Por que construir em vez de comprar pronto

by Rômulo Augusto.

Voar é algo mágico. Quem voa, sabe.

Ë possível comprar uma aeronave já pronta. É rápido e relativamente fácil. Inclusive aeronaves tipo Canard, volta e meia alguém oferece um Cozy, Velocity, Quicly ou Aerocanard à venda. Mas qual seria a graça?

A possibilidade de construir e adequar cada sistema da aeronave aos gostos e peculiaridades do construtor talvez seja o que mais seduz a quem inicia-se na arte do homebuilding. Os cronogramas, que quase todos iniciam, logo perde o sentido, quando se constrói por prazer.

À cada peça ou parte construida, a sensação de realização se mantém presente, afirmando que somos capazes de faze-lo, por mais improvável que antes o imaginássemos. Os desafios e obstáculos que se apresentam são estímulos à continuidade do projeto. Imagino que, para quem constrói, a atividade se assemelha à quem, gostando de pescaria, passa semanas preparando a próxima pescaria. Um detalhe aqui, outro alí, sempre um passatempo que faz a mente viajar, tornando-a leve para os embates do dia-a-dia.

Com os planos nas mãos, antes mesmo de encomendar o material necessário, já imaginava possibilidades de adequar esta ou aquela parte à aeronave que tenho guardada dentro da mente. Aprendi muito, estudando a possibilidade de algumas modificações. Por exemplo, queria modificar o sistema de acesso dos passageiros e tripulantes ao cockpit, através de um sitema que basculasse o painel, facilitando a acomodação dos ocupantes, que passariam a “vestir” o avião. A idéia causaria modificações extremas no projeto, que elevaria custos, aumentaria peso e assim, seria contraproducente. Abandonei a idéia, mas o aprendizado sobre a estrutura do Cozy valeu à pena. Tnato que me premitiu modificar para melhor os longerons da fuselagem, para algo mais resistente, mantendo o mesmo peso da estrutura original.

No Cozy, recomenda-se motorizar-se com o Lycoming O-320, de 160 à 200HP. Particularmente, acho os motores aeronáuticos tradicionais uma estupidez sem tamanho, principalmente quando avaliamos sua eficiência. Consomem demais, necessitam mil regulagens em intervalos de tempo ridículos. Estudando possibilidades, encontramos nos motores automobilísticos uma fonte ideal para impulsionar nosso Cozy. São inúmeras alternativas, como os Subaru/NSI EJ-22 e EJ-25, os Mazda 13B e 20B, os Deltahawk Diesel, os Chevy com bloco de alumínio, etc.

Os tradicionalistas afirmam que os motores aeronáuticos são confiáveis, os automotivos não. Tenho para mim que um motor automotivo moderno é muito menos susceptível à quebras que os aeronáuticos. Basta duplicar os sistemas críticos, como bombas de combustível e ECU. Me lembro quando, aqui no Brasil, se substituiu os geradores por alternadores, que pandemónio! E quando os motores passaram a ter comando de valvulas no cabeçote, quanta asneira se disse sobre a “correia dentada”. E a suspensão independente, lembram-se? Quantas vezes voce regulou o motor de seu carro nos últimos três meses? Se fosse avião e voce usasse todo dia, no caso dos Lycoming e Continental da vida, a resposta seria qualquer coisa acima de três....

Muita coisa se diz sobre a fibra de vidro. As pessoas tem medo, se lembram dos carros esportivos Puma, de antigamente, que se desmanchavam ao mínimo choque. Preciso é dizer que os Puma e similares jamais usaram tecido de fibra de vidro, e sim lã de vidro, que não se presta para fins estruturais. Da mesma forma, a resina usada era a vinílica, e não a epoxy. Portanto, sem comparações, por favor!

Se fala muito na fibra de carbono. É algo chique, que se tornou famosa com a divulgação da fórmula 1. A construção de aeronaves utiliza o mesmo princípio. Se vai-se usar fibra de vidro ou fibra de carbono, é conforme o efeito desejado. Aeronaves como o Cozy, cujas cargas estruturais são extremamente baixas, é desejável alguma flexilbilidade da estrutura. A flexibilidade paradoxalmente se traduz em resistência, pois o que flete, não quebra, dentro de limites relativamente amplos. A fibra de carbono é mais resistente que a fibra de vidro, principalmente no que se refere à alongamento específico. A fibra de vidro proporciona ao construtor amador uma capacidade de moldagem muito maior que a fibra de carbono. Isso é importante, considerando-se que as peças serão feitas em casa, sem uso de maquinário sofisticado. Quando se constrói, se torna intimo desse universo, as habilidades se multiplicam, encontrando-se aplicações para estes conhecimentos fora do âmbito da construção amadora. Digamos, a cultura geral se amplia.

Aviação experimental é mais ou menos isso. Um mecanismo de experimentação de novas técnicas, novos materiais. Muito do que se vê voando hoje em dia, principalmente no uso dos composites, se deve à precursores de alto impacto como Burt Rutan, Vance e outros, que lançaram ao mundo a possibilidade de emprego dessas novas tecnicas e materiais. Veja bem, eles não foram os inventores do composite. Mas souberam divulgar e aperfeiçoar as técnicas. Assim, quando voce for viajer e entrar um um ATR-42 ou Airbus da vida, lembre-se que há muita coisa de composite nesses aviões.

Em suma, construir permite auferir conhecimentos, dar forma à imaginação, deixar sua marca no mundo. Fazer com as próprias mãos o mecanismo de alçar vôo.... Uma escola prática, nenhum ground school de nenhuma aeronave pode ensinar tanto quanto construir cada pedacinho, criar e fazer o debug de cada sistema. Um universo novo, e muito amplo.

Você pode encontrar motivos de dentro de sí para construir ou deixar de construir. Caso esteja na primeira assertiva, mãos à obra....

 

voltar à pagina anterior

Hosted by www.Geocities.ws

1