ele reuniu forças para falar:
             – Há um psicopata entre nós!
             O espanto tomou conta de todos ali naquele cômodo do sítio.
             – Que isso Ezequiel! É mais fácil acreditar que há um psicopata à solta nos arredores do sítio...
             A afirmação de Cláudio parecia ser a mais sensata naquele momento. Todos estavam visivelmente cansados e ainda chocados com os acontecimentos daquelas últimas horas e queriam dormir. Combinou-se então que alguns fariam a vigília uma fim de que conseguissem dormir naquele fim de noite.

              O Domingo se anunciou ensolarado e com cheiro de manhã fresca. O café havia sido preparado por algumas das meninas e alguns já se serviam em meio aos colchões espalhados pela cozinha. Todos então combinaram que a partir daquele momento não mais se andaria sozinho pelas dependências do sítio, e foram logo se formando pares e grupos que não se separavam para nada.
              O café foi feito por Jussara, Paula, Sabrina e Thaís, esta última tendo feito um pouco de chá com o pretexto de que não gostava de café. Breno também se negava a tomar do café, até mesmo com certa veemência, o que gerou um certo conflito entre alguns ali na cozinha. Estava claro que ainda não haviam sido organizadas as idéias. Mas apesar do conflito várias pessoas tomaram do café.
              Passados os minutos de silêncio, em que os jovens desfrutaram de suas bebidas, o clima de insatisfação passou a se mostrar geral. Os que tomavam do chá reclamavam da falta de açúcar e os que se deleitavam com o café diziam que ele estava muito forte e amargo. Mas, mais pela falta de opção do que pelo sabor das bebidas, todos continuaram tomando de seus copos.
              Passados alguns minutos, Varginha ainda tentava fazer uma piadinha meio acanhada, mas foi contido pelo grito agudo de Christiane. E os que se viraram para vê-la logo notaram que ela não se sentia bem. Forte dor de cabeça e mal estar eram alguns dos sintomas que tanto Christiane como alguns mais começaram a sentir. Em alguns momentos os quartos já estavam cheios de pessoas deitadas nas camas, aparentemente febris. E em algumas horas muitos já haviam dado o seu último suspiro.
              Os corpos dos novos mortos já haviam sido amontoados na despensa. Ali, agora, se encontravam poucas pessoas com vida(?). Eram eles: Tatu, Igor, Ramon, Hugo, Luiz Fernando, Calção, Janaúba, Daniel Franco, Alair, Reuber, Luciane, Ezequiel, Jhon, Thaís, Breno, Paula, Fernanda, Cabelo, Juquinha (Adonias), Cláudio e Jussara. Todos lamentavam muito a morte tão repentina e tão inesperada de tantas pessoas. Todos procuravam uma explicação.
              – Talvez tenhamos sido escolhidos.
              Algumas acusações foram trocadas mas foi apenas Reuber quem ajuntou forças para fazer a pergunta que todos tinham em mente: quem, ali naquele recinto, havia tomado do café. Ninguém deu uma resposta afirmativa...

              A tarde de Domingo caía sobre o sítio em que os jovens atordoados se encontravam. Na cabeça de todos, a mesma pergunta: teria mesmo sido o café o causador das últimas mortes? Mesmo que a resposta fosse sim, quem teria envenenado o café? A dúvida e a indignação enchia a cabeça destes jovens, que decidiram tomar decisões em conjunto. A idéia era a mesma: havia alguém querendo matá-los, e este podia estar entre eles. Faziam-se verazes as palavras de Zeck: havia um psicopata entre eles. Foi então que alguém deu uma idéia: "Faremos uma votação na qual as pessoas escreverão em um pedaço de papel quem elas julgam ser o assassino".
             – Eu pensava que conhecia meus colegas mas há alguém com uma segunda personalidade assassina e tecnicamente pode ser qualquer um de nós! – refletia Zeck.
Passada a votação o resultado foi divulgado. Janaúba havia ganhado a votação seguido por Breno e Ezequiel. Nunca se viu Janaúba em semelhante histeria. Seus brados e urros ensurdecedores deram quase que um ultimato a respeito de sua idoneidade. Ele estava de uma maneira indireta se delatando.
             A situação ficou tensa e desta feita foi Igor quem apaziguou o povo:
             – Gente, esta idéia de votação foi no mínimo infeliz. Qualquer um de nós pode ser o assassino, até mesmo eu! Vamos deixar esse resultado de lado. Mais de quinze de nossos colegas já foram assassinados. Estamos muito abalados e talvez nem saibamos mais quem já morreu.

             Mais algumas horas se passaram quando Luciane quebrou o silêncio da sala falando com um tom um tanto quanto imponente:
             – Não podemos deixar isto despercebido. Sugiro que todos tragam as suas mochilas para a sala a fim de ser realizada uma revista!
             A sugestão foi aceita e os objetos foram todos levados para a sala. Não era muita coisa de modo que todos puderam acompanhar a revista. E grande foi a surpresa de todos ao se fazer a revista na mochila de Igor. Ali se encontrava uma pistola 9 mm. Foi um alvoroço! Alguns tentavam segurá-lo enquanto outros haviam entrado em estado quase que de choque: "O Igor era o exemplo de pessoa humana na sala!!!" Algumas meninas choravam.
             – Não era esta mesma pessoa que disse que idéia da votação fora infeliz. – Breno referia-se a Igor com bastante desgosto, querendo aplicar-lhe uma punição qualquer.
             Mas a situação se acalmou assim que Juquinha destapou a boca de Igor e ele pode raciocinar com os que ainda tinham condição de fazê-lo. Ele apresentou seu álibi: nenhum corpo havia sido achado com ferimento a bala. Além disso ele tinha uma desculpa para estar usando a arma. Segundo a sua teoria, ele estaria andando armado desde o dia em que acontecera uma confusão no ginásio com alguns garotos da turma de MEC. E os que ouviram acabaram coniventes.

             Mal acabou o alvoroço, Zeck fazia uma sugestão. Ele sugeria que todos entregassem suas bebidas e cigarros. Segundo ele, "essas coisas alteram a mente e nós estamos numa situação crítica". Isto, também segundo ele, incluía café, remédio, álcool e qualquer tipo de cigarro.
             Os ânimos novamente se exaltaram. Discussão e muitos protestos por parte de Jhon, Reuber e Breno foram ouvidos. Mas depois de muita conversa e discussão, a sugestão de Zeck acabou sendo acatada.
             No entanto, após a discussão Fernanda encontra o corpo de Ramon no banheiro e bastante abalada dizia: – O assassino aproveitou-se da confusão para matá-lo.
             – Parece que deram várias pauladas na sua nuca e crânio. – Falava Calção bastante insensível, talvez devido às diversas mortes já ocorridas.

             Muitos dos jovens já estavam mortos. Ninguém na sala conseguia pronunciar nenhuma palavra, até que o silêncio de horas foi quebrado por Luiz.
             – Eu não quero morrer !!! O negócio é o seguinte: eu não quero morrer e por isto estou indo embora deste sítio. Eu andarei 100Km no mato sozinho mas não ficarei mais aqui !!!
             Ele já ia juntando suas coisas quando Alair o abordou:
             – Você não vai a lugar nenhum Luiz. Você pode muito bem ser o assassino e estar querendo passar a agir na espreita.
             – Como ?? Tatu eu pensava que você era meu amigo...
             – Sim. Mas você não poderá sair – Todos concordaram com Alair e disseram que não permitiriam a saída de Luiz. Luiz ficou visivelmente transtornado por causa da decisão. E houve uma discussão de vários minutos. Até que ele falou:
             – Então está bem. Vou ficar aqui neste canto e não quero que ninguém se aproxime de mim. Considerarei uma ameaça qualquer tentativa de aproximação.
             Assim, sentado num canto da sala e completamente fora de si, Luiz Fernando repetia em voz baixa diversas vezes a frase: "Eu não quero morrer".
             Passada a confusão, John voltava atônito do corredor:
             – Breno e Adonias estão caídos no meio do corredor. Acho que estão mortos.
             Por ironia do destino os dois alunos que sempre viviam trocando ameaças foram mortos juntos. Um enforcara o outro e vice-versa. Ou seria o modo como o assassino tinha disposto os dois corpos ? O assassino seguia um padrão muito estranho.

              Aquelas últimas horas de tensão haviam abalado emocionalmente o grupo. Todos pensavam em todos como suspeitos em potencial. E na realidade todos ali naquela sala tinham um motivo ou outro para estarem se vingando daqueles que haviam morrido. Essa situação chata de desconfiança era que fazia com que todos ali ficassem calados. Eles não admitiam, mas estava bem claro que estavam desorientados.
              Aos poucos eles foram se acomodando na sala. Alguns usavam as suas mochilas como travesseiros e aos poucos já dormiam vencidos pelo cansaço. O último a fechar os olhos foi Cabelo. O Domingo já estava se acabando.

             Na Segunda de manhã todos acordaram com um barulho ensurdecedor. Era Daniel Franco que acordava a todos batendo uma colher na panela que ele trazia consigo.
             – O café tá pronto Daniel? – era a primeira brincadeirinha do dia.
             – Não está não. Mas eu tenho uma surpresinha para vocês.
             – Ôba! – gritou Fernanda. Então eu já vou me levantar.
             – Não precisa não Fernanda. Aliás, ninguém se mexe não. Fica todo o mundo aí deitadinho. Há, há, há, há, há, há! Era desse jeito que eu sempre quis. Todos ai deitadinhos.
             – Que isso Daniel? Que cheiro de álcool é esse?
             – Ah! O álcool... não é super legal? Eu espalhei álcool por toda esta sala. A outra porta está trancada e eu estou aqui na única saída restante.
             – Você tá brincando, Daniel? – perguntava Cabelo
            – Nunca falei tão sério, Cabelo. Aliás, esse parece ser o seu problema né? Falar sério... e não é só você não. Não sei onde você, Hugo, Calção, Juquinha e Varginha acham tanto motivo pra ficar rindo o dia inteiro. O Zeck então! Não sei onde ele arruma tanta teoria louca pra ficar falando com a gente. Eu estou farto disso! Eu estou farto de vocês todos!
            As lágrimas começaram a demonstrar a falta de equilíbrio de Daniel. Ele estava visivelmente descontrolado e frustrado. Mas a caixa de fósforos em sua mão demonstrava que ele tinha o controle da situação. A qualquer momento ele poderia atear fogo em todos. Ali na sala ninguém acreditava no que se ouvia. Daniel Franco não era nem de longe o ideal de um psicopata perfeito na concepção deles. Mas ele continuava:
            – Matar o Lango não foi tão difícil. E, como eu imaginava, um a um vocês foram caindo como patinhos em minhas armadilhas. A idéia do café então foi sublime. Com um pouco de veneno eu pretendia matar a todos. Mas não deu certo por causa do bendito chá! Que ódio eu tive quando eu vi que não eram todos que iriam tomar do café! Então eu comecei a me empenhar numa nova forma de matar o restante mas aí começou a surgir a suspeita por causa do Zeck. Se eu não agisse rápido tudo estaria perdido. E então resolvi fazer da maneira mais simples. Juntei todo o álcool que eu achei na despensa e espalhei por toda a sala. Agora eu vou executar a minha vingança. Custe o que custar.
             As meninas começaram a chorar mas nada comoveria Daniel naquele momento. Ele estava com os olhos vidrados e colocou um fósforo em posição de riscar. O fim estava para acontecer. Daniel riscou o fósforo e começou a contemplá-lo enquanto gargalhava de modo compassado. Foi quando se ouviu uma voz que gritava por Pedro. Daniel então se assustou e foi a oportunidade que Janaúba esperava. Dominando Daniel com uma chave de braço ele apagou o fósforo enquanto outros já corriam em seu socorro. A mãe de Pedro então abriu a porta deixando sair um ar carregado de muita angústia. Todos saíram correndo para a cozinha.

             Já parcialmente recuperados os jovens procuravam confortar a mãe de Pedro, que ficara sabendo da trágica notícia. Também foi do celular dela que a polícia foi contatada. Aqueles que sobraram ainda comentavam sobre o fato completamente inusitado de Daniel Franco ser um psicopata. Eles não acreditavam que tanta coisa pudesse ter acontecido em tão pouco tempo.
             Assim que a polícia chegou os jovens se acomodaram no ônibus cinza da polícia civil. Daniel Franco foi levado separado dos outros numa viatura, direto para uma delegacia ao ser constatada sua maioridade. Alguns ainda choravam nos ombros dos outros ao ver o IML retirar tantos cadáveres do sítio. O que eles mais queriam naquele momento era estar de volta às suas casas, em seu aconchego. E foi o que aconteceu.

Alguns anos depois...

             – Está faltando alguém?- perguntava Hugo aos que já se encontravam em frente ao CEFET, o ponto de encontro escolhido.
             Desde que aquele tragédia havia acontecido, Hugo, Guilherme, Calção, Cabelo, Cláudio, Paula, Fernanda, Igor, Jussara, Janaúba, Alair, Jhon, Reuber e Ezequiel combinavam de se encontrar para não deixar que as boas recordações daquela turma pudessem ser esquecidas. Eles faziam questão de visitar o sítio todos os anos, e durante aqueles quinze anos que se passaram eles não deixaram de ir um ano sequer. Sabiam que se os outros estivessem em seus lugares fariam o mesmo.
             Janaúba estava atrasado como sempre mas não demorou muito. Todos então entraram no ônibus e partiam para mais uma vez relembrar os amigos que tiveram tão triste fim. Chegando ao sítio um comentário seco conseguia romper os soluços de todos: "Nós não estávamos tão grandinhos..." E a sensatez foi retomada.

             Não muito longe dali, num dos quartos de um manicômio, ainda se encontrava Daniel Franco. Estava meio distraído quando ouviu o barulho do trinco da porta. Era a enfermeira acompanhada de um senhor de meia idade. Ele trazia consigo algumas folhas e uma prancheta.
             – Bom dia seu Daniel! – disse a enfermeira.
Daniel respondeu com um leve aceno de cabeça.
             – Boas notícias seu Daniel. O senhor recebeu alta. Não é mesmo seu Edson?
             O doutor que acompanhava a enfermeira exibia algumas folhas em sua prancheta dando uma resposta afirmativa. A enfermeira continuou:
            – Até que enfim hem seu Daniel? O senhor deve ter muita coisa pra fazer agora né?
            – É Elizângela... eu tenho umas coisinhas para fazer... e outras para terminar...
            Daniel deixou manicômio às onze da manhã e foi para a sua casa a pé.

 

"Eu não desejo a morte de ninguém. Mas leria com prazer o obituário de certas pessoas."

Máxima da literatura

THE END

DO AUTOR: Esta é uma obra de mera semelhança. Qualquer realidade com a coincidência é apenas ficção. O enredo desta obra DEFINITIVAMENTE não deve ser copiado na vida real. (Por favor, não tente fazer isto em casa, pois é muito perigoso!). As personagens desta obra foram inspiradas em pessoas reais, apresentando portanto algumas falhas que não devem ser levadas em consideração. Também gostaria de agradecer a todos pelas idéias ou qualquer outro tipo de ajuda, mesmo que indireta. Gostaria também de mandar um beijo pra minha mãe, pro meu pai e pra você. E se você chegou até aqui, PARABÉNS! Você é o nosso milésimo leitor e acaba de ganhar um prêmio especial de Dé real!°

 

° É tudo brincadeirinha! Eu sempre imaginei como era esse negócio de letras miúdas. Ah! E não se esqueça: sempre leia as letras miúdas! J

 

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