H� mais de um ano o filme vem sendo anunciado. Em mar�o de 2001, f�s lotaram os cinemas brit�nicos para conferir apenas o trailer de A Pedra Filosofal. O risco de uma enorme decep��o, por�m, � eliminado logo nos primeiros minutos do filme. Com �timas atua��es e fidelidade � trama original, Harry Potter corresponde a quase tudo que os f�s esperavam. Os 153 minutos de dura��o realmente s�o, ipsis literis ao que disseram os cr�ticos brit�nicos, "pura magia".

     A recusa de Steven Spielberg (que estava ocupado com A.I.), sua substitui��o por Chris Columbus (de Esqueceram de Mim) na dire��o do longa e o roteiro nas m�os de Steve Kloves, tamb�m gerou discuss�es calorosas. Steven Spielberg estava sendo cogitado para ser o diretor. Na verdade, ele foi escalado, mas queria que o "menininho do Sexto Sentido" fosse o Harry Potter. S� que J.K. Rowling queria que fosse um ator ingl�s, n�o americano. Inclusive a autora chegou a rejeitar v�rias propostas de transformar Harry Potter em filme, e s� concordou mediante uma s�rie de exig�ncias. Ela s� teve certeza de era isso que queria quando Columbus garantiu-lhe que seria completamente fiel ao livro. �Ela percebeu que eu era f� do livro e que escalaria um elenco 100% brit�nico�, conta o diretor. E na verdade essa era uma das principais exig�ncias da escritora. O elenco deveria ser brit�nico. A estrat�gia foi escalar artistas queridos do p�blico. Robbie Coltrane, primeiro ator confirmado, soube dosar a rusticidade e a do�ura marcantes do gigante Hagrid. J� Maggie Smith, uma das atrizes mais conhecidas da Inglaterra, interpreta bem a severidade da professora Minerva McGonagall.

     O grande destaque, por�m, vai para as crian�as, que a pr�pria Rowling fez quest�o de participar da sele��o. Entre as dificuldades iniciais, a principal foi a escolha do ator que daria vida a Harry Potter. Assim que viu Daniel Radcliffe em um especial da tev� brit�nica, Columbus teve certeza que havia encontrado seu pequeno mago. Mas os pais do ator n�o queriam que o filho participasse do filme. Estavam preocupados com a loucura na qual, inevitavelmente, se transformaria a vida do menino.

     Mais de 16 mil garotos passaram pelo teste, mas a imagem de Daniel n�o sa�a da cabe�a de Columbus. A diretora de elenco, Suzie Figgis, sem conseguir agradar o diretor, pediu demiss�o. �s voltas com esse percal�o, o produtor David Heyman e o roteirista Steve Kloves certa noite resolveram relaxar e foram ao teatro, em Londres. Chegando l�, por coincid�ncia, se depararam com Daniel, acompanhado dos pais. Conversaram longamente ap�s o espet�culo e, no dia seguinte, o menino compareceu para um teste. Problema resolvido. A partir de ent�o, Daniel passou a viver e respirar Harry Potter. Mas com a modera��o imposta pela lei. A legisla��o brit�nica impede que crian�as trabalhem mais de tr�s horas por dia. Por isso, as filmagens de Harry Potter e a Pedra Filosofal demoraram mais do que deveriam, j� que quase metade do elenco � infantil.

     Daniel Radcliffe emprestou meiguice ao personagem que, nos livros, parece ser muito mais traquinas. Apesar disso, ele � a "cara" de Harry, segundo a pr�pria autora: "quando vi Daniel pela primeira vez, parecia que havia encontrado um filho que n�o via h� anos", disse Rowling durante a divulga��o do filme. Emma Watson tamb�m em meio a mil meninas, foi escolhida logo que foi vista por Rowling: "� a Hermione", disse a autora quando a viu. Emma e Rupert Grint mostram muito talento, principalmente nas tiradas de humor tipicamente brit�nico.

     Outra exig�ncia de Rowling era de que a trama n�o fosse alterada. Foi uma op��o inteligente fazer um filme totalmente fiel ao livro. Os f�s de Harry Potter considerariam um sacril�gio modificar qualquer coisa. Para n�o deixar de fora nenhum epis�dio, optou-se por resumir certas partes, como a viagem de trem para Hogwarts, as compras no Beco Diagonal, a passagem do drag�o Norberto pela escola e a forma como Harry e Draco Malfoy (seu principal desafeto em Hogwarts, interpretado por Tom Felton) se conhecem � diferente da descrita no livro. Nada, por�m, afeta sua ess�ncia que, transportada para as telas, manteve-se com ares de conto de fadas, sem apelar para pieguice ou para o suspense infantil.

     As grava��es, duraram de meados de dezembro, a inicio de janeiro. Ao finaliz�-las, o diretor teve que editar todo o filme, pois ele possu�a quatro horas de dura��o no original... Na edi��o, o filme ficou com duas horas e meia que passam vertiginosamente diante dos olhos, assim como a leitura do livro. Quem leu Harry Potter vai se deleitar com detalhes, imagens e fei��es de persongens at� ent�o imagin�rios. Cenas como da partida de quadribol e do jogo de xadrez humano s�o admir�veis. J� para o leigo (ou "trouxa", nome que, na hist�ria, significa "n�o bruxo"), h� a grande vantagem de n�o saber o que ir� acontecer na cena seguinte - e muito menos no final. Sim, Harry Potter e a Pedra Filosofal n�o deixa de ser mais um lan�amento infantil, que chega aos cinemas nas f�rias escolares para arrebatar bilheterias. Imposs�vel, por�m, n�o imagin�-lo daqui dez anos, preenchendo deliciosamente uma sess�o da tarde na TV.