Boletim Mensal * Ano VI * Julho de 2008 * N.º 61

           

COLUNA DOS VINHOS

Ivo Amaral Junior

        

        Ilustres Compadres: no artigo anterior, abordei a questão do enoturismo e, surpreendentemente, recebi vários comentários e idéias sobre viagens, experiências em vinícolas, sugestões e impressões dos mais diversos leitores, os quais contaram suas histórias, casos e acasos ocorridos em viagens.

            Algumas histórias são engraçadas, algumas constrangedoras, mas todas são unânimes em um aspecto: o turista tem que arriscar para poder se surpreender. Algumas vezes vai se arrepender, mas sempre vai voltar com um fato inusitado para contar a todos como o melhor da viagem. É lastreado nisso que discorrerei neste artigo. A máxima popular vale para o turista enológico: quem não arrisca não petisca! Literalmente.

            Imbuído de um espírito aberto em viagem, o viajante enológico deve ter em mente algumas coisas quando partir: vai sofrer um pouco ao arriscar em vinhos desconhecidos, beber alguns deles com gosto de xarope, mas vai encontrar verdadeiras preciosidades, por vezes nem rotulados ainda, ou escondidos num cantinho da carta do restaurante.

            Quando viajo sempre busco ousar – ousar, caro compadre, não necessariamente significa radicalizar – procurando dicas e indicações de amigos que grassaram por plagas distantes e, caso seja um local inexplorado pelos amigos, certamente na internet encontrarei alguma indicação (não procurem páginas governamentais ou oficiais, que só trazem o lado bom) de um viajante que se arriscou pelos hotéis, bares, botecos, restaurantes e afins.

            Na ousadia vem a recompensa, evidentemente que não é toda vez que isso ocorre; certamente haverá oportunidades onde o vinho poderá estar avinagrado, ruim ou simplesmente decepcionar o paladar, mas nada tão gratificante quanto encontrar nessa garimpagem o arca de ouro da aliança, o santo graal vínico.

            Pois é. Tomar um bom vinho num restaurante escondido numa ruela, acompanhado de um prato inesquecível, comprar um vinho raríssimo numa pechincha de uma loja desconhecida, beber e comer acompanhado de pessoas locais com quem você acabou de fazer amizade, provar o vinho super-ultra-hiper especial, gran reserva top na própria vinícola – simplesmente são experiências sensoriais que iremos guardar para o resto da vida.

            Tive muitas dessas oportunidades no Rio Grande do Sul, mais especificamente em Bento Gonçalves e suas vinícolas; em Florianópolis e seus bistrôs; no Rio de Janeiro e seu calor humano; em São Paulo e seus bons e variados restaurantes, em Portugal e seus encantos, sua história, sua tradição e seus vinhos, na Espanha e seus rituais, religiosidade e seus riojanos potentes.

            Claro que passei por situações vexatórias – qual turista não passa? – mas quando tive as melhores oportunidades, estas foram provenientes de alguns riscos. Sempre é bom voltar aos locais que gostamos, rever as pessoas, provar novos pratos, novos vinhos, mas sempre haverá uma chance maior se derivarmos nosso caminho para outras paragens. O seu “lugarzinho”, aquele cantinho que todos tem em mente e gostam de voltar, praticamente considerando como “seu”, pode até fazer parte do roteiro, mas não esqueça de procurar outros locais. A surpresa pode estar a sua espreita!

            Nos últimos tempos me agradei muito do Chile, ainda não conheço, mas já estou perguntando, conversando e captando dicas de viagem. Uma das dicas que recebi foi não mais procurar as vinícolas maiores, que se desvirtuaram dos objetivos iniciais dos seus fundadores e que atualmente só fazem o vinho pelo dinheiro e não pelo prazer.

As sugestões de vinhos no Chile vieram às pencas, mas preferi me concentrar naqueles que conheço. Irei nessas vinícolas buscar o vinho que eles não exportam e, claro, pegar dicas dos vinhedos onde são plantadas as uvas que produzem o vinho, pode ser que eu consiga achar um proprietário de terras que engarrafa seu próprio vinho e, quem sabe, desencavar preciosidades.

            O Montes Alpha foi extremamente bem recomendado, os vinhos La Tosca, especialmente o Carmenere, os vinhos do Baron Phillipe de Rothschild (próprios e em parceria), os da Concha Y Toro e também os da Santa Carolina. Nesse longilíneo país, talvez o melhor preparado na produção de vinhos da América do Sul, encontraremos excelentes pratos para harmonizar com a bebida.

            Essa é a minha próxima viagem! Aguardo dicas e narrativas dos compadres!

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