INTRODUÇÃO
O grupo dos crust áceos (do latim crusta = carapaça dura) é composto por caranguejos, siris, camarões, lagostas, cracas
e outros. A maioria das mais de 35 mil espécies conhecidas é marinha, mas
existem os que vivem em água doce a até alguns, como o tatuzinho-de-jardim,
que habitam a terra úmida. Os microcrustáceos, que vivem na superfície dos
ambientes aquáticos, ocupam uma posição básica nas cadeias alimentares. Geralmente
são de vida livre e alguns representantes aquáticos vivem em grupo. As cracas
são sésseis e existem espécies que vivem associadas a animais aquáticos, podendo
exercer até o parasitismo. Os crustáceos formam a classe dos artrópodes que
domina os ambientes aquáticos. Embora apresentem menor número de espécies
que o grupo dos insetos, são mais variados na morfologia e nos hábitats
ocupados.
A grande diferença entre os crustáceos e os demais artrópodes é a existência
de dois pares de antenas. O corpo tem uma segmentação evidente, sendo
menor o número de segmentos nas formas mais complexas, nas quais há uma tendência
ao agrupamento de segmentos adjacentes. Geralmente há três partes: cabeça,
tórax e abdome, mas, em muitos representantes, a cabeça e o tórax estão fundidos,
formando o cefalotórax. A cabeça é a parte mais uniforme, com cinco segmentos:
os dois anteriores apresentam as antenas; o terceiro, as mandíbulas
e os dois posteriores, as maxilas, que servem para manipular o alimento.
Apresentam um par de olhos compostos, que geralmente situam-se na extremidade
de dois pedúnculos, sendo, por isso, chamados de olhos pedunculados, possibilitando,
dessa maneira, uma ampla exploração do ambiente.
Morfologia externa de um caranguejo.
Os crustáceos possuem na maioria respiração branquial. No tórax e no abdome,
o número de segmentos varia de acordo com o tipo de crustáceo. A maioria apresenta
cinco pares de patas (decápodes), mas alguns apresentam numerosas patas semelhantes
(isópodes), que é o caso do tatuzinho-de-jardim. A quantidade de patas pode
ser utilizada como critério de classificação dos crustáceos. O número de apêndices
é variado e estão especializados em diferentes funções, como captura e manipulação
de alimento e locomoção. A cutícula é bem mais endurecida que nos outros artrópodes,
pois é reforçada pela deposição de carbonato de cálcio. O desenvolvimento
é indireto, com a eclosão de uma larva náuplio livre-nadante, um organismo
arredondado, com cauda e espinhas laterais muito longas. Vai-se transformando,
em vários estados sucessivos, em diferentes tipos de apêndices
acessórios; algumas larvas apresentam olhos altamente desenvolvidos.
Os crustáceos dividem-se primariamente em dois grandes grupos, malacóstracos,
ou crustáceos superiores, com o corpo dividido em 21 segmentos, e os
entomóstracos, ou crustáceos inferiores, com um número
variável de segmentos, porém nunca igual a 21. O último
grupo apresenta as mais diversas formas, entre as quais os microscópicos
seres do plâncton, com apêndices de complicadas ramificações
e belas cores. Denomina-se plâncton o conjunto de animais marinhos de
vida flutuante, ao qual pertencem também as larvas livres e plantas
microscópicas, cujo número é incalculável e que
forma a maior fonte alimentícia dos habitantes do mar.
Tatuzinho-de-jardim, um exemplo de crustáceo isópode.
Com exceção das cracas e dos tatuzinhos-de-jardim, os crustáceos são dióicos.
Existem técnicas de corte variadas. Em caranguejos, por exemplo, os machos
de muitas espécies usam suas grandes pinças para atrair as fêmeas. Rituais
de combate podem ser realizados entre machos, com a pinça sendo usada como
escudo. As cores variadas e sinais acústicos também servem de atrativo para
fêmeas de várias espécies. A fecundação é interna, com certos apêndices funcionando
como órgãos copuladores e transferindo espermatóforos para a fêmea. Os ovos
são frequentemente incubados.
Camarões
O camarão é um crustáceo muito conhecido, pertencente às famílias
dos peneídeos (marinhos) e palemonídeos (água doce).
Caracteriza-se pelas suas longas patas e pelo abdome não-dobrado por
baixo por baixo da carapaça. Menores que as lagostas, os camarões
comuns atingem de 20 cm de comprimento, mas a maioria das espécies
é de tamanho reduzido e algumas possuem dimensão microscópica.
Encontrado em mares, junto das costas marítimas, nos leitos lamacentos
dos riachos, rios e lagoas, bem como nos alagados deixados pelas marés.
Geralmente são habitantes do fundo e nadam para frente com o auxílio
dos pés abdominais, mas quando amedrontados, movem-se rapidamente para
trás. Constituem importante elemento na economia biológica marinha,
pois servem de alimento a diversos peixes. Entram em grande escala na alimentação
do brasileiro do litoral e são consumidos frescos, secos e enlatados.
Os camarões de água doce são particularmente apreciados
no Nordeste e na Amazônia, onde as espécies do gênero Bithynis
recebem os nomes de pitu e potiaçu.
O cefalotórax anterior é rígido e coberto por uma carapaça que recobre
o dorso e as laterais. Muitos dos apêndices no cefalotórax e no abdome relacionam-se
com a defesa, a captura de alimento, a locomoção e a reprodução, permitindo
uma melhor exploração do ambiente. Os camarões podem alimentar-se de detritos
encontrados nos ambientes aquáticos em que vivem, ou de pequenos animais do
zooplâncton, sobretudo outros pequenos crustáceos chamados copépodes,
que capturam. Existem camarões que se especializaram em limpar brânquias
de peixes, removendo ectoparasitas e detritos, que usam como alimento.
O krill é um crustáceo de alto mar semelhante a um camarão,
medindo cerca de 3 centímetros de comprimento. São animais geralmente filtradores
que vivem em grandes grupos, constituindo o principal alimento de muitas espécies
de baleias. Um grupo de krill pode cobrir uma área equivalente a vários quarteirões
de uma cidade e, visto de cima, parece uma ameba gigante. As baleias azuis
podem comer uma tonelada deles em apenas uma refeição, podendo fazer até quatro
por dia. Estes animais têm recebido crescente atenção como fonte de alimento
humano. Russos e japoneses já realizam a pesca de krill, cuja proteína é extraída
e usada para enriquecer outros alimentos.
Caranguejos
e
Siris
Do latim, Cancer e Carabus e do grego, Karkinos, o nome
aplica-se a todos os crustáceos, decápodes braquiúros,
caracterizados por terem 5 pares de patas e o abdome dobrado por baixo do
cefalotórax. Os ameríndios chamavam de uçás os
caranguejos terrestres, com patas terminadas em unhas, e de siris as espécies
aquáticas ou nadadoras, com o último par de patas terminadas
em remo ou foliáceas. Essa divisão é mantida até
hoje pelos pescadores. Os caranguejos alimentam-se de detritos, restos de
carne etc. As espécies que vivem em manguezais costumam sair de suas
tocas em grande número na época da reprodução,
período do ano no qual são capturados aos milhares e vendidos
nos mercados, sobretudo no Nordeste e no Pára. No sentido mais restrito,
chamam-se caranguejos as espécies do gênero uçá,
família dos ocipodídeos, cujo habitat é o lodo;
e os siris as espécies marítimas, de tamanho menor, da família
dos portunídeos. Várias espécies de caranguejos possuem
nomes específicos, como aratu, guaiá, guaiamu e chama-maré.
CARANGUEJOS |
SIRI |
Os caranguejos geralmente não são capazes de nadar. Os siris,
entretanto, são nadadores ágeis devido, principalmente, ao último par de patas
transformado em uma espécie de remo de barco, largo e achatado. O caranguejo-eremita
ou paguro aloja o abdome em conchas vazias de moluscos gastrópodes
(caramujos), arrastando-se quando se desloca. O abdome está modificado, encaixando-se
nas câmaras espiraladas da concha. O caranguejo-fantasma é um extraordinário
corredor, podendo alcançar velocidade de 1,6 metro por segundo. Quando em
velocidade máxima, o corpo fica bem levantado em relação ao substrato, que
é tocado por apenas dois ou três pares de patas. Muitos caranguejos diminutos
vivem no interior de animais maiores, como esponjas ou holotúrias.
Caranguejo-eremita.
Lagostas
Crustáceo decápode, representado no Brasil pela família
dos panilurídeos, gênero Panilurus, no qual se incluem
lagostas brasileiras. De alto valor comestível, vive em fundos rochosos,
perto do litoral. As lagostas verdadeiras mais conhecidas são a americana, Homarus vulgaris, que pode atingir 15 kg de peso, sendo as de consumo
comum de 3 a 2 kg; a européia, Panilurus vulgaris, do Mediterrâneo,
e a africana, do cabo da Boa Esperança. As lagostas brasileiras não
possuem as pinças nos três primeiros pares de patas.
As fêmeas produzem milhares de ovos, que trazem presos ao corpo e protegidos
por apêndices especiais, embaixo do abdome, durante um espaço
de três meses, até nascerem as larvas. Durante os dois primeiros
meses de vida, a larva pertence ao plâncton, arrastadas pelas correntes
superficiais. As que sobrevivem a esse período, em que são devoradas
aos milhares por outros animais, logo se adaptam ao fundo. Nas costas brasileiras
existe também a lagosta-sapateira ou lagostim, Scyllarus aequinoctialis,
facilmente indentificável por não ter as antenas tão
longas como os Panilarus.
Morfologia externa de uma lagosta.
Cracas
Pertencem à ordem dos cirrípedes, família dos balanídeos
e lepadídeos. Esses curiosos animais vivem dentro de concha ou craca
calcária, fixos em corais, rochas, no couro das baleias, na carapaça
das tartatugas, nos cascos dos navios etc. O número desses artrópodes
nos cascos dos navios chega a ser tanto que, frequentemente, lhes atrasam
a marcha, pela deformação que imprimem à superfície
dos cascos. As cracas formam o único grupo séssil de crustáceos, com
exceção das formas parasitas.
O corpo dos Balanus e o dos Lepas (famílias da ordem
dos cirrípedes) sofrem modificações de acordo com o tipo
de vida desses animais, sendo bem visíveis, de qualquer maneira, os
seis pares de patas que podem expelir da carapaça, quando está
retendo plâncton e filtrando a água.