Obras de Nossa Distribuição

A Cidadela do Espírito – Dagoberto Carvalho Jr

1890 - 9,43€

A Destruição da Cultura – Pedro Veiga

1050 - 5,24 €

A Rua a Descer – Sério Barbosa

1050 - 5,24 €

ABC da Electricidade – Alain Boursin

1260 - 6,28 € 

Amôr, Luxúria e Morte - Mirto

1680 - 8,38 €

Avicella – Maria José Pacheco

1260 - 6,28 €

Baladas de Silêncio – Américo Coutinho de Almeida

1050 - 5,24 €

Cabo Mingas – Otílio Figueiredo

1050 - 5,24 €

Calle – Mário Cláudio

3360 - 16,76 €

Cancioneiro Popular de Mondim de Basto– Dr Ant Borges Castro

1050 - 5,24 €

Canhenho de um Médico – Otílio Figueiredo

1050 - 5,24 €

Cantigas ao Desafio – Dr Ant Borges de Castro

1050 - 5,24 €

Contemplava o Mar à Noitinha – Augusto da Cruz Ferreira

1050 - 5,24 €

Contos Bravios – Bento Acácio Pinheiro

1260 - 6,28 €

Correspondência Inédita de M. Sá Carneiro a F. Pessoa-Arnaldo Saraiva

1260 6,28 €

De Nome Inominado – Raul de Carvalho

1050 - 5,24 €

Dicionário de Poucas Palavras – João Cid

1050 - 5,24 €

Gisela – Bento Acácio Pinheiro

1050 - 5,24 €

Há Trás-Os-Montes Alexandre Parafita

1050 - 5,24 €

Luís Silva Carvalho 1980-1996

8400 - 41,90 €

O Doutor de Vila Seca Aureliano Lima

1050 - 5,24 €

Marânus (Ed. Especial) – António Cardoso

3360 - 16,76 €

Meia Noite no Conclave – Orlando Romano

1050 - 5,24 €

Nervura – Isabel de Sá

1680 - 8,38 €

No Vértice do Sol – Tereza Ribeiro Reis

2310 - 11,52 €

O Aspecto Religioso em José RégioM M Azevedo e A S Pinto

1050 - 5,24 €

O Bairro do Cemitério – Joaquim Pacheco Neves

1050 - 5,24 €

O Meu sangue – Silva Neto

1050 - 5,24 €

Olhos de Água – Maria André

1050 - 5,24 €

Os Círculos e os SinaisAureliano Lima

1050 - 5,24 €

Os Filmes Coloridos – João Camilo

1050 - 5,24 €

Poetas – José Maria da Silva Couto

1050 - 5,24 €

Ponto de Encontro – Henrique Veiga de Macedo

1050 - 5,24 €

Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul – Armando Areias

1680 - 8,38 €

Pulecenella – Sério Barbosa

2520 - 12,57 €

Revista Personna de 1 a 10

1050 - 5,24 €

Revista Personna 11/12

1470 - 7,33 €
Roman Jakobson (Semiologia-Poética Epistemologia) 3000 - 14,96€

Rosa Rosae – Maria do Pilar Figueiredo

1050 - 5,24 €

Rumo Certo – Dr António Borges de Castro

1050 - 5,24 €

KIPAPÁ-Constantino Roumeliotis

2940 - 14,66 €

Douro Rio e Terra Prometida-Tereza Ribeiro Reis

3360 - 16,76 €

Trilho do Infortúnio-Manuel de Oliveira

2310 - 11,52 €

José Régio e a Liberdade Poética Manuel Poppe

1680 - 8,38 €

José Régio e a Vocação da SinceridadeManuel Poppe

1680 - 8,38 €

Cântico do Verdelhão – Seixas Branco

1260 - 6,28 €

Crónicas Soltas – João Prof

3360 - 16,76 €

Voz da Terra – Henrique Veiga de Macedo

2310 - 11,52 €

Regresso à página inicial

«CORRESPONDÊNCIA INÉDITA DE

 MÁRIO SÁ CARNEIRO

A FERNANDO PESSOA»

 

CENTRO DE ESTUDOS PESSOANOS

Leitura, Introdução e Notas de

Arnaldo Saraiva

 

        Muitos pensarão que a correspondência de Mário de Sá-Carneiro para Fernando Pessoa está toda nos dois volumes de Cartas a Fernando Pessoa que Edições Ática publicaram em 1958 e 1959, com notas e apêndices de Helena Cidade Moura e um prefácio de Urbano Tavares Rodrigues, antecedido de uma «nota dos editores».

         È que em nenhum lugar desses volumes foi dito que se tratava de uma selecção de cartas (e postais), ou que, por algum motivo, outras (e outros) tinham ficado de fora. Diga-se de passagem que não é esse o único lapso de tais volumes — que praticaram algumas supressões, trocas e alterações indevidas nos textos de Sá-Carneiro, e cometeram erros e falhas de informações (não indicando sequer o critério da leitura ou transcrição).

         Assim, em I, p. 95, vem «Diga você» em vez de «Diga-me você»; em I, p. 183, falta « — P. S. — », depois de «Bilhete Postal»; em II, p. 20, vem «Um grande abraço» em vez de «Um grande, grande abraço»; em II, p. 42, falta a transcrição da «poesia» intitulada «Escala» (que, aliás como outras enviadas com as cartas, nem é transcrita em apêndice) e o «N. B.» que a acompanha: «Escrevo aqui de novo o último verso para o caso de você não compreeender por ir borrado: "O arco, a zona — o Sinal do Oriente!"»; em II, p. 177, falta, no fim da carta nº 111, a indicação «Paris 4 de Abril 1916; em I, pp. 200-205, vem em apêndice o que deveria vir antes do P.S. da p. 95; o P.S. que é dado como da carta de 2 de Agosto de 1915 (II, p. 46) pertence à carta de 28 de Junho de 1914; a parte final que aparece na carta de 28 de Outubro de 1912 (I, pp. 27-28) pertence à carta de 16 de Novembro de 1912; em I, p. 204, vem «seis doidos» em vez de «seios doidos»; em II, p. 116, vem «Recebi» em vez de «Recebida»; em II, p. 142, vem «carta a Franco» em vez de «carta Franco» — isto é, de Franco; o postal reproduzido em II, p. 27 (que desapareceu do espólio de Pessoa; e não foi caso único, como adiante se verá) devia ter numeração autónoma e uma nota a dizer que a passagem «sem falta Tomaz» é certamente da autoria de D. Tomaz de Almeida; aparecem espaços onde Sá-Carneiro os não pusera (v. g., na carta nº 110, depois da primeira frase — II, p. 176), ou desaparecem onde ele os pusera (na carta de 5 de Novembro de 1915, II, pp. 113-115); aparecem abusivas maiúsculas onde Sá-Carneiro usava minúsculas («Postal» e «Carta» em I, p.183; «Amigo» em I, p.25), e minúsculas onde Sá-Carneiro usava maiúsculas («pessoal» e «Santos» — por «Pessoal» e «SANTOS» — em I, p. 185; «dinheiro» — por «DINHEIRO» — em II, p. 98); aparece (com muita frequência) pontuação onde Sá-Carneiro a desprezara, mas por vezes foi abusivamente suprimida ou modificada a do autor (v. g.: em I, p. 164, vem «digo sub-agentes» em vez de «digo: sub-agentes»; em I, p. 203, vem «morro em som.» em vez de «som!»); a nota de II, p.45, refere-se a uma carta transcrita em apêndice — onde na verdade vêm 2, não se dizendo aí que a segunda é dirigida à firma A. Xavier Pinto (II, p. 194); a nota 6 de II, p. 21, é incorrecta (cfr. Arnaldo Saraiva, «Das contradições (de) Caeiro às contradições sobre Caeiro», in Persona, 2, Porto, Julho, 1978); o mesmo se diga da nota de II, p. 183 (cfr. Arnaldo Saraiva, «Sobre a última carta de Sá-Carneiro para Pessoa» in Colóquio/Letras, nº 43, Maio, 1978); a carta que em II, p. 224, é dada como a nº 113 é a nº 114; a nota de II, p. 42, apela para a «nota 2, carta 64» quando deveria ser para a «nota 3»; a nota 5 de II, p. 77, diz «Vide nota 4 Carta 66» quando esta carta não tem nota 4: trata-se, não da «carta 66» mas da carta 65, pelo que é também incorrecta a nota 1 de II, p. 98, que remete para a nota 5 de II, p. 77; não se indica quando se trata de «cartas» propriamente ditas e de «postais»; no índice não se indica o nome de Ronald de Carvalho como director de Orpheu; no índice de nomes há vários lapsos na indicação das páginas. Etc.

         Também eu estive convencido durante muito tempo que os dois volumes da Ática reproduziam todas as cartas conservadas de Sá-Carneiro para Fernando Pessoa. Mas, relendo atentamente Dieter Woll (Realidade e Idealidade na Lírica de Sá-Carneiro) e João Gaspar Simões (Vida e Obra de Fernando Pessoa), verifiquei que eles usavam e citavam cartas ou postais (de Sá-Carneiro para Pessoa) que não figuravam nos dois referidos volumes da Ática. Disso, aliás, dei logo conta em artigo para O Jornal, que foi publicado em 31 de Dezembro de 1976 com o título «Onde param as cartas de Mário de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa?». Com esse artigo pretendia eu obter dos editores das cartas, ou da sua anotadora, ou do seu prefaciador, ou de quem quer que fosse, explicações públicas sobre o critério da edição dos dois volumes das Cartas a Fernando Pessoa, e informação sobre o paradeiro das cartas não publicadas.

         Como nenhuma explicação ou informação foi dada, tratei de saber pelo menos onde estava a correspondência não publicada. E não me foi possível encontrá-la — no espólio de Fernando Pessoa. Só que à surpresa da descoberta se juntou a da verificação de que o número de cartas, bilhetes, aerogramas e telegramas inéditos de Sá-Carneiro para Pessoa ultrapassava largamente o número que constava do meu arrolamento inicial.

         Devo dizer, aliás, que é possível que o presente volume não contenha ainda todas as cartas inéditas de Sá-Carneiro para Pessoa; não encontrei, por exemplo, cartas de Fevereiro de 1916, e de 26 de Abril, dia da morte do poeta, que se sabe que foram escritas, ainda que não se saiba ao certo se foram enviadas ao destinatário, pelo próprio Sá-Carneiro ou por um dos seus amigos (vide artigos acima referidos publicados em O Jornal e no Colóquio/Letras).

         Por outro lado, também gostaria de prevenir desde já que a «nova» correspondência reunida neste volume não acrescenta mais do que pormenores aos dados que nos forneceu a correspondência publicada de Sá-Carneiro, e não só a que ele dirigiu a Fernando Pessoa, mas também a que eu publiquei e arrolei no volume Cartas de Mário Sá-Carneiro a Luís de Montalvor/Cândida Ramos/Alfredo Guisado/José Pacheco (Porto, Limiar, 1977), a que hoje se deveriam juntar as sete cartas a José Pacheco publicadas por Gustavo Nobre em Colóquio/Artes, nº 35, 2ª série, Dezembro de 1977.

         Assim, nada tenho a acrescentar ao que sobre as cartas de Sá-Carneiro escrevi no prefácio daquele volume. Mas o lote de cartas, bilhetes e telegramas agora publicado vem confirmar de forma impressionante a já suspeitada e até afirmada dependência de Sá-Carmeiro em relação a Pessoa, a quem, sabemo-lo agora, chegou a escrever 3 e 4 vezes por dia, ou a quem escreveu com uma frequência — e com uma franqueza — que só costumam usar os namorados, e os praticantes da melhor «camaradagem d´alma» como dizia Sá-Carneiro.

         Em cerca de três anos e meio, Sá-Carneiro dirigiu a Pessoa cerca de 2 centenas e duas dezenas de «cartas» — ou seja, uma média de 5 por mês. Se nos recordarmos que durante esse período ele passou quase dois anos em Lisboa, onde chegou a encontrar-se diariamente com Pessoa, não teremos dúvidas em considerar que se trata de um «caso» raro da literatura epistolar universal. (Efectivamente, saído de Lisboa para Paris em 13 de Outubro de 1912, Sá-Carneiro aí voltou em 23 de Junho de 1913 e aí — ou esporadicamente na sua quinta de Camarate — se fixou até talvez 22 de Maio de 1914, quando partiu de novo para Paris; em 9 de Setembro desse ano estava outra vez em Lisboa, onde permaneceu até 11 de Julho de 1915).

         Perante esta «nova» correspondência de Sá-Carneiro, mais lamentável parece a perda, cada vez mais provavelmente definitiva, das cartas que lhe escreveu Fernando Pessoa, e que não foram decerto em muito menor número. Se é verdade que o autor de Dispersão se queixou por vezes do silêncio de Pessoa, também parecem evidentes as indicações da frequência das suas respostas, e do cuidado que nelas punha; são muitas as cartas de Sá-Carneiro que acusam a recepção das de Pessoa, e o próprio Pessoa escreveu por vezes nos sobrescritos e nas folhas das cartas de Sá-Carneiro — que religiosamente guardou — a data ou a indicação da sua resposta.

         Pelo que explicita ou implicitamente dizem as cartas de Sá-Carneiro; pelo que lemos nas duas cartas conhecidas que Pessoa dirigiu a Sá-Carneiro; e pelo que sabemos da correspondência de Pessoa, não é difícil avaliar o que se perdeu como documento literário, intelectual e humano. Tudo nos leva a crer que a amizade e a admiração de Pessoa para com Sá-Carneiro, mas também a franqueza, os apelos e a pungência das cartas deste levaram o autor da Mensagem a confissões que não terá feito a mais ninguém, ou ao abandono da pudica impessoalidade que usou na correspondência com outros amigos. Comparadas com as que terá dirigido a Sá-Carneiro, as cartas de Pessoa para Ofélia pareceriam sem dúvida bem mais «ridículas» — ou bem menos íntimas.

 

         «Não são declarações de amor: mas tudo isto, toda esta sumptuosidade e depois a grande alma que você é, fazem-me ser tão seu amigo quanto eu posso ser dalguém: encher-me de ternuras, gostar, como ao meu pai, de encostar a minha cabeça ao seu braço — e de o ter aqui, ao pé de mim, como gostaria de ter o meu Pai, a minha Ama ou qualquer objecto, qualquer bicho querido da minha infância!»

         Pai, Ama, objecto, bicho querido... — estas palavras de Sá-Carneiro (I, p. 171) dizem melhor do que quaisquer outras do lugar humano e afectivo de onde falava o emissor da correspondência que aqui se publica, ou do lugar onde colocava o seu destinatário.

         Por isso, e não apenas pelo lugar cultural ou literário que ambos ocupam na história universal, cremos que se impunha a publicação desta Correspondência Inédita.  (de: Prefácio por Arnaldo Saraiva)

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«AH TRÁS-OS-MONTES!»

RAIZ  .  TRONCO  .  RAMOS

Por: Alexandre Parafita

 

         Alexandre Parafita, nasceu a 10 de Janeiro de 1956 na vila de Sabrosa, em Trás-os-Montes. Como a maior parte dos escritores, tomou o seu primeiro contacto com o público nas páginas culturais dos jornais e revistas e teve a sua iniciação em poesia, aos 16 anos, no JORNAL DE NOTÍCIAS. Ganhou diversos concursos literários, recitou e declamou poemas seus várias vezes na Rádio, em colóquios e sessões culturais e foi Director do Jornal CONTACTO (periódico de divulgação cultural já extinto). Após uma curta passagem pelas funções de professor do ensino secundário, enveredou pela carreira de Jornalista. Esteve ligado a O PRIMEIRO DE JANEIRO onde escreveu durante mais de dois anos e exerce actualmente a sua actividade na AGÊNCIA NOTICIOSA PORTUGUESA (ANOP).

 

         A poesia de Alexandre Parafita consegue conciliar com gosto as raízes populares com a busca de novas formas (ou metamorfoses) de linguagem. JOSÉ AUGUSTO SEABRA

 

         Os sonetos de Alexandre Parafita merecem uma atenção muito especial, pelo que revelam de contenção verbal, de fuga à linearidade de processos e de invenção de conceitos e construções inesperadas. ANTÓNIO CABRAL

 ***

 

         Tenho apostado na poesia como forma de vida, pela razão de que a poesia deve (é uma opção ética) assumir a preocupação por tudo  quanto nos diz respeito como homens situados no espaço e no tempo. Isso me valeu, na década de sessenta, o desagrado duns tantos críticos que, agora, estrategicamente, arrepiaram caminho. O que não significa a proscrição de uma linguagem quase voltada sobre si própria (o zero objectivo, como sabemos, é um mau disfarce), em busca de novos processos estruturais e sónicos. Lá está: cada qual opta por aquilo que entende e a que, inequivocamente, tem direito. A questão que eu ponho é ética. E não só. Estou a lembrar-me de T. S. Eliot: a grandeza da literatura não pode ser determinada unicamente por padrões literários.

         Não sou, todavia, um crítico literário, pelo que não me compete emitir juízos de valor. Uma coisa é gostar da poesia, questionar até o fenómeno poético; outra, dizer se determinado texto atinge alto, médio ou baixo nível. No fundo nem sequer é isso o mais importante, dado que um livro deve ir direitinho ao leitor, com a total nudez que leva um bebé no acto de nascer. A hereditariedade e o meio, dizem os psicólogos, combinam-se (embora não se saiba em que proporção) para fazer a personalidade do homem. O mesmo acontece com um livro. Esta certeza me não escapa: o livro será a soma do que for por si com o que lhe atribuem os outros. O mesmo se diria dum tal marechal francês morto em Pavia, conhecido por La Palice. De acordo.

         O caso muda de figura, se estiver em causa a poética (no sentido jakobsoniano) e a grandeza de ânimo de quem, ao arrepio de certas eventuais conveniências, escancara o dentro e o fora da sua terra, que é como quem diz: a alma e o pudor (perdoe-se-me o preciso eufemismo).

 

***

 

         Alexandre Parafita, que conhece e aproveita muito do cancioneiro popular trasmontano, utiliza com gosto o metro da redondilha, menor e maior, investindo ainda no decassílabo, em momentos de mais repousada confidência ou reflexão. Alguns sonetos, como assinalou José Augusto Seabra, destacam-se e merecem uma atenção muito especial, pelo que revelam de contenção verbal, de fuga à linearidade de processos e de invenção de conceitos e construções inesperadas.

Ah Trás-os-Montes

Mácula pura

         É de registar este curioso oxímoro que, por uma via ou outra, se irá transformar no «leit motiv» do livro no referente às composições de maior empenhamento social ou simplesmente telúrico. A ideia lá está bem patente, pouco depois:

O vinho é doce e amargo

         E por aí adiante. Alexandre Parafita sente-se portador da voz dos oprimidos e toma consciência do cansaço / Da servidão trasmontana. Consciência que é a lâmina e linguagem que aposta no «engagement» directo, preferindo-o ao trabalho expressional, este mais relevante na busca do efeito musical, em versos curtos, e no tratamento do decassílabo, como atrás já fica referido. Mas mesmo no decassílabo a carga emocional não fica debaixo do alqueire e a voz sai-lhe com este desespero:

Trago no bolso a sombra do meu povo

Que a luz só alumia a capital

         Na segunda parte desta obra em que o verso se alonga em intencionais simetrias, deparo com achados como este:

O prazer é um corpo publicado

Numa rotura feita de elegia

e pergunto se este não seria o melhor caminho poético de Alexandre Parafita. Assim não o quis porque O amor traz outra voz se é militante, diz em «Amor e Exílio», onde há um terceto, todo ele ferido de angústia, a angústia do exílio trasmontano, com surpreendentes ressonâncias de Antero de Quental e de Miguel Torga, e que me parece resumir o que de mais expressivo esta obra contém. Aqui fica, sem mais comentários:

Vivo exilado e mais tento exilar-me

Sempre fugindo ao destimbrado alarme

Que há-de fechar-me as portas da jornada

 

         (de: Prefácio por António Cabral)

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«O ASPECTO RELIGIOSO EM JOSÉ RÉGIO»

Por: Maria Manuela Gomes de Azevedo

e António Ventura dos Santos Pinto

         Um conhecimento, mesmo elementar, da obra de José Régio, realçará, por certo, o pendor religioso deste escritor fecundo e variado. De facto, o problema de Deus e a inquietação religiosa transparecem a cada passo na sua obra. E não admira. Católico de tradição, mergulhado no ambiente universitário em época de jacobinismo republicano, agravado depois pela política míope e intolerante do Estado Novo, o escritor caiu no cepticismo religioso e marginalizou-se de qualquer prática cultural. Mas o seu espírito delicado e místico nunca renegou o húmus religioso da infância. E a sua profunda sensibilidade humana e artística descobria sempre na expressão católica da religião — o doce Cristo crucificado ou a Senhora das Dores — uma espécie de refúgio cultural, um tónico espiritual para a sua alma inquieta. Qual Agostinho de Hipona à procura da verdade absoluta, também José Régio poderia repetir: «Fizeste-me para ti, Senhor, e o meu coração está inquieto enquanto não descansa em ti». E a prova última está na sua obra póstuma e incompleta «Confissão dum Homem Religioso»

         Tivemos a dita de almoçar ao lado de José Régio no «João da Ester» em Vila do Conde e vimo-lo demandar o mosteiro de Singeverga, já quase no fim da vida, ávido de encontrar, naquele meio de vivência católica e monástica, o Deus que ele, qual filho pródigo da fé, pressentia e desejava.

         É, por isso, com emoção religiosa que aqui apresentamos este ensaio de dois jovens e aplicados alunos nossos da Faculdade de Letras do Porto. (...) (de: Apresentação por Geraldo J. Amadeu Coelho Dias Professor Assistente da Faculdade de Letras do Porto)

***

         Não pretendemos fazer neste pequeno trabalho uma análise exaustiva e total do pensamento religioso em J. Régio. Não pretendemos, por um lado, porque seria abusivo da nossa parte e, por outro, devido aos esquemas a que o trabalho obedece. Procuraremos nele esboçar, ou delinear a faceta religiosa do homem que era José Régio, à luz da fenomenologia religiosa.

         O problema religioso foi, de facto, um dos mais candentes e evidenciados na obra de José Régio, pois, como ele próprio dizia, já no fim da sua vida, «sempre debatera e ainda agora mais debatia consigo mesmo e com os outros o problema de Deus, tema central de toda a sua obra». Assim, pensamos ser esta a questão fulcral e motora a que vai obedecer todo o desenvolvimento deste estudo: Régio, era ou não um homem religioso? Não será o homem que diz «crer em Deus mesmo não crendo» profundamente religioso? Isso se poderá concluir. Mas de um indivíduo que afirma, falando da sua luta com Deus, «aliás um Deus sobre cuja existência tinha muitas dúvidas, sobre cuja natureza (admitia já a sua existência) nada sabia, e sobre cujas relações com o homem ignorava tudo», que pensar? Voltemos a perguntar: estamos perante um homem que era ou não religioso? Este problema atormentou-o durante quase toda a sua vida. Era um labirinto com muitas dúvidas, com muitas questões que precisavam de resposta, as quais só tinham de ser dadas por Régio e por mais ninguém. «Tinham de vir do fundo de mim» — conclui ele próprio. Contudo foi sinuoso o caminho percorrido por Régio para conseguir tais respostas, o que nos é, aliás, mostrado por ele no seu poema «Cântico Negro»; «Não sei por onde vou / Não sei para onde vou». O caminho que o poeta escolhe é sempre marcado por duas tendências, duas balizas, dois extremos: Deus e o Diabo, a vida religiosa e a vida da boémia, o creio e o não creio. Doutra forma não poderia ser, pois, e demos novamente a palavra ao escritor, «Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém; (...) Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo».

         Outro problema ligado à religiosidade de Régio é oriundo da simplista interpretação feita das suas obras por uma sociedade que se rege por normas pré-estabelecidas, preconceitos, crenças e rituais com fronteiras já delimitadas e que não consegue entender a particular maneira com que o poeta sente e vive a sua religiosidade. Que Régio vivia profundamente a religião, concluir-se-á de uma análise um pouco mais cuidada, séria e profunda da sua obra. Vivia e tinha plena consciência disso (pois o próprio dilema Deus e Diabo acaba por ser, como à frente mostraremos, prova da sua religiosidade), mas vivia a sua religião, que lhe era própria e não regida por regras universais, que visam, sobretudo, o externo, o aparato, o formal da religião. Depressa, contudo, o poeta acaba por perceber quanto é marginal a sua religiosidade dentro do mundo que o rodeia: «Sou bem diferente! / Perdi-me do meu Planeta».

         Lançamo-nos, pois, no estudo de uma pessoa com uma psicologia rica, num tema complexo e fascinante. Difícil nos seria (difícil e quase impossível!) penetrar até ao âmago dessa psicologia, dessa religiosidade afinal tão forte em José Régio. Este trabalho procurará, assim, fazer uma viagem por toda a vida do escritor, com a preocupação básica de detectar o homem religioso que ele sempre foi.  (de: Introdução) 

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«ROSA ROSAE»

Por: Maria do Pilar Figueiredo

Licenciada em Filologia Românica

 

         — Tinha eu sete anos e ainda acreditava ser o Menino Jesus que me enchia de presentes todos os anos pelo Natal.

         Estava sentada perto de mim, no café, falando-me da sua infância.

         — Mas naquele ano as coisas não corriam bem. Meus Pais discutiam constantemente e um dia, à hora do jantar, ele não voltou. Passaram-se dias.

         A Mãe chorava e ralhava comigo a todo o momento. Se eu lhe perguntava por que razão o Pai não vinha, ela respondia-me com um «deixa-me em paz!» tão desabrido que desistia de continuar a perguntar.

         Faltava um dia para a véspera de Natal quando a Avó Maria foi lá a casa e ralhou com a Mãe. Discutiram e eu ouvia a Mãe falar num nome de mulher e a Avó dizer que tivesse juízo, que era Natal, etc. Quando saiu, a Mãe deixou de chorar. No dia seguinte, o Pai voltou mas não sorria e mal me olhava...

         Como ia dizendo, todos os anos tinha os meus brinquedos pelo Natal e, naquele ano, apesar da atmosfera carregada que se respirava lá em casa nunca duvidei, por momentos que fosse, que o Menino Jesus deixasse de colocar no meu sapato a boneca e os brinquedos que tanto fizera por merecer.

         De modo que no dia de Natal daquele ano ao levantar-me de manhã, corri para a chaminé com alvoroço igual ao dos demais anos.

         Pode imaginar, agora, a minha decepção ao ver os sapatos vazios! Custou-me a acreditar que tal pudesse acontecer! Olhava em meu redor, na cozinha deserta, na esperança de que o Menino Jesus tivesse colocado noutro sítio as prendas que me eram destinadas, mas em vão.

         Por fim corri para o quarto dos meus Pais, lavada em lágrimas, quase lhes gritando o meu desgosto.

         Meu Pai abraçou-me e disse-me que, para o ano, o Menino Jesus viria. A Mãe monologou qualquer coisa que não entendi e depois calou-se.

         «Porquê?, interrogava-me — por que se teria esquecido de mim, o Menino Jesus?

         Tinha-me portado bem. Há muito que não comia açúcar, que não mentia nem saía de casa sem licença da Mãe.

         «Porquê? Porquê?»

         Toda a manhã chorei pelos cantos e, como não me calasse, acabei por apanhar duas surras de minha Mãe, o que redobrou o meu desgosto.

         Foi então que o Tio Miguel, recém-chegado de África, passou lá por casa. Carinhosamente, perguntou-me o que tinha. Com choro redobrado contei-lhe que o Menino Jesus se tinha esquecido de mim, embora me tivesse portado bem.

         Olhou-me por momentos, pensativo. Voltou-se para a minha Mãe e pareceu-me zangado ao falar com ela em voz baixa. Depois fez-me uma festa no queixo e disse-me:

         — Não te aflijas. Certamente o Menino Jesus atrasou-se. Sabes, a noite é curta e os meninos são tantos... Deixa ficar o teu sapato no canto do fogão. Logo que possa Ele virá. Verás!

         Senti uma pequena esperança renascer dentro de mim. Para afastar a última dúvida perguntei à Mãe e ela disse que «talvez»...

         A tarde ia a meio, lembro-me bem, e eu estava no meu quarto sem vontade de brincar. Por várias vezes tinha ido à cozinha mas os sapatos continuavam vazios. Foi à tardinha que eu senti a voz do Tio novamente.

         Entrou no meu quarto e perguntou:

         — Então o Menino Jesus ainda não veio? — Estava sorridente e veio sentar-se no chão, junto de mim.

         — Não... ainda não veio... — respondi, desconsoladamente.

         — Está atrasado... Não é costume... — comentou.

         Mas havia uma tal expressão no seu rosto e na sua voz, que me levantei de súbito e corri à cozinha.

         Lá estavam as minhas prendas todas, tal como eu desejava! Um boneco e que boneco! O mais lindo bebé que até então tinha visto! Fechava e abria os olhos, chorava, usava chupeta e tinha um belo cabelo aos caracóis. E, para completar, estava deitado num berço maravilhoso.

         Corri, doida de alegria, para casa das minhas amigas gritando que o Menino Jesus tinha trazido finalmente as minhas prendas e ainda hoje me parece ver o ar de admiração com que examinaram o maravilhoso presente que o Menino Jesus me trouxera naquele ano.  (de: A Sobrinha)

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«O DR. DE VILA SECA»

Narrativa de Aureliano Lima

(Volume póstumo)  

         Aureliano Lima nasceu em Carregal do Sal (23 de Setembro de 1916); Colaborou em diversos jornais e revistas literárias, como Vértice, Seara Nova, Diário de Coimbra, O Comércio do Porto, Jornal de Notícias, Diário de Lisboa, Colóquio/Letras, etc; Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris, entre 1965 e 1968, onde frequentou como escultor os «Ateliers Szabo»; Obras de escultura e pintura em diversos museus, praças públicas e colecções particulares; É autor dos seguintes livros: Rio Subjacente (Prémio Galaica de poesia, 1961), Porto 1963, Os Círculos e os Sinais, ed. do Autor, Porto 1974, Tempo de Dentro-Fora, ed. do Autor, Porto 1974, O Homem Cinzento ou a Alquimia dos Números, ed. do Autor, Porto 1975, com prefácio de Fernando Guimarães, Cântico e Eucalipto, Brasília Editora, Porto 1979, Espelhos Paralelos, Brasília Editora, Porto 1983, O Leito e a Casa, Brasília Editora, Porto 1986, O Dr. De Vila Seca, Col. Leopardo Azul, Porto 1990; Está representado em diversas antologias de poesia e deixou inéditos muitos poemas e páginas de memórias; Morreu em Gaia (onde viveu perto de 30 anos) em 15 de Dezembro de 1984, ficando sepultado no cemitério de Mafamude.

***

         Eu sabia pelo meu amigo Sabino Alves, natural de Falgôdres, que o Dr. Francisco Souto se movia num círculo de forças endemoinhadas ou que o seu carácter se transformara em qualquer «coisa» que arremetia da maneira mais imprevisível... Com frequência me repetia o meu amigo: «Deves conhecê-lo...», sabedor do meu interesse em coleccionar casos de uma tipologia estranhas-criaturas que, de qualquer modo, fugiam ao padrão do julgamento habitual. Outras pessoas me falaram do Dr. de Vila Seca, como era conhecido. Estas e outras circunstâncias despertaram, em mim, o desejo de visitá-lo.

         Decidi satisfazer a minha curiosidade, com todos os riscos de uma recepção pouco acolhedora. Ia por isso na expectativa, que, na melhor das canduras, bem poderia ser a de um acolhimento tolerável...  (de: Capítulo I)

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«O BAIRRO DO CEMITÉRIO»

Por: Joaquim Pacheco Neves  

         Joaquim Pacheco Neves, escritor de mérito comprovado através de uma já vasta obra literária, guardou na gaveta durante vinte e cinco anos este romance.

         Porquê?

         Não sabemos, ou antes, por razões mais sugeridas do que explicitamente declaradas, nos parece ter sido exactamente guardado o manuscrito por se tratar de um romance neo-realista, tão saudável, tão humanamente caracterizado em relação ao ambiente que o fez gerar, que o escritor, identificando-se com o médico Joaquim Pacheco Neves não o quis dar a lume.

         E fez mal. Publicado na devida altura, «O Bairro do Cemitério» seria saudado pela crítica como um dos melhores romances neo-realistas da década de 40 e talvez o autor já não tivesse de se queixar da falta de interesse dos editores portugueses pela sua obra.

         Mas hoje, ainda hoje este romance merece todo o nosso interesse e não temos dúvida de estarmos prestando um bom serviço às letras pátrias com a sua publicação. A história linear e os factos que a vão completando no romance, embora integrados numa cultura de raízes regionais, é bem a história duma época em que o subdesenvolvimento de um povo o colocava à beira do cemitério. Colocava...?  (de: O Autor e a Obra por J. Carvalho Branco editor)

***

         A Gracinda, na cama, abriu os olhos encovados à luz froixa do dia e, voltada para a mãe, pediu numa voz implorativa:

         — Mãe, deixa-me levar o vestido de pintas?

         A ti´Ana Postiga pousou a vassoura e encarou a filha. No rosto envelhecido, os vincos amaciaram e o sorriso triste transformou-se numa dádiva de amor.

         — Não penses nisso, Cindinha. O médico disse-me que estavas melhor e que, dentro de duas ou três semanas, já podias sair da cama. Não te sentes com mais forças?

         As mãos magras e transparentes da Gracinda enrolaram a ponta do lençol, antes de a alisar e a aconchegar ao pescoço.

         — Estou na mesma. A soltura não passa e sinto-me sem forças. Não foi assim que morreu o pai?

         A ti´Ana limpou as mãos ao avental e aproximou-se da cama para prender a roupa, debaixo da enxerga. Sentou-se ao lado da filha e acarinhou-lhe os cabelos, soltos e abundantes.

         — Verás como ficas boa. Qualquer dia ninguém te segura em casa. Não acreditas no que o médico diz?

         A Gracinda, sem responder, insistiu:

         — Deixa-me ou não levar o vestido de pintas?

         A ti´Ana afagou o rosto magro da filha e repetiu a resposta:

         — Não penses nisso, Cindinha. Ainda hei-de ir primeiro do que tu. Esqueces-te que já estou velha e que não presto para nada?

         — Mas tem saúde e eu não tenho, mãe. Eu sei que estou muito mal e que já não deito a semana fora.

         Sem coragem para a animar, a ti´Ana murmurou, resignada:

         — Deus é pai. Só ele sabe o destino de cada um.

         A Gracinda calou-se a pensar na morte e no vestido de pintas, que pertencia à irmã, mas que ela queria levar no caixão, quando morresse. Sempre desejara possuir um vestido igual, mas a doença do pai e logo a seguir a sua, não a deixaram juntar dinheiro para o comprar. Fora a irmã, a Guida, quem o mandara fazer e logo na sua cor preferida de azul muito claro, muito esbatido, como os dias luminosos de verão, quando as andorinhas sulcam o espaço e soltam, nos ares, alegres chilreios. Sentira inveja, quando o vira no corpo da irmã, mas a doença já não lhe dava qualquer alternativa. Se fosse uns anos atrás, quando trabalhava na fábrica, quem o compraria seria ela. Agora, já não podia pensar nisso. Estava para ali, à espera que a morte viesse, tal como acontecera ao pai, depois de acamar e sentir as forças desaparecerem.

        — Ainda não falou à Guida, mãe?

         A ti´Ana abanou, lentamente, a cabeça e fitou os olhos negros e ternos da filha. Uma revoada de saudades abafou-lhe a voz e recordou-lhe o passado. Como se lembrava de a ver traquinar pela casa, irrequieta e viva, com umas belas cores de saúde a espirrarem no rosto redondo e menineiro, e as suas perguntas inocentes e engraçadas! O seu gosto não era erguer casinhas na terra ou transformar os trapos em bonecas, como faziam as outras crianças do Bairro. Preferia correr, brincar, subir às árvores, escarranchar-se nos muros e com os rapazes das redondezas meter-se no cemitério, onde os ciprestes esguios e os cedros melancólicos eram valhacouto da passarada e alfobre de ninhos no tempo da postura. Só regressava ao fim da tarde, ou quando o guarda do cemitério, o velho Farroncas, dava em cima das crianças e as obrigava a fugirem.

         — Posso ou não levar o vestido?

         A mãe, sem insistir numas melhoras que não existiam, desculpou-se com a Guida.

         — Mas o vestido é da tua irmã. E se ela to não dá?

         — Se a mãe pedir, dá. Ela a si não diz que não.

         A ti´Ana levantou-se a aproximou-se da janela que dava para o caminho. O tempo borrascoso ameaçava chuva e no céu não havia uma clareira azul, que fizesse entrever melhoria ou desse esperanças de dias enxutos. O vento soprava forte e entortava os penachos esguios dos ciprestes e as copas frondosas dos cedros. Abril corria, invernoso e frio, com aguaceiros e enxurradas que invadiam as casas do Bairro e as transformavam em lodaçais propícios às ratazanas e outra bicharada, que saía esfaimada do cemitério.

         — Vai chover mãe?

         — Está mais para isso do que para outra coisa.

         — Teremos enxurrada?

         — Não sei, filha. Pode ser que não.

         A Gracinda encolheu-se na roupa e gemeu:

         — Tenho medo, mãe. Se morrer esta noite e houver enxurrada, os ratos vêm ter comigo e mordem-me a cara. Lembra-se quando eles vieram e ficaram, aqui, a chiar toda a noite?

         — Não chove, filha, verás que não chove.

         — se os ratos vierem, não deixa que eles me mordam, pois não, mãe?

         — Não deixo, filha. Podes estar descansada.

         Nos olhos receosos da Gracinda o medo levantou fantasmas. As mãos nervosas torceram a roupa e os lábios soltaram de novo uma palavra de terror:

         — Não deixe que me enterrem viva, mãe. Tenho sonhado muitas vezes que vou para debaixo da terra  sem estar morta, e acordo muito aflita. Falta-me o ar e fico a tremer. Eu bem quero rebentar as portas do caixão e sair cá para fora; mas não tenho forças. Quando acordo, estou alagada de suor, como se tivesse caído ao rio.

         — Tu sonhas, porque estás fraca. Logo que estejas mais forte, verás como deixas de suar.

         A Gracinda tentou soerguer-se na cama, mas ficou a arquejar, apoiada nos cotovelos. Deixou pousar, de novo, a cabeça no travesseiro e perguntou, como se ainda tivesse algumas dúvidas:

         — Eu tenho a mesma doença do pai, não tenho?

         A ti´Ana encolheu os ombros e mostrou ignorância.

         — Não sei, Cindinha. Os médicos a mim nunca me dizem nada.

         — Disseram-me que ele tinha morrido com o «Mal-dos-pezinhos», mãe. Foi verdade?  (...)  (de: Capítulo I)

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«CONTOS BRAVIOS»

Por: Bento Acácio Pinheiro

 

         Vigoroso no descritivo, natural no diálogo, certeiro no desenho psicológico e na crítica de costumes, Bento Acácio Pinheiro escreve com desembaraço e brilho, numa linguagem simples, áspera, directa, que apanha o interior das coisas, os sonhos, as paixões, a beleza e também a mesquinhez da vida.

         Nascido no berço agreste agarrado às abas das serras trasmontanas da Padrela e do Alvão, que lhe modelou o carácter e a prosa, desenha a traço cheio os seus personagens — que, muitas vezes, e sob uma visão universalista, prefere designar apenas como "o homem" e "a mulher" — cujo perfil, o movimento, o colorido e a transbordante humanidade atingem quase a visualidade fotográfica.

         Sensível e corajoso, não raro emotivo, este escritor de ar livre, observador atento do mundo que o rodeia, enfrenta com desassombro e em pé de igualdade os assuntos sobre que se debruça. Chama as coisas pelos seus nomes. E sabe ainda tratá-las com ironia — tentação da inteligência; mas nunca sem amor, porque ele é o eixo da vida humana.

         Se, de algum modo, o título de um livro pode talvez orientar a leitura num determinado sentido, então o deste, "Contos Bravios", volume de ficção de Bento Acácio Pinheiro, fala por si mesmo. Subentende tudo isto. Caldeadas na forja da natureza estreme, com a pureza dos sentimentos e à luz de uma concepção rudimentar da existência, as suas histórias moldaram-se na bigorna de um chão de fragas.  (por: Taborda de Vasconcelos)

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«JOSÉ RÉGIO E A LIBERDADE POÉTICA»

Por: Manuel Poppe

 

         Manuel Poppe — Novelista, dramaturgo, ensaísta, fez parte do grupo fundador de "O Tempo e o Modo", exerceu, de 1962 a 1974, a crítica literária no "Diário Popular", de cujo suplemento literário foi corresponsável, colaborou em diversas revistas e jornais, "Colóquio", "Diário de Notícias", "Jornal de Letras", "O Século", "Independente", "Rumo", "Nova Renascença" e em publicações estrangeiras. Desde 1978 é colaborador no "Jornal de Notícias". É colunista da revista "Ler". Produziu, para a RTP, de 1971 a 1974, o programa "O Livro à Procura do Leitor". Foi o primeiro Conselheiro Cultural junto da Embaixada de Portugal em Roma, de 1974 a 1989, exerceu as mesmas funções em S. Tomé e Príncipe, de 1991 a 1996, onde dirigiu também o Centro Cultural Português. Em 1996 foi nomeado Conselheiro Cultural junto da Embaixada de Portugal em Tel Aviv, cargo que não existia antes. Possui a "Laura di Dottore in Lingue e Letterature Straniere Moderne", da Universidade "La Sapienza", de Roma, e foi distinguido com as medalhas de ouro de Florença e de Veneza e com a comenda da "Ordine al Merito della Repubblica Italiana". Durante a estadia em Itália proferiu conferências em diversas universidades e participou em seminários em instituições internacionais, nomeadamente na "Fondazione Cini", de Veneza. É sócio fundador da Associação Portuguesa de Escritores. O seu livro "Novas Crónicas Italianas" (Editorial Teorema) recebeu, em 1995, o "Grande Prémio da Crónica", da Associação Portuguesa de Escritores. Publicou, ainda, "Temas de Literatura Viva" (Imprensa Nacional, 1982), "Crónicas Italianas" (Difel, 1984), esgotado, "Os Amantes Voluntários", teatro (Peregrinação, 1987), esgotado, "O Pássaro de Vidro" (Editorial Caminho, 1988), "José Régio e a Liberdade Poética" (C. C. Operários de Vila do Conde, 1996) e "A Mulher Nua" (Editorial Teorema, 1997).

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         Aquilo que gostaria de sublinhar — e porque me parece apaixonante e significativo: apaixonante, porque atesta de uma voz que, na inabalável independência, nos quis sempre estar próxima, em autenticidade e na sinceridade possível; significativo, porque aponta a riqueza e a complexidade do poeta, a sua intemporalidade — ; aquilo que gostaria de acentuar é a actualidade da obra de José Régio. Ela representa, entre outras coisas, um grito de liberdade, em tempo de massificação, descaracterização, banalização. Em tempo de desconsagração. Ao homem retirou-se — ou recusa-se — o direito à unicidade, à singularidade, à diferença que constituem o cerne do seu espírito; ao homem impõe-se, de maneiras várias, o anonimato. Cada homem é único e diverso e ignorar essa qualidade significa esvaziá-lo de sentido e liquidá-lo. O conformismo e o seguidismo; a indiferença e a irresponsabilidade; o apagamento — entendem-se hoje como «valores» e formas úteis de conduta. Quer dizer: o Indivíduo — e José Régio intitulou um dos seus mais belos e empolgantes textos da presença (23 de Julho de 1928) A Lição Inútil ou Carta a um Juvenil Individualista — , a Pessoa não deve distinguir-se da massa neutra, passiva, anónima; não deve exigir, deve aceitar o destino que outros escolherem para ele. (...) (de Capítulo 1)

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«JOSÉ RÉGIO E A VOCAÇÃO DA SINCERIDADE»

Por: Manuel Poppe  

         Reúne o volume dois artigos publicados no Jornal de Notícias; uma invocação de José Régio, subjectiva como não poderia deixar de ser, buscando a sinceridade, que ele privilegiava; e as cartas de Régio a Feliciano Falcão, Amigo muito estimado, de Portalegre, as quais completam o retrato do Poeta e apontam para a importância dessa amizade.

         Sei que não é usual, entre nós, a literatura em que as pessoas se abrem e se mostram. Diários que mereçam o nome e correspondam, de facto, a uma confissão, há o de Manuel Laranjeira, o de Mário Sacramento (que não se conhece integralmente) e as Páginas do Diário Íntimo, de José Régio (também com passagens omissas). Quer ao Diário de Miguel Torga, quer ao de Vergílio Ferreira assistiu a conta, o peso e a medida. E, se não se cultiva a confissão, também não se escrevem autobiografias. Em suma: evitamos expor-nos. Lembro um livro de João Gaspar Simões, o interessantíssimo Retratos de Poetas que Conheci, que deveria constituir o primeiro volume de uma Autobiografia – ou de uma série de volumes autobiográficos. Trata-se de um livro importante e vivo e deixa-nos adivinhar o que poderiam ter sido os seguintes. A Autobiografia não passou de dois volumes (o segundo, José Régio e a História do Movimento da Presença, Brasília Editora, 1977), Porque o autor desistiu do projecto, magoado, ferido com as reacções. "Não é fácil escrever uma autobiografia neste nosso País", sublinhava ele, ainda antes de sentir as alfinetadas dos "colegas". João Gaspar Simões, um dos escritores maiores do nosso tempo, nunca fugiu à luta e pagou-o: marginalizaram-no, agrediram-no, e, praticamente, ignoraram-no. Estaria ele cansado da mesquinhez circundante? A pensar que, aos homens, se devem fechar certas portas? Eu bem o entendo, que, muitas vezes, as prefiro abrir ao meu cão Zac, rafeiro italiano, companheiro de treze anos — e sinto-me absolvido por Camilo, que achava essa a amizade mais fiel. (...) (de: Nota)

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«NO VÉRTICE DO SOL»

Por: Tereza Ribeiro Reis

 

         Confiar de novo nas nossas visões, no nosso sentir, obedecer à atracção irresistível de uma voz, força interior que, de repente, irrompe num espaço livre de pensamentos, força essa a que eu chamo MATHIAS. Sopro de que não ouso viver sem... Bendito sejas.

         Leonardo da Vinci, diz "Não se pode amar ou odiar senão depois de compreende-la..." entenda, meu amigo leitor, essa tua força e em cada uma dessas sensações renova-te recusando sentir-te feliz porque para ser feliz é sobretudo preciso saber que se é feliz.

         Ver Mathias pintar o mundo e achar o quadro com poemas eternos feitos pela mão de Deus... Meu coração bate como se falasse, amigo leitor se puderes... escuta-o!

         Os meus poemas coincidem com o seu bater perturbador cujo vértice é o sol, a terra e o deserto. O vértice do sol é a totalidade da luz que fecunda e dinamiza o ciclo vida-morte e é por isso que qualquer livro de poemas é e será sempre infinito e que esta mensagem que aqui vos deixo há-de ficar aquém daquilo que eu sonhei que fosse...

         No flutuar do tempo, no Vértice do Sol!

         Só no Vértice do Sol poderei contemplar a vida e na vida me perder! Vou de vértice a vértice, mundo a mundo e de espírito a espírito! Os meus maiores dramas e alegrias passam-se no silêncio do vértice do sol... ...

         Acredito na missão do Homem na terra como na dádiva da luz do sol, que todos recebemos. Acredito que a nossa voz possa chegar ao coração da humanidade, se for simples e clara. A vida multifacetada de todos nós poderá ajudar a compreender a importância da unidade. Sem essa unidade que eu chamo Amor, não será possível a todo o Homem nesta terra, viver pacificamente.

         Quando despertei, consciente, para a poesia, ela embebeu-me no seu licor mágico de profunda comunhão. Assim nasceu todo o meu trabalho de escrever, ao longo dos anos, e de novo soltou-se para o Mundo, onde pertence!

         Que este meu livro seja o dar de mãos a todos os que quiserem!...  (por: Tereza Ribeiro Reis)

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«DOURO RIO E TERRA PROMETIDA»

Por: Tereza Ribeiro Reis

 

         "O Douro não é um qualquer rio"

         É um rio possuidor de "alma" muito própria!

         ... esses estados de "alma" entre a calmia paradisíaca e os tormentos do "inferno". Alguém o disse.

         Mas o Douro também é jardim-paraíso! As margens que o contornam de socalco a socalco têm sabor a xisto e o fulgor do fogo nos seus tons outonais.

         Um rio que nasce de uma aguarela em madrugadas frescas e desagua numa tela em cores fogo de poentes oceânicos.

         O Douro é assim!

         Os desenhos expostos são testemunhos de uma vivência apaixonada por um rio onde o Homem ainda pode meditar. Registos gráficos, indicativo breve, um vocabulário de pureza e emoções, por vezes subtil e ingénuo através de uma elementaridade fiel a imagens memorizadas nos seus sonhos... Gesto e risco com vivência interior a partir dos seus espaços imaginários e transportados ao rectângulo final de uma folha de papel.

         Retratos-flash de um rio, de horizontes com o caminho mais breve para a eternidade!...

         O Douro pode ser também assim! 

 (Por: Laureano Ribatua   Professor-Escultor — Faculdade de Belas-Artes — Universidade do Porto)

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«AVICELLA»

ANTOLOGIA SOBRE VIZELA E SEU TERMO

Organização, selecção e prefácio de MARIA JOSÉ PACHECO

            A luta dos povos da Região do Vale de Vizela pela conquista da sua autonomia, a nível municipal, tem obtido a compreensão da maioria do povo português, se bem que isso não apareça bem reflectido nos nossos meios de comunicação social, salvo honrosas excepções. Não é verdade que a maioria dos partidos políticos, com assento na Assembleia da República, está, desde o início, com os vizelenses?

         Não custa, contudo, reconhecer que ainda há quem não compreenda essa luta, ou a procure combater, mesmo encapotadamente, o que se explica, em nosso entender, ou por errónea compreensão da essência da democracia ou por ignorância dos sentimentos que comandam as gentes de Vizela.

         E depois de termos conhecimento, através dos meios de comunicação social, do que se passara na Assembleia da República, em 12 de Maio de 1982, quando uma manobra dilatória de grupos políticos obscurantistas, accionados por interesses económicos e financeiros, obstou à criação do concelho de Vizela, radicou-se em nós a impressão de que se impunha uma campanha de esclarecimento público, para mostrar a legitimidade dos anseios dos povos do vale de Vizela, que um longo processo histórico justifica e permite compreender.

         Esse, pois, o objectivo da nossa Antologia, organizada nas poucas horas de lazer da nossa absorvente profissão de professora, ainda que na sua elaboração pudéssemos contar com a boa vontade dos empregados, sempre solícitos, da excelente biblioteca do Ateneu Comercial do Porto, e de alguns funcionários da Biblioteca Pública Municipal, à qual tivemos de recorrer para eliminar dúvidas, que na primeira não fora possível esclarecer, ou completar informes, que ali não pudéramos aprofundar.

         As águas das Caldas — aquae calidae — desempenharam um papel relevante no desenvolvimento de Vizela, e da sua região, nomeadamente no último quartel do século XIX, e isso aparece bem espelhado na Antologia, onde ressalta a passagem pelas Caldas de muitos dos nossos escritores, todos seduzidos pelo bucolismo das margens do Avicella. A industrialização alterou já de modo sensível esse quadro, mas ainda hoje não deixa de ser agradável e repousante um passeio pelo Parque das Termas ou ao longo das margens do rio. Vale a pena experimentar.

         Não queremos apelar, como vemos muitas vezes fazer, para a benevolência de quem se dispuser a ler este nosso trabalho, antes pedimos a sua análise crítica e imparcial, por desta esperarmos achegas e informações que nos permitam tornar mais completa a Antologia, se vier a  justificar-se a sua reedição.  (de: Prefácio, por: Maria José Pacheco)

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«ROMAN JAKOBSON»

Semiologia — Poética

Epistemologia

 

         O nº 60 da L´ARC dedicado a Roman Jakobson veio a público em França em 1975. O espaço de tempo daí transcorrido até à edição portuguesa em aspecto algum reduz o interesse, a importância e a oportunidade das suas páginas e o facto é tão real que se tem como certo vir esta tradução prestar um útil serviço a quantos, entre nós, se dedicam à Linguística ou a ela recorrem como ciência piloto que se projecta noutros campos.

         O objectivo da L´ARC, ao consagrar um dos seus números a Jakobson, consistiu, segundo a palavra de Nattiez, em «situer, dans le siècle, un de ses penseurs les plus originaux et les plus féconds», sob o signo da ciência da linguagem, sob o signo, em particular, do estruturalismo.

         A acção desenvolvida por Jakobson é por demais conhecida e respeitada nos meios linguísticos e nos que se tomam como seus afins: na verdade não haverá, aí, quem quer que não deva alguma coisa ao seu magistério, mesmo quando o reticenciam — circunstância que apenas dignifica e torna mais prezável o mesmo magistério. Porém, atribuir à obra jakobsoniana, como insinua Nattiez, a conceituação e a formulação do estruturalismo parece um gesto francamente desmesurado e que o próprio linguista rejeitará. Com efeito, se «le structuralisme vient de quelque part» não é, certamente, do encontro de jakobson com os formalistas russos do princípio do século; da amizade com os jovens poetas seus contemporâneos; do trabalho colectivo com os colegas dos Círculos de Moscovo e Praga; nem ainda da influência sobre ele exercida pela filosofia husserliana. O fenómeno mergulha as suas raízes em diversos lugares, em diversos pensadores e em diversos tempos — também em Praga, também em Jakobson, também no primeiro quartel desta centúria. As «razões» do estruturalismo constituem um problema mais largo e mais profundo e seria interessante perscrutar os motivos por que haverá cabido sobretudo à Linguística a função de manifestar, de significar uma outra concepção do lado cultural, imediatamente oposta à que dominou o século XIX.

         Passando de largo a hipérbole de Nattiez, que (repete-se) o próprio Jakobson em mais de um passo deixa rejeitada — veja-se, por ex., o seu ensaio «Relations de la science du langage et les autres sciences», in Éssais de Linguistique Générale, (II), Ed. Minuit. 1973. págs. 9-77 — este volume da L´ARC, para além do seu indiscutível mérito como documento relativo ao estruturalismo e sua história, oferece ainda um aspecto que particularmente o valoriza: é que se trata também de uma obra de polémica. De facto, ao lado de uns tantos artigos descritivos ou interpretativos, mas sempre aquiescentes, como são os de Vallier, Matejka, Silverstein e Winner (cuja colaboração, por coincidência, foi proposta por Jakobson, quando instado por Nattiez a pronunciar-se sobre ela), outros aí figuram que se caracterizam por patente oposição doutrinária. Tais os de Mounim e Latraverse, a este segundo se devendo, com o seu «Binarismo em Fonologia», uma análise crítica brilhante e um modelo exemplar de metodologia linguística.

         Sejam, ou não, disputáveis alguns aspectos do seu pensamento científico, Roman Jakobson é uma figura proeminente no panorama não só da Linguística Contemporânea como no dos saberes onde ela tem influído. Conhecer este mestre é um imperativo elementar, em especial num meio como o nosso, já tocado e confundido com desordenadas extrapolações de «escolas» e onde muitos são os que discreteiam sobre Linguística, mas poucos os que a ela, verdadeiramente, se dedicam.   (Braga, Janeiro de 1978.  Manuel Barreto — Universidade do Minho)   (de: Nótula preambular à edição portuguesa).

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«O CABO MINGAS»

Romance histórico

Por: Otílio Figueiredo

         Do alto da torre da igreja de S. Domingos começaram a descer no mornaço da noite doze badaladas espaçadas como fruta madura a cair em chão atapetado de veludo. Alguns habitantes dos mais atarefados da Vila esperavam que tardasse essa sentença de terem de se recolher como condenados ao forno do interior das suas casas.

         Daqui e dacolá já principiava a debandada.

         — Boas-noites, vizinhos! São horas de ir à deita! Está o sono à espreita!

         Para esses não era o sono que os espreitava, mas o trabalho obrigatório que os aguardava ao outro dia. (...)  (de: Capítulo 1)

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