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Caros Compadres,
acabei de descobrir que essas minhas colunas estão rendendo mais
do que o esperado. Muitos dos meus amigos estão me chamando para
degustar vinhos e harmonizar pratos sejam eles almoços, jantares
ou petiscos, o que é de muito bom alvitre para mim, pois estou
conseguindo provar um leque de diferentes vinhos nas mais
inusitadas situações. A última foi o questionamento de um amigo
sobre qual vinho harmonizava - pasmem! – com o café-da-manhã, o
pequeno almoço como se chama em Portugal. Não me fiz de rogado,
sugeri croissants, brioches, queijos e frutas (morangos e
kiwi) com vinho espumante. Apesar de nunca ter tido a
oportunidade de provar, acho que é uma boa. Quem já o fez favor
me manter informado, repassando informações para que eu possa me
assenhorar melhor e comentar sobre essa harmonização não tão
convencional.
![](carmen.jpg)
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Mas objetivo falar sobre uma outra
harmonização, característica de Portugal: o cozido à portuguesa,
degustado na “mini-quinta” do nosso atarefadíssimo e
multifacetado editor, Delmar Rosado. Cercado de amigos e num
lugar bucólico em Aldeia, com plantações de couve, alface,
ervas, entre outros, que resgatam um pouco do clima português
interiorano àquela residência.
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Deixando de lado a melancolia advinda
decorrente de minha viagem a Portugal, narrada em artigos
pretéritos e relembrada pela música portuguesa colocada pelo
anfitrião – ainda bem que não era um fado, pois certamente eu
iria somatizar ainda mais a saudade da terrinha d’além mar –
logo que chegamos ao local fomos recepcionados pela simpática
Cristina e sua família. Delmar logo nos providenciou um vinho
branco da Herdade do Esporão, um reserva 2004, que foi
acompanhado do que ele chamou de caviar a algarvia, um
prato simples e delicioso, que me surpreendeu positivamente,
pois é simples de fazer, leva apenas ovas de peixe e molho (não
é bem assim, aí vai a receita:- coza as ovas de peixe, tire a
pele, quebre aos pedaços e coloque num liquidificador. Rale uma
cebola o mais fino possível e aproveite só a polpa, a água jogue
fora, maionese e molho inglês q.b. e 2 gotas de pimenta tabasco..
Depois é só bater um pouco e terá o seu caviar à algarvia (do
editor).
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O cozido do almoço estava como reza a
tradição, segundo Delmar, com todos os legumes e carnes
inerentes ao pantagruélico cozido, o qual adorei (pão não
faltou); degustei com dois vinhos tintos, um era o Cortes de
Cima e o outro me foge à memória, acho que era um Dão Grão Vasco
muito bom. Excepcional! Foi um daqueles dias em que você
gostaria de prolongar as horas e permanecer conversando sobre
livros, Portugal, viagens, saudades e amores. Infelizmente o
tempo é implacável e tivemos de retornar à metrópole e suas
mazelas, pois a noite já se avizinhava e já havia outro
compromisso. E foi o que fiz! Logo após saímos para a residência
do casal Armando e Renata Rabelo, o qual estava em família e
junto com o seu pai, o Juiz aposentado, advogado, enófilo e
amigo Márcio Rabelo, tendo queijos e frios como acompanhamento,
sorvemos pelo menos umas seis garrafas de vinho, entre eles dois
lotes 43 da Miolo (safras diferentes 2001 e 2004, esse último
melhor), um chileno da casa Emiliana, orgânico, aquele que
dizemos conseguir “morder” de tão encorpado e mais uns dois ou
três que não tive condições de lembrar.
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E para não dizerem que sou um
explorador das recepções alheias, gostaria de finalizar com o
jantar que fui com minha esposa, Celinha, no dia do meu
aniversário, dia quatro de setembro, no restaurante Raval
Bistrot, que se diz contemporâneo, mas que tem muito da saudável
e deliciosa comida mediterrânea. É um lugar muito aconchegante,
encravado no bairro das Graças e faz o tipo moderno-cultural,
com CDs e quadros do movimento armorial, o qual foi capitaneado
por Ariano Suassuna, além de inúmeros outros escritores e
artistas que emprestam suas obras às paredes do local. Como não
sabia ainda o prato principal, escolhi um vinho que tinha
provado há algum tempo e estava com saudades, o Viu Manent,
chileno, cabernet savignon, que harmonizou de forma esplendorosa
com o pato com mel acompanhado de purê de brócolis e, fato que
eu não, esperava, muito bom com a paella que pedi. Talvez o
sabor picante desse prato mediterrâneo, servido numa porção
honesta, tenha combinado com o aroma forte de especiarias do
vinho. Essa é a história. Não sei explicar o casamento perfeito
entre o vinho e a comida. Só sei que foi assim!
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Pois é pessoal, nosso editor sugeriu
que eu falasse sobre o vinho “torna viagem”, mas eu não resisti
aos belos pratos, comidas e bebidas que me cercaram no último
mês. Uma grande definição da família a qual faço parte hoje (a
grande família portuguesa) é que somos aqueles que estamos
pensando no jantar enquanto estamos almoçando. Abraços e até a
próxima!