M�RIO QUINTANA O Mapa Olho o mapa da cidade Como quem examinasse A anatomia de um corpo... (E nem que fosse o meu corpo!) Sinto uma dor infinita Das ruas de Porto Alegre Onde jamais passarei... H� tanta esquina esquisita, Tanta nuan�a de paredes, H� tanta mo�a bonita Nas ruas que n�o andei (E h� uma rua encantada Que nem em sonhos sonhei...) Quando eu for, um dia desses, Poeira ou folha levada No vento da madrugada, Serei um pouco do nada Invis�vel, delicioso Que faz com que o teu ar Pare�a mais um olhar, suave mist�rio amoroso, Cidade de meu andar (Deste j� t�o longo andar!) E talvez de meu repouso... |
FERNANDO PESSOA Autopsicografia O poeta � um fingidor. Finge t�o completamente Que chega a fingir que � dor A dor que deveras sente. E os que l�em o que escreve, Na dor lida sentem bem, N�o as duas que ele teve, Mas s� a que eles n�o t�m. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a raz�o, Esse comboio de corda Que se chama cora��o. |
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CEC�LIA MEIRELES Motivo Eu canto porque o instante existe e a minha vida est� completa. N�o sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irm�o das coisas fugidias, n�o sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permane�o ou me desfa�o, � n�o sei, n�o sei. N�o sei se fico ou passo. Sei que canto. E a can��o � tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: � mais nada. |
FLORBELA ESPANCA VAIDADE Sonho que sou a Poetisa eleita, Aquela que diz tudo e tudo sabe, Que tem a inspira��o pura e perfeita, Que re�ne num verso a imensidade! Sonho que um verso meu tem claridade Para encher todo o mundo! E que deleita Mesmo aqueles que morrem de saudade! Mesmo os de alma profunda e insatisfeita! Sonho que sou Algu�m c� neste mundo... Aquela de saber vasto e profundo, Aos p�s de quem a Terra anda curvada! E quando mais no c�u eu vou sonhando, E quando mais no alto ando voando, Acordo do meu sonho...E n�o sou nada!... |