Boletim Mensal * Ano VI * Setembro de 2007 * Número 54

           
COLUNA DOS VINHOS

Ivo Amaral Junior

   
 

 

 

      Caros Compadres, acabei de descobrir que essas minhas colunas estão rendendo mais do que o esperado. Muitos dos meus amigos estão me chamando para degustar vinhos e harmonizar pratos sejam eles almoços, jantares ou petiscos, o que é de muito bom alvitre para mim, pois estou conseguindo provar um leque de diferentes vinhos nas mais inusitadas situações. A última foi o questionamento de um amigo sobre qual vinho harmonizava - pasmem! – com o café-da-manhã, o pequeno almoço como se chama em Portugal. Não me fiz de rogado, sugeri croissants, brioches, queijos e frutas (morangos e kiwi) com vinho espumante. Apesar de nunca ter tido a oportunidade de provar, acho que é uma boa. Quem já o fez favor me manter informado, repassando informações para que eu possa me assenhorar melhor e comentar sobre essa harmonização não tão convencional.
            Mas objetivo falar sobre uma outra harmonização, característica de Portugal: o cozido à portuguesa, degustado na “mini-quinta” do nosso atarefadíssimo e multifacetado editor, Delmar Rosado. Cercado de amigos e num lugar bucólico em Aldeia, com plantações de couve, alface, ervas, entre outros, que resgatam um pouco do clima português interiorano àquela residência.
            Deixando de lado a melancolia advinda decorrente de minha viagem a Portugal, narrada em artigos pretéritos e relembrada pela música portuguesa colocada pelo anfitrião – ainda bem que não era um fado, pois certamente eu iria somatizar ainda mais a saudade da terrinha d’além mar – logo que chegamos ao local fomos recepcionados pela simpática Cristina e sua família. Delmar logo nos providenciou um vinho branco da Herdade do Esporão, um reserva 2004, que foi acompanhado do que ele chamou de caviar a algarvia, um prato simples e delicioso, que me surpreendeu positivamente, pois é simples de fazer,  leva apenas ovas de peixe e molho (não é bem assim, aí vai a receita:- coza as ovas de peixe, tire a pele, quebre aos pedaços e coloque num liquidificador. Rale uma cebola o mais fino possível e aproveite só a polpa, a água jogue fora, maionese e molho inglês q.b. e 2 gotas de pimenta tabasco.. Depois é só bater um pouco e terá o seu caviar à algarvia (do editor).
            O cozido do almoço estava como reza a tradição, segundo Delmar, com todos os legumes e carnes inerentes ao pantagruélico cozido, o qual adorei (pão não faltou); degustei com dois vinhos tintos, um era o Cortes de Cima e o outro me foge à memória, acho que era um Dão Grão Vasco muito bom. Excepcional! Foi um daqueles dias em que você gostaria de prolongar as horas e permanecer conversando sobre livros, Portugal, viagens, saudades e amores. Infelizmente o tempo é implacável e tivemos de retornar à metrópole e suas mazelas, pois a noite já se avizinhava e já havia outro compromisso. E foi o que fiz! Logo após saímos para a residência do casal Armando e Renata Rabelo, o qual estava em família e junto com o seu pai, o Juiz aposentado, advogado, enófilo e amigo Márcio Rabelo, tendo queijos e frios como acompanhamento, sorvemos pelo menos umas seis garrafas de vinho, entre eles dois lotes 43 da Miolo (safras diferentes 2001 e 2004, esse último melhor), um chileno da casa Emiliana, orgânico, aquele que dizemos conseguir “morder” de tão encorpado e mais uns dois ou três que não tive condições de lembrar.
            E para não dizerem que sou um explorador das recepções alheias, gostaria de finalizar com o jantar que fui com minha esposa, Celinha, no dia do meu aniversário, dia quatro de setembro, no restaurante Raval Bistrot, que se diz contemporâneo, mas que tem muito da saudável e deliciosa comida mediterrânea. É um lugar muito aconchegante, encravado no bairro das Graças e faz o tipo moderno-cultural, com CDs e quadros do movimento armorial, o qual foi capitaneado por Ariano Suassuna, além de inúmeros outros escritores e artistas que emprestam suas obras às paredes do local. Como não sabia ainda o prato principal, escolhi um vinho que tinha provado há algum tempo e estava com saudades, o Viu Manent, chileno, cabernet savignon, que harmonizou de forma esplendorosa com o pato com mel acompanhado de purê de brócolis e, fato que eu não, esperava, muito bom com a paella que pedi. Talvez o sabor picante desse prato mediterrâneo, servido numa porção honesta, tenha combinado com o aroma forte de especiarias do vinho. Essa é a história. Não sei explicar o casamento perfeito entre o vinho e a comida. Só sei que foi assim!
            Pois é pessoal, nosso editor sugeriu que eu falasse sobre o vinho “torna viagem”, mas eu não resisti aos belos pratos, comidas e bebidas que me cercaram no último mês. Uma grande definição da família a qual faço parte hoje (a grande família portuguesa) é que somos aqueles que estamos pensando no jantar enquanto estamos almoçando. Abraços e até a próxima!

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