DETETIVE AL: Quem matou Salvador Mendonça? parte 2

Por: Anderson Oliveira, favereiro de 2004. Atualizado em 01/03/2005

[Apartamento da família Barros, quatro horas atrás:]
— Cíntia querida!! Onde você esteve?! — [Pergunta Helena]
— Fui à igreja procurar o pai... mas ele não estava lá. Fiquei orando e depois conversei com umas senhoras e com o pastor. O pai já voltou?
— Não filha, seu pai... — [Antônio abre a porta... está bêbado] — Antônio...! O que você fez?!
— Eu matei!!! Afoguei minha magoa... Matei minha dor! — [Ele chora... elas o abraçam]
[Casa de Oscar, quatro horas e vinte minutos atrás:]
— Mãe!! Ótimo ela está dormindo! É bom ela não me ver agora... agora vou dormir, agora que tirei um peso das costas.
[Apartamento de Ricardo Mendonça, onde Natália Mendonça, sua madrasta, passou duas noites, duas horas e quarenta e cinco minutos atrás:]
— Aonde você foi Natália? Não te mandei ficar aqui?
— Se esqueceu de que tenho uma família? Fui ver meus pais.
— Há esta hora?
— Nunca é tarde para se arrepender... Como está Cíntia?
— O que tem Cíntia?
— Você não foi visitá-la?
— Ah... eu não a vi...
— Então onde esteve até agora? Pois o porteiro me disse que você chegou não faz quinze minutos.
— Rodei por aí... pra esfriar a cabeça.
[Mansão de Salvador Mendonça, 6:00. Grande movimentação de policiais e da imprensa:]
Eu não acreditei quando Milton me ligou há poucos minutos e disse que Salvador Mendonça, o homem que era acusado de estuprar a noiva do filho e de tentar matar a esposa, tinha sido encontrado morto com três tiros pelas costas e uma facada no abdome, no seu escritório. A suposta arma do crime estava sobre seu corpo, os legistas disseram que não ouve luta, só uma marca de tiro num livro... nenhuma digital foi encontrada ainda, só do morto... A porta da casa foi arrombada, apesar de ter uma grande segurança, Salvador tinha mandado todos seus empregados pra casa nessa noite, perecia que o velho queria morrer!! Agora os legistas estão levando o corpo pro IML... O que eu faço aqui? Bom... como eu estava no caso de estupro, fui cotado como o mais capaz de solucionar o mistério: Quem matou Salvador Mendonça?
— Hei Al! Veja isso... encontramos a faca de baixo da estante.
— Leve para os legistas, mas cuidado com os fotógrafos... — A pior coisa que poderia acontecer num caso desses, é a intromissão dos repórteres. — Milton... A família... foi avisada?
— Liguei pessoalmente pro filho, ele disse que já estaria a caminho... mas isso já faz meia hora. Pelo que sei a esposa, ou melhor, a viúva está com o rapaz, não sei onde encontrar outros familiares.. se é que existem. Bom Al... temos trabalho a fazer... e aí? Algum palpite?
— Olha Milton... Esse homem era odiado por muitos, até eu, quando o vi, não fui com sua cara. Só em um dia ele cometeu crimes bárbaros.. contra a esposa.. contra a nora... — Então me lembro do seu Antônio, após ver a filha naquele estado... o sangue de qualquer homem ferve...
— Algum suspeito?
— Todos são suspeitos.
— Sei.. o pai da garota estuprada, a própria garota, sua mãe...
— O filho, a viúva...
— O próprio filho?! Não... isso é demais!
— Milton, Milton... levando em consideração o que esse homem fez.. eu não duvido de mais nada. — Falando no diabo... O filho entra de carro, junto com a viúva, logo são cercados por repórteres e fotógrafos, tem a televisão também...
— Quem é o encarregado por aqui? — Pergunta pra um PM que está fazendo a segurança, este aponta pra mim! — Você é o... eu te conheço! Estava na delegacia ontem...
— Al de Sousa, Detetive encarregado do caso... antes de mais nada, meus sentimentos, a senhora também. — Faço uma média. Não marco dia pra iniciar a investigação... desde agora... cada reação que esses dois tiverem, será uma prova de sua inocência... ou culpa.
— Hã... obrigado, estou muito nervoso. Não posso acreditar... tenho que ver o corpo...
— Os legistas já o levaram. Melhor.. vê-lo naquelas condições não é recomendado.
— Bom.. o que faço agora?
— Contrate bons advogados... quem sabe... alguns seguranças.. caso for um crime político. — Eu duvido. Mas não é bom descartar essa opção. Os dois entram na casa, começo a investigar o local do crime... junto com a perícia, o assassino tem que ter deixado pistas, e elas me levarão ao culpado.
Como disse antes, não há sinal de luta, o crime foi executado rapidamente e friamente. A faca usada no crime era uma faca de cozinha normal, mandei ver na cozinha da casa se alguma faca faltara. Nenhum. Esta faca não é desta casa... o que elimina a suspeita do crime ter sido cometido por um profissional. No revolver, nenhuma digital, ou o assassino estava de luvas, ou limpou a arma depois... o morto foi encontrado segurando um abridor de cartas... desses que parecem punhais, muito vistos em filmes. Salvador tentou reagir, mas foi morto antes e até riscou sua escrivaninha... ele estava fumando um charuto... péssimo hábito! Não vou encontrar nada de concreto aqui, só suspeitas. Peço pra voltar pra casa.
— Pode ir Al... resolvemos as coisas por aqui. Descobriu alguma coisa lá?
— Só o que já sabia. Não foi profissional, o assassino era amador, não houve luta... crime bem complexo!
— Então descanse e me procure amanhã no distrito...
— Hã... Milton... Peça para que Ricardo e Natália Mendonça e a família Barros, não saírem da cidade.
[8:02 Casa de Al]
— Você chegou... mas mal para em casa. — Luiza está estranha... triste. Eu entendo... nossa relação não é mais como era antes... e o meu trabalho só atrapalha. Dou um suspiro longo, procuro forças para responder e digo:
— Tem razão... Desculpa.
— A culpa não é sua... precisamos conversar. — É verdade... desde que fui embora, há dois meses, nunca tocamos no assunto de nossa separação. Agora que voltei, também não tive tempo de sentar e olhar em seus olhos, talvez, porque a emoção do meu retorno, tenha nos feito esquecer do que passou... por um momento. Fomos para o quarto e conversamos por horas... desabafamos... choramos... rimos! Eu pedi desculpas... ela também... mas.. falta algo, que eu não sei o que é.
— Como foi no trabalho? Caso novo?
— Te contei que um poderoso político tinha estuprado a própria nora? Pois bem... ele foi assassinado.
— Oh céus!! Quem o matou?
— É isso que temos que descobrir. E... suspeitos e motivos é que não faltam. — Como de costume, sou interrompido por um telefonema do Milton:
—> Al... desculpe atrapalhar sua folga... mas temos mais uma pessoa envolvida.< — Luiza olha pra mim... me dá um beijo e me diz pra ir...
Milton me diz que rastrearam as últimas ligações de Salvador. Minutos antes dele morrer, ele conversou com um de seus funcionários mais antigos, um tal de Oscar Silva Brito. Dizem que o cara é um tremendo capacho... fazia tudo o que Salvador mandava, sem questionar... porém era sempre esculachado. Não me espanta que um dia ele se encheu e resolveu apagar o velho... Mais um suspeito em potencial.
Então, no dia seguinte, chegou o dia do velório... Resolvi aparecer, apesar da minha presença não ter sido bem vista, principalmente por Ricardo, o filho e Natália, que bancava a boa viúva. Estava lá também o tal Oscar, sujeito estranho... A noiva de Ricardo não compareceu, também podera, ela foi estuprada por Salvador, não teria motivos para ir ao velório... ou teria? Ter a certeza de que o homem estava realmente morto... só... se ela já tivesse comprovado isso em outra oportunidade... As pessoas que chegam, políticos, empresários, funcionários, amigos... nenhum outro familiar... Então, como quem não quer nada, passei a ouvir alguns comentários:
— Finalmente alguém deu fim nesse calhorda! — Cochicha um influente político.
— Já vai tarde! — Diz alguns que passam pelo caixão... Parece que ninguém mesmo suportava esse velho, mas duvido que, esses que hoje vem ao velório, conhecia as verdadeiras razões por que ele foi morto... o assassino conhecia Salvador, melhor que essas pessoas. Vejo que não tenho outra escolha, no dia seguinte, vou ao escritório de Milton...
— Milton... chame Ricardo, Natália, Cíntia, seu Antônio e Oscar a depor... tenho certeza que um deles é o assassino.
— Você acha Al? O pai da garota estuprada e ela mesma eu até entendo, o secretário também, mas... o filho... a mulher...? — Parece que Milton está com medo de alguma coisa...
— Tudo é possível meu amigo... Tudo! — Peço para que eles sejam intimados o mais rápido possível, quero interrogá-los ainda esta semana.
[15:15 Apartamento da família Barros:]
— Rick... que bom que veio!!
— Desculpe meu amor... foram tantas coisas... que, não tive tempo pra ficar com você como deveria...
— Éh... Rick...? Eu sei que aquele... era seu pai... mas...
— Não vamos tocar nesse assunto! Ele era meu pai... mas, que Deus me perdoe... estaremos melhor sem ele. — [A campainha toca, o Oficial de Justiça entrega a intimação para Cíntia, Antônio e também a Ricardo, já que ele está lá] — Mas o que é isso?! A polícia quer que depomos...? Eles acham que...
— Eu não sei Rick...
[Dia seguinte, 4:00 Distrito Policial]
É hora de iniciar os depoimentos... Ricardo e Cíntia, acompanhados do seu Antônio já estão aqui... acaba de chegar Natália. Oscar ainda não chegou... Bem.. vou começar por Ricardo:
— Senhor Ricardo Mendonça, vinte e quatro anos, estudante do quarto ano de engenharia... Filho mais novo do falecido Salvador Mendonça, onde estão seus outros irmãos?
— Minha irmã Cecília, se casou e mora a três anos dos Estados Unidos. E meu irmão Roberto trabalha na Inglaterra.
— Um dia antes de seu pai ter sido... assassinado, veio a nós uma queixa de que sua noiva, Cíntia Barros, fora estuprada por ele, e no mesmo dia, o senhor prestou queixa contra ele por ter agredido sua madrasta. Pelo que podemos perceber... Sr. Salvador tinha um comportamento um tanto...
— Doente, eu diria. Meu pai.. desde que me lembro, sempre foi mais ligado à sua carreira do que à família. Pensava em dinheiro o tempo todo... quando o casamento dele com minha mãe acabou, ele fez de tudo pra ela não levar nada de seu patrimônio... acho que foi por isso que ela morreu meses depois...
— Eu lamento... mas... o senhor teria alguma hipótese do motivo pelo qual seu pai estuprou Cíntia?
— Hafh... nesse dia, eu fui apresentar Cíntia a ele, meu pai logo perguntou se ela era rica, eu disse que não, então ele começou a acusá-la de estar dando um golpe... então brigamos...
— Só isso? — Algo me diz que ele está escondendo alguma coisa... — Lembre-se que se trata de...
— Bom... ele ofendeu Cíntia, disse que ela só queria me dar o golpe do baú... então... Eu disse que sua esposa, a Natália, também era pobre e... que... — Isso está me cheirando a... — Eu dormia com ela. — Traição!
— Mesmo noivo de Cíntia?
— Mas eu amo Cíntia! Com Natália foi só diversão, e só algumas vezes...! — Tsc, tsc... o filho é tão sem vergonha quanto o pai! Prossigo o depoimento por mais uns dez minutos, mas não consigo nada de importante. Ricardo é um jovem rico metido que tem conflitos com a vida... e bons motivos para odiar seu pai, pois estuprou sua noiva e tentou matar sua amante, fora o fato dele o acusar de ter causado a morte da mãe. Agora é a vez de Natália... e nada de Oscar chegar...
— Senhora Natália Oliveira Mendonça, viúva de Salvador Mendonça, trinta anos. Pode-se ver se seu falecido marido era muito mais velho.
— Sim, Salvador tinha sessenta e sete anos... — O velho caso da “garota nova e bonita com o velhote milionário”, não preciso fazer nenhuma pergunta pra sacar que esse Natália não vale, só o jeito que ela se veste já diz muito.
— Foi dada queixa, um dia antes do assassinato, contra uma tentativa de homicídio contra a senhora. O que pode me dizer sobre isso?
— Começou na noite anterior... eu estava na banheira quando Salvador chegou em casa me fazendo umas perguntas estranhas... parecia que estava perturbado com alguma coisa... — Pela hora registrada no caso do estupro, Salvador tinha acabado de cometer o crime antes de voltar pra casa... — Então ele perdeu totalmente o controle e me esganou, ainda se pode ver algumas manchas... Eu só não morri, porque joguei um vaso nele, que o desmaiou... foi a primeira vez que ele fez isso... não vou dizer que ele era carinhoso, isso ele nunca foi. — Aha! — Ele tinha... problemas... sabe...? Coisas da idade. — Impotência! Por isso ela se encontrava com Ricardo?
— O senhor Ricardo declarou que vocês dois, tinham um caso...
— Sim... nós, algumas vezes... mas não passou de sexo, eu não amo Ricardo. Ele me deu abrigo depois do... incidente em seu apartamento.. mas não tivemos relação nesses dias... — Ela continua a falar, mas percebo que ela está mentindo. Não foi só sexo apenas... pelo menos da parte dela. E o fato do velho ser podre de rico não afasta a hipótese do típico “matei meu marido pra ficar com a herança”. Chamo agora para depor Cíntia... Oscar não chegou.
— Cíntia Barros, vinte e dois anos, estudante do segundo ano de engenharia, bolsista com excelentes notas... Noiva de Ricardo Mendonça, filho da vítima... Outra vez a senhorita esteve aqui, num momento nada agradável, também envolvendo o senhor Salvador. Foi dada queixa de estupro. Confere?
— S-sim... — A moça está muito nervosa. — Aquele... monstro... ainda me lembro bem... foi uns dois dias antes... — Ela está perturbada demais... e com um vívido ódio... combinação muito perigosa, é melhor eu mudar de assunto.
— Como é sua relação com Ricardo?
— Conheci o Rick numa festa, percebemos que tínhamos muito em comum... a mesma faculdade, o mesmo curso... Começamos a namorar e dois meses depois ele me pediu em noivado... Até então eu nem sabia que ele era rico... claro, ele tem um carro importado, mas eu nunca entendi muito disso. Eu amo Rick... ele comprou um apartamento para nós e éramos felizes até... aquela tarde, onde ele me levou ao prédio do pai dele... Um homem grosseiro... frio... desgraçado... — Hmm... é só lembrar no velho que a moça muda de aspecto. Natural, afinal, apesar dele ter sido assassinado... este homem não prestava! Não pergunto mais nada a ela... Agora é a vez de seu Antônio, esse me preocupa... um homem pobre.. se for o culpado... irá sofrer mais que qualquer um... e nada de Oscar chegar...
— Senhor Antônio Barros, cinqüenta e três anos, vigia noturno, mas já trabalhou como metalúrgico, mecânico, pedreiro e até padeiro...
— Por que estou aqui detetive? — Ele me interrompe... está agitado...
— Um dia antes do assassinado de Salvador Mendonça, ele estuprou sua filha... lembro do senhor estar muito perturbado nesse dia...
— E não era pra estar? Esse monstro machucou minha filha!! O senhor entende?
— Claro... como lhe disse nesse mesmo dia, também sou pai... É por isso que tenho razões suficientes pra acreditar que o senhor está envolvido nisso.
— O senhor fala isso só porque eu sou pobre...!
— Não é verdade... veja, as pessoas que saíram desta sala... todos são suspeitos... Ricos, pobres... não há diferença.
— Você diz isso agora, mas eu sei que há diferença sim! Conheci muitos colegas de profissão que foram presos por crimes que não cometeram.. só pelo fato de serem pobres...
— O senhor quer ser preso então?
— Mas é claro que não, detetive!!
— Então coopere e diga tudo o que pode sobre a vítima! — Tive que ser enérgico, seu Antônio está com muito medo e culpa sua condição social... usa isso pra justificar alguma coisa...
— Detetive... eu não conhecia esse... homem. Só sei que ele era um deputado, rico e era pai do Ricardo... Rapaz muito educado e honesto... — É o que ele pensa! — Um bom moço... por isso permiti que Cíntia namorasse com ele... Na verdade só vi o velho aqui na delegacia... — Sim, eu lembro, seu Antônio quase agrediu Salvador, e esse, nem piscou... Vejo que ele continua nervoso e termino o depoimento. O escrivão me entrega as páginas datilografadas pra eu fechar o caso... Então Oscar chega...
— Desculpe a demora detetive... Moro longe daqui e ainda tive um imprevisto com minha mãe...
— Ok... Então vamos começar. Oscar Silva Brito, trinta e dois anos, Assistente pessoal de Salvador Mendonça, um dos mais antigos funcionários e, um dos mais competentes, segundo um relatório enviado pela empresa.
— Está tudo certo... mas... o que eu tenho a ver com o lamentável assassinato do senhor Mendonça. — Um bajulador! Já vi isso antes...
— Diga a verdade senhor Oscar, isso não é brincadeira. Vendo nos relatórios.. o senhor não tira férias há seis anos, seu salário não é reajustado igualmente com os outros funcionários... esteve recentemente na Argentina por ordem de Salvador... e descobrimos que ele telefonou para sua residência minutos antes de morrer... Seja franco: Que reação à morte de seu patrão lhe trouxe?
— É para ser franco? Então eu te digo... Fiquei feliz! Sei que isso não é coisa de um bom cristão, mas... Este homem era um idiota... eu o servi durante anos e ele não ligava pras minhas necessidades, meus direitos...! — Bingo! Como imaginei... por trás dessa puxação de saco se esconde um ódio... — Eu fazia tudo pra ele... desde assuntos relacionados à empresa, à política e até coisas pessoais. Eu arrumava prostitutas pra ele... confesso que, algumas vezes, tirei dinheiro dele com isso, mas nunca da empresa! — Esse Oscar é mais esperto do que parece. Encerro os depoimentos e vou embora, Milton me convida pra tomar uma cerva na casa dele... é uma boa oportunidade de por as idéias em ordem.
— Então Al... o que descobriu com os depoimentos?
— O que eu temia. Todos têm bons motivos para terem cometido o crime... seus comportamentos revelam isso, eu não sou psicólogo mas, sei ver no olhar.
— O que vai fazer agora?
— Não sei... o que me sugere?
— Siga-os... vigie-os... saiba onde estiveram na noite do crime, lugares aonde vão e com quem estão. — Esse Milton... poderia ser um bom detetive se quisesse! Sigo seu conselho e, no dia seguinte, saio a vigiar os passos dos suspeitos, isso sem os alarmar.
Dez e quinze da manhã, Cíntia e Ricardo saem da faculdade, ele sai de carro, porém ela vai de ônibus... vou seguir Ricardo. Ele chega ao tal apartamento que Cíntia falou, se não me engano, Natália está morando lá... mas por quê? Agora que Salvador está morto... o que ela teme? Uso minha credencial para ocupar um apê vago que tem uma janela de frente ao apê dos dois... uso um binóculo para observar... Ricardo está na sala, fala ao telefone com alguém... pela sua expressão, a conversa não é boa... pedirei a quebra do sigilo telefônico dele para saber pra quem ligou. Ali está Natália, entrando no banho... Ricardo vai ao quarto... ela nem se preocupa em se cobrir na frente dele... espere... Ricardo está... eles vão... Pobre Cíntia, nem imagina que seu noivo faz.
Decido ir embora, vou ao apartamento de Cíntia... quando chego, a família está saindo, os sigo... eles vão à igreja... Uma igreja evanlégica... entro pra procurá-los...
— Lembrem-se do que disse Nosso Senhor Jesus: "Irmão entregará o próprio irmão para morte, e o pai entregará o filho. E se levantarão os filhos contra os pais, e lhes darão a morte"*. Por isso orai irmãos...! — Dizia o pastor, e as pessoas se exaltavam e gritavam e Cíntia e seu Antônio estavam entre eles... São pessoas religiosas... mas sofreram um grande trauma... Vejo que aqui não é um bom lugar para continuar minha investigação...
São sete e vinte e dois e chego à casa de Oscar. Paro o carro numa rua que me permite uma boa visão... Oscar está sozinho em casa... acho que não voltou ao trabalho na empresa de Salvador... espere.. vejo um carro familiar se aproximar... É... não pode ser! É Natália! Ela bate a porta... ele abre. Da janela vejo o que jamais poderia imaginar... os dois são amantes! Essa Natália dormia com o velho, com o filho e com Oscar! Como dizia meu velho pai, é uma boa bisca!
Resolvo voltar pra casa, estou cansado e preciso relaxar... Meus filhos me abraçam e me pedem pra contar o que fiz no dia.. costumava fazer isso antes... claro que não conto os podres do meu trabalho:
— Bom... o papai está tentando prender um bandido muito esperto.
— Ele é mais esperto que você? — Pergunta Bia.
— Não...! Seu pai é mais esperto, tanto que hoje aprendi muita coisa que ele não sabe. — Passo o tempo brincando com eles... Vejo o sorriso em Luiza, parece que consegui retomar minha família.
Jantamos todos juntos pela primeira vez desde voltei, e depois ficamos assistindo uns vídeos antigos... Depois que as crianças foram dormir, eu e Luiza resolvemos terminar nossa conversa... Desta vez... acabou como eu esperava... Nos amamos como nunca tínhamos nos amados. Porém, ela tinha que perguntar:
— Soube, pela televisão, que você está no caso do deputado Salvador. Sabe quem é o assassino?
— Ainda não... mas tenho cinco suspeitos... tenho certeza que é um deles... hoje, descobri uma coisa que complica mais e mais a situação e... — Neste momento, ouço um barulho na cozinha. — Escute: Vá para o quarto das crianças, tranque a porta e não saia de lá, independentemente do que ouça, entendeu?
— Al... o que você...?
— Vá!! — Pego minha arma e desço até a cozinha, como imaginei, a porta foi arrombada... há marcas de passos no tapete, mas não tem ninguém aqui. Vejo na sala e em todo o andar térreo, então ouço Bia gritar... Subo as escadas e vejo que a porta do quarto das crianças foi forçada e... — Argh!!! — Sou atingido pelas costas com um pedaço de pau! Levanto pra acender a luz, mas não acende... o invasor deve ter cortado a força. Então o vejo entrar no meu quarto, está muito escuro e não pude identificar quem era...
Entro no quarto e atiro, acerto meu espelho. A pessoa está atrás da porta e ataca novamente, desta vez minha arma cai. Então luto com ele... sinto que usa luvas e máscara... acerto um soco nele e o jogo no chão, mas ele me dá um chute. Enquanto me recupero, percebo que ele procura minha arma, mas está muito escuro para achá-la... então lhe dou um pontapé no estômago e consigo dar uma chave de braço... Mas ele me dá uma cotovelada e escapa. Pega minha arma e dá um tiro... acertou meu braço... de raspão espero. Ele foge... desce e sai por onde entrou. Não o sigo, estou mais preocupado com minha família... Ligo a luz e abro a porta do quarto:
— Al...!! O que ouve.. você está ferido!!
— Papai!!
— Calma Luiza, crianças, estou bem. E vocês?
— Estamos bem, Bia se assustou com o barulho, mas foi só isso. — Desço e na cozinha, vejo um pedaço de papel, nele está escrito: “Sai da minha vida. Não me siga mais.. senão mato você como matei Salvador.”
Ligo pro Milton, conto a história e falo do bilhete:
— O assassino esteve na minha casa, sabe que eu o segui, minha família corre perigo!!
—> O caso está ficando sério, amigo. Mandarei a perícia aí agora mesmo. Sugiro que leve sua família para um lugar afastado.< — Ele está certo. Os peritos não encontraram nada que diga quem é o assassino... minha porta foi arrombada do mesmo jeito que a porta da casa de Salvador. Eles ficam com o bilhete para tentar fazer um exame de caligrafia, mas acho difícil, pois as letras estão bem disfarçadas.
De manhã no distrito, converso com Milton e outros colegas.
— Quero um novo depoimento com os suspeitos...quero os aqui hoje mesmo!!
— Você está nervoso Al... Seu envolvimento com o caso agora é pessoal... acho melhor afastá-lo...
— Nem pense nisso Milton! Esse caso é meu... Eu ponho esse assassino na cadeia se eu ficar no caso. Caso contrário, eu o mando pro inferno! Você escolhe.
— Tudo bem Al... mas... prometa que não vai se precipitar. — Está certo... preciso manter a cabeça no lugar... Meus filhos e minha mulher estão seguros agora... devo continuar. Às cinco e trinta da tarde, os suspeitos chegam para um novo interrogatório. Desta vez, interrogarei todos juntos, assim terei a oportunidade de pegá-los em contradição.
— Chamei vocês aqui novamente para uma simples e curta pergunta. Quero a resposta verdadeira. Onde cada um estava na noite do crime?
— Por que nos pergunta isso detetive. — Diz Ricardo.
— Tenho sérios e fortes motivos para acreditar que... O ASSASSINO DE SALVADOR MENDONÇA ESTA NESTA SALA! — Eles se olham, me encaram com indignação, alguns suam frio, outros tossem seco. — O senhor, Sr. Ricardo, onde esteve nesta noite?
— B-bom... eu, assim que deixei a delegacia, fui de carro ver alguns amigos e... de noite... liguei para Natália...
— Ele me disse que ira ver Cíntia.
— Natália!! Não me interrompa! Sim, eu ai ver Cíntia, mas... não fui, fiquei circulando por aí até de madrugada...
— E a senhora? — Pergunto a Natália.
— Eu estava no apartamento de Ricardo e quando ele me telefonou eu... sai e fui ver meus pais.
— À noite?
— Também perguntei isso quando ela chegou de madrugada... — Diz Ricardo.
— Estava muito nervosa, afinal, quase morri nesse dia.
— E você Cíntia?
— Fui à igreja pra procurar meu pai, mas ele não estava lá, então fiquei rezando a noite inteira.
— Por que o senhor não estava na igreja, seu Antônio?
— Eu passei na igreja... mas não resisti e fui ao bar, na mesma rua e bebi para afogar a magoa.
— Hmm... Oscar?
— E-eu... fui resolver uns assuntos da empresa, que o Sr. Mendonça tinha mandado.
Nenhum deles estava em casa na noite do crime... Natália e Cíntia disseram que estavam na companhia de outras pessoas, preciso confirmar isso. Procuro na ficha o endereço dos pais de Natália e peço ao Milton para ir à igreja que Cíntia freqüenta. Converso com a mãe de Natália, ela diz que sua filha foi ver ela sim... mas apareceu lá depois da uma da manhã. Segundo os peritos, o crime foi executado entre meia-noite e meia-noite e meia... onde ela estava nessa hora... ninguém sabe.
—>Alô Al? É o Milton. Olha estive na igreja e conversei com o pastor e algumas pessoas, mostrei a foto de Cíntia e eles disseram que a garota não estava lá.< — Como pensei... —> E tem mais, aproveitei pra passar no boteco e descobri que seu Antônio só apareceu por lá depois das duas.< — Todos continuam sobre suspeita!!
— Valeu Milton, isso só complica mais a situação. Eu acho que vou voltar ao local do crime, quem sabe não descubro algo a mais.
—> Vale tentar.< — Tenho um homem mal e odiado que foi assassinado; sei que o assassino é, ou o filho, ou a esposa, ou a noiva do filho, ou o pai dela, ou o fiel, mas revoltado empregado, que, por acaso é amante da viúva! E sei que o assassino tentou me matar e pôs minha família em risco... Agora... Só me falta saber... Quem ele é??

Não perca a conclusão desse mistério!
___________
[*Mc 13:12]

Galeria de Desenhos

REVOLT


Página de Anderson Oliveira2003-2004

Hosted by www.Geocities.ws

1