MINHA POBRE E

 TUMULTUADA

 BIOGRAFIA



NALDOVELHO



Na manhã que eu nasci chovia tal qual num dilúvio,
Temporal do brabo !
Raios, trovões, muita lama, tudo inundado.
E aí a parteira avisou, este bichinho tá encruado!
Minha avó feiticeira, macumbeira de quatro costados,
Quimbandeira famosa fez promessa pros Santos,
Pedindo os seus cuidados...


Iemanjá foi a primeira e a ela fui destinado,
Muita pipoca depois, Omulú então se achegou,
Xangô apareceu de repente, só pra ficar complicado !
Mamãe Oxum se enamorou e até hoje está do meu lado.
Assim que eu nasci, abriu um sol cristalino
E a vida estava aí consumada.


Filho de operários, infância pobre, de pés descalços,
Moleque de rua, morei em favela (antigamente se chamava morro!),
Adolescente problema, tipo bem desajustado,
Caí na vida muito cedo, a primeira vez aos quatorze,
Exuberante priminha, quase fui violentado,

.No final ela teve pena e me tratou com cuidado.

.

Estudante brilhante, dos mais inquietos, escolas públicas da vida,
Aos dezoito  subversivo, levei até porrada !
Minha mãe também comunista.
Depois virei anarquista, nos dois sentidos, é claro !
Sempre fui artista e a música e a poesia a gritar dilaceradas
Por ser então um cabra tão descuidado que a sério nada levava
E que não honrava o seu dom.


Mergulhei bem fundo aos vinte, muita ervas, viagens,
Por quatro anos drogado, depois parei assustado,
Já estava vendo e falando com seres estranhos, engraçados...
Muita inquietude presente, muita cachaça, aguardente,
Alcoólatra confesso, dos vinte aos quarenta
E aí parei de repente, pancreatite,  cirrose,
Quase morri ou me matei...
Melhor nem pensar !


Alguma coisa lá dentro meu deu força e eu voltei,
Só pra mostrar pra esta gente,
O quanto é duro matar aquele que nasceu “coroado”!
Algumas mulheres importantes me ensinaram tudo o que hoje eu sei.
Grandes e maravilhosas mulheres,
Angelicais, feiticeiras, mestras, protetoras e parceiras,
Responsáveis na minha vida por muita dor e prazer.


Sou casado a 25 anos, grande mulher, dedicada !
Tenho uma filha com 20, geneticamente inquieta,
Já cursei três faculdade, nenhuma delas terminei.
Hoje sou um ser mais ou menos apaziguado,
Um espírita convicto que caminha por suas crenças
E se acha um homem sem fé.


Vários concurso públicos, em dois eu passei,
PETROBRAS foi uma escola ! Lá vi a morte bem de perto,
Depois virei um bancário que por ser muito fera e competente
Virou gerente de gente, virou um profissional conceituado,
Hoje considerado ultrapassado !
Mas ainda assim um mestre para muitos
Que por aqui vão passando
Em busca do aprendizado naquilo que eu mais sei.


Faltam ainda dezesseis meses,
Logo me transformo num aposentado
E aí é mergulhar nesta
Que vai ser a minha melhor viagem,
Música, poesia e meus quadros.
Sem esquecer das pessoas,
Quero me dedicar a caridade
Como um bom cristão e espírita,
Fazer o que eu sempre sonhei.


As entidades que me trouxeram,
Ainda estão do meu lado !
São belas, amigas e responsáveis
Por toda a força que eu tenho,
Por tanta compreensão conquistada
E desconfio seriamente por alguns belos poemas
Que pela graça de Deus eu fui capaz de escrever.   

.

 

Mais não posso dizer !
Muitos segredos guardados,
Alguns transformo em poemas,
Outros ainda cristalizados
E a espera que eu possa trazer às pessoas
As coisas boas que eu aprendi ao viver.  
 




efeitos fotograficos digitais  imagem naldovelho

por Olga Kapatti

em 16/03/2002



 

 

 

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