Este texto descreve aspectos da região onde hoje é
o Jardim Acapulco, desde o final da praia da Enseada até a praia
do Pereque , no período compreendido entre o final do século XIX e início do século XX.
Fonte:Albertina Fernandes Lopes, A Vida e Lutas de Três Gerações
(1823-1915), Editado em 1977. Esta obra encontrei na Biblioteca da E.E. Professora Raquel de Castro/Guarujá,
quando lá estive trabalhando durante o ano letivo de 1998.
(...)Suas filhas sempre contavam que o primeiro latifundio que eles
encontravam e achava à venda fora o Guarujá, na ilha de Sto.
Amaro, mas lá chegando , verificaram que o mar era muito bravio
não servindo para rede de arrastão. Era uma praia extremamente
perigosa e por isso resolveram seguir viagem pela ilha em direção
ao norte.
Na enseada de Sto. Amaro, onde tinham parentes, pois José Teixeira
ali passará toda sua infância e mocidade com seus pais, que
eram proprietários de um pequeno sítio, segundo o recenseamento
de 1822, foram informados que estava a venda o sítio da Praia de
Pernambuco, uma gleba de terra que se dividia da Enseada pela cachoeira
de Pai Caetano e ia até encontrar o sitio do Perequê, na Praia do
mesmo nome, com frente para o mar e fundos formado pela serra que lhe fica
atrás.
Praia do Mar Casado ao lado da Praia de Pernambuco
O mar era um verdadeiro lago sereno e a praia , privativa dos donos
do sitio, desde que pagassem aforamento, como ainda é até
hoje, ótima para pescaria tanto de arrastão quanto nas pedras,
para pescar garoupas. O local presta-se a saída de barcos para o
alto mar, tanto que o transporte de pescado era então feito dali,
em canoas , até o mercado em Santos, onde embicavam na praia que
ficava em frente a rua Frei Gaspar. As terras, por sua vez, eram férteis
e virgens, ótimas para extrair madeiras necessárias às
futuras construções e posterior aproveitamento na plantação
das roças.
Fecharam o negócio e a escritura foi lavrada em Santos em nome
de José texeira da Silveira.
(...)
O sitio Pernambuco fazia sua primeira divisa, ao sul, numa nascente
de água muito límpida, cercada por pés de caetés,
cujas folhas largas serviam de copo ao viajante que ali se dessedentava.
A nascente , conhecida pelo nome de "Cachoeira de Pai Caetano" ficava
mais ou menos na metade da distância do caminho que separava a praia
da Enseada de Sto. Amaro à de Pernambuco. Esse caminho era formado
por uma picada belíssima cercada de densa floresta. (...)
Esse formoso e indescritivel caminho , com o progresso, foi substituido
pela atual estrada.
Sua última divisa ao sul ia até o encontro das terras
que formavam o sitio do Pereque, com frente para a Praia do mesmo nome.
A frente das terras do sitio ficava a linda praia de Pernambuco cuja
beleza é a razão de ser da fama que hoje desfruta.(...)
À entrada do sitio, ponto final daquele maravilhoso caminho,
ficava , à esquerda , a casa de Rosa, neta do velho Texeira e filha
de seu primogênito Manoel, o tio Maneco, como o chamavam.(...)
A última residência era a do proprietário das terras,
José Antonio T. da Silveira.
Do porto a moradia , havia nesta propriedade um caminho de quatro metros
de largura, todo ladeado por vértebras de baleia, que serviam
de bancos aos moradores da rústica residência. Os ossos mantinham
entre si uma distância de dois metros mais ou menos até chegar
ao terreiro em frente da casa. Os demais estavam espalhados em frente à
praia.(...).
O sitio Pernambuco , ao tempo do velho Texeira, era uma das mais prósperas
propriedades da ilha de Sto. Amaro.(...).
No tempo das tainhas , seus lances de rede chegavam a trazer para terra
de seis a dez mil peixes.(...).
Uns duzentos metros além da casa velha , com frente para o mar,
adentrando-se o "jundu" encontrava-se o pequeno cemitério. Havia
ali dois túmulos no feitio dos da cidade. Era o da esposa e de uma
filha de José Teixeira que morrerá afogada.
Mais tarde esse pequeno cemitério foi desfeito e os restos mortais
que nele se encontravam, enviados a um dos cemitérios de Santos.
Falava-se que a causa da remoção, fora uma aparição
da antiga dona do sitio, pedindo sepultura em cemitério cristão.
O antigo dono só não foi sepultado lá, por que
ao falecer o Guarujá já havia sido edificado pela Companhia
Prado Chaves que construíra a igreja de Sto. Amaro e ainda um cemitério.
Essa igreja feita de madeira incendiou-se mais tarde.
Após o falecimento do velho José Teixeira o progresso
do sitio estacionou.