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Na velhice do meu pai




Somente quando envelhecemos realmente � que podemos julgar como isto pode ser dif�cil.
Falta beleza, sobra experi�ncia.
As id�ias brotam como loucas mas o corpo n�o acompanha.
Parece sacanagem, at� os 40 anos queremos que tudo passe depressa, que chegue o fim de semana, o Natal, as f�rias. Depois, queremos saborear cada momento.
Se ainda faltam dois dias?
- Deixa! Pode acontecer muita coisa em dois dias.
Ter uma fam�lia unida, carinho, amigos, � muito importante em todas as idades, mas muitos velhos s�o deixados sozinhos, como se a fam�lia quisesse cortar os la�os antecipadamente para n�o sofrer quando eles partirem. Vejo muitos velhos tristes, carentes.
Muitos deles contam hist�rias, s�o como livros que andam, pelas ruas, pelas pra�as.
Conhe�o um deles, muito bem humorado por sinal. Cabe�a branca, andar tr�pego, oitenta e um anos.
Ele repete algumas hist�rias de vez em quando, mas est� sempre sorrindo ou com o olhar distante como se estivesse fazendo uma prece.
Contou-me uma das suas um dia destes:
Ao entrar no �nibus, pela porta da frente, foi recebido com uma cara muito feia do motorista, que carrancudo, resmungou algo que ele n�o entendeu. Sorrindo respondeu:
Senhor, n�o fique zangado se este velho agora lhe atrapalha. Quando eu partir deste mundo, vou ficar l� no c�u, pela portaria. E quando bem mais tarde, � claro, o senhor chegar, vou falar para o S�o Pedro: - Este a� � meu amigo, ele tinha de esperar muitos velhos subirem no �nibus pela porta da frente. Irritava-se um pouco mas ag�entava firme. A� o senhor entra e tomamos um cafezinho.
Este � meu pai, ele � maravilhoso. Como todo av�, todo idoso, tem sempre uma prosa, uma hist�ria para contar, para recontar e sempre um carinho para receber.

Ana Mello
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