São Paulo, segunda-feira, 08 de junho de 2009
O Boletim
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Desculpa? Nem em suaves prestações!
Se alguém, por acaso, depositar, só uma vez
que seja, R$3.800 na minha conta bancária vou gostar, mas certamente vou
procurar saber a origem do dinheiro. Na conta do senador Sarney há um depósito
mensal nesse valor, pelo menos desde 2008, e ele não sabia que dinheiro era
aquele. Muito menos sabia tratar-se do auxílio-moradia, ao qual não deveria ter
direito, uma vez que tem residência própria em Brasília e ainda tem a residência
oficial do Presidente do Senado. Uma maneira fácil de resolver esse problema
seria acabar com esse auxílio. Cada um que pague a moradia com o seu salário,
como fazem os trabalhadores do mundo normal. Este auxílio poderia fazer algum
sentido quando acabaram de construir Brasília, e a região nada tinha, mas agora,
evidentemente, não se justifica mais. É mais um golpe no bolso do povo!
Quanto será que o senador José Sarney recebeu indevidamente nesses 51 anos de
vida pública? É uma desfaçatez, um desrespeito ao povo do país que ele governou,
sem lhe ter apreço, sem dignidade! Salve a democracia, que nos permite desvendar
esses mistérios dos políticos, para que quem os elege perceba todo o mal que um
voto pode desencadear! Há países em que os governantes, envergonhados, pedem
exoneração ou se suicidam. Aqui, eles só pedem desculpas! Que pena!
Das duas, uma: ou eles ganham tanto dinheiro que um crédito nesse valor não faz
a menor diferença em suas contas bancárias, ou somos encarados por eles como 180
milhões de imbecis. Na dúvida, fico com as duas hipóteses. Agora, com cara de
arrependido, e se fazendo de vítima, pede desculpas e diz que vai devolver o
dinheiro, como se nos estivesse fazendo um grande favor. Deveria ser processado
por apropriação indébita e condenado a restituir em dobro tudo que recebeu.
Mas para seus pares já está tudo bem, pois o Eminente Senador pediu desculpas
pela “falha” de sua assessoria(?). Bem, eu não desculpo! Embora não seja seu
eleitor e muito menos leitor, o que para o senador, evidentemente, é
irrelevante, não posso conceber que alguém receba tal montante em depósitos
mensais e não vá procurar a origem de tais recursos, muito embora sua
movimentação financeira deva ser bastante agitada. Não sei se os seus eleitores
e/ou leitores irão desculpá-lo, mas, a meu ver, foi quebrado o decoro
parlamentar, ensejando um processo de cassação de mandato, para que, sem o manto
da imunidade parlamentar e da consequente impunidade, a Justiça comum possa
melhor avaliar eventuais ilicitudes cometidas.
Sarney já foi tudo no Brasil nos seus 51 anos de vida pública. Ele continua
sendo um dos membros mais atuantes do grupo dos que “não sabiam de nada”, “não
viram, nem ouviram nada”, e por aí afora. Faz cara chorosa de personagem muito
constrangido. E fica por isso mesmo? Só nos resta aguardar o trambique de
amanhã.
O senador Sarney deve ser o único cidadão que não sabe o que recebe, por que
recebe e muito menos quanto recebe e jamais lê o seu contracheque. Ele não pode
ser chamado de alienado e muito menos de burro, por isso só nos deixa a opção
de... desonesto. Quanto aos recebimentos indevidos, o senador vai devolver, com
descontos em seu polpudo contracheque.
Moral da história: o Senador recebeu um empréstimo sem juros e vai devolvê-lo em
suaves prestações e o povo é quem vai pagar a conta. Lamentável!
[email protected]
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Valter Bernat é advogado e escreve nesta
coluna às sextas-feiras e mantém o periódico
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