«CRÓNICAS SOLTAS»

Subsídios do meu imaginário

Por João Prof

 

 

 

Só o intuito de me conceder a subida honra de lhe prefaciar esta sua última obra ou de premiar a admiração que, pela sua arte de escrever, tenho nutrido, poderão ter levado o autor destas «Crónicas Soltas» a lembrar-se deste tão singelo «escrevinhador». Apesar deste trabalho poder ser bem mais enriquecido e cativante se estas primeiras linhas tivessem sido elaboradas por quem mais erudito nestas lides, não me era possível sonhar com esta gratificante mercê.

Assim o considero, uma vez que esta obra é um rosário de vivências, onde os seus actores são irmãos do nosso «eu», em que tão poucas vezes nos revemos e donde, sempre que podemos, tentamos passar ao lado. Como pretenderia eu uma escrita sábia e valiosa, para corresponder à riqueza e qualidade das várias narrativas desta colectânea que o seu criador tão bem soube encarnar, interiorizar e transmitir. Se umas nos mostram situações em que os seus personagens nos merecem desprezo ou dó, outras nos despertam sentimentos de satisfação ou escárnio e muitas outras não deixam insensíveis os mais endurecidos, pela infinda compaixão ou ternura que nos transmitem. É que não quis o autor deixar de nos mimosear com estes momentos da sua vida, assim nos testemunhando a perspicácia da sua exímia observação e nos transmitindo também um pouco do seu bom «samaritanismo», bastas vezes repartido por todo este torrão para nós tão querido. Pena é que, quantas vezes, estas suas crónicas só tiveram razão de ser, pela não satisfação dos «Direitos do Homem», cuja Declaração Universal, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, festejou já (precisamente no dia em que sonhei este prefácio) o seu quinquagésimo aniversário.

Também por isso, e na esperança de sempre encontrar uma nova forma de poder vir a ser útil a terceiros, embora plagiada, com grande ansiedade aguardava o próximo « Notícias da Beira-Douro», para aí me deliciar com a encantadora narrativa e, acima disso, enriquecer o meu espírito com mais um exemplo de amor ao próximo. Ali era bem evidente que qualquer Homem, gerado e enquadrado no mais diferente estado social, foi, é e será o ser mais importante que neste mundo pode existir. Como que me habituei a ver em cada um daqueles relatos, mais uma parábola servida ao meu estar, para mais o fortificar na razão da sua existência.

Encontrava - e desejo continuar a encontrar - nestas descrições, um antídoto para a mutação de valores que actualmente se verifica, e em que o que importa é subir na carreira, aumentar sucessos, ampliar a conta bancária, não havendo acanhamento em fazer da mentira, regra; da verdade, excepção; e dos outros, trampolim. Ali me refortalecia o necessário para demonstrar a mim próprio que a vida humana não pode ser pautada pela intolerância e violência, mas pela paciência e amor puro, ensinando-me este acérrimo defensor da fraternidade que mais vale padecer com a verdade do que prosperar com a mentira.

Felizmente que tudo se conjugou para dar vida a este compêndio de retratos vivos, primorosamente focados e revelados pelo mui digno e cativante escritor - João Fernandes da Silva - o João Professor. Assim mo apresentaram e assim o ficaram a conhecer quantos com ele têm contactado. É que, depois dos seus primeiros anos de vida laboral, parte deles passados, marcados e repartidos pelas margens do então irrequieto e caudaloso - agora acalmado e produtivo, mas sempre encantador e hipnotizante - Rio Douro, abraçou a arte de Professor. Não o foi por profissão, como outros, que disso não passam, mas foi-o por amor, dedicação e até por sacerdócio, pelo que não se limitou a ensinar letras e algarismos, mas a transmitir valores que assinalaram a vida de tantos discípulos que o tiveram por mestre, amigo e irmão. Este testemunho continua a ser a palavra mais ouvida de quantos, ainda vivos, nele encontraram a primeira forma de se familiarizarem com a instrução e deixarem de pertencer à cultura do analfabetismo. ...,...  (de: Prefácio por António Ribeiro de Almeida)

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