«KIPAPÁ»
Por
Constantino Roumeliotis
Um
Romance Africano.
Uma
filosofia de vida que pode ajudá-lo
a
enfrentar melhor o dia a dia.
Kíchua, jovem Africano que regressa à sua terra depois de viver cinco anos na Europa, onde frequentou uma das mais conceituadas universidades.
A sua terra, agora país independente
encontra-se em dificuldades e cheia de conflitos.
Kíchua reencontra o seu avô «Kipapá» que o
criou. Figura simples, mas fantasticamente lúcida, senhor de uma filosofia de
vida extremamente eficaz.
Kipapá ensina, orienta e ajuda Kíchua a encontrar
o seu caminho.
Aproveite os conhecimentos do Kipapá e redescubra
o seu também.
"Atenção
Srs. passageiros, apertem os cintos, dentro de cinco minutos estaremos
aterrissando no aeroporto de Kiutu, capital de Guibuso, a temperatura externa é
de aproximadamente vinte e seis graus centígrados, muito obrigada".
O
aviso da aeromoça tirou Kíchua do torpor em que se encontrava, e enquanto se
ajeitava na poltrona e apertava o cinto, uma sensação de angústia começou a
tomar conta dele.
Esticou
o pescoço para tentar olhar pela janela, mas a poltrona dele era a segunda do
corredor, e a senhora a seu lado olhou-o como se estivesse incomodada com o
rosto dele tão perto. Suspirou, tornou a recostar-se, e de repente tudo sumiu.
Viu-se cinco anos antes com seu avô no aeroporto, a mesma angústia e aquela
estúpida gravata que lhe dificultava os movimentos.
-
Kíchua, estás muito preocupado, mas o teu pai tem razão, logo seremos uma nação
independente e precisamos ter em nosso povo gente culta para ocupar cargos de
responsabilidade, senão continuaremos a ser colonizados pela ignorância e
falta de preparo. És inteligente, em pouco tempo estarás de volta, formado em
Direito, para orgulho de teu pai e de teu velho avô.
Olhou
para seu avô e sentiu uma grande ternura. Sabia que para ele, seria muito mais
difícil a separação. Viviam juntos, e há muito seu avô tinha feito de sua
educação a sua principal razão de existir. Dedicou todo o seu tempo a
ensinar-lhe tudo o que sabia. Tudo o que a dura vida tinha lhe ensinado, todas
as tradições e lendas de sua tribo, sem esquecer os rituais religiosos de seus
ancestrais, apesar dos missionários terem trazido outra religião e
considerarem seus rituais primitivos e profanos.
Abraçou-se
ao avô e não conseguiu dizer uma palavra, foi um longo abraço. Separaram-se.
Agarrou a sacola e dirigiu-se à sala de embarque.
O
avião sacudiu e rangeu ao tocar o solo. Ele estava de volta!
Eram
dezoito horas e vinte minutos. Já tinha desembaraçado a bagagem, e no saguão
do aeroporto procurava algum rosto conhecido, mas não encontrou ninguém que
lhe fosse familiar, aliás nada lhe era familiar, até os uniformes dos funcionários,
e dos policiais tinham mudado.
Agora
Guibuso era um país livre. Essa era a explicação para as mudanças, até a
cor dos táxis estava diferente, agora a cor branca substituía a preta.
Chamou
um táxi.
-
Por favor para o Hotel St. James, na marginal.
O
motorista olhou-o pelo retrovisor, ensaiou um sorriso e disse:
-
O Hotel St. James mudou de nome, agora é Hotel Guembus. Faz tempo que o senhor
não vem a Kiutu, perguntou?
-
Saí daqui há cinco anos, ainda éramos um colônia Britânica. Pelo jeito
houve muitas mudanças por aqui, espero que tenham sido para melhor.
O
motorista ficou sério e começou a prestar uma atenção exagerada no transito.
Kíchua
lembrou-se das últimas cartas que tinha recebido do avô, e começou a entender
o que ele queria dizer com "o povo está pagando um preço muito alto pela
sua independência", e com "a liberdade não é apenas uma bandeira e
um hino".
Como
ainda tinham uns vinte minutos de viagem até ao hotel, resolveu puxar conversa
com o motorista.
-
Como é o seu nome, amigo?
-
Nagomo, respondeu o motorista com jeito de quem não está para conversa.
- Eu saí daqui há cinco anos, o meu pai mandou-me para a Inglaterra cursar direito, disse Kíchua e continuou, eu sou do norte, pertenço à tribo dos Bantiuas. Não conheço muito bem a capital, só estive aqui uma vez, mas lembro-me desse hotel porque é na beira do mar, e eu nunca tinha visto o mar, foi uma glória, ver aquela imensidão de água. Mas diz-me uma coisa Nagomo, como é ser cidadão de um país tão jovem?
Nagomo
mais uma vez olhou-o pelo retrovisor, e lacônico respondeu: - Ainda é muito
cedo para saber.
Kíchua
entendeu que por alguma razão Nagomo não queria abrir-se, mas não desistiu.
-
Quando eu fui embora havia uma grande expectativa com a independência. Todo o
mundo fazia planos para o futuro, dava para sentir a "esperança" nas
pessoas, mas pela tua resposta Nagomo, senti uma certa frustração ou é
impressão minha?
Nagomo
não disse nada. O silêncio deu lugar a um certo desconforto, Kíchua ficou
calado. Tinha certeza que Nagomo tinha alguma coisa mais para lhe dizer, estava
apenas avaliando se devia ou não. ...,.... (de: 1-A
Chegada)